quarta-feira, 20 de agosto de 2025

Solenidade comemorativa dos 131 anos da Academia Cearense de Letras

Participei na noite de ontem, 19 de agosto de 2025, no Palácio da Luz, pela quarta vez como acadêmico, da solenidade comemorativa dos 131 anos de fundação da Academia Cearense de Letras (ACL), considerada a primeira do gênero no Brasil, que segue em funcionamento, visto que foi criada três anos antes da instalação da Academia Brasileira de Letras (ABL).

Antes da solenidade oficial, das 17h às 18h, houve a reunião mensal da ACL, oportunidade em que foram feitos os lançamentos do número 11 da revista Scriptoriun e do número 85 da Revista da ACL, com a distribuição de exmplares aos acadêmicos presentes.

A sessão solene, inciada às 19h, tendo a Sra. Regina Cláudia Fiúza, diretora administrativa da ACL, como cerimonialista, foi liderada pelo Presidente da Arcádia, Acad. Tales de Sá Cavalcante, que fez o discurso de saudação de aniversário e lançou o Edital do Prêmio Osmundo Pontes.

Na sequência, como coroamento dos trabalhos da noite, houve uma alentada interlocução centrada na obra Dom Casmurro, pondo em cena a secular e controvertida polêmica da possível traição de Capitu ao esposo Bentinho. Após a leitura de trechos selecionados do livro machadiano pelo Acad. Ricardo Guilherme, a cerimonialista passou a palavra à Acada. Selma Prata, designada mediadora do debate entre os Acads. Linhares Filho e Batista de Lima, que explicitaram, escudados em consistentes argumentos, um certo antagonismo em suas impressões sobre a fidelidade de Capitu.

A solenidade foi sacramentada pelo grande público assistente, constituído notadamente de membros integrantes de confrarias e entidades literárias cearenses, assim como formadores de opinião da sociedade local.

Ao final da efeméride, acadêmicos e seus convidados se confraternizaram em um coquetel ofertado pela ACL nas dependências do bucólico Café Java.

Acad. Marcelo Gurgel Carlos da Silva

Da Academia Cearense de Letras


BNB é vital para o desenvolvimento

Por Rita Josino (*)

O Banco do Nordeste do Brasil (BNB) completa 73 anos de existência em 19 de julho e a data é motivo de celebração para toda uma Região e para o País. O BNB é um dos principais instrumentos de desenvolvimento na sua área de atuação que engloba, além dos estados do Nordeste, o norte de Minas Gerais e do Espírito Santo. É responsável pelo maior Programa de Microcrédito Produtivo e Orientado da América Latina, o Crediamigo e Agroamigo; por programas com foco nas mulheres, no financiamento de energia solar, inovação e mais recentemente pela parceria no Acredita no Primeiro Passo, programa do Governo Federal voltado à inclusão produtiva de empreendedores inscritos no Cadastro Único (CadÚnico).

Ao longo das mais de sete décadas tem sido um porto seguro para grupos que historicamente seriam excluídos do sistema financeiro, além de formador de gerações de profissionais qualificados para inúmeros cargos nas esferas municipal, estadual e federal.

Apesar da relevância para a economia da Região, com geração de empregos, renda, apoio a pequenos e grandes negócios no campo e na cidade, nós, da Associação dos Funcionários do BNB (AFBNB) estamos permanentemente vigilantes e prontos para intervir quando percebemos outros interesses que possam fragilizar o BNB, seja atacando sua principal fonte de recursos - o FNE, seja tratando-o como moeda de troca política.

A própria AFBNB foi criada num contexto de defesa do Banco, tendo sido protagonista durante a Assembleia Nacional Constituinte e tendo sua luta vitoriosa, junto com outras entidades, com a criação dos Fundos Constitucionais de Desenvolvimento (FNE, FNO e FCO).

Neste aniversário outras questões também devem ser motivo de atenção no Banco: as pautas que a AFBNB aponta no que se refere ao ambiente de trabalho, condições adequadas e saudáveis, compatíveis com uma instituição diferenciada como é o BNB. Vislumbrar um Banco cada vez melhor e pujante é tarefa a ser buscada diuturnamente, afinal, uma instituição só é forte se seus trabalhadores se sentirem valorizados! Vida longa ao BNB!

(*) Diretora-presidente da AFBNB.

Fonte: O Povo, de 19/07/25. Opinião. p.19.

terça-feira, 19 de agosto de 2025

Unifametro, do Ceará, é comprada por R$ 62 milhões pela Yduqs

Por Fabiana Melo, jornalista de O Povo

O valor pode aumentar a depender das vagas adicionais de Medicina, sendo cobrado R$ 1,2 milhão por cada uma

O Centro Universitário Fametro (Unifametro), do Ceará, foi comprado integralmente pela Yduqs. A transação foi em torno dos R$ 62 milhões, sendo divulgada por meio de comunicado aos acionistas nesta quarta, 14.

"A aquisição representa o fortalecimento da marca Wyden, especialmente em Fortaleza - onde 94% da base presencial da Unifametro está concentrada. A incorporação da marca ao portfólio Wyden reforça nosso posicionamento em um mercado estratégico para a Yduqs e permite a captura de sinergias a partir de ganhos operacionais e eficiência de custos", informa a empresa.

A companhia já controla, aqui no Estado, outras duas instituições de ensino: a Estácio e a Unifanor.

A negociação também inclui uma cláusula de earn-out relacionada às vagas adicionais de medicina a serem potencialmente obtidas via Mais Médicos III (Maracanaú) e por meio de processo judicial (Fortaleza), no valor de R$ 1,2 milhão por vaga.

Nesse sentido, ressalta que as vagas adicionais estão localizadas em região de alta demanda, com sinergia com o negócio presencial, permitindo margens mais elevadas.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 15/08/25. Economia. p.10.

A VIDA É A ARTE DO ENCONTRO

Por Patrícia Soares de Sá Cavalcante (*)

Observar a comunicação entre um bebê e sua mãe nos primeiros meses de vida é algo profundamente comovente. Lembro-me, emocionada, da minha experiência como mãe de primeira viagem da Marina. Na maior parte das vezes, eu sabia exatamente o que ela queria. Tínhamos uma cumplicidade expressa pelo olhar, pelo sorriso e pelas brincadeiras.

Embora ela falasse apenas algumas palavras - algo natural para a sua idade -, parecia que já estávamos conversando. Quando eu chegava do trabalho, ela provavelmente ouvia o barulho do elevador e, antes mesmo de eu entrar em casa, eu a escutava dizer: "Mamãe!". Ao abrir a porta, dava-lhe um beijo e dizia: "A mamãe estava com saudades".

