Ao compulsar os originais de "Pontos de Vista", que Marcelo me
fez chegar às mãos a fim de apensar o prefácio, meu pensamento voou ao distante
ano de 1980. Quando um grupo de médicos (em data não exatamente lembrada)
reuniu-se no auditório do Centro Médico Cearense (CMC) - a hoje Associação
Médica Cearense -, para discutir a ideia da publicação de uma obra literária. O
CMC encontrava-se na gestão do Dr. José Aguiar Ramos (1980-1981), que sucedeu
ao profícuo período do Dr. Paulo Marcelo Martins Rodrigues (1978-1979), em que
foi criado o jornal "CMC Informa" e reformulada a revista "Ceará Médico".
O médico Dr. Emanuel de Carvalho Melo, que vinha exercendo o cargo
de diretor cultural da instituição, foi convidado por Aguiar Ramos para
implantar a editora do CMC. Com o surgimento desta ferramenta cultural, um
grupo de esculápios acorreu à entidade com a intenção de publicar uma
coletânea. Dez médicos, com suas produções literárias e a escolha consensual do
título "Verdeversos" para uma antologia exclusivamente dedicada à poesia. O
professor Adriano Espíndola, que teve o tempo de uma vida para escrever sua
"Poesia Presente", honrou-nos com a apreciação dos textos. Então, demos
a entrada do calhamaço na Imprensa Oficial do Ceará (IOCE).
Imaginem o que é acompanhar a edição de um livro naqueles tempos em
que o setor gráfico não dispunha dos recursos da informática. Numa semana,
Emanuel comparecia na IOCE, com os bicos de pena que havia desenhado para as
ilustrações. Na outra, era a minha vez. Para conferir se os erros tipográficos
anteriormente detectados tinham sido corrigidos. Ou se, à maneira de
"memes", haviam se multiplicado. Somos gratos ao funcionário e hoje
cineasta Rosemberg Cariry, que condignamente nos recebia nas visitas ao parque
gráfico da IOCE.
Lançado o "Verdeversos", em uma noite de autógrafos,
muitos autógrafos, na sede do Centro Médico Cearense, seguiriam-se em anos
posteriores outros livros: "Isto não se aprende na escola" (1982),
com temas médicos, "Encontram-se" (1983), de prosa e poesia,
"Psiquiatria Básica" (1984), de Gerardo Frota Pinto, "Temos um
pouco" (1984), de prosa e poesia, e "Nomes e expressões vulgares da
medicina no Ceará (1985), de Eurípedes Chaves Jr.
O CMC, após o lançamento de "Verdeversos", foi também o
palco das articulações para a criação da Sobrames Ceará. Tendo como seu
idealizador o Dr. Francisco Dionísio Aguiar, e corporificada ao longo de
1982, ela contou com o apoio de uma comissão de médicos escritores coordenada
pelo Dr. Francisco Nóbrega Teixeira, que contribuiu com a elaboração dos
estatutos. Autodeclarando-se não escritor, mas empenhando-se a fundo na criação
da Sobrames Ceará, Dionísio "sonhou um sonho por nós", no dizer da
saudosa Dra. Celina Côrte Pinheiro.
Em 4 de novembro, com a presença do presidente da Sociedade
Brasileira dos Médicos Escritores (Sobrames Nacional), Dr. Odívio Borba Duarte,
em uma sessão solene realizada no CMC, tomou posse a primeira diretoria da
Seção do Ceará da Sobrames. Após a posse, seguiram-se algumas reuniões em que
foram estabelecidas metas e tomadas decisões importantes para a consolidação da
entidade. Uma delas, a merecer destaque, foi a decisão de que todos os autores
de duas coletâneas, "Verdeversos" (publicada em 1981, anteriormente à
criação da Sobrames-CE) e "Encontram-se" (1983), seriam considerados
seus sócios fundadores.
O colega Emanuel, ao tempo em que foi responsável pela Editora do
CMC, foi também o primeiro presidente da Sobrames Ceará (1982-1984). Tendo
prosseguido, no período seguinte (1984-1987) em que eu estive como
presidente da entidade, como membro de sua segunda diretoria. Por haver Emanuel
coordenado, como editor do CMC, as primeiras edições das antologias dos
médicos-escritores, sucedeu serem estas chanceladas pelo Centro Médico Cearense
e pela Sobrames Ceará (a partir da criação desta última).
Sim, a medicina nos permite a esses voos do espírito em que,
dedicados à literatura, criamos histórias, simulamos vidas, transfiguramos a
realidade e até inventamos universos autônomos (a partir de verdades que não
podem ser medidas pelos mesmos padrões das verdades factuais). Temos um
entendimento com a palavra (aliança secreta, diria Cortázar) para não
desvanecermos. E, nessa árdua luta para vencer a poeira do tempo, por isso,
escrevemos. Existe um caminho de volta que nos leva da fantasia à realidade e
esse caminho é a arte, como assinalou Freud.
Assim é que chegamos a 2019, ano em que é dado a
lume "Pontos de vista". Um alentado livro de 350 páginas
organizado e apresentado pelo Dr. Marcelo Gurgel, com a arte de capa do
cirurgião e artista plástico Dr. Isaac Furtado, e contendo poemas, contos,
crônicas, causos, ensaios, artigos, reminiscências, discursos e reflexões de
seus 64 autores. Destes, 60 são médicos e 4 são sobramistas oriundos de outros
ofícios. Suas minibiografias são apresentadas na sequência deste introdutório.
Nesta 36.ª antologia da Sobrames Ceará, há autores antigos, novos e um,
digamos, "neoantigo". Trata-se de Winston Graça, um dos dez
esculápios que estiveram, nos idos de 1981, em colóquio com as musas da poesia
nas páginas de "Verdeversos", onde tudo começou.
Que "Pontos de Vista" lhes propicie uma agradável leitura!
É como prefacio.
Webgrafia
http://pt.wikipedia.org/wiki/Associação_Médica_Cearense
http://preblog-pg.blogspot.com/2007/11/verdeversos.html
http://preblog-pg.blogspot.com/2015/12/antologias-da-sobrames-ceara.html
http://blogdasobramesceara.blogspot.com/2015/04/por-celina-corte-sobrames-regional.html
http://preblog-pg.blogspot.com/2007/11/verdeversos.html
http://preblog-pg.blogspot.com/2015/12/antologias-da-sobrames-ceara.html
http://blogdasobramesceara.blogspot.com/2015/04/por-celina-corte-sobrames-regional.html
Dr. Paulo Gurgel
Carlos da Silva
Ex-Presidente da
Sobrames-CE
Fortaleza,
9 de outubro de 2019
Postado em preblog-pg.blogspot.com
por Paulo Gurgel em 31/10/19.
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