Por Roberto da Justa Pires Neto (*)
Após
seis meses de pandemia em nosso Estado, a constatação que temos é de uma
tragédia humanitária sem precedentes nos últimos quase 100 anos, com mais de
8.000 vidas perdidas. O alento é que poderia ter sido pior.
As
ações de enfrentamento desencadeadas pelo poder público estadual e de
Fortaleza, reconheça-se, tiveram elevado grau de coordenação, transparência e
foram referenciadas na ciência, o que certamente resultou em muitas vidas
salvas. Contudo, ainda tivemos número expressivo de infectados, mortos e
sequelados. E a população mais vulnerável social e economicamente foi a mais
afetada, expondo mais uma vez a importância de determinantes sociais e
econômicos em nossas tragédias.
O
sistema público de saúde do Estado cumpriu missão inestimável e foi capaz de
dar a resposta possível, a despeito de suas fragilidades históricas.
Investimentos significativos foram efetivados de forma emergencial na ampliação
da capacidade de atendimento, vigilância epidemiológica, testagem, leitos de
internamento, equipamentos e insumos. Profissionais de saúde deram exemplos de
compromisso, dedicação e empatia. Ainda assim, resta evidente a necessidade de
mais investimentos não só no sistema público de saúde como nas condições de
vida da população mais pobre e afetada.
A
pandemia ainda não acabou. O momento é de muita cautela e vigilância. As ações
de prevenção, educação em saúde, testagem e vigilância epidemiológica devem ser
ampliadas, até que tenhamos uma vacina segura, eficaz e acessível para toda a
população. Toda vida importa. Não podemos banalizar a morte. A maior
dificuldade será equilibrar a necessidade de retorno das atividades sociais e
econômicas sem que as medidas preventivas sejam negligenciadas.
É
precipitado falar em legado. A palavra transmite a sensação de situação
resolvida, e não é esta a realidade. Falemos de aprendizados, ensinamentos. Até
agora aprendemos que estamos lidando com uma doença altamente transmissível e
letal. Que precisamos melhorar a estrutura, a qualidade e a política de
recursos humanos de nosso sistema público de saúde. Que a solidariedade humana
ainda está presente.
Que
os aprendizados sejam importantes para o melhor enfrentamento de desafios
futuros. Estes certamente virão e poderão até ser maiores que a pandemia de
Covid-19.
(*) Médico infectologista e professor da Faculdade de Medicina da UFC.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 25/09/2020. Opinião.
p.21.
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