Certo dia, não consegui chegar a tempo para colocá-la para dormir - uma rotina que mantínhamos quase diariamente. Na minha ausência, ela, com apenas um ano e nove meses, verbalizou, ainda sem conseguir formar frases: "mamãe... saudade".

Segundo Lacan, sem ausência não há palavra, e a palavra, sobretudo quando compreendida, favorece os encontros. Nosso primeiro grande encontro costuma ser com a mãe, ou com quem exerceu uma função de cuidado e amparo. Alguém que nos ajudou a desenvolver a linguagem e a traduzir nossos sentimentos, mesmo diante das imperfeições - que, aliás, são inevitáveis e essenciais para o amadurecimento.

Mesmo depois de adquirirmos a linguagem verbal, mantemos uma comunicação não verbal que diz muito. Às vezes, uma imagem ou um olhar valem mais que mil palavras. Porém, comunicar-se não é uma tarefa simples: há o que é dito, o que o outro entende e o que fica nas entrelinhas, além das mensagens inconscientes que podem permear qualquer diálogo.

O suprassumo da comunicação ocorre quando conseguimos estabelecer uma compreensão mútua, seja no falar ou no silenciar. Há algo mais acolhedor do que quando alguém percebe o nosso tom de voz, a expressão do nosso olhar, o nosso sorriso ou compreende o que o nosso silêncio revela? Quando isso acontece, a angústia do que não foi possível dizer em palavras se esvai.

É como receber o melhor dos abraços. Mas isso é coisa rara. Como dizia Vinicius, "A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida".

(*) Médica psiquiatra.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 15/07/2025. Opinião. p.16.


segunda-feira, 18 de agosto de 2025

Choque do Tarifaço de Trump sobre o Ceará

Por José Nelson Bessa Maia (*)

O recente anúncio pelo presidente americano Donald Trump de taxação de 50% sobre as exportações brasileiras para os EUA por razões não econômicas, mas sim geopolíticas (BRICS) e de interferência em assuntos internos do Brasil gerou indignação e repúdio por parte dos diversos segmentos da opinião pública. Afinal, o Brasil é um país cronicamente deficitário em suas transações de comércio com os EUA e não se encaixaria no argumento comumente usado pela Administração americana para taxar com altas tarifas seus parceiros comerciais.

Em caso dos EUA não aceitarem rever a medida e o Brasil retaliar mesmo que de forma seletiva isso criará, além de perda de receita e empregos no setor exportador, uma pressão de custos sobre o agronegócio brasileiro que importa máquinas, equipamentos e óleo diesel dos EUA, gerando uma inflação adicional e uma perda de atividade no setor com efeitos em cadeia.

Trata-se, portanto, de um grave contencioso e que exigirá do Brasil muita habilidade negocial, jogo de cintura e, ao mesmo tempo, capacidade para abrir espaço em novos mercados de destino para os segmentos econômicos mais afetados pelo tarifaço.

No caso do Ceará, que depende mais do que o Brasil do mercado americano para suas exportações, os impactos serão relativamente mais fortes do que para o país como um todo. Os EUA são o principal mercado para nossas exportações, cerca de US$ 658,9 milhões em 2024 (44,8% naquele ano e 52,2% no primeiro semestre de 2025), mas tinham sofrido forte queda (-31,4%) em relação ao ano anterior. Assim, mesmo sem o aumento de tarifas, as vendas de produtos cearenses aos EUA já vinham em forte declínio, não compensado pelo aumento que se verificou nos seis primeiros meses deste ano.

Com a eventual imposição de 50% de tarifas, as receitas de exportação para o mercado americano terão uma queda ainda mais acentuada. Dado o peso dos produtos siderúrgicos (ferro fundido, ferro e aço) na pauta exportadora e a importância dos EUA (cerca de 80% das vendas externas desses produtos) como destino, o impacto sobre as receitas da Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP) serão consideráveis.

Em face dos riscos que essa situação impõe para a economia cearense, cabe aos responsáveis locais pelas decisões, tanto no setor público quanto privado, articular com o Governo Federal uma estratégia de negociação com o Governo dos EUA que reveja o tarifaço ou minimize seus efeitos e, simultaneamente, procurar promover, via suporte da APEX-BRASIL, exportações em terceiros mercados, de modo a reduzir a dependência crônica em relação aos EUA.

Urge, portanto, uma ação rápida e pragmática para resguardar o nível de atividade e emprego no Complexo do Pecém e superar esse enorme choque externo contra a dinâmica de crescimento do Ceará.

(*) Mestre em Economia e doutor em Relações Internacionais pela UnB e ex-secretário de Assuntos Internacionais do governo do Ceará. Pesquisador independente das relações China-Brasil, China-Países Lusófonos e China-América Latina.

Fonte: O Povo, de 17/07/25. Opinião. p.21.

É NO CEARÁ

Por Tales de Sá Cavalcante (*)

Em 17/7/2025, mais perto e à esquerda, tremulava a bandeira nacional. À frente, uma obra de arte. Não era um Picasso, Van Gogh, Michelangelo ou Portinari. Admirávamos a linda vista a simbolizar o que virá. Como mãe e pai ao verem por ultrassonografia a filha ou o filho em formação, admirávamos um filho do Ceará que em breve será entregue à luz: o nosso ITA, que, ainda em construção, embelezava a troca de comando da Base Aérea de Fortaleza.

Já deixava saudades o mineiro Coronel Aviador Amorim, que volta cearense de coração. Em seu lugar, o cearense da gema, Coronel Aviador Tony Gleydson, assumia o comando a acumular com a direção do ITA Ceará, cuja 2ª etapa já está autorizada. Um dos talentos já presentes no ITA é Joaquim Caracas, outro cearense que, radiante, lá estava. Quando jovem, o seu sonho era voar. Fez EPCAR, mas um ínfimo defeito de 0,25 grau numa das vistas impediu seu ingresso na AFA (Academia da Força Aérea). Assim, não foi realizado o sonho de comandar uma “máquina mais pesada que o ar”, como dizia Santos Dumont.

Caracas, então, se iniciou nas pesquisas, criou um museu da EPCAR na sua Guaramiranga, e, de suas 32 patentes, 9 já estão na concepção do ITA Ceará. Fernanda Pacobahyba, a primeira mulher a ser Secretária da Fazenda, formou-se na AFA e construiu brilhante currículo. Ao reconhecer sua capacidade gestora, Camilo a nomeou presidente do FNDE. Ambos, Fernanda e Camilo, foram os primeiros talentos presentes no nosso ITA por serem pilares fundamentais em sua criação.

