A carroça, o burro e as fontes renováveis
Quem
ainda, hoje em dia, vê carroça puxada por tração animal na Aldeota? Pois eu vi
uma nesse começo de ano, fazendo mudança, com direito a levar o cachorro
amarrado em barbante no chassi. Infeliz e hilariante episódio... É que o animal
entendeu de defecar no cruzamento de duas ruas famosas, para azar do senhor
que, desavisado, atravessava a dita artéria "de a pés". Sapato
mocassim zerado agora imerso na bosta verde do burro branco. Inevitáveis
palavrões!
- Arre eras!!! Piula!!! Fela da
gaita!!!
O
"carro tosco puxado por bestas, para transporte de carga..." prosseguiu
viagem, malgrado o incidente. Quando o senhor do sapato cagado, ainda atolado
no cocô, berrou de novo atônito:
- Pare já isso! Vou chamar o
Juizado de Pequenas Causas! Exijo reparação!
Pra
encurtar conversa, a vítima ganhou a questão. A análise dos peritos não deixava
dúvidas. O problema é que a carroça fazia serviços eletrônicos de transporte
privado urbano clandestinamente (Uber de pobre), o guiador não tinha
habilitação e o burro, por mais tentassem, não conseguia reparar o que fizera
em bom português.
O último galo
Seu
Bibiu e dona Safira viviam, no pé dum serrote, da cestinha básica doada pelo
Gunverno. Foguinho de lenha, fogãozinho de barro, trempes em petição de
miséria. Pros dois qualquer comidinha matava fome, coisa do mato mesmo - do
peixe ao preá. Aqui e acolá, 'interavam' com farinha, macaxeira, jerimum.
Mas,
a calmaria é quebrada com a chegada do sobrinho de Safira, João Moganga, que
dizem corrido da polícia. Comia feito um condenado. As omoplatas, duas portas.
O almoço dele era pra quatro se fartarem. Engolia, arrotava e deitava na rede
até!...
Quinze
dias de sobrinho por lá e Safira não tem mais o que levar ao fogo. João tira o
dia nos braços de morfeu. Parece morto. O velho Bibiu pede a mulher que acorde
o rapaz, pelo menos pra caçar um tiú, um peba. Safira chacoalha a rede.
- Acorda, homi! Se anime!
João
apenas roncava. Dormia desde as quatro da tarde anterior. Já lá se iam 25 horas
de berço. Bibiu queria que aquele homão fosse ao menos ver um feixe de lenha no
mato pra cozinha sabe Deus o quê...
- Levante, preguiça! Isso são
horas? O galo já cantou!!!
- Cuma? Ainda tem um galo! Bom, quando estiver no ponto, me acorda!
O elixir do Giovani Oliveira
O
amigo iguatuense conta que seu Teté comprou uma garrafa do "Elixir da Juventude" e toda noite
tomava uma colherada do milagroso remédio. Certa noite, emborcou a garrafa toda
e foi dormir, sedento de renovar tudo mais apressadamente. Como de costume, ele
acorda cedo. Mas, naquele dia, sua jovem namorada estranhou que ele ainda
dormisse depois das cinco da manhã. Tentou acordá-lo:
- Tetezinho, meu filho, acorde!
Pôr
três vezes a moça tentou despertar o velhinho, que dormia o sono dos justos. Já
preocupada, balançou o punho da rede com força e bradou:
- Filhinho, acorde!!!
Seu
Teté abre enfim os olhos e diz, bocejando:
- Acordar eu acordo, mas não tem quem faça eu ir pro colégio hoje!
Fonte: O POVO, de 10/01/2020.
Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos.
p.2.
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