sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

O BRASIL E SEU 28º ESTADO

Por Heitor Férrer (*)

Desde criança do interior, sempre sonhei com o Brasil liderando o mundo. Tinha uma inveja danada quando via as manchetes dos jornais falarem dos "norte-americanos" como a maior potência do planeta. Inocentemente, sonhava em sermos chamados de os "sul-americanos", como sinônimo de hegemonia aqui na América do Sul. Já se vão mais de 50 anos. Para não ser de um todo pessimista, podemos bater no peito e gritar que somos o 5º maior país em extensão territorial, a 6ª maior população do globo, o 7º mercado consumidor da Terra e a 8ª maior economia. Em ato continuo, baixamos a cabeça e humilhados nos calamos diante da vergonhosa condição de termos mais de 16 milhões de pessoas nesse riquíssimo Brasil, morando em favelas, 8% de nossa população, números do Censo 2022. Nesses aglomerados, 16 milhões de nossos irmãos vivem comendo o pão que o diabo amassou, sem ter acesso a saneamento básico, saúde, educação e segurança, enfrentando dia e noite as perversas mazelas da pobreza, onde muitos jovens, com um futuro pela frente, veem suas vidas interrompidas.

De 2010 a 2022, o Brasil registrou 6 mil novas favelas e quase 5 milhões de pessoas a mais morando nelas. Andamos para trás. Todo e qualquer trabalho em cima disso é apenas para resgatar prejuízos sociais que foram negados ao longo de nossa construção, desde a colonização, passado pelo império, república velha, república nova. A herança que nos foi deixada por nossos construtores é uma tragédia nacional e continuamos a vislumbrar uma herança não menos diferente para nossas futuras gerações. É culpa dos atuais governantes? Não, mas está no colo deles o "legado" e cabe a eles a solução.

Com esses dados do IBGE, tenho a petulância de dizer que o Brasil tem o seu mais novo Estado, o 28º, o 4º mais populoso, com 16 milhões de almas sofridas, vítimas da omissão do poder público, que negou a esses o direito à cidadania e à dignidade da justiça social, deixando-os a mercê da própria sorte, jogando-os no infortúnio da desventura.

Diante de tudo isso, ainda vejo reportagens e entrevistas de pessoas na televisão falando da força das favelas, de sua resistência, uma verdadeira enaltação à sua existência. Força tem a Quinta Avenida, Wall Street, Copacabana, Avenida Paulista, Meireles, Aldeota e tantas outras. Querer defender a existência de favelas como símbolo de força é não ter a noção mínima das condições sub-humanas em que esses irmãos brasileiros vivem, ou melhor, sobrevivem e nenhuma política pública desse país pode ser pensada sem focar nessa perversa realidade.

(*) Médico e ex-Deputado estadual (Solidariedade).

Fonte: Publicado In: O Povo, de 15/11/2024. Opinião. p.19.


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