terça-feira, 30 de setembro de 2025

EUA, grana versus granada

Por Pedro Jorge Ramos Vianna (*)

A história dos EUA é repleta de operações militares em guerras ou conflitos armados em outros países. Alguns por interesse próprio, outros para "ajudar" países parceiros em seu comércio exterior. Fora as guerras internas: da independência, da secessão e do massacre dos indígenas, essa nação já se envolveu em treze conflitos armados fora de seu território. Deve-se dizer que esses conflitos armados trouxeram bons lucros para os EUA. Daí o título deste artigo.

As "granadas" trouxeram recursos e prestígio para aquele país. A começar pela guerra da independência de Cuba, que lhe trouxe o domínio de algumas colônias espanholas. Deve-se ressaltar, entretanto, que nem sempre o país se imiscuiu por vontade própria em uma guerra, como aconteceu com a I Grande Guerra, mas foi obrigado a entrar na batalha, como foi o caso da II Grande Guerra, quando a Inglaterra de Churchill pressionou muito para que os EUA se envolvessem na guerra. Mas, sobretudo, porque a Alemanha e a Itália declararam guerra àquele país.

Aqui vale chamar a atenção que as guerras na Europa nos meados do século dezoito determinaram uma transferência de mão de obra europeia muito qualificada para o país, o que lhe possibilitou expandir seu sistema produtivo. Mas, foi a imigração de centenas de cientistas europeus (principalmente alemães), antes e depois da II Grande Guerra, que possibilitou o grande avanço da ciência americana no Século Vinte.

Cito aqui alguns físicos só para o leitor ter uma ideia da importância dessa migração: John Von Neumann, Albert Einstein, Enrico Fermi, Edward Teller, Werner Von Braum, Leo Sziilard, Eugene Wigner, Theodor von Karman, George de Nevesy, Hans Bethe, Felix Bloch, Konrad Dannenberg, Walter Thiel, Winter Dornberger. Por outro lado, a produção industrial bélica, custeada pelo Governo Federal, se expandiu para a produção industrial civil e o País se tornou a nação economicamente mais poderosa do mundo.

Também é importante citar a execução do Plano Marshall (Programa de Recuperação Europeia), posta em prática pelos EUA e, também, custeado pelo governo federal. Para se ter uma ideia dos valores envolvidos no Plano Marshall, a preços de 2020, estudo realizado pelo IPEA, em 2021, estima que durante os quatro anos de sua vigência foi dispendida pelos EUA, a cifra de US$1.35 trilhão.

Vale registrar que as principais ações patrocinadas por aquele país, na vigência do Plano Marshall, foram programas de subsídios e financiamentos econômicos. De qualquer forma, esse Plano deu aos EUA a importância política que ele ainda hoje ostenta. Portanto, foram as "granadas" que trouxeram não só o poderio militar para aquele país, mas determinaram seu poderio socioeconômico.

(*) Economista e professor titular aposentado da UFC,

Fonte: O Povo, de 24/08/25. Opinião. p.18.


segunda-feira, 29 de setembro de 2025

Gravidez precoce perpetua a pobreza e a falta de prioridade política

Por Sara Oliveira (*)

Em 2023, na sala de espera da Maternidade Escola Assis Chateaubriand (Meac), lembro de entrevistar avó e mãe. A primeira com 47 anos, cinco filhos e dez netos. A segunda com 17 anos, sendo mãe pela primeira vez, depois de cuidar dos três filhos da irmã, de 20 anos. As dificuldades que eu, na época com 40 anos e dois filhos, comecei a narrar sobre a vida materna, se perderam em meio aos relatos daquelas duas mães.

O pai do bebê da adolescente estava preso, ela não havia terminado nem o ensino fundamental e quando perguntei sobre o futuro, a resposta foi "ainda não pensei". A avó, de pronto, reagiu: "Que futuro uma mãe que não trabalha pode dar ao filho? Porque eu trabalho para dar a ela, porque não tem quem dê. O pai foi só pra fazer".

Não se trata de um caso isolado. Uma em cada 23 meninas brasileiras entre 15 e 19 anos já teve um filho. Em mais de 49 mil partos, a mãe tinha entre 10 e 14 anos. Os números, embora já conhecidos, escancaram o resultado da carência de políticas públicas que amenizem as vulnerabilidades às quais meninas são expostas no Brasil.

Dados são de pesquisa da Universidade Federal de Pelotas, de 2020 a 2022, e consideram a taxa de fecundidade em 5,5 mil municípios brasileiros. Estudo exibe um recorte sócio-econômico alarmante: 69% dos municípios apresentaram índices de fecundidade acima do que seria esperado para um país de renda média-alta, que é a classificação econômica oficial do Brasil.

Cenário que destaca as desigualdades regionais e prova a relação direta entre gravidez precoce, pobreza, evasão escolar e falta de acesso a serviços públicos. Na região Norte, o índice de grávidas é de 77,1 nascimentos por mil meninas. No Sul, essa taxa é de 35.

Antes de engravidar, durante a gestação e depois de estar com o filho nos braços, essas jovens convivem com diversos e diferentes riscos sociais. São vítimas de abusos, estupros e violências. E como em todas as estatísticas que envolvem crimes sexuais e de violência contra mulheres, é preciso fazer a ressalva da subnotificação.

Em 2025, até julho, no Ceará, dos 1.019 crimes sexuais registrados pela Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), 80% tiveram como vítima crianças e adolescentes até 19 anos. Um total de 825 casos, dos quais, 85% foram contra crianças até 14 anos. Meninas que na grande maioria das vezes sofrem sem denunciar, engravidam sem ter direito a abortar e continuam a viver à margem dos direitos que deveriam lhes ser assistidos. Um ciclo geracional, afetado pela falta de assistência e oportunidade.

A gravidez precoce perpetua a pobreza e ratifica a falta de prioridade política. Tem impacto nos principais segmentos da sociedade: Saúde, Educação, Economia. Os números precisam incitar ações para que o futuro de meninas não seja mais violado.