Para termos um ITA cearense, espero que outros alencarinos, como Fernanda, Camilo e Caracas, também integrem o novo instituto. Sua denominação poderia ter sido ITA 2, ITA Filial, ITA Nordeste ou outra, porém a marca escolhida foi ITA Ceará, porque Ceará é marca forte e o que mais aprova. Que seus professores e funcionários sejam cearenses em maioria, a exemplo de 2 ex-alunos da escola por mim dirigida. São Ivan Guilhon, formado no ITA e atualmente seu professor, e Larissa Cavalcante, nossa ex-aluna, graduada e pós-graduada em Harvard. Afinal, falar em ITA é lembrar Ceará. Falar em Ceará é lembrar ITA.

(*) Reitor do FB UNI e Dir. Superintendente da Org. Educ. Farias Brito. Presidente da Academia Cearense de Letras.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 24/07/25. Opinião, p.16.

domingo, 17 de agosto de 2025

OUVIR DIZER. LER É ESCUTAR

Por Izabel Gurgel (*)

"Não derramei uma lágrima." Ouvia, então, uma senhora que faria 80 anos naqueles dias. Ela me contava da morte do marido. "Já havia chorado tudo por ele, antes dos meus 30 anos".

"Pedro Lírio dos Anjos nasceu de sete meses". Encontro a anotação em uma caderneta. Talvez eu tenha anotado pela beleza do nome, um poema pronto, como digo sobre o nome Plácido Cidade Nuvens.

Plácido Cidade Nuvens criou o Museu de Paleontologia de Santana do Cariri, o museu que anos depois levaria seu nome. O museu nos lembra como as pedras podem falar. As pedras cantam.

Entramos na mata para ver a floração de batiputá no território Tremembé da beira do rio Mundaú, em Itapipoca. Um morador, recém-iniciado na pesquisa do fruto, ia à frente. "Meu avô diz pra conversar com as árvores quando temos algum problema, algo pra resolver. Ele diz que elas vivem há muito tempo, sabem muito mais do que a gente".

"Quem vê coisa de outro mundo, as carnes não se unem mais". Ouvi de um senhor de muito chão nos pés e céu nos olhos. Tangeu gado, morou fora do Ceará. Em São Paulo, trabalhou em construção, 35º andar. "Lá de cima, as pessoas no chão parecem cabeça de prego, umas moscas". Cruzou rio em cheia para salvar vida, socorrendo vizinhos doentes. Disse-nos que conhece a Serra do Nascente 'grota por grota'. De travessias feitas à noite e durante o dia, no tudo bem e no aperreio, sob sol, sob chuva. Eu o conheci depois de cego. Ele no alpendre de casa, movendo-se em direção à serra quando contava do ir e vir, desenhando no ar, pra gente ver o território tão bem apreciado e por ele incorporado. "Posso ir lá a qualquer hora". Range a porta, longe bate chocalho de gado, à frente da casa passa uma moto, anotei.

Ouvi de um professor de espanhol coisas tão bonitas da vida dele. Anotei sobre uma professora do primário, então com mais de 100 anos. "Até caducar era bonito. Ela dizia que a casa em que vivia era um presente que havia recebido. E era. Mas havia acontecido há mais de 40 anos. Ela trazia o presente do passado para o presente". O que é, é agora.

Da professora que criou e mantém aceso o Iluminuras - Literatura e Bordado, projeto de extensão junto à Universidade Federal do Ceará (UFC), escutei sobre a recomendação que lhe era feita quando criança, no interior do Ceará, a caminho dos banhos. Para dar uma batidinha na água, acordando a água. A pessoa avisando que estava ali, assim um "ô de casa", nas adjacências de pedir licença, anunciar-se. Era banho de açude, Profa. Neuma?

Dona Nilce abria cocada quente na pia de cimento, molhada. Cortava com peixeira. Era da Serra do Cotovelo, Jardim, entre Ceará e Pernambuco. Morava em Barbalha, onde mora Indra, a neta que me contou da cocada quente na água fresca.

Dedico o arrazoada de hoje a quem, como eu, tem gosto em ouvir dizer.

(*) Jornalista de O Povo.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 20/07/25. Vida & Arte, p.2.


O caso exemplar dos artigos de Fernando Castelo Branco

Por Gabriel Ben-Tasgal (*)

Os artigos sobre Israel de Fernando Castelo Branco representam um exercício perigoso de manipulação, seja por ignorância ou por malícia - ambas gravíssimas em um jornalista. Ele cita tratados internacionais sem compreender seu conteúdo e julga Israel com um duplo padrão incompatível com o direito internacional.

Israel, como toda democracia moderna, tem o direito e o dever de defender sua população. As acusações de "genocídio" ou "apartheid" não resistem à menor análise jurídica. A Convenção sobre Genocídio exige a "intenção de destruir, total ou parcialmente, um grupo étnico", algo incompatível com a política de Israel - país que possui os meios para cometer um genocídio, mas que no campo de batalha mantém uma proporção de 1:1 (número elogiado por especialistas em guerra e criticado por jornalistas que recebem dados "confiáveis" do jihadista Hamas).

Assim como o nazismo demonizou o judeu como subumano antes de exterminá-lo, hoje se demoniza o judeu coletivo - Israel - por meio de rótulos falsos como “Estado genocida” ou “apartheid”. Essa técnica foi descrita por Ernst Gombrich como o uso de um "mito paranoico" para justificar a violência. O antissemitismo moderno se disfarça sob "críticas a Israel" com obsessão, demonização e duplo padrão. O texto do jornalista não apenas se encaixa nesse padrão, como o exemplifica.

O jornalista em questão aplica, consciente ou não, várias das táticas descritas para fomentar a destruição de Israel. Utiliza manipulação dialética, invertendo os papéis de vítima e agressor; acusa Israel de genocídio e apartheid, numa manipulação narrativa baseada em mentiras repetidas. Propõe boicote e marginalização internacional do Estado judeu, alinhando-se ao movimento BDS, que visa sua extinção sob pretextos humanitários. E recorre a uma vergonhosa manipulação jurídica, distorcendo tratados internacionais para julgar Israel tendenciosamente. Depois, com hipocrisia, se ofende ao ser chamado de antissemita. O padrão é claro e sistemático.

