quarta-feira, 18 de junho de 2025

"EU PREFIRO AS CURVAS"

Por Patrícia Soares de Sá Cavalcante (*)

Uma reta é a menor distância entre dois pontos, mas eu prefiro as curvas. Elas são lindas! "Quem sabe, por acaso, numa delas eu me lembre do meu mundo?"

Voltava de Icapuí em direção a Fortaleza. O sol estava se pondo, o céu em tons de laranja, com aquela cor deslumbrante do entardecer. Fui surpreendida por uma revoada.

Lá estavam eles, num voo coordenado, em perfeita sincronia. Um verdadeiro balé no alto do céu. Sozinha no carro, ouvindo Amy Winehouse, senti uma alegria tão genuína que, naquele momento, não desejava dar carona a ninguém. A visão dos pássaros foi efêmera, mas a sensação daquele voo permaneceu comigo durante todo o percurso. Fortaleza era o meu destino; a estrada, apesar das curvas, levaria-me de volta à minha cidade. Comecei a pensar nas curvas como uma metáfora dos caminhos possíveis: múltiplos e sinuosos, como os cursos dos rios que, mesmo tortuosos, sempre encontram seu mar. E ali, ao volante, divagando em meus pensamentos, senti-me livre como um pássaro.

Lembrei-me de que uma revoada é um voo de retorno: os pássaros regressam ao lugar de onde partiram, como se houvesse uma memória registrada no céu. Quando eu era pequena, ao voltarmos da praia do Pacheco, meu avô Hugo se curvava com a delicadeza de quem sabia conversar com uma criança e, sorrindo, dizia: "De volta à Padre Antônio Tomás." Eu não fazia a menor ideia do que aquilo significava, não entendia que era o nome da avenida em que moravam, mas compreendia que ele estava feliz por voltar para casa.

Os percursos possíveis são inúmeros. No entanto, eu prefiro as curvas dos caminhos - onde corro o risco de me perder, mas ganho a chance extraordinária de me encontrar - às retas. De que vale um trajeto mais rápido, se não me permite enxergar quem eu sou? Que possamos aproveitar cada passo da jornada, independentemente do destino, e que sempre tenhamos um porto seguro ao qual retornar, se desejarmos.

E, afinal, qual é o nosso destino? Não sabemos. O futuro de cada um de nós é incerto, por vezes, imprevisível. Mas, como diz Guimarães Rosa: "O que tem de ser tem muita força, tem uma força enorme."

(*) Médica psiquiatra.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 20/05/2025. Opinião. p.18.

terça-feira, 17 de junho de 2025

"DÉJÀ VU"

Por Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho (Doutor Cabeto) (*)

A memória de um dos presidentes mais tolos do Brasil, Eurico Gaspar Dutra, foi recheada de fatos inusitados. Dizem que era conhecido por ser um militar dedicado e despreparado. Contam de sua incapacidade de expressão e, também, por uma dificuldade, trocava o "s" pelo "x". Era, assim, proibido por seus apoiadores de realizar qualquer discurso, sendo lembrado como o "catedrático do silêncio". Pena que o exemplo não é levado em conta nos dias atuais!

Contam-se, também, em sua autoria, inúmeras passagens jocosas. Entre elas, uma das mais inusitadas, relaciona-se ao seu secretário particular que assumiu a responsabilidade de um "pum" durante a inauguração de um grande hospital. E por tal ato de respeito e fidelidade, disse: "Presidente, desculpe-me, comi algo que me fez mal". Foi, por isso, recompensado com a propriedade de um cartório.

Lembrando dessa passagem dos bastidores da nossa história, fui invadido por uma indagação. Afinal quantas bufas e quantos cartórios fizeram a nossa incrível história da República?

A passagem é para muitos de nós já bem antiga, mas os hábitos são bem atuais. Os bastidores da República, dos governos, querem sejam em âmbito federal, estadual ou municipal, continuam repletos de "bufas" premiadas. Nem sempre tão simplórias como a protagonizada pelo "prexidente", mas sim recheadas de jantares, favorecimentos ilícitos e pela promiscuidade da relação entre o público e o privado. Nem é mais preciso o constrangimento de assumir a autoria de um desleixo da natureza. Há quem, espontaneamente, assuma a responsabilidade de atos mais graves. Pois, costumam dizer nos bastidores, "alguém tem que fazer o jogo sujo".

A premiação pode acontecer das mais diversas formas, desde um cargo de conselheiro numa estatal à redução da carga fiscal, ou mesmo sob os protestos dos órgãos de controle e de uma legislação existente, inúmeras vantagens em licitações públicas.

Afinal, a frase atribuída a Luís XIV em sessão do parlamento francês durante a monarquia absolutista- "Je suis la Loi, Je suis l'Etat; l'Etat c'est moi", relaciona-se a ao direito divino, ao poder absoluto.

O interessante é que passados quase quatro séculos, após inúmeras tragédias, a frase possa ser colocada na fala de muitos dos nossos governantes. Infelizmente, "O Estado sou eu" nunca foi tão atual.

Resta-nos, oportunamente, esclarecer quem são os autores das bufas e quem as premiam. Quem, de fato, se beneficia.

Pois bem, cabe pensar sobre o que uma bufa constrangedora pode promover. 

Enfim, "déjà vu"? culturais

(*) Médico. Professor da UFC. Ex-Secretário Estadual de Saúde do Ceará.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 17/05/2025. Opinião. p.19.

segunda-feira, 16 de junho de 2025

A LUTA PELA TRANSFORMAÇÃO DA SAÚDE

Por Álvaro Madeira Neto (*)

Por muitos anos, a saúde pública no Brasil e no mundo tem oscilado entre dois polos: a aceitação passiva das desigualdades que permeiam os sistemas de saúde ou a intervenção ativa em busca de transformação. Ao refletir sobre o legado de um grande pensador não consigo deixar de traçar um paralelo entre a sua visão de educação e os desafios que enfrentamos na gestão em saúde.

