Muita coisa pra pouca coisa
Seu Honorato chega da terra de meu Padim Pade
Ciço e põe-se a conversar com o velho Zé Lorota, dono da pousada. O tema é a
lonjura que separa Fortaleza da famosa cidade mística do Cariri.
- Daqui pra Juazeiro do Norte são 600km...
Mas, se for de avião, são só 45 minutos.
Muita coisa pra pouca coisa
Dona Magela ouve atenta o parlatório da empregada
Nascimento, a pabular-se de mui árdua conquista amorosa. Desde meninota, conta
ela, tinha uma caída de asa por um certo Chico Bonitão, de há muito o macho da
tal Anedite.
A patroa, tipo da mulher sincera, ouvia serena a
narrativa corriqueira de um amor platônico que se transforma, a muito esforço,
em caso concreto. Digno de folhetim global. Até sangue rolou.
- Quando boto na cabeça que um homem vai ser
meu, sai de perto!
- E
o que tu fizeste pra ter quem todos sabiam ser o homem da Anedite?
- Me botei todinha pra riba dele, fiz trabalho
de amarração. Inda açoitei ela!
-
É... Quando o cabra merece, o sacrifício é válido. Até dar a vida!
Nesse exato momento, o de quem se falava, Chico
Bonitão, arrebatador de corações, adentra. Um metro e meio de gente, magro,
cabeção, "zanôi" e pra completar, muito feio demais. Apaixonada,
Nascimento o recebe com beijo afetuoso. Dona Magela, sem esconder ar de espanto
ante àquilo, é a ele apresentado.
- Chico, essa é minha patroa. Dona Magela,
esse é Chico Bonitão, meu love, de quem conquistei o amor após muita luta,
muita coisa.
Olhando a arrumação (o Chico) dos pés à cabeça, a
sincera dona Magela...
-
Mulher, tu num acha que é muita coisa pra pouca coisa não?
Cada uma que parece duas!
1 - Divisa do Ceará com a Paraíba. Ladrão de
galinha (lembra quando havia romantismo no rádio?) é preso no exato momento em
que praticava o delito no galinheiro dum ricaço. Mas não passou duas horas no
xilindró. Motivo da rápida soltura: o advogado sustentou que seu cliente era
preso político.
Sabe o que mais disse o escolado meliante?
- Preso, nem pra comer doce!
2 - Jandira, vendo o ex-marido e a amante se
estapearem em bate boca faiscante na calçada do bar, disparou o verbo, senhora
de uma dor entalada:
- Os dois morrendo de caganeira, eu mando
limpar a merda!
A sensualidade de uma labirintite
Sempre que bota o pé no banheiro, são horas e
horas lá dentro, se arrumando. Laurinda, pois, fica lá a se
"esburnir" mesmo sabendo que vai ficar em casa,
"engurujada". E naquele sábado, "da mêi dia pra tarde", a
demora no toalete passou dos limites - 3 horas contadas. E o pior: nenhum
barulho vindo de lá.
Marido Valdenor desconfiado da demora. De
repente, Laurinda irrompe da casa de banho privativa e se atira com toda linha
na cama do casal, só de calcinha e sutiã. Cabe véi, de cueca lendo seu
jornalzinho, cara de gostosão, dispara:
- Calma, querida. Acabamos de almoçar. Agora
não...
Ela, mundo rodando, ânsia de vômito e um incômodo
da gota, enfia a cara no travesseiro e grita abafado:
-
Agora não o que!?! Eu tô é tonta! Isso aqui é labirintite, abestado!!!
Fonte: O POVO, de 11/07/2019.
Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos.
p.2.
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