Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
A
Notícia:
A partir
do segundo semestre, as operadoras de planos de saúde poderão cobrar dos
clientes uma franquia, de valor equivalente ao da mensalidade, semelhante ao
que acontece hoje com o seguro de carros… Por exemplo, se o valor total pago no
ano for de R$ 6.000 (mensalidade de R$ 500), este será o limite para os gastos
extras do cliente com franquia e coparticipação…
Veja
mais detalhes em:
As
operadoras dos planos de saúde querem comparar pessoas a automóveis. A proposta
da poderosa ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) dita normas prejudicais
aos seus segurados, aproveitando o momento conturbado para esbulhar-lhes com
maiores encargos e menos direitos.
Os
seus CEOS (sigla inglesa de Chief Executive Officer que significa Diretor Executivo em Português) são os responsáveis
pelas estratégias e visão da empresa a que servem, esquecem que são humanos,
vão envelhecer e a doença não tem hora ou momento para acontecer. A maneira
como tratam os idosos, com argumentos enganadores, é criminosa. Os velhos
pobres e até os de classe média (que também é Povo) vão sofrer ainda mais do
que sofrem hoje.
Propostas
ilegítimas como essa não passam do avanço cada vez maior do poder econômico
sobre o cidadão, já precariamente atendido pelo Estado. Agora com a Lava Jato
seria pertinente uma lavagem nas relações dos Planos de Saúde com os nossos
parlamentares envolvidos em corrupção e lobbies, cuja fome por dinheiro cresce
às vésperas de campanhas eleitorais tão dispendiosas.
Nas
sociedades corruptas os mais sacrificados são as pessoas das camadas mais
pobres, mais dependente dos serviços públicos (infraestrutura, saúde, educação,
previdência, saneamento básico, etc.) …
O
resultado prático da irresponsabilidade dos tais CEOs, ainda sem essas novas
modificações, fazem com que as “empreiteiras da nossa saúde” sejam tricampeãs
nas reclamações no Procon e no Judiciário.
O
Diretor Executivo Técnico da Notre Dame Intermédica – Luiz Celso Dias Lopes –
declara ser o cenário da saúde suplementar muito difícil, caminhando para ficar
insustentável em razão de fatores como a contínua inovação tecnológica na
medicina, o envelhecimento populacional e afirma:
“Talvez fosse necessário criar um mundo
novo, frente à insustentabilidade desse setor. É preciso buscar novas formas de
produtos, de ofertas e de compartilhamento de riscos.”
O
que se pode esperar das entidades de defesa do consumidor é que entendam que a
franquia apregoada virá trazer prejuízo aos segurados, sobretudo aos que usam
os planos de saúde com mais frequência, como os idosos, pessoas com doenças
crônicas ou graves.
Diz
o Professor Mario Scheffer do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade
de Medicina da Universidade de São Paulo (DMP/FM/USP) e vice-presidente da
Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Preventiva): - “Os planos de saúde nunca serão
a saída para o atendimento à saúde porque dependem de emprego e renda. […] Em
momentos de recessão e crise, então, é uma péssima solução”, referindo-se as
propostas em entrevista à repórter Monique Oliveira.
Na
Grã-Bretanha os políticos advertem: mexer com o Serviço Nacional de Saúde
(National Health Sevice) é a única coisa que “dá revolução”.
Mesmo
sendo pagos durante anos e anos, os Planos de Saúde não atendem àquilo que
prometeram aos seus consumidores e, quando os consumidores se tornam idosos,
fazem de tudo para botarem esses fregueses dispendiosos para fora. Até os
bancos estão tratando de diminuir os juros dos bons clientes.
Os Planos de Saúde fazem o
contrário.
O
projeto de mudanças protecionistas ainda maiores corre acelerado no Congresso
Nacional. Será um novo marco legal que favorecerá as empresas, ameaçando
consumidores e, por tabela, sacrificando um SUS tão esquecido, sobrecarregado e
subfinanciado e maior credor (sem pagamento) dessas empresas.
Advirto
como médico e cidadão: desconheço país que tenha entregue a Saúde de seus
habitantes a entidades particulares que não tenha agravado ou piorado o sistema
oficial da saúde, faltando às determinações constitucionais.
Nem
tudo pode ser regulado pelas Leis do Mercado.
Será
que, se aprovada, essa privatização sanitária disfarçada virá a ser mais uma
jabuticaba que vão empurrar pela nossa garganta abaixo? Somente tenho certeza
que não se pode comparar seguro de carro com seguro de saúde.
Franquia,
em doença, não existe.
(*) Professor Titular da Pediatria
da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União
Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos
(ABRAMES). Consultante
Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).
Nenhum comentário:
Postar um comentário