Paulo Freire falava que há uma diferença essencial entre adaptação ao mundo e inserção no mundo. A primeira nos conforma a aceitar as realidades tal como são. A segunda exige de nós uma consciência crítica, que se recusa a aceitar passivamente as condições existentes e nos impele à ação transformadora. No Brasil, o conceito de inserção crítica no mundo ganha ainda mais força quando pensamos no SUS.

Criado com o objetivo de universalizar o acesso à saúde, o SUS é uma expressão concreta da luta por equidade. Representa a inserção ativa na realidade social, o reconhecimento de que a saúde não pode ser um privilégio de poucos. Ainda assim, enfrenta ameaças constantes, seja pela mercantilização da saúde, que tenta transformar serviços públicos em fontes de lucro privado, seja pelo desfinanciamento e pelo sucateamento estrutural.

Aceitar as ameaças de braços cruzados seria concordar com a perpetuação da desigualdade. A inserção crítica implica não só em defender o SUS, mas em lutar por sua melhoria contínua. A gestão em saúde não pode ser neutra. E, nesse contexto, os gestores de saúde têm um papel central. Não podemos aceitar que a saúde seja tratada como uma mercadoria. Na minha trajetória como médico sanitarista e gestor, aprendi que sistemas de saúde não se transformam sozinhos. Eles são moldados pelas decisões que tomamos ou deixamos de tomar.

Aqui se faz o paralelo mais forte com a visão freireana: não podemos aceitar a realidade como ela é, sem perceber que cada ação nossa, cada decisão é uma oportunidade de intervenção. A gestão em saúde deve ser um ato de resistência e transformação, uma luta constante para garantir que o direito à saúde seja um direito de todos. Esse é o legado que escolho honrar.

(*) Médico sanitarista e gestor em saúde. Sócio da Sobrames/CE

Fonte: Publicado In: O Povo, de 16/05/2025. Opinião. p.16.



domingo, 15 de junho de 2025

Leão XIII e o Direito do Trabalho

Por Valdélio Muniz (*)

A escolha do cardeal americano Robert Prevost, eleito no recente conclave, pelo nome Papa Leão XIV trouxe alusão que, um dia depois, ele mesmo confirmou: a inspiração em Leão XIII (italiano Gioacchino Vincenzo Raffaele Luigi 1810-1903), o papa que moldou a doutrina social da igreja. O que isso tem a ver com o Direito do Trabalho?

Façamos uma breve digressão à história do próprio trabalho. Das eras primitivas em que a caça e a pesca eram necessidade de subsistência, passou-se também ao uso da força de trabalho humana e animal (tração) em benefício de terceiros. Transitou-se da escravidão (de povos colonizados, tidos como propriedades de seus colonizadores e que, por não serem vistos como sujeitos, não tinham direitos) à versão mais amena chamada servidão (com direito à proteção política e militar dos servos e o dever destes de dividir com seu senhor uma parte de tudo que produzissem nas terras que lhe foram confiadas).

Por muito tempo, trabalho era visto também como forma de obter expiação (purificação) dos pecados e liberdade. Tanto que, no portão do campo de concentração de Auschwitz, se estampou, em alemão: Arbeit macht frei (o trabalho liberta). As corporações de ofício (espécie de embriões dos sindicatos surgidas no século XII) chegaram a ser proibidas, pois encaradas como forma de conspiração dos trabalhadores.

A Revolução Francesa (1789) trouxe, no ideal de liberdade, aparato teórico à defesa do respeito à autonomia da vontade no contrato, inclusive de trabalho (desconsiderada a clara situação de desigualdade e dependência entre os contratantes), que se somou à filosofia do laissez-faire (em francês, deixe acontecer), para apregoar o distanciamento do Estado das relações econômicas.

A primeira Revolução Industrial (1760-1860) trouxe a expansão das fábricas e o surgimento da classe trabalhadora (proletariado), submetida a jornadas de até 17 horas diárias (incluindo idosos, crianças e mulheres). E, em 1891, o Papa Leão XIII editou a histórica encíclica Rerum Novarum (do latim, Coisas Novas), alertando para a situação de penúria dos operários e para a necessidade de intervenção estatal nas relações de trabalho.

A encíclica tornou-se documento essencial para a construção do Direito do Trabalho, a partir de regras como limitação de jornada diária, direito a repouso semanal remunerado, salário mínimo etc,, o que se difundiu com mais força após a criação da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em 1919, com o surgimento de diversos aparatos legais protetivos ao trabalhador em todo o mundo.

Que esta inspiração ajude o Papa Leão XIV a lançar luzes sobre os impactos que as atuais revoluções tecnológicas têm trazido ao mundo do trabalho, como ele mesmo também já demonstrou preocupação.

(*) Jornalista, professor universitário e analista judiciário.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 23/04/25. Opinião. p.25.

O PAPA (LATINO) AMERICANO

Por Nathana Garcez (*)

No início de maio, o conclave composto por 133 cardeais surpreendeu o mundo ao eleger Robert Francis Prevost como o novo papa, tornando-o o primeiro pontífice estadunidense da Igreja Católica. A eleição do papa Leão XIV, nome adotado pelo cardeal Prevost, marcou uma decisão estratégica sobre os rumos futuros de uma das instituições mais influentes do planeta.

Nascido nos Estados Unidos, o cardeal era considerado como uma opção pouco viável para o colégio eleitoral do Vaticano em razão do histórico afastamento entre os EUA e a Igreja Católica. Contudo, não foi o que ocorreu e, logo após a revelação do novo papa, pairaram nas redes certas apreensões: o que um papa estadunidense significaria para a Igreja Católica e para o mundo? As reformas de Francisco e sua mensagem mais progressista seriam mantidas? E mais: como essa escolha dialogaria com um cenário político global cada vez mais tenso devido às políticas disruptivas do governo Trump?

