Quem contou esta foi o Livino Jr.
Certo dia o Prof. Eilson Goes de Oliveira mandou chamá-lo, e disse:
–
Livino, você vai fazer comigo a prova de Física do Vestibular da Escola de
Enfermagem da Universidade Estadual do Ceará.
– Não estou entendendo nada,
retrucou o outro. Tem coisa errada aí, eu não sou professor da Universidade
Estadual, sei física, mas não sou professor de física. Será que isso não vai
lhe criar problema?
Eilson, peremptoriamente,
respondeu:
–
Livino, prefiro você mais do que uns professores que conheço.
A resposta veio imediata:
– Mestre, isso vai dar bronca.
Mas ele não quis nem saber. Em
contrapartida, disse:
–
Rapaz deixa de ser chato e vai por mim. O Reitor me deu carta branca para
escolher o outro professor que comporia a banca (eram dois professores por
banca).
Usando de uma certa intimidade,
Livino Jr. argumentou:
– Cara, se você acha que está tudo
bem, está tudo bem, o problema é teu.
No mesmo dia, era elaborada a
prova de matemática também por dois professores. Por exigência da UECE, quem
participasse da feitura de prova, tinham que passar 24 (vinte e quatro horas)
isolado para não haver possibilidade de "vazamento" de questões. Na
hora do almoço, aconteceu o inesperado.
Eilson era muito introspectivo e
quando ele e Livino Jr. chegaram à mesa do almoço, esse último se aproximou dos
professores que estavam elaborando a prova de matemática, e falou:
– Vocês devem ser
os professores que estão fazendo a prova de matemática; somos nós que estamos
elaborando a de física; este aqui, – apontou
para o mestre Eilson – é o professor Eilson Goes de Oliveira, e eu sou Livino
Júnior.
Nessa
altura dos acontecimentos, os professores de matemática já sabiam que a prova
de física estava sendo feita por dois professores, ambos médicos e patologistas
(por que não físicos?); a modesta conversa, orquestrada pelo Livino Jr.,
começava a pesar, já que o ambiente não era muito leve.
No
final do almoço, um dos professores de matemática falou:
–
Olhem colegas, nós temos um problema na prova que estamos elaborando. Será que
vocês, com o conhecimento de física que possuem, e que devem também conhecer
matemática, poderiam nos ajudar?
Expôs
o problema e com o giz na mão dirigiu-se ao Livino Jr. O Eilson entrou então na
história e falou para o colega:
–
Rapaz, não faça isso, porque iremos perder muito tempo; deixe que eu resolvo.
Pegou
o giz e, seguidamente, resolveu o problema de três maneiras diferentes. Os dois
professores ficaram com ar espantado e, em vez de olhar para o Eilson, que era
menos jovem, olharam de pronto para o "jovem prodígio", no caso ele,
Livino, pois se o mais experiente respondia daquela maneira, certamente o mais
novo iria complicar demais pelos seus conhecimentos; os matemáticos não
conseguiram, durante uns cinco minutos, retirar os olhos do Livininho, médico
patologista e “doublé” de professor de física
Talvez
tenha sido essa a única vez que ele se sentiu um gênio (mesmo que fabricado
pelo Eilson).
Marcelo Gurgel
Carlos da Silva
Presidente da Sobrames - Ceará
*
Publicado, originalmente, In: SILVA, M.G.C. da. Contando Causos: de médicos e
de mestres. Fortaleza: Expressão, 2011.112p. p. 19-20.
Fonte:
SILVA, M.G.C. da. Fabricante de gênios. In:
SOBRAMES – CEARÁ. Pontos de vista. Fortaleza: Sobrames-CE/Expressão, 2019.
352p. p.233-5.
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