(*) Jornalista de O Povo.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 22/08/2025. Opinião. p.19.

domingo, 28 de setembro de 2025

Causo Médico: FAÇAM SILÊNCIO!

O professor José Batista (nome fictício) estava saindo do Centro Cirúrgico do Hospital Universitário, quando foi alcançado por um colega docente do seu Departamento de Cirurgia, que lhe indagou:

– José, o que houve? A cirurgia já terminou?

– Não houve cirurgia, colega.

– Mas por que?

– O anestesista considerou que as condições de coagulabilidade do paciente estavam inadequadas. Por isso, para evitar um possível risco de sangramento profuso, capaz de comprometer a saúde do enfermo, consideramos mais prudente, suspender o ato cirúrgico, para estabilizar as suas condições pré-operatórias.

– Vocês agiram com prudência – pontificou o colega.

– Sim. Apenas lastimo porque isso deveria ter sido visto pelo médico residente, antes de enviar o paciente para a sala de operações.

– Creio que em mais alguns dias ele estará apto para a cirurgia.

– Certamente. Houve, porém, uma ineficiência institucional, porquanto, se o problema dele fosse detectado com a devida antecipação, um outro paciente poderia ter sido habilitado, a tempo, para ser operado, ao invés desse doente que teve a sua cirurgia cancelada.

– Mudando de assunto, José: o que você vai fazer agora, diante do cancelamento da cirurgia?

– Bem! Eu vou à Biblioteca da faculdade para ler o último número da Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões.

– Meu caro José, eu preciso de um grande favor seu.

– Você quer algo na biblioteca? Estou ao seu inteiro dispor – respondeu José Batista.

– Não. É um grande favor, e não tem nada a ver com a biblioteca.

– Não se acanhe, homem. Tenho o resto dessa manhã disponível para o que você precisar.

– Eu fui chamado, faz pouco tempo, para resolver um problema externo ao nosso Campus, no Departamento de Pessoal, e terei que me ausentar da faculdade. Ocorre que tenho que aplicar uma prova da minha disciplina agora.

– Pois não, sou todo ouvidos – retrucou José Batista.

– Como eu não devo adiar esse teste, para o qual os alunos se prepararam com a devida antecedência, postei-me aqui, na saída do Centro Cirúrgico, na espreita, como se diz, para captar algum docente capaz de me substituir nessa tarefa.

– Na tocaia, como fala o nosso bom sertanejo – complementou José.

– Afinal, José! Você pode “quebrar esse galho” pra mim?

– Claro que sim! É apenas aplicar?

– Sim! Não comporta maiores instruções. Os alunos sabem direitinho como é a prova, que está bem fácil, aliás. Será uma tranquilidade, pois eles são bem-comportados e estudiosos.

José acata de bom grado o pedido do amigo, recebe as provas, e vai à sala de aula. Confiado nas informações do colega, passou antes em seu gabinete, para apanhar um bom livro de leitura, uma obra literária mais amena.

Durante a aplicação da prova, entre um conto e outro, o Prof. José Batista lançava seus fulminantes olhares para a turma, a fim de assinalar a sua presença física, mas nada “inspetorial”. Quando retornava à leitura, despontava um “converseiro” geral no recinto.

O professor levantou-se, e apelou:

– Façam silêncio, por favor; concentrem-se na prova.

Depois de duas polidas intervenções, que naturalmente não surtiram qualquer efeito, o Prof. José, tentando demonstrar a sua insatisfação, dá um soco na mesa, e proclama a sua autoridade magisterial:

– Façam silêncio! Caso contrário, serei obrigado a recolher provas.

Nesse instante, um silêncio sepulcral domina o ambiente, mas foi logo interrompido, por uma anônima voz, em tom cavernoso, irrompida do fundo da sala:

– FAÇAM SILÊNCIO! O PROFESSOR ESTÁ LENDO!

A partir daí, não deu para conter os risos gerais da audiência, incluindo o do mestre da sala, que não era mestre-sala, e nem estava disposto a sambar na pista.

Marcelo Gurgel Carlos da Silva

Da Sobrames/CE e da Academia Cearense de Médicos Escritores

Fonte: SILVA, Marcelo Gurgel Carlos da. Medicina, meu humor! Contando causos médicos. 2.ed. Fortaleza: Edição do Autor, 2022. 144p. p.62-64.

* Republicado In: SILVA, M.G.C. da. AMC. Causo médico: façam silêncio! Revista AMC (Associação Médica Cearense). Janeiro de 2024 - Edição n.29, p.28-30 (online).


FAROL DA VIDA CRISTÃ

Por Pe. Eugênio Pacelli SJ (*)

Setembro, para a Igreja no Brasil, é celebrado como o mês da Bíblia, tempo fecundo em que somos convidados a voltar o coração para a Palavra de Deus, que não é letra morta, mas sopro de vida, chama que ilumina nossos passos e sustenta nossa fé.

A Bíblia é muito mais do que um livro antigo: é espaço de encontro, lugar onde o próprio Cristo se revela, nos chama pelo nome e nos convida à intimidade com Ele. “A Palavra se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). Cada vez que abrimos as Escrituras, é o Senhor quem atravessa o silêncio e fala diretamente ao coração.

Recordo o método de Santo Inácio de Loyola, que nos ensina a contemplar o Evangelho com todos os sentidos. A Palavra não deve ser apenas lida, mas saboreada; não apenas estudada, mas rezada. Ao entrar nas cenas bíblicas, deixamos de ser espectadores para nos tornarmos participantes da história da salvação, experimentando a proximidade de Cristo que nos guia, consola e transforma.

Neste ano, a Igreja nos convida a mergulhar na Carta aos Romanos, com o lema: “A esperança não decepciona” (Rm 5,5). São Paulo escreve a uma comunidade desafiada pela perseguição e pela incerteza, mas proclama que a esperança cristã não é simples otimismo humano. Ela nasce do Espírito Santo, derramado em nossos corações, que sustenta quando tudo parece desmoronar.