As respostas para tais perguntas começaram a emergir rapidamente. Já em seu primeiro discurso enquanto papa, Leão XIV ressaltou - direta e indiretamente - seus princípios e objetivos. Com frases em espanhol, o papa atenuou a preocupação de parte dos católicos sobre um possível "americanocentrismo", destacando sua relação com a América Latina, região onde morou por décadas e onde adquiriu a cidadania peruana. Também em seu discurso, o papa Leão XIV esclareceu que pretendia conduzir a Igreja de modo a dar continuidade ao legado do falecido Papa Francisco, reforçando reformas internas já iniciadas e intensificando o papel da instituição como mediadora de diálogos e promotora da defesa dos mais pobres.

Sua trajetória parece de fato apontar nessa direção. Ainda que não pareça possuir um perfil essencialmente liberal devido ao suposto acobertamento de agressões sexuais de padres no Peru e de declarações passadas sobre temas como eutanásia, aborto e homossexualidade, o papa tem historicamente promovido os direitos dos povos refugiados, advogado por justiça climática e por melhores políticas migratórias nos Estados Unidos.

Aliás, quanto ao governo Trump, cabe destacar que a eleição do novo papa deve marcar um novo tensionamento nas relações entre Vaticano e os EUA. Em entrevista ainda no fim de abril, o ex-assessor de Trump, Steve Bannon, refletiu sobre o conclave e concluiu acertadamente sobre a possibilidade de eleição de Leão XIV. No entanto, sua mensagem foi de pessimismo, destacando o perfil considerado extremamente progressista do cardeal.

Em que pese os prováveis atritos com os EUA, a escolha do colégio de cardeais parece revelar um cálculo estratégico: a Igreja buscou um perfil que pudesse consolidar as mudanças institucionais recentes, mas também projetar uma liderança capaz de navegar entre polarizações. Leão XIV, com sua dupla-nacionalidade, é o reflexo direto desse interesse pelo fortalecimento a passos sutis da Igreja Católica. Resta agora esperar para ver os resultados de tal estratégia.

(*) Doutoranda em Relações Internacionais e mestre em Economia Política Internacional.

Fonte: O Povo, de 18/05/2025. Opinião. p.20.


sábado, 14 de junho de 2025

Leão XIV e os desafios do mundo contemporâneo

Por Pe. Manfredo de Araújo Oliveira  (*)

Dirigindo-se ao colégio de cardeais, o papa Leão XIV afirmou que gostaria que renovassem juntos a plena adesão ao caminho que a Igreja universal percorre desde o Concílio Vaticano II. Entre várias características deste caminho, citou duas centrais: o cuidado amoroso com os marginalizados/excluídos e o diálogo confiante com o mundo contemporâneo.

Isto implica uma tomada de consciência dos traços da civilização técnico-científica que construímos na modernidade, em que a ciência e a técnica deram à ação humana um alcance de dimensão planetária, ampliando o horizonte de sua responsabilidade. A ação humana, tecnicamente potencializada, pode deteriorar, de forma irrevogável, a natureza e o próprio ser humano. Tal postura pressupõe uma dicotomia radical entre homem e natureza e compreende ciência e técnica como instrumentos de domínio.

Um dos resultados mais visíveis deste processo é o aumento crescente de bem-estar para uma parte da população mundial, gerador de uma elevação do consumo, vinculada a uma intensa degradação do meio ambiente natural, limitado em seus recursos, e ao aumento exponencial da população, que provocou busca maior de recursos naturais.

A aporia básica desta civilização se revela na terrível incapacidade de pôr um fim ao progresso calculável, destrutivo de si mesmo e da natureza. Por esta razão, sabemos que estamos diante da possibilidade de nossa própria extinção de tal modo que a catástrofe ecológica se mostra hoje como o inimigo verdadeiro e, assim, constitui um desafio para humanidade inteira. Construímos sociedades sem o mínimo de respeito aos direitos mais fundamentais do ser humano e destruidoras da natureza.

A configuração da relação entre os povos passa por grandes transformações enquanto estão em curso tanto um processo de imbricação mundial da vida política e cultural quanto um processo de articulação de um sistema econômico mediante a inclusão de todas as sociedades no sistema de mercado. Sobretudo nos mercados financeiros, que assumem a condução de todo o processo econômico, legitimado por uma teoria econômica que defende o mecanismo de mercado como a forma exclusiva de coordenação de uma sociedade moderna.

Experimentamos um rápido crescimento tecnológico que resulta num grande aumento da produção de riquezas, com a diminuição dos custos das empresas provocada, também, pela diminuição da mão-de-obra. Ao mesmo tempo, aumentam igualmente a fome e a miséria que levam a uma desagregação social cada vez maior ou mesmo à morte de milhões de seres humanos, à disparidade na distribuição de renda e de riqueza. São milhões as crianças desnutridas no mundo e cada vez mais trabalhadores, nos países em desenvolvimento, são expulsos do setor formal da economia para o setor informal. Isto coloca cada ser humano, cada nação, cada cultura face ao desafio de assumir possibilidades e riscos dos efeitos de suas ações.

O filósofo O. Höffe fala de uma "globalização da violência", em que o arbítrio e o poder substituem o direito nas relações entre os povos e as pessoas são marcadas por um crescente egoísmo individual e grupal, pela criminalidade organizada, pelo comércio de armas, drogas e seres humanos, pelo terrorismo internacional.

(*) Padre e Doutor em Filosofia. Professor de Filosofia da UFC.

Fonte: O Povo, de 18/05/2025. Opinião. p.18.

Habemus papam

Por Emanuel Freitas da Silva (*)

Um cardeal norte-americano, com experiência missionária na América Latina e de liderança episcopal em Roma, foi o perfil escolhido pelos cardeais para tocar a “barca de Pedro” pelos próximos anos. De largo sorriso, trato gentil e, ao que parece, com “fome e sede” de viver a missão que lhe foi confiada, Leão XIV vai, aos poucos, conquistando o mundo que, nos próximos anos, lhe oferecerá inúmeros dilemas aos quais deverá, a seu modo e da cadeira de Pedro, responder.

