quinta-feira, 18 de junho de 2020

O PRINCÍPIO DA MISERICÓRDIA


Por Dom Walmor Oliveira de Azevedo (*)
A parábola do bom samaritano apresenta três simples passos, constituídos de propriedades para conferir a este mundo feições próximas ao Reino de Deus: viu, sentiu compaixão e cuidou. Trata-se do itinerário da misericórdia, magistralmente trilhado por Jesus, o bom samaritano por excelência, que na Cruz entregou a sua vida para salvar a humanidade. Indicou assim, para cada pessoa, que é preciso ter a coragem de dedicar-se ao próximo, que é irmão. A vida que se torna oferta, serviço ao bem, vence cenários de morte. E a Semana Santa, com suas celebrações, tem força pedagógica para ajudar cada pessoa a seguir aquele que venceu a morte: Cristo - Rei e Salvador.
Trilhar os passos de Jesus exige autêntica conversão. Isto significa praticar, no cotidiano, os valores da fé, exercendo incansavelmente a misericórdia. Assim, podem ser superadas situações tristes que representam verdadeiro descaso, de indiferença com a vida. Tantas pessoas são vítimas de profundo desrespeito: são os pobres, indígenas, mulheres, pessoas que vivem nas ruas, idosos e enfermos, migrantes e excluídos vivendo verdadeiras situações de extermínio. Uma realidade que precisa ser transformada. O primeiro passo é abrir o coração para a fonte infinita de misericórdia - Deus-Pai - e perceber que todos somos irmãos. Esse reconhecimento dissipa a indiferença em relação à dor do outro. Cede lugar para o exercício da misericórdia, que é bálsamo capaz de curar as feridas do mundo. E o rosto da fonte inesgotável da misericórdia é Jesus Cristo.
As celebrações da Semana Santa, herança dos antepassados a ser cuidada, promovida e transmitida às futuras gerações, são permanente convocação para que todos renovem, de modo coerente com a fé que se professa, o compromisso com a verdade, o bem comum, a honestidade, seguindo o exemplo de Jesus, rosto da misericórdia. Meditando sobre a paixão, morte e ressurreição do Mestre, cada pessoa tenha a oportunidade de repensar a própria vida e atitudes, diante da necessidade humana de permanentemente buscar a conversão. Nesse exercício, cultive a convicção a respeito do que diz o papa Francisco, na Exortação Apostólica Pós-Sinodal Querida Amazônia: "O Evangelho propõe a caridade divina que brota do Coração de Cristo e gera uma busca da justiça que é inseparavelmente um canto de fraternidade e solidariedade, um estímulo à cultura do encontro".
(*) Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Fonte: O Povo, 10 de abril de 2020. Opinião. p.11.

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