Essa esperança não engana, porque se fundamenta na fidelidade de Deus, capaz de transformar o sofrimento em vida nova. Celebrar o mês da Bíblia, porém, não é apenas recordar palavras inspiradas: é comprometer-se a vivê-las. Jesus afirma: “Felizes os que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática” (Lc 11,28). A Escritura se torna fecunda quando se traduz em atitudes concretas: perdoar, reconciliar-se, acolher, lutar por justiça, consolar os que sofrem.

Assim, a Palavra ganha carne em nossa vida e continua a encarnar-se no mundo. Que este setembro nos encontre com a Bíblia nas mãos, oração nos lábios e disponibilidade no coração. Que aprendamos a escutar, na simplicidade das páginas sagradas, a voz de Deus que guia nossos passos. Pois, como nos recorda o salmista: “Lâmpada para os meus pés é a tua Palavra e luz para o meu caminho” (Sl 119,105).

(*) Sacerdote jesuíta e mestre em Teologia. Escritor. Diretor do Mosteiro dos Jesuítas de Baturité e do Polo Santo Inácio. Fundador do Movimento Amare.

Fonte: O Povo, de 20/09/2025. Opinião. p.18.


sábado, 27 de setembro de 2025

Jesus das Santas Chagas, refúgio de amor e misericórdia

Por Pe. Reginaldo Manzotti (*)

Setembro chega como tempo de graça, o mês em que intensificamos nossa preparação espiritual para celebrar Jesus das Santas Chagas. Agradeço a Deus por nos ter concedido uma devoção tão significativa.

Quando contemplamos as Chagas de Jesus, não estamos apenas olhando para a dor, mas para o amor que se entrega e vai às últimas consequências na cruz. Elas são a comprovação do sacrifício que nos redimiu, a certeza de que Deus nos amou primeiro e com um amor sem limites (1Jo 4,19).

O próprio Jesus Ressuscitado fez questão de mostrar Suas Chagas a Tomé, não como um sinal de fraqueza, mas como comprovação da Sua identidade "Sou eu mesmo". Ele diz a Tomé: "Não sejas incrédulo, mas crê" (Jo 20,27). Assim, as Santas Chagas gloriosas são também prova viva da vitória sobre o pecado e a morte.

Na cruz, Jesus transformou o instrumento de suplício em altar de redenção. Suas chagas, abertas por nossos pecados, são fontes de cura espiritual e restauração. Cada marca em Seu corpo sagrado representa um ato de amor infinito, uma ponte entre a fragilidade humana e a misericórdia divina.

Eu sempre bato na mesma tecla, as Santas Chagas são muito mais do que lembranças de um sofrimento passado. A fé cristã nos convida a enxergar nas Santas Chagas de Jesus não apenas marcas da dor, mas fontes inesgotáveis de cura, libertação e amor. A espiritualidade das Santas Chagas é um convite à comunhão profunda com Cristo sofredor e glorificado. Eu sempre bato nesta mesma tecla: não se trata de um culto ao sofrimento pelo sofrimento, mas de reconhecer que é precisamente na dor redimida pelo amor que o ser humano encontra sentido, consolo e renovação.

Nelas encontramos alívios para as nossas próprias feridas, sejam elas físicas, emocionais ou espirituais. Muitos são os testemunhos que nos chegam, de pessoas que se confiaram a Jesus das Santas Chagas, que clamaram uma gota do Seu Sangue Redentor, sobre suas vidas e alcançaram alívio em seus sofrimentos, restauração da saúde e libertação de vícios. É nas Santas Chagas de Cristo, que as nossas são curadas.

Por isso, no silêncio das dores humanas, onde corações feridos buscam consolo, encontramos em Jesus das Santas Chagas um abrigo seguro, refúgio de amor e misericórdia. Suas chagas sagradas não apenas revelam o sofrimento redentor, mas acolhem com ternura cada alma cansada.

As chagas das mãos lembram o trabalho e a dedicação de Cristo, que sempre estendeu suas mãos para curar, abençoar, consolar e receber os marginalizados. Essas mãos que foram perfuradas na cruz, agora tocam e abraçam cada um de nós.

As chagas dos pés simbolizam o caminho de compaixão, sempre em busca da ovelha perdida. Esses pés transpassados pelos pregos, percorrem conosco os caminhos

A chaga do lado, Seu Coração ferido pela lança, de onde jorrou sangue e água, representa o nascimento da Igreja, os Sacramentos do Batismo e da Eucaristia. É o local onde a compaixão divina se manifesta em sua plenitude, onde o amor de Deus se derrama sobre toda a humanidade. "O coração de Jesus foi ferido, a fim de nos mostrar pela chaga visível o seu amor invisível." (São Boaventura)

Essa devoção tem também um profundo aspecto missionário: somos chamados a ser instrumentos da misericórdia de Jesus Cristo. Ao contemplarmos Suas Chagas, somos enviados a curar as feridas do mundo. Se vivemos unidos a Jesus das Santas Chagas nos tornamos portadores da graça, uma presença de esperança onde houver dor.

Que Jesus das Santas Chagas abençoe e guarde a todos vocês e suas famílias, hoje e sempre!

(*) Fundador e presidente da Associação Evangelizar é Preciso e pároco reitor do Santuário Nossa Senhora de Guadalupe, em Curitiba (PR).

Fonte: O Povo, de 6/09/2025. Opinião. p.18.

CONVITE: Celebração Eucarística da SMSL - Setembro/2025

A Diretoria da SOCIEDADE MÉDICA SÃO LUCAS (SMSL) convida a todos para participarem da Celebração Eucarística do mês de setembro/2025, que será realizada HOJE (27/09/2025), às 19h, na Igreja de N. Sra. das Graças, do Hospital Geral do Exército, situado na Av. Des. Moreira, 1.500 – Aldeota, Fortaleza-CE.

CONTAMOS COM A PRESENÇA DE TODOS!

MUITO OBRIGADO!

