Por Luiz Porto (*)
O
câncer de mama, nos últimos 25 anos, tornou-se problema de saúde pública no
Brasil. A incidência do câncer de mama cresce no Brasil e nos países
desenvolvidos devido ao aumento da expectativa de vida e maior exposição das
mulheres a fatores de risco: hereditariedade, alcoolismo, vida sedentária,
menarca precoce, menopausa tardia, não ter filhos, ou ter poucos filhos, e
sobrepeso levam ao aumento do número de casos por ano desta neoplasia. Quanto à
mortalidade, o Brasil diverge da maioria dos países desenvolvidos. Com efeito,
a partir de um rastreamento sistemático por mamografia, a doença é
diagnosticada cada vez mais precocemente, o que eleva à curabilidade. A OMS
(Organização Mundial da Saúde) considera o rastreamento adequado quando este
cobre, pelo menos, 75% da população entre 50 e 70 anos, realizando-se exames de
dois em dois anos. Apesar de ter optado por este modelo desde 2008, o Brasil
não conseguiu alcançar resultados satisfatórios no controle do câncer. Em que
pese termos mamógrafos suficientes, sofremos com o absenteísmo das pacientes: a
falta de conhecimento dos fatores de risco, dos sinais e sintomas, o medo de
enfrentar um possível câncer, bem como as dificuldades logísticas do SUS
(Sistema Único de Saúde), afastam as mulheres do programa. Estratificando-se a
distribuição sócio econômica, com aproximadamente 15% da população financiando
seus exames, deveríamos oferecer, pelo menos, duzentas mil mamografias anuais.
Em 2019 não atingimos nem a metade, pelo que tivemos aumento dos casos em
estágios avançados. Em 2020 a situação é mais grave: a pandemia da Covid-19,
desde fevereiro, levou ao isolamento social milhares de mulheres que deveriam
se submeter ao rastreamento. O SUS concentrou o sistema no atendimento da
virose, suspendendo ou limitando procedimentos eletivos incluindo mamografias.
Estas, já insuficientes, diminuíram mais de 70%. O atendimento começa a se
normalizar e se observa nas últimas semanas percentual maior de mulheres com
câncer avançado. Muitas delas despertaram de seus medos pelas campanhas do
Outubro Rosa que às alerta para o controle da doença. Cabe a nós,
especialistas, e às Secretarias, estaduais e municipais de Saúde, e ao
Ministério da Saúde, discutir, em caráter de urgência, medidas adequadas para
reduzir as centenas de mortes que, em tempos normais, seriam evitadas.
(*) Médico
e presidente do Comitê estadual do Controle do Câncer de Mama.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 28/10/2020. Opinião. p.18.
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