Quem demoniza Israel de forma obsessiva, geralmente não o faz por amor aos direitos humanos, mas por judeofobia. E quem repete essas narrativas sem verificação, torna-se - por ignorância ou ideologia - cúmplice dessa antiga forma de ódio.

(*) Presidente Jornalista, escritor e analista do Oriente Médio.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 13/07/25. Opinião, p.18.

sábado, 16 de agosto de 2025

A verdade geopolítica sobre Israel, Palestina e o atual conflito

Por Claudio Lottenberg (*)

A criação do Estado de Israel em 1948 foi resultado de um processo legítimo, respaldado internacionalmente e conduzido por canais multilaterais. Em 1947, a Assembleia Geral da ONU aprovou a partilha do território sob mandato britânico em dois Estados: um judeu e outro árabe. O povo judeu aceitou o plano com a esperança de coexistência. Os países árabes, por outro lado, rejeitaram a proposta e optaram por uma guerra aberta contra o novo Estado, com o declarado objetivo de eliminá-lo do mapa. Israel resistiu e sobreviveu — mas o Estado palestino que também estava previsto simplesmente nunca foi criado.

Nos anos seguintes à guerra, houve uma reconfiguração territorial marcante: o Egito ocupou a Faixa de Gaza e a Jordânia anexou a Cisjordânia. Durante os 19 anos em que essas regiões estiveram sob domínio árabe, nenhuma medida significativa foi tomada para promover a criação de um Estado palestino independente. O projeto nacional palestino, que hoje se reivindica como direito histórico, foi ignorado por décadas por aqueles que dizem ser seus maiores defensores.

Somente nas décadas de 1990 e 2000, com os Acordos de Oslo e a posterior retirada unilateral de Israel da Faixa de Gaza em 2005, os palestinos passaram a ter algum grau de autogoverno. Em Gaza, porém, a escolha feita nas urnas foi pelo Hamas — uma organização terrorista fundamentalista, declaradamente antissemita e hostil à convivência pacífica. Desde 2006 governa a região sem realizar novas eleições. Seu estatuto não reconhece o direito de Israel existir. Ao contrário, prega abertamente sua destruição.

Em 7 de outubro de 2023, o Hamas protagonizou um dos maiores massacres de civis judeus desde o Holocausto, matando brutalmente mais de 1.200 pessoas, entre elas mulheres, crianças e idosos, e sequestrando outras centenas. O ataque teve caráter genocida. Por trás desse grupo está o Irã — o principal financiador do terrorismo internacional. O regime iraniano não esconde seu apoio armado, financeiro e estratégico ao Hamas, ao Hezbollah e aos Houthis. Todos esses grupos compartilham a mesma agenda: destruir Israel e desestabilizar o Oriente Médio.

Ignorar essa realidade é distorcer o debate. A presença judaica naquela terra é milenar, anterior à criação de qualquer país árabe moderno. Jerusalém era a capital do reino judeu há mais de 3 mil anos. O vínculo espiritual, cultural e político do povo judeu com aquela terra jamais foi interrompido, mesmo em tempos de exílio ou dominação estrangeira.

Ainda assim, afirmar isso não nega a legítima aspiração palestina. Muitos de nós acreditamos na necessidade urgente de construir um Estado palestino viável, com instituições sólidas e comprometidas com a paz. Mas isso só será possível se esse futuro Estado aceitar a existência de Israel como nação legítima, rejeitar o extremismo violento e se engajar num processo de coexistência verdadeira.

A solução de dois Estados continua sendo a esperança possível. Mas ela só terá futuro se for sustentada por segurança mútua, reconhecimento recíproco e lideranças que valorizem a vida acima do ódio. Paz duradoura exige memória histórica, responsabilidade política e coragem moral — não slogans, negações ou alianças com quem escolheu a destruição como método.

(*) Presidente da Confederação Israelita do Brasil.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 2/07/25. Opinião, p.19.

A GUERRA INCOMPREENDIDA

Por Marcos L Susskind (*)

O Oriente Médio ocupa manchetes e notícias sobre guerras chegam num ritmo alucinante, nem sempre correto. A meu ver não existe guerra entre Israel e Palestinos e sim entre Israel e terroristas tiranos do Hamas na Faixa de Gaza. A Palestina tem 6,020 km2. Gaza é só 6% da Palestina (365 km2), tomada pelos terroristas do Hamas, após expulsar a Autoridade Palestina em 2007, depois de sangrentas batalhas.

Quanto ao apartheid: em Israel vivem cerca de 2.100.000 Árabes gozando de todos os direitos - estão no Parlamento, são juízes, oficiais no Exército, médicos, empresários e o capitão da Seleção Nacional de Futebol é árabe. Na área da Autoridade Palestina e também em Gaza não vive um único Judeu. Todos os judeus de Gaza foram evacuados em 2005. Mas a acusação de Apartheid é sempre a Israel.

Outro assunto atual é a guerra com o Irã, uma das mais antigas nações do mundo. Desde Ciro, há 2.584 anos, persas e judeus viviam em perfeita harmonia. Tudo mudou em 1979, quando a Revolução Islâmica tomou o poder e transformou o Irã numa teocracia radical, controlando a população com mão de ferro, discriminando mulheres, gays e minorias e tendo como sua meta principal a destruição de Israel.

O Irã tal como um polvo, colocou braços armados no Líbano (Hezbollah), na Faixa de Gaza (Hamas e Jihad Islâmica), milícias pró-Irã na Síria e no Iraque (Kataib Hezbollah) e os Houthis no Yemen. Estes grupos foram armados, financiados e treinados pelo Irã para atacar Israel por todos os flancos. Além disso, o Irã enriquece urânio acima de 60%, podendo chegar à Bomba Atômica.

Recentemente o Irã já tinha urânio e componentes como água pesada e combustível sólido suficientes para 15 bombas atômicas. Isto indicava a iminente produção da bomba nuclear. A declarada intenção de destruir Israel tornou a ação de proteção necessária e urgente, e Israel atacou os alvos militares e áreas científicas ligadas ao desenvolvimento da bomba iraniana. O Irã retaliou, disparando potentes misseis exclusivamente a áreas civis em Israel.

Vale lembrar que os países onde o Irã se envolveu sofreram extrema destruição. O Líbano passa pela mais terrível situação econômica desde a guerra iniciada pelo proxy iraniano Hezbollah. O ex-governo pró-Irã da Síria matou 750.000 civis, 6.500.000 fugiram do país e 7.100.000 são refugiados internos.

