Por Pedro Jorge Ramos Vianna (*)
Escrever sobre a
relação Trump-Dolar-Prime Rate-SELIC e as consequências dessa relação sobre a
economia brasileira não é tarefa fácil porque são muitos os entes econômicos
envolvidos e muitas as ligações entre as variáveis e parâmetros no sistema
econômico.
No presente caso,
só podemos imaginar o que Trump fará, dadas suas promessas de campanha. Assim,
o que ele, possivelmente, adotará, será: política para baixar os impostos;
políticas de combate à inflação, política tarifária e políticas não-tarifárias
de incentivos à industrialização.
Na política de
baixar os impostos ele só pode trabalhar com os impostos federais. No caso, o
mais provável é diminuir o Corporate Income Tax (CIT) e para compensar a queda
no orçamento federal, diminuir a ajuda externa aos países e instituições
multilaterais (Ucrânia, ONU, OTAN, OMS, etc.).
Ao diminuir o CIT
ele está dando incentivo à industrialização. Isto, praticamente, não terá
efeito sobre a economia brasileira. Mas, ele pode alterar a política tarifária
para proteger a indústria americana.
Trump não disse
que aumentaria as tarifas americanas indiscriminadamente, a não ser em
represália ao México.
Mas, se ele levar
a política de defesa da indústria americana a toque de caixa e esse é um
caminho fácil de seguir, aí, o prejuízo do Brasil pode ser grande.
Dado que
incentivar a indústria significa aumentar a produção, uma consequência possível
é a diminuição dos preços. Se isto ocorrer, vale salientar, tais medidas também
ajudarão a controlar a inflação nos EUA. Portanto, este é um caminho com
grandes chances de ser seguido por Trump.
Mas a ligação
preço-taxa de juros é quase umbilical.
E por que ele não
falou na prime rate? Porque esta é uma prerrogativa do FED. Mas imbuído do
"great America again" o FED pode aumentar esta taxa para incrementar
a entrada de recursos de investimento nos EUA. Se isso acontecer, o Brasil
estará em maus lençóis, pois a Selic também terá de aumentar e o dólar aqui
ficará mais escasso. Resultado: prejuízo para o Brasil.
Há de se ter em
mente que dólar mais caro significa pressão inflacionária no Brasil, haja vista
os aumentos que deverão ocorrer nos preços do petróleo, nos preços os bens
tecnológicos e no preço do trigo, somente para citar alguns exemplos.
Vale, ainda,
salientar que nos seus últimos pronunciamentos Trump falou da falta de comida
para os "estrangeiros-americanos" (latinos, árabes, sul-africanos).
Portanto, é possível que ele não interfira nas importações americanas de
"commodities". Assim, neste particular, o Brasil não deverá ser
afetado.
Por outro lado, o
Brasil pode perder a possibilidade de receber algum recurso do governo Trump
para a ajuda à preservação da Amazônia, por exemplo.
(*)
Economista e professor titular aposentado da UFC,
Fonte: O Povo, de 17/11/24. Opinião. p.20.
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