quarta-feira, 4 de novembro de 2020

SEIS MESES DE PANDEMIA: o que aprendemos

Por Roberto da Justa Pires Neto (*)

Após seis meses de pandemia em nosso Estado, a constatação que temos é de uma tragédia humanitária sem precedentes nos últimos quase 100 anos, com mais de 8.000 vidas perdidas. O alento é que poderia ter sido pior.

As ações de enfrentamento desencadeadas pelo poder público estadual e de Fortaleza, reconheça-se, tiveram elevado grau de coordenação, transparência e foram referenciadas na ciência, o que certamente resultou em muitas vidas salvas. Contudo, ainda tivemos número expressivo de infectados, mortos e sequelados. E a população mais vulnerável social e economicamente foi a mais afetada, expondo mais uma vez a importância de determinantes sociais e econômicos em nossas tragédias.

O sistema público de saúde do Estado cumpriu missão inestimável e foi capaz de dar a resposta possível, a despeito de suas fragilidades históricas. Investimentos significativos foram efetivados de forma emergencial na ampliação da capacidade de atendimento, vigilância epidemiológica, testagem, leitos de internamento, equipamentos e insumos. Profissionais de saúde deram exemplos de compromisso, dedicação e empatia. Ainda assim, resta evidente a necessidade de mais investimentos não só no sistema público de saúde como nas condições de vida da população mais pobre e afetada.

A pandemia ainda não acabou. O momento é de muita cautela e vigilância. As ações de prevenção, educação em saúde, testagem e vigilância epidemiológica devem ser ampliadas, até que tenhamos uma vacina segura, eficaz e acessível para toda a população. Toda vida importa. Não podemos banalizar a morte. A maior dificuldade será equilibrar a necessidade de retorno das atividades sociais e econômicas sem que as medidas preventivas sejam negligenciadas.

É precipitado falar em legado. A palavra transmite a sensação de situação resolvida, e não é esta a realidade. Falemos de aprendizados, ensinamentos. Até agora aprendemos que estamos lidando com uma doença altamente transmissível e letal. Que precisamos melhorar a estrutura, a qualidade e a política de recursos humanos de nosso sistema público de saúde. Que a solidariedade humana ainda está presente.

Que os aprendizados sejam importantes para o melhor enfrentamento de desafios futuros. Estes certamente virão e poderão até ser maiores que a pandemia de Covid-19. 

(*) Médico infectologista e professor da Faculdade de Medicina da UFC.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 25/09/2020. Opinião. p.21.

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