Na Faixa de Gaza, o Hamas - apoiado e financiado pelo Irã - provocou uma destruição cuja reconstrução pode levar 20 anos. No Iêmen os Houtis tomaram o sul do país e 1.300.000 crianças e lactentes sofrem de desnutrição aguda.

Se o Irã chegasse à bomba atômica, os riscos ao mundo ocidental seriam imensos, dada a aliança Rússia-Irã. Com sua ideologia violenta, os aiatolás trazem agora a destruição para seu próprio país.

(*) Palestrante e Ativista Social. Autor do livro "Combatendo o Antissemitismo.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 27/06/25. Opinião, p.19.

sexta-feira, 15 de agosto de 2025

A MÃE DO ESCAPULÁRIO

Por Pe. Reginaldo Manzotti (*)

A devoção a Nossa Senhora do Carmo é uma das mais antigas e profundas da espiritualidade católica. Ela remonta aos primórdios da vida monástica no Monte Carmelo, na Terra Santa, e atravessa séculos como um farol de oração, contemplação e fidelidade a Cristo.

É curioso perceber como Deus escolhe caminhos inesperados para se revelar a nós. Na imensidão de Sua sabedoria, Ele nos deu Maria como mãe, como intercessora e como modelo de fidelidade. E entre os inúmeros títulos que ela recebe ao longo dos séculos, um deles brilha com especial encanto: Nossa Senhora do Carmo, a Mãe que veste seus filhos com a graça do Escapulário e os conduz pela estrada da santidade.

Ela que faz parte dos nossos carismas, porque, se queremos evangelizar com profundidade, com amor verdadeiro, com coração aberto, não há ninguém melhor para nos ensinar do que Maria. Ela não grita, não se impõe, não ocupa os holofotes. Ela apenas faz o que sempre fez: aponta para Jesus e caminha conosco.

Como não se emocionar ao recordar aquela cena tão bela e cheia de doçura? São Simão Stock, em 1251, rezava fervorosamente pedindo ajuda do Céu para sua Ordem. E eis que vem Ela - a Mãe, a Rainha, a Senhora - trazendo o como presente e proteção: "Recebe, meu filho amado, este escapulário. Quem com ele morrer, não padecerá o fogo eterno," disse Ela. Uma mãe nunca exagera quando se trata de cuidar dos filhos...

E aqui estamos nós, séculos depois, ainda com o escapulário ao peito, sinal de uma promessa eterna e de uma ternura que não envelhece.

O Escapulário não é mágica, não é amuleto. É compromisso espiritual. É consagração. É a Mãe dizendo: "Eu te acolho debaixo do meu manto. Mas agora, caminha como filho meu: com pureza, oração e amor."

Se você ainda não recebeu o escapulário, procure sua paróquia. Se já o tem, renove sua consagração com fervor.

Neste mês dedicado a Nossa Senhora do Carmo, somos convidados a aprofundar essa devoção e a redescobrir a presença materna de Maria, Ela que nos ensina a evangelizar. E, como gesto concreto eu os convido a:

* Rezar o terço com mais assiduidade

* Lê a Palavra de Deus com mais atenção e reflexão.

* Viver a fé com mais generosidade.

* Entregar a missão a Jesus por Maria.

Afinal, a melhor forma de homenagear uma mãe é seguir seus conselhos. E o maior desejo de Maria é que amemos a Jesus de todo o coração e que O levemos a todos os que ainda não o conhecem.

Termino este artigo com uma prece que brota do coração:

Mãe do Carmelo, Senhora do silêncio e da paz,

guia teus filhos neste ano especial.

Ensina-nos a viver com Jesus no coração e o escapulário no peito,

a evangelizar com ardor e ternura,

a preparar com alegria o jubileu desta obra tão abençoada.

Evangelizar é preciso, Mãe. Mas contigo, é também mais leve, mais seguro e mais fecundo. Amém!

Que Deus, por intercessão de Nossa Senhora do Carmo, os abençoe!

(*) Fundador e presidente da Associação Evangelizar é Preciso e pároco reitor do Santuário Nossa Senhora de Guadalupe, em Curitiba (PR).

Fonte: O Povo, de 12/07/2025. Opinião. p.16.


Crônica: “A missa de sétimo dia três anos depois” ... e outro causo

A missa de sétimo dia três anos depois

Absolutamente ninguém queria conversa com o bebim Jesuilson no ambiente. Tentou dedinho de prosa com o amigo comum Vavá, com o colega de racha Zé de Lulu e até com a "mulher cujo marido morreu, enquanto não volta a se casar". Sim, o sabido Jesuilson estava no velório de Ribamar, local de vigília bastante animado, diga-se - cafezinho com bulim, Flávio José rolando ao longe - "Se avexe não"...

Após insistir - em vão - no diálogo com um cristão qualquer na cerimônia de despedida ao amigo morto, Jesuilson partiu pra ignorância, fazendo uso de elemento fundamental nessas horas de pesar: a fofoca funérea. Que fez? Entabulou conversa franca com o defunto, ao ponto de o tom confessional chamar a atenção do público vivo. Parecia gaiatice, mas Jesuilson convenceu:

- Tu é doido, Riba?!? Sabia dessa não! Como? Seu Nonô faturando a quenga do pastor? O Glaubim roubou um bode gordo do véi Gotardo? Susaninha nunca foi moça?

Seu Nonô, Glaubim e Susaninha, presentes, se achegam à viúva Nildinha, pedindo providências:

- Bota esse bebo pra correr! Tá se fazendo que conversa com o finado só pra frescar com a nossa cara!

- Sou moça, sim!!! - defendeu-se a virgem desmascarada pelo bebim, conforme o morto.

Nildinha, enfim, vai tomar providências. É que, com voz alteada, o inveterado Jesuilson agora fala mal dela, para espanto dos circunstantes:

-Não, não, não! Chame ela de rapariga não, é seu rabo de saia!

A viúva se afobou com essa e tomou decisão irrevogável:

- Vivo ou morto, o enterro disso é agora! Fechem o caixão e marquem a missa de 7º dia!

- Bem, se hoje é 10, vou avisar ao padre Climério que será no dia 16...

- Não! E pra daqui a três anos, se até lá eu ainda me lembrar que esse infeliz das costa ôca papocou!

Sob pressão, quem será capaz?

Trabalhar e estudar com um fundo musical tranquilo é meio mundo; hora há, contudo, em que o silêncio é o BG ideal. Comer é a coisa melhor do mundo quando a fome bate; há certos manjares, porém, que o sujeito passa pra dentro mesmo farto. Dormir com quem se ama é show; mas, se o par da gente ronca alto (e/ou bufa), a poltrona da sala é pedaço de paraíso. Se bem administrado, dinheiro tem seu valor; senão (bufunfa não aguenta desaforo), é praga que leva a criatura à louquice.

