Inegavelmente, um dos maiores jogadores de futebol que o estado do
Ceará viu em campo: Clodoaldo, "O Capetinha". Habilidoso todo. Quem
não lembra do golaço contra o Criciúma, cerca de 15 atrás - "matando a
bola com categoria e chutando inapelável contra o gol de Fabiano".
Impagável Clodoaldo, segundo maior goleador do Leão - o primeiro é Croinha, que
vi treinar no Pici há um bocado de tempo.
Conheci um camarada acolá que só queria ser a grande estrela do
Tricolor nascida no Ipu. Um outro "Clodoaldo", apelido botado em João
Clodomir. 30 anos de idade, se enfeitava de jogador, tinha corpão (enganoso) de
jogador, pose de jogador, vivia no meio de outros grandes do futebol. Algo
assemelhado ao lendário Carlos Kaiser, que por anos conseguiu ludibriar
diversos clubes brasileiros - "o maior jogador que nunca jogou bola".
Assim era Clodomir, aquele que só queria ser o Capetinha.
Esse aqui, o "Clodoaldo" depois da gripe, também canhoto,
passou por quatro times da cidade onde morava, sempre sem ir a campo, vogando.
Desculpas, as mais inverossímeis. Treinamento, só físico. E olhe, olhe! Logo
uma torção no tornozelo tirava ele de tempo. Chegou a "desmentir" a
orelha após sessão de exercícios abdominais. Fraturou a panturrilha do sovaco
fazendo apoio de frente. Nunca, pois, sequer um cabecear numa melancia de vez.
Mas andou se apaixonando e a máscara caiu. Para fazer uma média com
a moça enamorada, resolveu entrar em campo e mostrar as habilidades que vendia
como se existissem. Avisou ao treinador que adentraria ao gramado se e somente
se fosse para bater pênalti, não estiver chovendo, fosse uma segunda-feira de
manhãzinha, o dono da farmácia estivesse com a luz em dia e o Papa se
pronunciasse.
João Clodomir é obrigado a jogar naquele dia. Todas as condições,
enfim, satisfeitas. 45 minutos do segundo tempo, pênalti a favor de sua equipe;
não havia escapatória. Treinador convoca o capeta de araque para meter a bola
no cão da rede contrária. A namorada exultava. Era o gol do casamento! E lá
está o enrolão frente a frente com pega-bola adversário. Tremia que só vara
verde. Torcida repetindo o que a galera tricolor, tempos atrás, dizia do
verdadeiro e genial Clodoaldo:
- Uh terror, Clodoaldo é matador!!!
Pra começo de conversa, ficou paralisado diante da bola por cinco
minutos, com olhar fixado num urubu na palha dum coqueiro a 200 metros dali.
Feito "estauta", a ponto de o juiz chegar junto e saber o que
acontecia. "Clodoaldo" silente, cai durinho pra trás. Massagista no
socorro ao loroteiro, presta socorros como se fosse ali um Messi. Pergunta se
está tudo bem. O craque acena "sim". Levanta-se "trôpo". A
criatura dele, da torcida, manda beijos e incita: "Vai, amor,
fatura esse gol! Mete!"
O negócio agora vai. "Clodoaldo" toma distância. Ao fazer
carreira pra chutar, empurra o pau a chorar. Recomposto, urina-se todo, berra e
chuta... Ou melhor, tenta chutar. O sujeito cai e quebra o ombro, lasca a
cabeça numa pedra solta em campo e sente dores medonhas num dentiqueiro. Acima
de tudo um forte, recupera o fôlego e finalmente lasca o "tirombaço".
Ocorre que a bola desgovernada bate na trave, resvala no goleiro, acerta um poste,
quica na cabeça do gandula, passa de raspão no carrinho de picolé e finda
entrando no seu próprio gol. 1X0 pro time contrário. Gol contra de Clodomir,
vulgo "Clodoaldo".
Levou uma mão de sabacu dos colegas de equipe, perdeu a mulher pro
treinador, ficou mental do juízo. Tá vendendo din-din na Praça da Estação.
Fonte: O POVO, de 14/12/2018.
Coluna “Aos Vivos”, de Tarcísio Matos. p.2.
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