Marcelo Gurgel Carlos da Silva

Da Sociedade Médica São Lucas

sexta-feira, 26 de setembro de 2025

Crônica: “Quando a língua abala” ... e outros causos

Quando a língua abala

Marcelo Vaquejada, amigo de Cedro, conta mais uma daquelas bandas de Ceará Alegre.

- Vô Abel era caba namorador, raparigueiro, e vó vivia pagando no pé. Um dia, ele chegou de madrugada dum samba e, de fininho, pra não acordar o povo de casa, dirigiu-se sorrateiro à alcova. Ocorre que vó, desconfiada, estava à espera pra tirar satisfações. E vó não deixou mais ninguém dormir. Disparou a falar, ininterruptamente, condenando a atitude do marido. Ocorre que tio Chico Velho, rede armada na sala, doido pra dormir, reclamou:

- Pai! Vê se mãe cala a boca uma coisinha!

Vô Abel respondeu, como quem diz "agora tá na casa do sem jeito"...

- Chico Véi, deixa! O 38 da tua mãe é a língua, não fere, mas é tiro pesado!

Se tarifarem o sabugo, lascou!

Procópio Strauss, ultimamente sumido, mandou notícias do mundo de lá, para regozijo nosso. Diz que um sobrinho, Neemias, no "trono", rolo de papel higiênico na mão, encara-o solene e divaga - a ponto de dormir e sonhar, enquanto fazia...

"Novinho em folha esse rolo de papel picotado - amigo íntimo. Parece que nunca vai acabar os 50m prometidos, mas acaba. E limpa suave e perfuma, mas terei de pedir o concurso de uma ducha pra completar a higiene, porquanto sempre restam rastros do que se foi. E me levanto e saio pra trabalhar (na empresa de um primo); volto vexado pra casa (prédio de 20 andares) e de novo me vejo aqui, sentado. Segurando o dito rolo de papel picotado - amigo íntimo, imagino como era no tempo de vô Cormo e de vó Chica, no Sertão Central cearense: o roçado, a firma das labutas; a morada, a casa de taipa humílima; o limpador das partes, o sabugo que desbasta e penteia. Tempo de delicadezas, aquele..."

Falando com quem entende

Novona e bonita ainda, a valorosa Neuma Fanta Uva soube por vizinhos que o marido Diomedes - pulador de cerca inveterado - estava de caso novo com uma criatura de 45 anos no Beco do Cassaco que até filhos homens prometia lhe dar. Não suportando a "arrumação do caba sem vergonha", moral lá embaixo, chama a "famiação" (filhas e genros, sobrinhos e primos, demais parentes) para dividir a novidade já nem tão nova.

Pela primeira vez, botou o marido no centro da sala, cadeiras em redor, como se vê no Roda Viva, e, num grito de socorro brando, começa cautelosamente a exposição:

- Seu Diomedes, seu Diomedes! Chamei todo mundo aqui pra dizer que eu tô sabendo!!!

- Sabendo de que, hômi?

- Dumas histórias acolá! Tô sabendo duma rapariga ali...

- Alto lá, Neuminha! Peraí! De rapariga quem sabe aqui sou eu!

A razão de quem não tem

Tinha já mais de dois anos que Jotinha devia a Machadinho perto de 10 mil contos. Todo santo dia um cobrador na porta do mau pagador. E nada de liquidação do débito. Até que, afobado, o próprio Machadinho foi ao encontro de Jotinha. O credor, aos brados, disposto a começar ali uma mão de tabefe homérica, se necessário, assaca:

- Bora, bora, bora!!! Bora vexado pagar o que me deve!

- Calma, Machadinho, calma!

- Calma?!? Vai 'interar' três anos e não vejo a cor desse dinheiro!

- Você tem razão, Machadinho!

- Eu não quero razão! Quero meu dinheiro!

- Cê tem razão, cê tem toda...

- Pois fique com a sua razão e passe pra cá meu dinheiro!

Fonte: O POVO, de 29/08/2025. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.

quinta-feira, 25 de setembro de 2025

UM LEGADO NO COSMOS

Por Tales de Sá Cavalcante (*)

Você já viu um asteroide? Trata-se de um objeto rochoso, metálico ou misto que gira em órbita solar, mas, por seu diminuto tamanho, não é um planeta. Quando achado um novo asteroide, sua órbita é determinada e o descobridor sugere uma nomenclatura a ser aprovada pela União Astronômica Internacional (IAU).

A identificação é feita por um número, que caracteriza sua rota, seguido de um nome, como os asteroides já descobertos e batizados: (2001) Einstein, (3001) Michelangelo, (1815) Beethoven.

Robert Holmes Jr., Diretor do Instituto de Pesquisa Astronômica, em Illinois (EUA), descobriu um asteroide com órbita situada entre as de Marte e Júpiter e resolveu chamá-lo de (292352) Nicolinha, em homenagem a Nicole Oliveira Semião, de apenas 12 anos, aluna do 7º ano de uma escola do Ceará.

Em cerimônias realizadas em Dubai e em Londres, Nicolinha foi duplamente premiada pelo Global Child Prodigy Awards por ser uma das 100 crianças-prodígio da Terra. Ainda com 8 anos, Nicole tornou-se a mais jovem astrônoma caçadora de asteroides do globo. Hoje, é embaixadora da União Brasileira de Astronomia, já detectou 80 asteroides, sendo 7 deles provisórios, e possui 70 certificados de cursos, palestras e eventos nacionais e internacionais. Por meio do link www.fariasbrito.com.br/nicolinha, podem ser vistas todas as conquistas da genial garota.

Ao caçar asteroides, talvez ela siga a célebre frase citada no livro Einstein: O Enigma do Universo, de Huberto Rohden: "Eu penso noventa e nove vezes e nada descubro; deixo de pensar e mergulho no silêncio. Eis que a verdade me é revelada."

