quarta-feira, 18 de novembro de 2020

DISTANÁSIA

Por Weiber Xavier (*)

Com o desenvolvimento tecnológico e o avanço da medicina têm-se a possibilidade de recuperar muitos pacientes graves antes sem chance de sobreviver. No entanto, muitas vezes têm-se observado a utilização "inadequada" da UTI e o emprego da tecnologia médica sem o devido questionamento ético. O doente grave sem possibilidade de melhora ou cura é levado a sofrer uma morte lenta, dolorosa, tripudiada em decorrência de tratamentos fúteis por meio de medidas extraordinárias geralmente caras, invasivas e complexas.

O exagero e a obstinação terapêutica para manter o paciente vivo a qualquer custo ou distanásia tornou-se, infelizmente, prática em nossas UTIs. Pacientes em estado terminal experimentam menos estresse e cuidados médicos menos agressivos se tiverem discussões sobre o fim da vida com seus médicos, de acordo com os resultados de um estudo do Journal of the American Medical Association.

As discussões sobre o fim da vida oferecem aos pacientes a oportunidade de definir seus objetivos e expectativas quanto aos cuidados médicos que desejam receber perto da morte. Mas essas discussões também significam confrontar as limitações dos tratamentos médicos e a realidade de que a vida é finita, os quais podem causar sofrimento psicológico.

O respeito pela autonomia do paciente (consentimento informado) é fundamental na assistência de saúde, inclusive em terapia intensiva. Cuidados de UTI quando clinicamente apropriados são componentes dos serviços de saúde e devem estar disponíveis para todos. O dever dos provedores de saúde em beneficiar um paciente específico tem limites quando o faz de forma injusta e compromete a disponibilidade dos recursos necessários para outros pacientes. Saber como utilizar a ciência e a tecnologia médica diante dos doentes críticos com recursos finitos é uma tarefa difícil e eticamente desafiadora. Segundo Aristóteles em Ética a Nicômano: "É como a medicina, onde é fácil saber quais são os medicamentos, a cauterização e a cirurgia, mas saber como administrá-los, a quem e quando, para tornar o paciente saudável, é a tarefa verdadeiramente difícil de ser médico". 

(*) Médico e professor de Medicina da UniChristus.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 13/10/2020. Opinião. p.18.

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