E o ato solene de arrear o barro, o desbaste obrativo, a "cagadinha" tão conhecida nossa? Não adianta fazê-la com pressa, às carreiras, a toque de caixa, mesmo com a coisa já na porta de saída, pedindo penico liberativo. Que o diga a amiga Jorlândia, junta com Dedé Odrin há anos. Não aperreie ela nessas horas, se não quiser vê-la sair da casinha enfezada e levar uma bordoada no fucim. Fica uma onça. E o bom é que esses episódios têm nomes e particularidades. Senão vejamos a última deles.

Jorlândia, revista em mão, sentadinha no trono (somente um banheiro em casa), e Dedé tentando inadvertidamente tirar a mulher da concentração, e tomar-lhe o lugar.

- Bora, meu amor! Tô 'mica'!

- Dedé, Dedé! Tu já sabe, macho véi, que eu não defeco sob pressão!!!

Fonte: O POVO, de 18/07/2025. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.


quinta-feira, 14 de agosto de 2025

A radioterapia na Santa Casa de Fortaleza

Por Vladimir Spinelli Chagas (*)

Nesta última semana, a Santa Casa de Fortaleza recebeu, do Ministério da Saúde, o Termo de Recebimento Definitivo do acelerador linear instalado em Parangaba, ao lado do Hospital São Vicente de Paulo, que já se encontra em fase final de avaliações para início oficial do uso.

A radioterapia vem completar toda uma cadeia de atendimentos aos pacientes oncológicos, que vai desde a consulta inicial aos tratamentos mais complexos, como cirurgia, quimioterapia e, agora, um dos pilares mais importantes, indicado para um percentual significativo daqueles atingidos por diversos tipos de tumores e, praticamente, em todas as fases em que a doença se encontre.

Como um hospital filantrópico, a Santa Casa de Fortaleza, que abriga entre os seus assistidos mais de 95% provindos do SUS, vai permitir um acesso ao tratamento essencial a esse público, além de atuar na redução das filas, na melhoria da qualidade de vida e no fortalecimento do atendimento oncológico.

Pelo elevado valor, o investimento somente foi possível com o apoio do Ministério da Saúde, que proporcionou a doação do equipamento, a construção do prédio especial para sua instalação (bunker) e todas as fases de implantação dos softwares, testes, o que era essencial para permitir o credenciamento da instituição para prestar o serviço aos seus pacientes.

Esta última fase envolve diversas etapas e instituições como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), para assegurar a segurança dos pacientes e a qualidade dos serviços, não apenas antes do credenciamento, mas durante todo o período de funcionamento, com rigoroso controle de qualidade, através de um planejamento detalhado, sob orientação de especialistas.

Mas, o importante é que a Santa Casa de Fortaleza, mesmo durante todo o período de dificuldades financeiras que atravessa, não descurou de dar ao processo a atenção necessária, atendendo com presteza todas as exigências legais até ser considerada apta a requerer o credenciamento e poder se somar aos esforços em prol de tantos que têm indicação desse tratamento.

Santa Casa de Fortaleza, salvando vidas desde 1861.

(*) Professor aposentado da Uece, membro da Academia Cearense de Administração (Acad) e conselheiro do CRA-CE. Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Fortaleza.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 14/07/25. Opinião. p.20.


UM MINUTO DE EMPATIA

Por Sofia Lerche Vieira (*)

Empatia é palavra que anda escassa e faz falta no cotidiano de nossas relações pessoais, profissionais e políticas. De origem grega, vem de "empatheia', termo formada pela junção de "en" (em, dentro) e "pathos" (sentimento, sofrimento, emoção ou paixão). Refere-se, portanto, à capacidade de nos colocarmos no lugar do outro e, de tal maneira, sermos capazes de compreender suas emoções, motivações e percepções. Embora o conceito tenha evoluído ao longo do tempo, a essência de seu significado permanece.

Num mundo marcado pela competição, a família, a escola e outras instituições formativas da sociedade pouco abraçam a empatia como um valor universal. Por isso mesmo é necessário falar sobre sua importância no âmbito das relações individuais e coletivas. Como compreender as necessidades deste outro, que nos é estranho e parece indecifrável, se não vislumbrarmos nele a disposição para sentimentos semelhantes aos nossos?

É incomensurável o sofrimento que circula no mundo. Seres depauperados, atingidos por intempéries climáticas, guerras, abatidos pela fome e desabrigo. O próximo-distante que perdeu um filho. O amigo que não encontra inserção profissional. O trabalhador anônimo que varre as ruas sob o sol inclemente. O desconhecido que somos incapazes de desvelar. Que empatia exercitamos junto a eles? Somos capazes de compreender sua dor e estender-lhes a mão? Ou nos refugiamos em nossa indiferença?

A política, em tempos de radicalização, onde vencer é um atributo central, não é terreno fértil ao germe das sementes da empatia. Já imaginaram se os grandes senhores da guerra e do caos exercessem um minuto de empatia por dia? Se saíssem de si para enxergar o outro lado? Gaza não seria uma faixa de sofrimento, fome e morte. O mundo está repleto de outros exemplos semelhantes ignorados. Aqui e alhures.

Em tempos de dissenso, intolerância e disrupção, a empatia, esse atributo raro em nossos dias, é uma chave para o resgate da essência de nossa humanidade. Escutar o outro. Percebê-lo. Ser capaz de compreendê-lo. Aceitá-lo. Este o desafio.

(*) Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Uece e consultora da FGV-RJ.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 14/07/25. Opinião. p.20.

quarta-feira, 13 de agosto de 2025

O IFCE celebra o seu primeiro doutor bonjardinense

Por Pe. Rino Bonvinni (*)

No dia 25 de junho, foi realizada a defesa de tese do primeiro doutor do Instituto Federal do Ceará (IFCE), o agora dr. José Gleison Gomes Capistrano. O título da tese é "A Abordagem Sistêmica Comunitária no ensino de ciências em escolas indígenas com foco na saúde mental".

O título carrega uma história de participação do dr. Gleison nas atividades do Movimento Saúde Mental (MSM) que desde 1996 atua ao serviço dos mais pobres abandonados e excluídos. O dr. José é morador do Bom Jardim, bairro tristemente famoso pelas suas problemáticas socioeconômicas. Gleison participou da Pastoral da Juventude e de várias atividades organizadas pelos Missionários Combonianos.

