Por José Nelson Bessa Maia (*)
A capital
cearense ocupa a quarta posição no ranking nacional em população, com 2,6
milhões de habitantes, atrás apenas de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, e
a maior cidade do Nordeste, superando por pouco Salvador, capital da Bahia. No
tocante à economia, o município de Fortaleza figurou em 2021 em 1º lugar em
termos de PIB municipal na região Nordeste e em 11º lugar no País, quando
registrou um PIB de R$ 73,4 bilhões. Uma cidade de tal porte e com a
localização privilegiada em relação aos grandes mercados mundiais (E UA e
Europa) e a polos emergentes como a África precisa reforçar urgentemente sua
capacidade de se relacionar com potenciais parceiros públicos e privados no
exterior.
Essa nova área
internacional a ser criada em Fortaleza, ao invés de ser reativa, deveria
desenvolver ao máximo o potencial paradiplomático do município. A propósito,
entende-se por paradiplomacia uma ferramenta que permite que governos
subnacionais – municípios e estados – envolvam-se em relações internacionais
para defender seus interesses, sem violar a soberania do Estado-Nação.
Isso mesmo. A
paradiplomacia é diferente da diplomacia, que se ocupa de temas de alta
política, como a segurança nacional, a defesa e os tratados de livre comércio
etc. A paradiplomacia é uma extensão da política local, e se ocupa de temas
pragmáticos como a captação de recursos e eventos, promoção do turismo,
intercâmbio cultural e cooperação técnica em áreas como mobilidade urbana,
educação, saúde, saneamento e proteção ao meio ambiente.
A paradiplomacia
pode ser exercida na prática por meio de acordos de cidades-irmãs, participação
em eventos promocionais, protocolos de cooperação técnica e engajamento em
projetos de redes de cidades globais.
No momento em que
uma nova administração se prepara para assumir a gestão municipal é bastante
oportuno o tema da recriação de um órgão especializado voltado para as relações
internacionais. Não se trata de criar mais uma estrutura burocrática na Prefeitura
de Fortaleza, mas sim uma secretaria ágil e enxuta e ligada ao Gabinete do
Prefeito, com pessoal capacitado e experiente para gerir as relações do
município com entidades estrangeiras e internacionais e exercitar a captação de
recursos e parcerias externas, tomando iniciativas para aproveitar do enorme
potencial que existe na interação com organismos internacionais e na cooperação
internacional inter-cidades, de modo a atrair investimentos privados e
colaboração técnica para projetos de interesse do desenvolvimento da cidade e
de seus munícipes.
Urge, portanto,
por parte da nova administração municipal de Fortaleza que assumirá na virada
do ano uma firme tomada de posição em prol da inserção internacional ativa da
capital cearense, rompendo o marasmo dos últimos anos e buscando ocupar um
espaço de destaque na paradiplomacia brasileira, um espaço que faça jus a sua
posição dentre as mais importantes cidades do País e que contribua de forma
relevante e positiva para a resolução de seus problemas inerentes a uma grande
metrópole e o reforço de suas políticas públicas.
(*) Mestre em
Economia e doutor em Relações Internacionais pela UnB e ex-secretário de
Assuntos Internacionais do governo do Ceará. Pesquisador independente das relações China-Brasil, China-Países
Lusófonos e China-América Latina.
Fonte: O Povo, de 4/12/24. Opinião. p.19.
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