Nas últimas semanas o mundo esteve voltado para as movimentações no Vaticano. Primeiro, pela longa internação de Francisco; depois, por seu falecimento e posterior funeral; após isso, os preparativos para o conclave, com as inúmeras apostas; por fim, a realização do conclave e o esperado anúncio: habemus papam!

Memes os mais diversos viralizaram nas redes sociais, dando mostras do quanto o mundo ocidental, em grande parte formatado pelo catolicismo, ainda nutre interesse pela ritualística, pelos segredos e pelas decisões dos homens da Igreja. Em grande parte, tal interesse foi alimentado pelo papado de Francisco, aberto ao mundo, numa visão da Igreja como “ponte” (não como a “muralha” dos pouquíssimos de Bento XVI). Leão XIV, desde sua saudação iniciação à Roma e ao mundo, faz pensar que seu pontificado deverá seguir por entre as pontes deixadas por seu antecessor.

Da sacada da Basílica de São Pedro, quando do anúncio do novo papa, uma cena chamou minha atenção: um grande número de cardeais, nas outras janelas, espremendo-se para ver, sorridentes, as duas cenas em uma só: a multidão de fiéis, representando a universalidade do catolicismo, a esperar aquele anúncio e, após isso, a acolher efusivamente seu novo líder; a Igreja, com seu novo chefe e seus auxiliares, os próprios cardeais, a enunciar ao mundo a continuidade da doutrina, do ritual, da mística, da cultura organizacional.

É muito cedo para dizer o que será esse pontificado. O de Francisco nos permite dizer que papas não reproduzem, necessariamente, aquilo que pensaram e fizeram enquanto cardeais.

Porém, uma coisa parece certa: teremos um outro líder mundial, de origem norte-americana, a disputar a atenção do mundo, sobre os mais diversos assuntos, com Donald Trump.

(*) Professor adjunto de Teoria Política (Uece/Facedi).

Fonte: O Povo, de 14/05/2025. Opinião. p.16.


sexta-feira, 13 de junho de 2025

FOLCLORE POLÍTICO: Porandubas 841

Abro a coluna de hoje com a mineirice...

Mata o bicho

A referência é o monsenhor Aristides Rocha, mineirinho astuto, que fazia política no velho PSD e odiava udenistas. Ainda jovem, monsenhor foi celebrar missa em uma paróquia onde o sacristão apreciava uma boa aguardente. Um dia, o sacristão, seguindo o ritual, sobe o degrau do altar com a pequena bandeja e as garrafinhas de vinho e água, e não vê uma barata circulando entre as peças do altar. Monsenhor interrompe o seu latim e, de olho na bandeja, diz baixinho ao sacristão:

- Mata o bicho...

O sacristão não entende a ordem. Atônito, fica olhando para o jovem padre, que repete a ordem, agora com mais energia:

- Mata o bicho, sô!

Ordem dada, ordem executada. O sacristão não se faz de rogado. Diante dos fiéis que lotam a capela, ele pega a garrafinha e, num gole só, sorve todo o vinho da santa missa. No interior de Minas, "matar o bicho" é dar uma boa bebericada.

(Do livro de Zé Abelha, A Mineirice.)

Fonte: Gaudêncio Torquato (GT Marketing Comunicação).

https://www.migalhas.com.br/coluna/porandubas-politicas/403803/porandubas-n-841


quinta-feira, 12 de junho de 2025

DOENÇAS TROPICAIS NEGLIGENCIADAS

Por Roberto da Justa Pires Neto (*)

Fortaleza sedia, de 11 a 13 de junho, o Fórum Regional em Doenças Tropicais Negligenciadas (DTNs). O evento, promovido pela Universidade Federal do Ceará, reunirá, no Centro de Convivência, Campus do Pici, mais de 200 pesquisadores, especialistas, gestores e representantes da sociedade civil dos nove estados do Nordeste.

As DTNs representam um conjunto diverso de doenças, a maioria de natureza infecciosa e parasitária, que afetam mais de 1,7 bilhão de pessoas em cerca de 150 países, especialmente as que vivem em situação de pobreza.

No Brasil e no mundo, as DTNs continuam a operar silenciosamente, muitas vezes à margem dos sistemas de saúde e das políticas públicas. São causadas por uma ampla variedade de agentes - vírus, bactérias, parasitas, fungos e toxinas - e incluem dengue, doença de Chagas, leishmaniose, raiva, esquistossomose, tracoma, infecções fúngicas, envenenamento por cobras, verminoses intestinais, entre outras doenças.

Quando não provocam morte imediata, as DTNs podem produzir cegueira, deformidades, dor crônica, incapacidades e exclusão social, atingindo, sobretudo crianças, idosos, populações indígenas e negras, trabalhadores rurais e comunidades periféricas.

Muitas vezes, essas doenças afastam as pessoas da escola, do trabalho e do convívio comunitário, perpetuando um ciclo intergeracional de miséria e abandono. São doenças que deformam corpos e, ao mesmo tempo, desestruturam vidas.

Apesar de sua gravidade, as DTNs historicamente recebem menos financiamento para seu combate e menos visibilidade do que outras enfermidades globais. Essa negligência não é apenas científica, mas também política, econômica e social. Ela revela quais vidas seguem sendo ignoradas e quais corpos continuam invisibilizados.

O Fórum Regional em Doenças Tropicais Negligenciadas discutirá todos esses aspectos relacionados às DTNs, com ênfase nas de ocorrência na região Nordeste.

Espera-se que se encontrem caminhos e respostas concretas para o avanço no controle e eliminação destas doenças em nossa região. Um avanço necessário. Uma reparação histórica e humanitária urgente.

(*) Médico infectologista e professor da Faculdade de Medicina da UFC.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 12/06/2025. Opinião. p.19.

O mundo está ao contrário e ninguém reparou

Por Alexandre Sobreira Cialdini (*)

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) lançou, na semana passada, o mapa-múndi oficial em uma versão invertida – “de cabeça para baixo”, disponível em: <https://surl.li/msauuk>. Mas por que o mundo está ao contrário e ninguém reparou? Vamos à resposta para a pergunta de Nando Reis.