Foi professor voluntario do cursinho de pré-vestibular e sempre foi muito prestativo com os jovens menos favorecidos. Se formou em nutrição e em biologia e terminou o mestrado em nutrição na Uece. Mas sempre ficou fascinado pela Abordagem Sistêmica Comunitária do MSM. Assim iniciou uma reflexão que o levou a conectar esta metodologia socioterapêutica multidisciplinar com o ensino das ciências, aceitando o desafio de realizar sua pesquisa inovadora no contexto da escola indígena do Povo Pitaguary na aldeia do Santo Antônio em Maracanaú.

Nesta escola, o MSM realiza o Sim à Vida, um projeto de prevenção da dependência química que está inovando as políticas públicas, inserindo atividades de autoconhecimento, fortalecimento da autoestima, artesanato, aprendizagem da língua Tupi, cantos, danças, pinturas corporais e trilhas ecofílicas na Mata Sagrada.

O dr. Gleison com suas entrevistas observou a potência das atividades e os resultados positivos que o Sim à Vida gera nas crianças e adolescentes. A escola municipal indígena Povo Pitaguary estava no último lugar no diagnóstico do sistema de avaliação externa do Ceara (Spaece) e, depois da experiência do projeto do Movimento Saúde Mental, alcançou o quarto lugar entre mais de 80 escolas do Município. O dr. Gleison abre um novo caminho para que o Bom Jardim e o Povo Pitaguary continuem gerando novos mestres e doutores.

(*) Psiquiatra e padre missionário comboniano. Dirigente do Movimento Saúde Mental (MSM).

Fonte: O Povo, de 7/07/2025. Opinião. p.22.

terça-feira, 12 de agosto de 2025

A QUEM SERVE A SAÚDE PÚBLICA NO CEARÁ?

Por Cláudio Pinho (*)

O Governo decidiu retirar um hospital inteiro do SUS para destiná-lo, de forma exclusiva, à Polícia Militar. O Hospital e Maternidade José Martiniano de Alencar, que desde 2011 atende milhares de cearenses, voltará a ser um hospital corporativo para atender a uma única categoria.

O que está em debate não é o direito dos policiais militares à saúde. Esse é um direito legítimo, indiscutível e que deve ser garantido. O que se discute é o modelo escolhido pelo Governo do Estado para cumprir uma promessa de campanha, mesmo que isso signifique sacrificar o que resta da já combalida rede de atenção à saúde do Ceará.

Se essa lógica for mantida, cabe perguntar se também teremos hospitais exclusivos para professores, profissionais da saúde, agentes penitenciários, servidores do judiciário, bombeiros, fiscais, técnicos administrativos, enfim, para cada segmento do funcionalismo público. Claro que não teremos. E não teremos por dois motivos muito simples e óbvios é inconstitucional e é financeiramente insustentável.

A Constituição Federal é clara. O Sistema Único de Saúde (SUS) é universal, público e gratuito. Nenhum governo tem autorização legal para privatizar, segregar aquilo que pertence a todos. No entanto, é exatamente isso que está sendo feito no Ceará, sem disfarces e sem constrangimentos.

A propaganda oficial diz que o governo está ampliando a saúde pública. Mas será que estamos mesmo diante de uma ampliação? Os fatos mostram exatamente o contrário. O que se vê é o fechamento de unidades para abrir um mega hospital, como ocorreu na transferência de equipamentos, serviços e profissionais do Hospital César Cals para o Hospital Universitário. Trocam-se seis por meia dúzia, diante de um estado que já amarga um déficit de 6.934 leitos hospitalares, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Uma decisão tomada pelos governos do PT sem que sequer houvesse qualquer estudo técnico que a justificasse. Até a audiência pública de 28 de abril, nem mesmo o Ministério Público conseguiu obter um documento que justificasse a escolha com informação técnica. É uma medida política, sem critério técnico, feita para cumprir acordos eleitorais.

O que não é aceitável é maquiar um ataque à universalidade da saúde pública como se fosse avanço. Não é avanço. É retrocesso. É um tapa na cara de milhões de cearenses que já sofrem em filas, que esperam meses por uma cirurgia, por um exame, por um leito de UTI.

A pergunta que fica é simples, direta e desconfortável: a quem serve a saúde pública no Ceará? Ao povo ou aos interesses políticos de quem governa?

(*) Deputado estadual ALECE (PDT).

Fonte: Publicado In: O Povo, de 12/07/2025. Opinião. p.17.

PROTECIONISMO E A NOVA ORDEM GLOBAL

Por Célio Fernando Bezerra Melo (*)

"Precisamos resolver nossos monstros secretos, nossas feridas clandestinas, nossa insanidade oculta" Michel Foucault

Desde 2025, os EUA adotam uma postura cada vez mais agressiva no comércio internacional, impondo tarifas de até 50% ao Brasil e a outros países, refletindo uma retórica de isolamento. A China foi o primeiro alvo, mas aliados também sofreram retaliações. Essa mudança radical na política comercial americana impacta a economia global e sinaliza uma transformação nas dinâmicas de poder mundial.

O crescimento do bloco do Brics, com um PIB de cerca de US$ 31 trilhões em 2024, frente aos US$ 29 trilhões dos EUA, evidencia a crescente influência de economias emergentes. Paralelamente, a decadência tecnológica dos EUA, especialmente em inteligência artificial, semicondutores e inovação digital, enfraquece sua hegemonia, como aponta John Darwin em "Ascensão e Queda dos Impérios Globais".

O avanço do Brics desafia o modelo ocidental de poder, consolidando-se como alternativa em comércio, tecnologia e diplomacia. Sua ascensão ocorre junto ao declínio tecnológico dos EUA, que perde vantagem competitiva e influência militar, dependendo cada vez mais do conhecimento, sem considerar sanções impostas as principais academias americanas.

Essa combinação de protecionismo e perda de inovação gera fragmentação na ordem internacional, promovendo a formação de blocos de poder como o Brics, que busca uma nova ordem multipolar. Tarifas elevadas, como as de 50%, representam uma tentativa de reequilíbrio, mas alimentam retaliações e aumentam a instabilidade global.

Histórico, como a Lei Smoot-Hawley de 1930, mostra que o protecionismo extremo tende a agravar crises econômicas. Medidas de isolamento sem diálogo aprofundam conflitos e recessões. É fundamental repensar estratégias comerciais, priorizando cooperação para evitar uma crise semelhante à da Grande Depressão.

