Como aluno de Medicina, Eilson
Goes de Oliveira destacava-se desde o vestibular, quando aos 17 anos, conquistou
o primeiro lugar geral da UFC, em renhida disputa. Suas notas nas cadeiras do
curso se diferenciavam das dos demais colegas, que, por sinal, formava uma das
melhores turmas da briosa Faculdade de Medicina.
Uma vez, os seus colegas de turma,
cientes de que foram muito mal numa prova, mesmo antes da divulgação dos
resultados, procuraram o professor, com uma proposta “salvadora”:
– Professor, nós achamos que a
turma se deu muito mal na sua última prova – falou um estudante, arvorando-se
de porta-voz dos seus companheiros.
– Sim, é verdade – confirma o mestre – já terminei a
correção.
– Como foram as notas,
professor?
– A maioria está entre três e quatro: foi uma decepção para
mim.
– Pelo que a gente conversou em
classe, isso bate com as nossas expectativas. Nós até discutimos uma solução
que facilita para todo mundo, até pro senhor.
E assim prosseguiu o aluno:
– Professor com essas notas,
muitos colegas vão ficar de segunda época, e até o senhor vai ter que
sacrificar as suas benditas férias.
– Para mim, isso não é problema, pois faz parte das minhas
obrigações docentes. Mas qual é mesma a proposição de vocês? – Indagou o lente.
– A gente gostaria que a maior
nota da turma valesse o dez e as demais seriam ajustadas por proporcionalidade.
– Não vai dar para fazer isso, já que um dos alunos se distinguiu
dos outros, cravando, isoladamente, um merecido dez.
– Ah, foi! Eu nem vou perguntar
quem fez tal proeza. Deve ser coisa do Eilson, num foi?
– Sim. Foi dele a melhor prova. Não tem como fazer
bonificação de pontos aos outros alunos, pois seria até uma injustiça a esse
brilhante aluno.
– É, infelizmente, nós até
pensamos em dar um “chega” nele, pra ver se ele “baixa o nível” nos exames, mas
a maior parte da turma discordou disso.
– Penso que o correto seria vocês estudarem mais para
acompanhar o ritmo dele – pontificou o velho catedrático.
– Não vai dar, por mais que nos
esforcemos; afinal, ele é um gênio.
– Fica com vocês o drama da sugestão do pacto de
mediocridade. O máximo que poderei fazer será aplicar uma prova de recuperação – arrematou o
docente, pondo fim na conversa.
Marcelo Gurgel
Carlos da Silva
Presidente da Sobrames - Ceará
* Publicado,
originalmente, In: SILVA, M.G.C. da. Contando Causos: de médicos e de mestres.
Fortaleza: Expressão, 2011.112p. p. 16-7.
Fonte:
SILVA, M.G.C. da. Eilson, o “outlier” nas notas.
In: SOBRAMES – CEARÁ. Pontos de vista. Fortaleza: Sobrames-CE/Expressão,
2019. 352p. p.230-1.
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