Tive o privilégio e a honra de ter sido aluno do professor Horacio Capel Sáez no mestrado em Planificação Territorial e Desenvolvimento Regional da Universidade de Barcelona. Geógrafo e ganhador do Prêmio Vautrin Lud (considerado o Nobel da Geografia), o professor Sáez ensinava, com base na ciência e na cartografia, que, desde o século 15, o mundo vem sendo mapeado a partir de diferentes perspectivas.

A mais usual é a visão eurocentrista – a chamada Projeção Cilíndrica de Mercator. Essa projeção foi elaborada pelo geógrafo, cartógrafo e matemático holandês Gerhard Mercator (1512–1594), inspirado pelo astrônomo e geógrafo Ptolomeu (100 –168). Vale lembrar que a tese ptolomaica, segundo a qual a Terra ocupava o centro do universo, foi aceita por 14 séculos até ser desmentida pelas teorias de Copérnico e Galileu.

A cartografia de Mercator foi a primeira representação cartográfica de toda a superfície terrestre. Nessa projeção, os meridianos são planificados na forma de linhas verticais retas, paralelas e equidistantes horizontalmente.

Já a Projeção de Gall-Peters, conhecida como cilíndrica e equivalente, oferece uma alternativa à de Mercator. Nela, as retas perpendiculares aos paralelos e as linhas meridianas apresentam intervalos menores, resultando em uma representação mais fiel das áreas dos continentes. O mapa recebeu esse nome em homenagem a James Gall, escocês aficionado por astronomia que o desenhou pela primeira vez em 1855, e ao historiador alemão Arno Peters, que difundiu suas ideias na década de 1970. Essa projeção prioriza a proporção entre as áreas, e não a forma dos continentes.

No mundo anglo-saxão, os mapas-múndi produzidos na Austrália são os mais conhecidos entre aqueles que adotam a perspectiva “de baixo para cima”, os chamados “de cabeça para baixo” (upside-down). Além da Austrália, países como Japão e Nova Zelândia também fazem mapas nos quais seus territórios aparecem centralizados, como forma de legitimar seu posicionamento político.

Importa mencionar que o primeiro mapa “de cabeça para baixo” foi obra do australiano Stuart McArthur, que, aos 12 anos, desenhou o mapa “com o sul para cima”, apresentando-o, posteriormente, na Universidade de Melbourne.

A plataforma The True Size (https://thetruesize.com), de forma interativa, contribui para combater o analfabetismo geográfico ao permitir comparações proporcionais entre os países, sem anular a representação planificada.

Nosso geógrafo maior, Milton Santos — também laureado com o Prêmio Vautrin Lud — costumava afirmar: “O centro do mundo está em todo lugar, e cada lugar é o mundo à sua maneira”.

Um exemplo curioso vem dos quadrinhos. Mafalda, personagem criada pelo cartunista argentino Quino, ironiza a disposição tradicional dos mapas, nos quais o Norte aparece “em cima” e o Sul é mantido “embaixo”.

Em conclusão, aprendamos com Mílton Santos e Mafalda que, em cartografia, não existe “para cima” ou “para baixo”, mas apenas Norte e Sul. Em segundo lugar, é importante destacar o caráter ideológico das ciências que construíram uma visão de mundo centrada no Norte, região que hoje abriga a maior parte dos países desenvolvidos.

(*) Mestre em Economia e doutor em Administração Pública e Secretário de Finanças e Planejamento do Eusébio-Ceará.

Fonte: O Povo, de 15/05/25. Opinião. p.21.


quarta-feira, 11 de junho de 2025

SOS Santa Casa de Misericórdia

O Povo, Editorial

Déficit faz hospital filantrópico suspender atendimento a novos pacientes.

É imensurável a importância da Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza, que atende à população vulnerável desde a sua fundação, há 164 anos.

No entanto, a instituição vive em constantes crises financeiras, devido à diferença entre suas receitas e as despesas realizadas para garantir a assistência a quem não pode pagar por um atendimento médico-hospitalar.

A edição de ontem do O POVO trouxe a notícia de que a Santa Casa foi obrigada a suspender provisoriamente o atendimento de novos pacientes. A medida drástica foi tomada pela absoluta falta de recursos, mas pode ser traduzida também como um pedido de socorro à sociedade e autoridades municipais, estaduais e federais, pois a saúde pública no Brasil é obrigação desses três níveis de governo.

Milhares de pessoas por mês são atendidas na Santa Casa, com consultas, exames e cirurgias. A aparente contradição é que — diferentemente de uma empresa privada — a cada procedimento realizado, as dívidas aumentam.

O provedor da Santa Casa, Vladimir Spinelli, diz que a decisão de interromper o atendimento foi um "imperativo", até conseguir que o "poder público" ajude a cobrir os déficits provocados pela tabela do Sistema Único de Saúde (SUS).

A tabela do SUS não é atualizada há 20 anos, baixando a valores irreais, em comparação com os custos dos procedimentos. Com um déficit mensal de R$ 3,2 milhões, o hospital vem atrasando o pagamento de seus funcionários.

Spinelli cita como exemplo os R$ 10 reembolsados pelo SUS para uma consulta médica. Para uma cirurgia de vesícula, o SUS paga R$ 996,34, procedimento que custa R$ 2.413,20 ao hospital. Ou seja, 242% a mais em comparação com a tabela do SUS. A situação se repete, segundo o provedor, a cada procedimento de média complexidade, a maioria dos atendimentos.

Uma reunião entre representantes da Santa Casa e a então ministra da Saúde, Nísia Trindade, foi realizada no fim do ano passado, quando foi pedido um aporte para compensar os valores defasados. Segundo Spinelli, após a mudança de titularidade, o assunto não foi retomado.

A reportagem entrou em contato com as Secretarias de Saúde do Município e do Estado, recebendo respostas burocráticas. Ambas informaram, por meio de notas oficiais, que cumprem as obrigações com a instituição, inclusive quanto ao repasse de recursos. No entanto, nada comentam sobre a defasagem da tabela.