Segundo John Darwin, a ascensão e queda de impérios globais dependem da inovação e adaptação. Os EUA, sustentados por tecnologia, finanças e diplomacia, enfrentam declínio dessas vantagens, enquanto a China cresce. Essa dinâmica coloca os EUA em vulnerabilidade, ecoando previsões de ciclos históricos de poder.

Conclusão, o cenário atual aponta para uma fase de transição, na qual o protecionismo agressivo aliado à perda de liderança tecnológica desafia a hegemonia americana. O crescimento do Brics indica uma nova ordem multipolar, mais dispersa e diversificada. Para evitar maior instabilidade, é fundamental investir em inovação, diálogo e cooperação internacional, deixando para trás discursos populistas e fortalecendo identidades culturais e políticas que contribuam para a estabilidade global.

Os apedeutas são superficiais na análise estratégica, lendo de forma literal as mensagens, que nos desvios de caráter da humanidade, se utilizam do silêncio para esconder as reais contextualizações na mesa do poder global.

O que você achou desse conteúdo?

(*) Economista. Vice-presidente da Academia Cearense de Economia.

Fonte: O Povo, de 12/07/25. Opinião. p.17.

segunda-feira, 11 de agosto de 2025

PARA ONDE VAI O BRASIL?

Por Cláudia Leitão (*)

Em 2008, fruto do XX Forum criado pelo Instituto Nacional de Altos Estudos (INAE) e liderado por João Paulo dos Reis Velloso, foi publicado pela Editora José Olympio um livro denominado "O Brasil e a Economia Criativa: um novo mundo nos trópicos". A publicação apresenta estudos e reflexões de grandes nomes do pensamento econômico e político brasileiro, tais como Guido Mantega, Aloizio Mercadante e Marcio Pochmann, organizados a partir de seis temas: Para onde vai o Brasil?: a Visão do Governo; Estratégia da Economia Criativa; a Consolidação das Bases Macroeconômicas; O Brasil e suas Empresas Globais; Universalizando a Inovação nas Empresas Brasileiras e o Índice de Desenvolvimento Social.

O texto de abertura é do próprio Reis Velloso, cujo título sugestivo "Eu tive um sonho" convoca o Brasil, a "deixar de ser o país das oportunidades perdidas para assumir seu lugar de liderança, sobretudo, junto aos Bric's, através da Economia Criativa". O ex-ministro do Planejamento adverte que "a verdadeira revolução brasileira está na integração de desenvolvimento e democracia", enfatizando a importância estratégica da construção de instituições políticas fortes (Congresso e partidos políticos) para que se possa evitar a multiplicação dos "circos de horrores", ou seja, dos escândalos de corrupção, fisiologismos, autoritarismos, entre outras mazelas da nossa República.

O texto seguinte - "Para onde vai o Brasil?" é da autoria do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua atualidade é impressionante. Nele estão enumerados os grandes desafios do Brasil e assinalada a necessidade da presença do Estado para garantir a proteção do meio-ambiente, os avanços da ciência & tecnologia, o enfrentamento da pobreza, da desigualdade e da violência, a urbanização de territórios vulneráveis, enfim, a educação como ativo maior da inclusão social e produtiva dos brasileiros. Em 2025, no terceiro Governo Lula, o Brasil acaba de assumir a presidência dos Bric's enquanto, no Ministério da Cultura foi (re)criada a Secretaria da Economia Criativa. O sonho "de um novo mundo nos trópicos" continua a nos instigar.

(*) Cientista Social. Professora da Uece. Diretora do Centro Internacional Celso Furtado para o Desenvolvimento.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 8/07/25. Opinião. p.18.

As reformas financeiras chinesas e seu impacto global

Por José Nelson Bessa Maia (*)

A economia global encontra-se em meio a tensões protecionistas, conflitos geopolíticos no Oriente Médio e instabilidade financeira geradas pela nova gestão do presidente dos EUA, Donald Trump. Os riscos de colapso no comércio e no crescimento econômico exigem ações anticíclicas, de modo a impedir o caos e superar as turbulências. Nesse contexto desafiador é que a China adotou medidas financeiras para preservar o seu crescimento. As novas medidas constituem um esforço para estabilizar a conjuntura, oferecendo apoio aos setores mais vulneráveis e ajudando o país a enfrentar a persistente incerteza global.

Como tudo na China as medidas adotadas seguem um planejamento estatal abrangente e focado em resultados. As medidas financeiras em execução para estimular o crescimento refletem as diretrizes adotadas na sexta Conferência de Trabalho Financeira realizada ainda em outubro de 2023. A Conferência é uma reunião de mais alto nível do setor financeiro da China, e suas políticas na área de regulamentação têm enorme impacto sobre o desenvolvimento de longo prazo das finanças chinesas.

Na citada Conferência, o presidente chinês Xi Jinping expôs o seu pensamento sobre as reformas financeiras, introduzindo uma inovação na Economia Política Marxista em relação às questões financeiras e fornecendo diretrizes para promover o desenvolvimento do setor financeiro na nova conjuntura de desenvolvimento da China, orientando os órgãos governamentais a otimizar os serviços financeiros, promover a abertura financeira de alto padrão e impulsionar o processo de internacionalização da moeda chinesa.

A Conferência delineou oito propostas para o setor financeiro da China, dentre as quais: i) acelerar a modernização institucional do setor; ii) fornecer serviços de alta qualidade para o desenvolvimento; iii) promover a abertura financeira; iv) fortalecer a regulamentação financeira; v) prevenir e resolver riscos financeiros, e vi): aprimorar a gestão macroprudencial do financiamento imobiliário. Tais pontos visam a abrir o sistema financeiro do país, tornando-o mais eficiente, estável e vinculado ao mercado global.

Em suma, as reformas ajudam a integrar mais a China na economia mundial, facilitando o comércio e o investimento. Com a abertura de segmentos financeiros a investidores e a modernização do sistema, o país se torna um ator ainda mais confiável. Além disso, a internacionalização do yuan chinês oferecerá alternativa às moedas tradicionais nas operações comerciais e financeiras entre fronteiras, o que influenciará as dinâmicas econômicas. Tais mudanças também incentivam outros países do Sul Global a adotarem reformas similares, em especial no BRICS, reforçando, assim, a estabilidade e a integração no sistema financeiro global.

(*) Mestre em Economia e doutor em Relações Internacionais pela UnB e ex-secretário de Assuntos Internacionais do governo do Ceará. Pesquisador independente das relações China-Brasil, China-Países Lusófonos e China-América Latina.

Fonte: O Povo, de 6/07/25. Opinião. p.19.

 

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