Alguns países preferem aperfeiçoar as bombas. Não seria melhor incentivar talentos, como: Einstein, Michelangelo, Beethoven e Nicolinha? Ao incentivar Nicolinha e outras crianças-prodígio, nosso país adubará sementes que lhe trarão um futuro mais próspero. Uma boa educação não é uma saída, e sim, a saída para o Brasil. Se bem educadas, as pessoas terão bom nível e votarão bem. Para tanto, basta lembrarmos que o Universo é imenso e Nicolinha, tão pequena, já deixou um legado no cosmos.

(*) Reitor do FB UNI e Dir. Superintendente da Org. Educ. Farias Brito. Presidente da Academia Cearense de Letras.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 21/08/25. Opinião, p.18.


quarta-feira, 24 de setembro de 2025

Setembro Amarelo e o papel do ajustamento criativo nos processos autodestrutivos

Por Marluce da Mata Martins (*)

Falar sobre ideação suicida e processos autodestrutivos nunca é tarefa simples. Trata-se de um tema delicado, cercado de tabus — mas que precisa ser discutido com responsabilidade, empatia e acolhimento. Muitas pessoas, em diferentes momentos da vida, enfrentam sentimentos de incapacidade, insegurança, medo de não pertencer e até pensamentos suicidas.

Quando o sofrimento não encontra espaço de escuta e apoio, pode levar ao isolamento, ao adoecimento do corpo e da mente — e até à perda do sentido de viver. Segundo a Gestalt-Terapia, esses processos envolvem não apenas dor psíquica, mas também uma dimensão existencial profunda.

A ausência de acolhimento e suporte pode intensificar mecanismos autodestrutivos, como a introjeção — quando o indivíduo passa a viver a partir das expectativas alheias, desconectando-se de sua própria essência. No auge do sofrimento, o suicídio pode surgir como uma aparente solução permanente para problemas passageiros.

No entanto, a experiência clínica e teórica nos mostra que, quando há hetero-suporte (apoio vindo do outro), vínculos saudáveis e um espaço real de pertencimento, é possível ressignificar a dor e reconstruir a vida. A Gestalt-Terapia propõe o conceito de ajustamento criativo — a capacidade de desenvolver novas formas de lidar com o sofrimento. Esse movimento pode transformar experiências autodestrutivas em aprendizado e crescimento.

O amor, o acolhimento e a possibilidade de pedir ajuda são elementos fundamentais nesse processo. Neste Setembro Amarelo, é essencial reforçar: O sofrimento pode ser ressignificado. O amor e o acolhimento têm poder de cura. Pedir ajuda é um ato de coragem. Ninguém precisa enfrentar a dor sozinho. Falar salva vidas. Que possamos criar espaços de escuta, cuidado e pertencimento, fortalecendo a consciência de que sempre há possibilidade de recomeço.

Nós, da SAS Brasil, cuidamos da saúde mental para que mais pessoas tenham acesso a atendimento psicológico e qualidade de vida. Nosso projeto apoia quem precisa de ajuda e não tem condições de pagar por um acompanhamento.

(*) Diretora da SAS Brasil.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 2109/2025. Opinião. p.18.

A MERENDA DOS DEUSES

Por Romeu Duarte Junior (*)

A raiz etimológica da palavra "merenda" encontra-se no vocábulo latino merenda, que significa "coisas que são merecidas, ganhos", bem como no verbo de mesma origem merere (merecer), que diz respeito a "algo que deve ser merecido para ser consumido". Há tempos, era a refeição oferecida por volta das 9 horas da manhã aos trabalhadores rurais, que acordavam muito cedo, como recompensa pelo seu trabalho iniciado ao raiar do dia. O termo foi aos poucos ganhando as cidades, principalmente as do Nordeste, e hoje é usado no cotidiano por todas classes sociais. Nada desse negócio de lanche, boquinha ou snack, que isso é coisa de sudestino. Merenda é refeição substanciosa, comida entre o café da manhã e o almoço e entre este e o jantar. Quem é chegado sabe.

Dentre as muitas opções ofertadas, há uma que não dispenso: caldo de cana com pastel de carne, este, claro, com uma gorda azeitona dentro. Comecei a dar valor à mercadoria quando tudo acontecia no Centro, há muitas décadas. Saía à tarde do Colégio Cearense para assistir a filmes nos Cines São Luís ou Diogo e, na ida ou na volta ou tanto na ida quanto na volta, dava um jeito de passar na Leão do Sul para provar do produto. A garapa dourada, doce e geladinha e o salgado no ponto, sequinho e acochado no tempero, eram e continuam sendo irresistíveis. Depois, quando no Iphan, continuei frequentando a garapeira no período vespertino. O pessoal que lá trabalha é irredutível: às 18 horas, a casa fecha, mesmo com o salão cheio. Ano que vem a pastelaria completa 100 anos.

Bem mais recente e, segundo a lenda urbana, criada por ex-funcionários da Leão do Sul, a Guanabara instala-se à rua Major Facundo, quase esquina com a avenida Duque de Caxias, mais ou menos defronte à Igreja do Carmo e vizinha a dois colégios, os quais lhe garantem uma bela frequência. Após as reuniões do Instituto do Ceará, vou direto para lá. O sumo é feito com cana-de-açúcar que vem da Serra Grande e há um grande sortimento de sabores de pastéis. Novidade: se o caldo não deu para o pastel, o freguês recebe um reforço do precioso líquido. Pregado na parede, o cartaz com o mesmo dito filosófico de sua concorrente da Praça do Ferreira: "A azeitona do pastel tem caroço". O que realmente significa isso? A dureza ao lado da delícia? Que filósofo pensou nisso?

A Fortaleza do passado já teve muitas merendeiras, a maioria delas implantadas nas praças e que vendiam, além de caldo de cana e café, chás e leites diversos e até cachaça. Hoje há bem poucas, cujo número foi diminuído pela afluência das lanchonetes que comercializam a gostosura ilusória e letal do fast-food multiprocessado. Pois bem: interposta entre os polos da manhã e da tarde, a merenda mostra-se como um prêmio a quem completou um turno de trabalho e vai enfrentar outro, para tanto precisando de um nutritivo adjutório. Ou seja, do ponto de vista etimológico, continua cumprindo seu papel vernáculo à perfeição. Importante é ter o bucho cheio, pois saco vazio, como dizia a minha mãe, não se põe em pé. Aliás, depois do comercial que fiz, quero o meu em caldo e pastel.