Corrigir a tabela do SUS, que cabe ao governo federal, é a medida que resolveria grande parte dos problemas dos hospitais filantrópicos. Mas até lá, governos e políticos têm a obrigação de se engajarem em busca de soluções, ainda que emergenciais, para manter esses hospitais em funcionamento.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 11/06/2025. Editorial. p.16.


Iguatu é pioneiro no CAPS no Nordeste

Por Honório Bezerra Barbosa (*)

Em 1991, uma decisão do prefeito de Iguatu, Hildernando Bezerra, ao lado do então secretário de Saúde do Município, Carlile Lavor, iria colocar esta cidade na história das mudanças da reforma psiquiátrica que estavam em curso no então Sistema Único e Descentralizado de Saúde (SUDS), ao implantar o primeiro Centro de Atenção Psicossocial (Caps) do Nordeste.

Na época, o médico psiquiatra, Weimar Gomes dos Santos, vereador eleito em seu primeiro mandato, ocupava a bancada de oposição, mas lhe foi apresentado o convite para participar de um encontro nacional, em Santos, no litoral Paulista, sobre a temática - novidade no Brasil.

Os ventos das mudanças da Constituição Cidadã de 1988, as reformas estruturais em curso na Saúde, a partir da discussão no Congresso Nacional, nos Estados e municípios de novos modelos de gestão e financiamento público sopravam forte, ecoavam e encontraram em Iguatu uma gestão acolhedora.

Ao retornar do encontro nacional, o psiquiatra Weimar Gomes anunciou a mudança, afirmando que deveríamos esquecer o projeto de construção de um hospital psiquiatra. Apresentou a novidade de um projeto de atendimento humanista, com equipe multiprofissional, um novo olhar sobre os pacientes com transtornos mentais - encarcerados em quartos em suas casas ou maltratados e empilhados em "hospitais de doidos".

Seria possível vencer as barreiras sociais do preconceito? O temor das famílias? E a desconfiança dos profissionais de saúde? E o que se ouvia era que 'louco é perigoso', "vai quebrar tudo", e "isso não vai dar certo".

Trinta e quatro anos depois, a história nos mostra com clareza e consistência que o projeto se tornou viável e modelo para outros municípios. Por não ser mais novidade, muitos nem se dão conta da importância dos Caps.

Iguatu, cidade polo da região Centro-Sul cearense, partiu na frente. Após mais de três décadas, Iguatu, hoje, oferece uma das redes mais completas de atenção psicossocial - CAPS Álcool e Drogas; Infantil; Geral; Residência Terapêutica, além da oferta de cursos de Residência em Psiquiatria em parceria com a Escola de Saúde Pública do Estado do Ceará.

O próximo passo está em andamento. O secretário de Saúde, Leonardo Mendonça, acabou de anunciar a implantação de leitos psiquiátricos no Hospital Regional - uma estratégia recomendada pela Política Nacional de Saúde Mental para garantir temporariamente o atendimento a pacientes em crise aguda.

(*) Jornalista e bacharel em Direito. Colunista de O Povo.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 17/05/25. Opinião. p.19.

terça-feira, 10 de junho de 2025

UECE: uma escola de gestão para cidades

Por Hermano Carvalho (*)

A criação da Escola de Gestão Inteligente e Democrática de Cidades resulta de pesquisas realizadas por estudiosos da Pós-graduação em Administração da Uece, a partir de 2002, em parceria com o Instituto Desenvolvimento, Estratégia e Conhecimento (Idesco), ICT vinculada à Uece.

O esforço acadêmico demonstrou que a solução para o desenvolvimento urbano está menos na transformação em cidade inteligente e mais na implantação de um modelo que possibilite a interação do poder público com seus cidadãos. Modelo a ser construído como a chave da cocriação de soluções, que podem ser intensivas em tecnologia, mas que respeitem e atendam às reais necessidades dos usuários finais. Esta ideia atende, inclusive, ao que determina o Estatuto da Cidade.

Os pressupostos revelam muito do que já se discutiu sobre a participação dos cidadãos na gestão urbana, com alternativas como o Orçamento Participativo e o Plano Diretor Participativo. Soluções que além de episódicas, enquadram a participação cidadã em metodologias típicas das organizações fechadas, reduzindo a imensidão dos desafios a um contexto eminentemente técnico, que não comporta a grande assimetria de um organismo vivo e mutante como a cidade.

Para facilitar o mapeamento das compreensões da cidade, pode-se recorrer a ferramentas que não eram disponíveis, até há pouco, como as Plataformas tecnológicas. Pensar nessas ferramentas apenas como infraestruturas de maior ou menor acesso ou automação de serviços é perder a oportunidade de tornar a cidade mais administrável.

Daí se consolidou o Entender, Estimular, Interagir, Compartilhar e Observar (EEICO), modelo base para criação da Plataforma Eletrônica VIU, solução voltada para a gestão de cidades, cujo objetivo é fornecer informações que subsidiem as decisões dos gestores.

Dessa forma, a escola consegue repassar conhecimentos para servidores e gestores públicos, internalizando uma nova ordem científica e prática de inovação para os gestores das cidades e apoiando a adoção de uma nova tecnologia: a Gestão Inteligente de Cidades (GIC).

(*) Professor da Uece.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 12/05/25. Opinião. p.20.

segunda-feira, 9 de junho de 2025

MARIA: o coração materno do mês de maio

Por Pe. Eugênio Pacelli SJ (*)

Maio, sob o olhar da espiritualidade inaciana, é mais que uma sucessão de dias floridos: é um tempo fecundo em que o coração se inclina àquela que soube guardar e meditar todas as coisas em silêncio no seu coração. Os jesuítas, herdeiros do discernimento de Santo Inácio de Loyola, sempre cultivaram uma profunda devoção à Nossa Senhora, não como fim, mas como o caminho seguro e afetuoso que nos conduz a Cristo. Celebrar o Mês Mariano é deixar-se conduzir pela Mãe até o Filho, tal como nas Bodas de Caná: Fazei tudo o que Ele vos disser (Jo 2,5).

