Nos anos sessenta, os acadêmicos
de Medicina da UFC alegavam que um dos professores de psiquiatria não
apresentava critérios lógicos na correção das suas provas, sendo a nota, para o
aluno, uma incógnita, revelada apenas quando dela se tomava conhecimento
público.
Esse descrédito, passava de uma
turma para a seguinte, fazendo com que os estudantes, deliberadamente, praticassem
a “cola” amiúde, já que, para eles, a aferição de desempenho parecia não
guardar uma relação estreita com o esforço de estudar a matéria.
Eilson Goes de Oliveira, que
jamais “colava” nas provas, para evitar o burburinho dominante na sala, que
mais lembrava um mercado persa, rogou o desejo de fazer a sua prova no “bureau”
do mestre.
Com a anuência do “magister”,
Eilson sentou-se à mesa, portando tão somente caneta, lápis e as folhas de
papel almaço, devidamente rubricadas pelo professor.
Na semana seguinte, quando o
professor de psiquiatria foi devolver as provas corrigidas, o contentamento era
geral, pois a maioria dos colegas obtivera nota entre sete e nove.
Por fim, liberou a avaliação do
Eilson:
–Eilson Goes de Oliveira, nota
quatro.
Foi uma chiadeira geral, provocada
pela surpresa daquele anúncio.
Percebendo a agitação reinante, o
docente justificou:
– Esta estava tão bem-feita, de
livro, que eu não tive dúvidas. Ele “pescou” demais, para realizar uma prova
perfeita.
Foi difícil ao Eilson, mesmo arrolando
testemunhas, convencer o psiquiatra de que cometera uma injustiça, e reverter
aquela vexaminosa nota.
Marcelo Gurgel
Carlos da Silva
Presidente da Sobrames - Ceará
* Publicado,
originalmente, In: SILVA, M.G.C. da. Contando Causos: de médicos e de mestres.
Fortaleza: Expressão, 2011.112p. p. 17-8.
Fonte:
SILVA, M.G.C. da. “Pescou” muito na prova de
psiquiatria. In: SOBRAMES – CEARÁ. Pontos de vista. Fortaleza:
Sobrames-CE/Expressão, 2019. 352p. p.232.
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