Por Pe. Eugênio
Pacelli SJ
(*)
Mais uma celebração do Natal se
aproxima. Tem sentido celebrar o natal em um mundo escuro e em tempos tão difíceis?
Basta despertar os sentidos e perceber os desafios que afetam a vida das
pessoas em todas as esferas. Tempos de instabilidade e crises globais com
conflitos que geram destruição e deslocamentos de pessoas.
Crises econômicas que geram desemprego,
desigualdade social, dificultam a sobrevivência e acentuam as diferenças.
Mudanças climáticas, catástrofes naturais, degradação ambiental e falta de
políticas eficazes criam insegurança e sofrimento para milhões de
pessoas.
Perda de valores que geram
individualismo, resultando em isolamento e indiferenças às necessidades dos
outros. Ausência de confiança em instituições, governos, igrejas e até mesmo
nas relações interpessoais. Polarizações e intolerância que favorecem divisões políticas,
culturais e religiosas, dificultando o diálogo.
Além das crises existenciais que geram
solidão e desamparo, as pessoas se sentem desconectadas num mundo
hiperconectado. Por fim, desesperança, ausência de perspectiva geram desânimo e
a sensação de que os problemas são insuportáveis, afetam a saúde mental trazendo
a depressão e ansiedade.
Em tempos de crises econômicas,
emocionais, conflitos, perdas e incertezas, o Natal nos convida a olhar para o
essencial: amor, solidariedade, fé, e nos relembra que a luz não depende das
circunstâncias externas, mas pode surgir do coração humano que escolhe
acreditar e agir.
O Natal é uma oportunidade de
ressignificar sua essência. As festas natalinas são marcadas por consumismo e
distrações que obscurecem o verdadeiro significado da data. No cristianismo, o
Natal celebra o nascimento de Jesus, descrito na Bíblia como “a luz do mundo” (João 8:12).
Essa metáfora remete à ideia de que a
chegada de Jesus vem iluminar a escuridão da humanidade, oferecendo direção,
redenção e amor. Mesmo nas dificuldades, há luz, há esperança. Belém nos ensina
que Deus age nos momentos mais improváveis e nas situações mais difíceis.
A luz que Jesus traz ao mundo não é para
ser contemplada à distância, mas para iluminar as nossas vidas e trazer
mudanças. Estamos dispostos a deixar que essa luz transforme nossos corações?
Estamos vivendo como filhos da luz, sendo instrumentos de paz, perdão e amor?
Celebrar o Natal em tempos escuros é, em
si, um ato de resistência. É um ato de fé, que nos impulsiona a acreditar que
dias melhores virão. É dizer com toda força do coração, o que o poeta Thiago de
Mello escreveu: “Faz escuro, mas eu canto, porque a manhã vai chegar”.
Feliz Natal!
(*) Sacerdote
jesuíta e mestre em Teologia. Escritor. Diretor do Mosteiro dos Jesuítas de
Baturité e do Polo Santo Inácio. Fundador do Movimento Amare.
Fonte: O Povo, de 14/12/2024. Opinião. p.16.
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