A Mariologia inaciana não se perde em sentimentalismos. Vê Maria como mulher forte, contemplativa em ação, modelo de escuta e obediência à vontade Dele. Ela não retém para si a glória, mas a oferece inteira ao Senhor. Por isso, invocamos como medianeira de todas as graças, não por presunção, mas por reconhecer que, sendo ela cheia de graça (Lc 1,28), nenhum pedido nosso lhe é indiferente pois tudo ela leva a Ele com mãos de mãe.

Celebrar Maria é permitir que sua presença nos eduque interiormente. Dela aprendemos a humildade que não exige respostas imediatas, a fé que não se desespera na dor, o amor que não impõe condições. Quem contempla Maria encontra uma escola viva de humanidade redimida, uma ponte entre as fragilidades humanas e o coração de Deus. Ela é a pedagoga da alma orante, que nos ensina a encontrar Jesus no cotidiano, nas alegrias e cruzes do mundo.

Santo Inácio, com a simplicidade dos que muito amam, dizia: rogar à Bem-aventurada Virgem Maria, para que me alcance de seu Filho e Senhor a graça. É este o movimento do coração inaciano: confiar à Mãe a súplica, e esperar dEla o gesto que nos aproxima da Vontade do Pai.

Neste mês de maio, a espiritualidade mariana nos convida a depositar nas mãos da Mãe nossas angústias, dúvidas e desejos mais íntimos. Ela, que permaneceu de pé junto à cruz (Jo 19,25), conhece a linguagem da dor e da esperança. Maria não nos afasta de Cristo pelo contrário, nos lança em Seus braços. Celebrá-la é, portanto, aproximar-se mais profundamente do Mistério da Redenção, com a ternura de quem reconhece que, por Maria, chegamos com mais confiança ao Coração do Filho.

(*) Sacerdote jesuíta e mestre em Teologia. Escritor. Diretor do Mosteiro dos Jesuítas de Baturité e do Polo Santo Inácio. Fundador do Movimento Amare.

Fonte: O Povo, de 31/05/2025. Opinião. p.16.

O ESTADO E O CRIME

Por Romeu Duarte Junior (*)

Às vezes penso (penso, não, tenho certeza) que, no Brasil, o crime já ganhou do Estado há muito tempo. Não vou nem me reportar às violências comezinhas do cotidiano (feminicídio, transfobia, estupro de vulnerável, morte por bala perdida e um longo etc.) porque aí seria apenas perder tempo e aumentar o tempo de choro. Refiro-me à captura da honestidade, da administração pública e do Direito, algo que no passado, era promovido e defendido pelo Estado, pela onipresente, violenta e insaciável bandidagem. Organizações criminosas essas, aliás, estabelecidas em diversos níveis e com variadas atuações. Longe está o tempo em que temíamos os ladrões de galinha; hoje são os afanadores das penosas de ouro que mandam. E o pior é quando os dois do título se confundem.

Primeiro réu da chacina do Forró do Gago (ia escrevendo Lady Gaga), na qual foram mortas 14 pessoas, é condenado a 790 anos de prisão. Pergunto aos meus botões: quanto tempo de pena cumprirá? Ou arrumará um atestado médico no qual se afirmará que sofre de mazelas incuráveis, tal como procedeu recentemente um ex-presidente da República, para ficar em casa num dolce far niente, lustrando a tornozeleira eletrônica? Dono de rádio é assassinado por policiais militares no dia do seu aniversário na porta de uma padaria. Advogado teria sido morto por não conseguir soltar cliente. Ex-lutador do UFC é preso por fornecer armas e munições ao CV, ação facilitada por ser CAC, absurdo criado no desgoverno do inominável. Desse jeito, teremos que dar razão ao Marcola...

Pois é, meu povo, as páginas dos jornais gotejam sangue. Quando não o é rubro líquido da vida, é a bílis do ódio por ter sido roubado por quem deveria tomar conta da gente. Quantas vezes presenciei o calvário dos velhos na fila do INSS quando tinha que resolver questões ligadas ao benefício da minha tia. Idosos e idosas chegando em cadeiras de rodas e até em macas para provarem que estavam vivos, numa asquerosa humilhação. De repente, aparece um rombo de mais de R$ 6 bilhões, arquitetado por associações de aposentados e pensionistas e gente do próprio órgão mediante rachadinhas (o nome da treta já diz da sua origem temporal), que começa a ser resolvido agora. O problema é saber como fazer dinheiro transformado em bens ir para os seus legítimos donos.

Como se tudo isso fora pouco, assistimos diariamente às incansáveis tentativas dos seguidores do réu inelegível em livrá-lo da cadeia. O Brasil precisa se encontrar consigo mesmo e um dos caminhos é o Estado virar o jogo em relação ao crime. A pergunta surge imediata: como, cara-pálida, se o Estado está em boa medida contaminado pelo delito, a corrupção e os desmandos? Como aceitar que deputados e senadores peçam anistia para aqueles que destruíram as sedes das instituições onde trabalham, além das demais na Praça dos Três Poderes? Não têm sequer dignidade, ou melhor, vergonha na cara? A raiva já me inflamava quando ouvi alguém, passando na calçada, gritar: "Viva o Papa Leão!". Saí e saudei o sujeito. Com a camisa do Ceará, falou: "É o Vozão, doido".