(*) Arquiteto e professor da UFC. Sócio do Instituto do Ceará. Colunista de O Povo.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 19/08/25. Vida & Arte. p.2.


terça-feira, 23 de setembro de 2025

SANTA CASA RETOMA CIRURGIAS

O Povo, Editorial.

Mais de 100 leitos de internação foram reabertos na Santa Casa da Misericórdia de Fortaleza desde julho deste ano, quando começou a intervenção da Prefeitura de Fortaleza. O anúncio dá mais fôlego à estrutura da unidade tão relevante para o atendimento em saúde na capital cearense, que celebrou 164 anos neste 2025. De acordo com a gestão municipal, cirurgias e acompanhamentos ambulatoriais também foram retomados.

Sob a administração da Prefeitura, a Santa Casa tem várias áreas de atendimento sendo reformadas e reestruturadas a fim de aprimorar a assistência aos pacientes, assim como as estruturas administrativas do hospital. Ressalte-se que todos os serviços prestados pelo hospital passaram a ser totalmente gratuitos, incluindo consultas, exames de imagem, procedimentos cirúrgicos e tratamentos oncológicos.

Em balanço apresentado pelo prefeito de Fortaleza, Evandro Leitão (PT), na semana que passou, informou-se que a Santa Casa Fortaleza voltou a realizar cirurgias neste mês de setembro. Três meses após interromper a regulação de novos pacientes por problemas financeiros, houve 16 operações de urologia realizadas desde o dia 1°, depois da reabertura de nove salas do centro cirúrgico da unidade. Em seguida, devem ser retomadas as cirurgias gerais.

É louvável constatar os números que foram divulgados: até o dia 31 de agosto, 108 leitos hospitalares foram reabertos na Santa Casa. Desses, 98 são de enfermaria e 10 de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Cerca de 200 pacientes foram atendidos desde o início da intervenção - cerca de 45 deles nas UTIs e 155 nas enfermarias.

É válido destacar que, nos últimos anos, a Santa Casa tem sofrido bastante com dívidas. A instituição de saúde suspendeu, em junho deste ano, o recebimento de novos pacientes na unidade por problemas financeiros constantes. Por causa da crise, o hospital tinha dificuldade em manter os atendimentos com a segurança necessária para os pacientes. As frequentes crises se dão devido à diferença entre suas receitas e as despesas realizadas para garantir a assistência a quem não pode pagar por um atendimento médico-hospitalar.

Por mês, milhares de pessoas são atendidas na Santa Casa, com consultas, exames e cirurgias. Diferentemente de uma empresa privada, a aparente contradição é que a cada procedimento realizado, as dívidas aumentam.

Desse modo, é coerente, embora delicada à primeira vista, a iniciativa da intervenção municipal na Santa Casa, entendendo que governos e políticos devem se engajar na busca de soluções, mesmo que emergenciais, a fim de manter os hospitais em funcionamento. A excelência dos serviços prestados pela Santa Casa e o tradicional atendimento a tantos pacientes não podem ser negligenciados.

Assim, espera-se que, em breve, o hospital volte a funcionar regularmente, de modo clínico e administrativo, com todas as condições plenas possíveis de atendimento à população.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 15/09/2025. Editorial. p.18.

Postado no Blog do Marcelo Gurgel em 21/08/2025.


COP 30 e a Insustentabilidade Turística

Por Dárdano Nunes de Melo (*)

A COP 30 representa um momento único para o Brasil mostrar ao mundo a sua pujança na sustentabilidade, o que além de dar visibilidade, poderá atrair investimentos tendo em vista as metas alcançadas na área climática, na preservação da Amazônia, no multilateralismo e enfim, no desenvolvimento sustentável.

Um encontro desta magnitude, à nível turístico poderia dar ao país um reforço em sua imagem, como perfeita estratégia de marketing, divulgando o Pará, a Amazônia e o Brasil. Como observador do desenvolvimento turístico nacional e analista de suas políticas públicas, afirmo com toda segurança que existe uma elevada discrepância nos avanços alcançados nos segmentos correlatos ao evento em relação ao atraso no setor turístico, tanto no aspecto do planejamento, da promoção, da infraestrutura, da tecnologia, da segurança e principalmente da estratégia operacional.

Por exemplo, enquanto no Agro, cientistas do mais alto gabarito da Embrapa recebem, anos seguidos, premiação tipo Nobel no setor, na Embratur e no Ministério do Turismo o que se vê é uma gestão feita por leigos e despreparados, além de serem órgãos verdadeiros cabides de emprego e de há muito denunciado por corrupção e destituídos de total controle de produtividade por resultados pífios.

Como admitir que um país que tem a maior biodiversidade do planeta, incomparável patrimônio cultural e artificial aparece na humilhante escala da OMT com os piores índices de receptivo? Esta lanterna na estatística do turismo internacional retrata perfeitamente a incapacidade de transformar este precioso recurso em um produto altamente rentável. O turismo representa 12% do PIB mundial e gera quase meio bilhão de empregos diretos e outros bilhões em seu cluster econômico.

O descaso com o turismo é tamanho que as Nações Unidas sugeriram transferir dopara outro lugar, tendo em vista que o Brasil não fez o básico: planejamento (estudo de capacidade de carga, acerto prévio de preços e reservas de hospedagem, serviços de receptivo e segurança, controle e tabelamento da área de alimentação etc.).

O desconhecimento da psicologia social e da antropologia cultural do empresário e de sua falta de ética no Brasil que adota a famosa ¨lei do Gerson¨, blindou a visão de Marina Silva e Celso Sabino que veio apagar o fogo quando e estrago estava feito: Empresas cobrando até 20 vezes mais que o preço de mercado, um absurdo! Colasuonno (1980) disse; ¨Explorem o Turismo não o turista¨.

