Então-se
pronto!!!
Faltou energia na rua e Fransquinha, que já não
era muito "boona" da vista, saiu feito doida de casa à procura de
Nonatim. Lugar perigoso aquele; o cabinha só tinha 12 anos, e vai que o véi
babau pega ele pra fazer sabão... Filho único, tinha de "botar
coidado" nele, a mãe cinquentona.
Já lá se vão 20 horas e nada de o menino
aparecer, nada de a luz voltar.
- Se
eu fosse tu, caçava ele na beira do açude. Deve estar pescando com os fí de
João Diogo - sugeria a vizinha Dilurde.
- Se for, Raimundo Nonato tá é pebado! - ameaçava a mãe.
-
Pois num é, Fran! Bichim já é guenzo (tem o pezinho torto), tadim...
- Vai dar u'a mão de peia de chiqueirador
nele!
Fransquinha demandou o tal açude. A noite, um
breu só. Um metro à frente não enxergava o tronco dum coqueiro. A zelosa e
braba mãezinha ouve a voz do seu bruguelo, entre tantas que celebravam a
alegria das curimatãs pescadas de galão, às rumas. Felicidade grande no beiço
do açude, peixe muito nos urus, água na risca do sangradouro, fartura à vista.
Acontece que Nonatim desobedecera às ordens da
genitora e o castigo tinha de ser exemplar. Tateando no escuro (reconheceria
seu Nonato pelo formato da cabeça de rapa-coco), Fransquinha acredita haver
encontrado o filho fujão. E tome sola e haja pisa. O mais humilhante: na frente
de todo mundo. Logo, claro, os gritos da criaturinha imolada, que detonava
desrespeitosa.
- Ai, diabo! Tá doida, véa?
- Cuma é?!? Véa doida, é?!? Pois tome-lhe e
tome-lhe e tome-lhe sova, seu bosta!!!
- Bruaca véa!!! - emendava "o menino da Fransquinha".
- Ah, é?!? Pois agora é que o "rêi"
(relho) vai comer de esmola!
Sem forças para reagir, o garoto pede penico, em
meio à gente ali desnorteada:
- Dona Fransquinha, pelamô de Deus! Pare de me
açoitar! Por que essa surra em mim? A senhora devia dar era em Nonato seu
filho!...
PS: Aquela surra toda que Fransquinha dava era em
Bastiãozim, filho de Olegário, vizinho dela.
Filosofia pura
Corpão atlético, quase dois metros de músculos,
parecendo Hulk normal das cores - nem verde, nem amarelo queimado. Lapa de
homem que é um setenta. Bichão que é um medonho. Uma chulipa de Valdecir
arranca metade do quengo da vítima.
Fala gritando, cospe falando. Na boca, 56 dentes.
Sua "saboneteira" (fossa supraclavicular) comporta até cinco quilos
de farinha. Apelidos: Mondrongo, Chabobêu, Mangolzão, Jumento. Come numa bacia.
Ronca acima de 15 mil decibéis
Mas deu pra trás quando mais se fez necessário.
Precisava pegar, imobilizar e dar uns cascudos no ladrão que se arvorara levar
o celular da namorada, na frente dele. É que uma dor de barriga descomunal (com
vontade insustentável) de obrar imobilizou Valdecir, que ficou feito
"estauta" no meio do tempo. Sabedor do episódio em suas minudências,
o velho Crocodilo concluiu:
-
Ei, meu amigo! Um homem com vontade de cagar é um derrotado.
Fonte: O POVO, de 11/01/2019.
Coluna “Aos Vivos”, de Tarcísio Matos. p.2.
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