quinta-feira, 25 de junho de 2020

O QUE APRENDI COM A COVID-19


Por Ariosto Holanda (*)
Nessa pandemia vi com muita clareza que: 1º) Existe uma brutal concentração de renda - Essa situação explica o fracasso da quarentena. Os que tem renda podem ficar em casa, mas, a maioria tem de sair para sobreviver. Aquela imagem do vendedor de pipocas, que numa entrevista, disse: "ou eu fico em casa e morro de fome ou saio para vender minhas pipocas mesmo correndo o risco de contrair a doença", é emblemática; 2º) Aparece um número de mortes maior na classe pobre - Os pobres, sem acesso à nutrição adequada, água potável, habitação, saneamento básico e sem recurso para comprar material de limpeza, contraem a doença mais facilmente; 3º) A economia transnacional está fragilizada - As oscilações das bolsas de valores revelam isso; 4º) Temos um sistema de saúde em colapso - A falta de leitos, pessoal e equipamentos nas UTIs atestam essa situação.
Mas, fica a pergunta: após essa pandemia, o que fazer? Com certeza os problemas humanitários e ambientais vão se tornar urgentes. Um novo mundo surgirá exigindo definição de estratégias voltadas para o desenvolvimento humano (educação, capacitação, saúde e trabalho) e para o uso de energias não poluentes. Como ocorrerão mudanças rápidas e profundas na área tecnológica, com novos processos produtivos usando a inteligência artificial - robótica e automação - para substituir o homem, temos de discutir o que fazer com milhões de trabalhadores cuja força de trabalho será cada vez menos exigida e o que deve ser feito para acabar com essa pobreza e desemprego. O primeiro caminho, certamente, seria o da criação e fortalecimento de micro e pequenas empresas; o segundo, o de apelar para as instituições de pesquisa e ensino superior para que promovam um grande programa de extensão voltado para a transferência de conhecimentos para o setor produtivo e para os pequenos negócios; e o terceiro, seria o da criação de associações ou fundações, regulamentadas por lei, para a gestão de fundos sociais, cujos recursos seriam oriundos de doações de pessoas físicas ou jurídicas, como fizeram Estados Unidos, Japão e outros. Estamos precisando também, nesse momento, realizar as obras demandadas pelos pobres, como: habitação, saneamento, melhorias habitacionais, e outras. Enfim, temos de encontrar o caminho para produzir em massa (quantidade) a partir das massas (povo).
Já a saúde precisa ser repensada. Muitas doenças só serão combatidas, se houver eficientes agências reguladoras de saúde pública. Prevenção deve ser a prioridade máxima. A saúde deve começar na escola. O médico Mariano de Freitas elaborou um projeto, que ele chamou de Saúde na Escola, focado sobretudo, na prevenção. Procuramos apresentá-lo a possíveis interessados: governo e prefeituras. Infelizmente, em vão. Não devemos esquecer que uma pandemia mortal, um ato de bioterrorismo ou uma calamidade ambiental podem desencadear crises internacionais violentas.
Ernst Friedrich Schumacher no seu livro O negócio é ser pequeno, escreveu: "Aliás, é um fenômeno estranho que a economia não consiga desenvolver as regiões pobres".
(*) Professor, engenheiro e ex-deputado federal.
Fonte: Publicado In: O Povo, Opinião, de 3/06/20. p.16.

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