(*) Academia Cearense de Turismo.

Fonte: O Povo, de 19/08/25. Opinião. p.18.

segunda-feira, 22 de setembro de 2025

ESG real ou para inglês ver?

Por Lauro Chaves Neto (*)

O desenvolvimento sustentável é aquele que satisfaz as necessidades atuais sem comprometer a capacidade das próximas gerações de atender as suas. Esse conceito foi desenvolvido pela ONU, na década de 70.

Apenas algumas nações praticando a sustentabilidade não é o suficiente. O Setor Produtivo precisa implantar a ética e a transparência na sua governança, cuidar do meio ambiente desde a seleção dos seus fornecedores até a gestão dos resíduos, e cuidar das pessoas, não só de acionistas e colaboradores, assim como atuar pro ativamente na transformação da sociedade.

O ESG (ambiental, social e governança, na sigla em inglês) é a transição da visão macro para a ação microeconômica na promoção da sustentabilidade, pois será a disseminação da cultura ESG que irá transformar em sustentável a nossa sociedade.

O tema ESG já é o foco dos investidores nas suas decisões de financiamento. Avaliar a sustentabilidade e o impacto social de um negócio passou a ser determinante para o valor das empresas.

Algumas práticas, no entanto, são rotuladas de ESG e não conseguem agregar valor ao negócio, já outras, possuem um viés ainda mais danoso, o de se divulgar ações que não possuem conexão com a realidade.

Uma empresa que tenta mostrar que faz, pelo meio ambiente, mais do que aquilo que realmente executa, poderia ser descrito como propaganda enganosa, porém o vocabulário corporativo prefere usar "greenwashing", nesses casos. Já quando são "falsas" informações sobre iniciativas sociais é comum se usar o termo "socialwashing".

Um dos erros que mais se repete é divulgar iniciativas sustentáveis, social ou ambiental, que foram planejadas e ainda não implantadas, ao invés de focar nos resultados efetivos de iniciativas exitosas já implantadas.

Vincular as questões ambientais, sociais e de governança à cadeia de valor da organização é uma estratégia de negócios que irá contribuir para a sustentabilidade da empresa! O oposto do greenwashing e do socialwashing. A Certificação, como por exemplo o Selo ESG da Fiec com auditoria internacional, é uma das melhores alternativas para verificar o propósito.

(*) Consultor, professor doutor da Uece e conselheiro do Conselho Federal de Economia.

Fonte: O Povo, de 19/08/25. Opinião. p.18.

domingo, 21 de setembro de 2025

RICARDO GUILHERME: ator e jornalista cearense celebra 70 anos

Por Sofia Herrero, jornalista de O Povo

"O teatro se concretiza no ato e no tempo", afirma o ator Ricardo Guilherme, em entrevista ao O POVO, na semana em que comemora seus 70 anos. Destas sete décadas, com 55 anos dedicados às artes, a história de Guilherme se confunde com a do teatro cearense e com a de inúmeros palcos em que o dramaturgo encenou.

Aos 14 anos, subiu ao tablado do Teatro São José para estrear "O Mártir do Gólgota", espetáculo interpretado na Semana Santa, que retrata a Paixão de Cristo e a crucificação de Jesus.

Hoje, 55 anos depois, o historiador observa as paredes do anfiteatro no qual estreou, enquanto planeja o lançamento do livro Teatro São José, ficção e alguma história", que biografa o local. A obra integra a Coleção Pajeú, realizada pela Coordenadoria de Patrimônio Histórico e Cultural (CPHC), mas, para o ator, inaugura também o rol de celebrações de seus 70 anos, celebrados neste domingo,

Na quinta-feira, 18, as festividades foram abertas na Teatraula "No Ato", ministrada no Teatro Morro do Ouro, com foco nos alunos do Curso Princípios Básicos de Teatro (CPBT) do Theatro José de Alencar. "Se trata de uma aula-espetáculo que combina diversos campos do saber e da expressão: história, ficção, depoimento, reflexão. É como uma espécie de conferência teatralizada de um professor ator", explica.

O evento mostra a conexão de Ricardo com a nova geração de jovens que experimentam as artes cênicas. Aposentado pelo curso de Licenciatura em Teatro da Universidade Federal do Ceará (UFC), mas de espírito rejuvenescente, ele segue orientando diversos alunos em seus trabalhos de conclusão, pelo simples prazer de pensar o teatro.

Ele ingressou como professor na UFC, no curso de Arte Dramática, em 1979, e foi um dos proponentes do anteprojeto da Licenciatura em Teatro da instituição. Além da UFC, foi reconhecido como Notório Saber em cursos de pós-graduação da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e da Universidade Nacional de Brasília (UnB).

Na UFC, a trajetória de Ricardo se materializa no Acervo Doc. Teatro Ricardo Guilherme. Composto por mais de 13 mil itens de documentos arquivísticos e bibliográficos reunidos ao longo de seus 50 anos de carreira nas artes, a coleção de fotografias, textos dramatúrgicos e livros foi doada por ele à instituição, no ano de 2010.

"Eu já doei 60% do meu acervo, falta 40%. Existe um apego, não tenho um desprendimento e, por isso, fui doando de pouco em pouco nesses 15 anos. Mas este ano faz parte das comemorações me desprender de todo o restante e doar para os meus alunos", diz.

Sempre vinculado ao ensino e à pesquisa, Ricardo também foi a primeira voz a ser transmitida pela TV Educativa (TVE), que anos mais tarde viraria a TV Ceará do canal 5. Com o propósito da educomunicação, a TVE proporcionou a Ricardo Guilherme, de 1974 a 1992, um espaço de criação de programas e novelas integrado ao currículo escolar do Ceará.

"Era um canal feito para educação pública e foi criado para poder chegar a diversos lugares que os professores não chegavam, nos rincões do sertão. Criamos, inclusive, um gênero pedagógico, a aula integrada, que era uma forma de integrar os conteúdos das matérias e contextualizá-los no sentido prático e no aprendizado", relata o jornalista, antevendo o papel que a teleducação teria na modernidade.