(*) Arquiteto e professor da UFC. Sócio do Instituto do Ceará. Colunista de O Povo.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 12/05/25. Vida & Arte. p.2.

domingo, 8 de junho de 2025

Faculdade Sirio-Libanês lança curso de graduação em Medicina

Faculdade contará com bacharelado em Medicina, com duração de 12 semestres e 100 vagas

A Faculdade Sírio-Libanês lança o curso de graduação em Medicina, recém-autorizado pelo Ministério da Educação (MEC). A faculdade contará com bacharelado em Medicina, com duração de 12 semestres e 100 vagas por ano para carga horária total de 8.600 horas. Formação tem 98% do corpo docente composto por profissionais doutores, que acumulam, em média, 17 anos de prática clínica e 9 anos de experiência no ensino. A graduação em Medicina soma-se às outras quatro já oferecidas pela Faculdade Sírio-Libanês: Enfermagem, Psicologia, Fisioterapia, mais recentemente, Biomedicina. A mensalidade da formação médica é de 12,4 mil. Visando promover impacto social e ampliar o acesso, o curso já nasce com oferta de 10% das vagas destinadas a bolsas integrais.

A proposta pedagógica integra os temas correlatos em unidades curriculares oferecendo ao estudante uma visão mais integrada da Medicina. Por meio de trilhas de aprendizagem, o estudante escolhe unidades curriculares que moldam sua formação de acordo com suas aspirações profissionais. "Nosso currículo oferece uma base sólida de competências transversais", afirma Liao Yu Chieh, diretor de Ensino da Faculdade.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 8/06/2025. Ciência & Saúde. p.16.


O VELHO CÃO QUE BUSCA ABRIGO COM O VIZINHO

Um cão velho e cansado perambulava pelo meu quintal. Eu podia ver pela coleira e pela barriga cheia que ele tinha uma casa.

Ele me seguiu até minha casa, desceu comigo pelo corredor e adormeceu no sofá. Uma hora depois, ele foi até a porta, eu abri e ele foi embora. No dia seguinte, ele voltou, retomou a mesma posição no sofá e dormiu por uma hora.

Isso continuou por várias semanas. Curioso, coloquei uma nota na coleira dele para que seus donos vissem: "Toda tarde, seu cachorro vem à minha casa somente para dormir".

No dia seguinte, o cachorro chegou com uma outra nota fixada em sua coleira: "Ele mora em uma casa com quatro crianças - ele está tentando recuperar seu sono. Será que posso ir com ele amanhã?"

Fonte: Disponível na home page “Tudoporemail”.

UM DENTISTA COM SENSO DE HUMOR!

Um homem precisa extrair um dente que está dando problemas e vai ao dentista para isso.

Chegando lá, o dentista começa a fazer os preparativos. Quando o homem vê que ele pegou uma agulha para aplicar a anestesia, ele entra em desespero e grita: "Não, nem pensar! Eu tenho pavor de agulhas, por favor, não!"

Pacientemente, o dentista então resolve aplicar outra forma de anestesia, dessa vez com uma máscara de gás relaxante. "Eu não posso com essa máscara de gás, por favor, chega! Estou sufocando! Socorro!"

Então ele pergunta ao paciente se há algum problema em tomar uma pílula."

Ah, tudo bem. Pílula é tranquilo", diz o paciente.

Então o dentista volta com um comprimido de Viagra.

O homem, sem acreditar naquilo, diz: "Uau, não sabia que o Viagra funciona como analgésico!"

"E não serve", diz o dentista, "mas vai te dar algo para segurar enquanto eu arranco seu dente!"

Fonte: Disponível na home page “Tudoporemail”.


sábado, 7 de junho de 2025

COMO VOCÊ SABE DISSO MENINO?

A única maneira que um casal encontrou para ter privacidade em uma tarde de domingo e dar uma namoradinha no quarto foi a seguinte: dar ao filho de 8 anos um sorvete bem grande e pedir para que ele fique na sacada do apartamento analisando tudo que acontece na vizinhança. Paulinho, o garoto, não pensou duas vezes: pegou o picolé e começou a narração dos fatos, e os pais também foram para o quarto colocar o plano em operação...

"Há um carro sendo rebocado do estacionamento", ele falou. Alguns momentos depois: "Uma ambulância acabou de parar na casa da dona Maria". "Parece que o Anderson tem uma visita", ele gritou. Depois de 2 minutos Paulinho fala: "O Fernando está montando uma bicicleta nova".

E somente alguns minutos depois ele grita novamente: "Parece que os Santos estão se mudando." E: "Olha só, o Vítor ganhou um skate novo." Mais alguns momentos, Paulinho exclama bem alto: "Os Silva estão brincando no quarto!"

Assustado, o pai e a mãe quase caíram da cama. O pai, então, cautelosamente perguntou:

"Como você sabe que eles estão... 'brincando' no quarto?"

"É simples, pai: o Joãozinho também está com um sorvete na varanda!"

Fonte: Disponível na home page “Tudoporemail”.

O ARGENTINO QUERIA IR AO BANHEIRO...

Um empresário argentino foi a São Paulo para uma importante reunião de negócios. No caminho para a empresa onde seria a reunião, ele ficou muito aperto e precisava urgentemente fazer xixi.

No entanto, não havia nenhum lugar ao redor em que ele pudesse usar o banheiro. Por mais que procurasse, ele não encontrou nenhum.

O homem achou que ninguém estava percebendo, então se escondeu numa ruazinha mais erma para que pudesse finalmente se aliviar antes que molhasse as calças.

Mas havia sim alguém olhando: um policial. E antes que o argentino abrisse o zíper, ele disse:

“Ei, senhor! O que acha que está fazendo?”

“Mil desculpas, policial”, respondeu o argentino, “mas estou muito apertado e não encontrei nenhum banheiro em volta!”

“Isso é proibido! Você NÃO pode fazer isso aqui”, respondeu o policial.

“Venha comigo.”

Então ele levou o argentino a um belíssimo jardim com flores, plantas, árvores e tudo mais.

“Pronto”, disse o policial. “Pode fazer!”

O argentino rapidamente abriu o zíper e urinou sobre as flores.

“Aaaahhh”, disse aliviado.

Então virou ao policial e disse:

“Foi muito gentil de sua parte, senhor. Por acaso é um tipo de cortesia de vocês, brasileiros?”

E o policial responde: “Hahahaha, não...”

“Este é o jardim do Consulado da Argentina!”

Fonte: Disponível na home page “Tudoporemail”.


 

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