Na TV, contudo, sua história começou um pouco antes, junto com a disseminação do sistema eletrônico de transmissão e recepção de imagens no Estado. No dia 26 de novembro de 1973, o primeiro programa em cores exibido pela TV no Ceará, intitulado "O Som, A Luz, as Cores e os Muitos Amores de Fortaleza", foi transmitido. Nele, Ricardo interpretava poemas sobre a capital cearense, ao lado de Ivete Pereira e Cleide Holanda.

Ao longo dos anos, a bagagem acumulada em cargos de direção, sonoplastia e produção culminou na criação do programa "Diálogos", em 2007. Há 16 anos no ar, na atração, os entrevistados levam sete objetos que compõem sua história pessoal e que devem nortear a conversa.

"Não considero que seja um programa de entrevista. É um diálogo, em que, ao invés de perguntas, as pautas surgem a partir do que é levado pelo entrevistado. O diálogo não tem hierarquia, é horizontal e vai caminhando de acordo com a interpenetração dos temas. É um programa para filosofar sobre questões atemporais e fazer uma espécie de cartografia do pensamento daquela pessoa que está ali", conta.

A assinatura de um dos patrimônios da TV cearense continua presente todas as sextas-feiras, às 22 horas, e com reprises aos sábados, às 18 horas. Apesar de ser frequentemente associado à TV e ao teatro, aos 70 anos, Ricardo celebra uma vida partilhada pela palavra, através de suas dramaturgias, contos e crônicas.

Como presente, sua contribuição para a literatura cearense foi referendada em abril de 2025, quando tomou posse da cadeira 33 na Academia Cearense de Letras (ACL), que tem o autor cearense Rodolfo Teófilo como patrono.

Como um profissional multifacetado, que registrou a história da cidade em personagens, imagens e escritos, Ricardo trabalhou nos bastidores do programa "Porque hoje é sábado", que, com a apresentação de Gonzaga Vasconcelos, anunciava os primórdios do que viria a ser o Pessoal do Ceará.

"Era 1969 e eu era aquele cara que levava microfone, mandava prancheta para assinar os cachês. Vi, de certa forma, o nascimento de Fagner, Ednardo, Belchior, Téti, Rodger Rogério e de tantos outros, e lembro-me de músicas que nunca foram gravadas. Eles deveriam ter mais de 20 (anos) e eu era aquele menino brincando de ser assistente, que queria aprender", relembra.

Ao refletir sobre a passagem do tempo e as mudanças na capital, ele pensa nos diferentes nomes que deixaram o Ceará na tentativa de reverberar sua arte no âmbito nacional. Com a permanência em Fortaleza, Ricardo diz ter adquirido o privilégio de olhar o mundo a partir de um outro prisma, que posteriormente lhe permitiu representar o Brasil em festivais.

"Me apresentei em diversos países, mas sempre que estava no Rio ou em São Paulo, me sentia não pertencente. Realmente eu fui me tornando fortalezense demais, atravessado pelas referências da cidade e, com o tempo, fui desenvolvendo um senso de responsabilidade histórica com o teatro cearense. Comecei a ter muitos lastros artísticos e talvez isso tenha me dado, inconscientemente, um laço muito forte", finaliza.

"Um artista plástico cria uma obra e consegue contemplá-la. Já o ator nunca vê seu espetáculo enquanto o interpreta, por isso existe uma espécie de orfandade no teatro".

O que diz Ricardo Guilherme?

"O teatro se concretiza no ato e no tempo"

"Todo teatro é meu, mesmo que não seja o meu'"

"Avoquei a mim uma responsabilidade de guardar a história do teatro cearense"

"O teatro radical é dialético, sintético e minimalista"

"Não vejo o teatro como arte multidisciplinar. No teatro radical, entende-se que ele é uma arte transdisciplinar"

"Quais são os conflitos centrais de uma peça que derivam em todo o restante?"

"Estamos à procura do átomo conflitual, a raiz conflitiva de uma peça, a célula-máter de uma cena"

Fonte: Publicado In: O Povo, de 21/09/25. Vida & Arte, p.4-5.


Regras Para Ser Feliz Morando na Casa dos Anos Bem Vividos II

Mente leve, coração tranquilo

15. Desligue um pouco dos noticiários. O mundo não vai acabar só porque você não viu.

16. Use a TV para rir, não para se irritar.

17. Adote um bicho. Eles preenchem o que faltava sem dizer uma palavra.

18. Mexa-se. Caminhe, plante, pinte, invente. Ficar parado atrai teia de aranha.

19. Esteja sempre limpinho e cheiroso. Idade sim, mau cheiro jamais.

Sentido da vida

20. Sinta alegria por ainda estar aqui. Muitos já ficaram pelo caminho.

21. Faça da sua casa um lugar onde as pessoas querem estar. Isso só depende de você.

22. Use a idade como ponte para novos sonhos, não como escada para lamentações.

23. Vá embora deixando saudade, não alívio.

24. Ria. Muito. E faça rir. O riso é o último músculo que devemos deixar cair.

Prazeres da vida

25. Não guarde aquele vinho especial nem a roupa nova.

Amanhã pode ser tarde ou pode não ter energia para abrir a garrafa nem pra sair de casa.

E pra finalizar:

Se você leu tudo isso e gostou...

Não seja pão-duro de sabedoria!

Compartilhe com aquele amigo que já mora na casa dos 70, o que está chegando nos 60 e até com o neto de 12 — porque a fila anda e o tempo não para!

Se possível, compartilhe com o grupo da família, da igreja, do bingo, da dança sênior, do zap do condomínio, da hidroginástica e até com aquele vizinho que só reclama (vai que ele melhora).

A vida é curta, mas a risada é longa.

— Com carinho e umas boas gargalhadas,

Shabat Shalom

Fonte: Internet (circulando por e-mail e i-phones).

 

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