Por Claudio Lottenberg (*)
A criação do Estado de Israel em 1948 foi
resultado de um processo legítimo, respaldado internacionalmente e conduzido
por canais multilaterais. Em 1947, a Assembleia Geral da ONU aprovou a partilha
do território sob mandato britânico em dois Estados: um judeu e outro árabe. O
povo judeu aceitou o plano com a esperança de coexistência. Os países árabes,
por outro lado, rejeitaram a proposta e optaram por uma guerra aberta contra o
novo Estado, com o declarado objetivo de eliminá-lo do mapa. Israel resistiu e
sobreviveu — mas o Estado palestino que também estava previsto simplesmente
nunca foi criado.
Nos anos seguintes à guerra, houve uma
reconfiguração territorial marcante: o Egito ocupou a Faixa de Gaza e a
Jordânia anexou a Cisjordânia. Durante os 19 anos em que essas regiões
estiveram sob domínio árabe, nenhuma medida significativa foi tomada para
promover a criação de um Estado palestino independente. O projeto nacional
palestino, que hoje se reivindica como direito histórico, foi ignorado por
décadas por aqueles que dizem ser seus maiores defensores.
Somente nas décadas de 1990 e 2000, com os
Acordos de Oslo e a posterior retirada unilateral de Israel da Faixa de Gaza em
2005, os palestinos passaram a ter algum grau de autogoverno. Em Gaza, porém, a
escolha feita nas urnas foi pelo Hamas — uma organização terrorista
fundamentalista, declaradamente antissemita e hostil à convivência pacífica.
Desde 2006 governa a região sem realizar novas eleições. Seu estatuto não
reconhece o direito de Israel existir. Ao contrário, prega abertamente sua
destruição.
Em 7 de outubro de 2023, o Hamas
protagonizou um dos maiores massacres de civis judeus desde o Holocausto,
matando brutalmente mais de 1.200 pessoas, entre elas mulheres, crianças e
idosos, e sequestrando outras centenas. O ataque teve caráter genocida. Por
trás desse grupo está o Irã — o principal financiador do terrorismo
internacional. O regime iraniano não esconde seu apoio armado, financeiro e
estratégico ao Hamas, ao Hezbollah e aos Houthis. Todos esses grupos
compartilham a mesma agenda: destruir Israel e desestabilizar o Oriente Médio.
Ignorar essa realidade é distorcer o
debate. A presença judaica naquela terra é milenar, anterior à criação de
qualquer país árabe moderno. Jerusalém era a capital do reino judeu há mais de
3 mil anos. O vínculo espiritual, cultural e político do povo judeu com aquela
terra jamais foi interrompido, mesmo em tempos de exílio ou dominação
estrangeira.
Ainda assim, afirmar isso não nega a
legítima aspiração palestina. Muitos de nós acreditamos na necessidade urgente
de construir um Estado palestino viável, com instituições sólidas e
comprometidas com a paz. Mas isso só será possível se esse futuro Estado
aceitar a existência de Israel como nação legítima, rejeitar o extremismo
violento e se engajar num processo de coexistência verdadeira.
A solução de dois Estados continua sendo a
esperança possível. Mas ela só terá futuro se for sustentada por segurança
mútua, reconhecimento recíproco e lideranças que valorizem a vida acima do
ódio. Paz duradoura exige memória histórica, responsabilidade política e
coragem moral — não slogans, negações ou alianças com quem escolheu a
destruição como método.
(*) Presidente da
Confederação Israelita do Brasil.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 2/07/25. Opinião, p.19.
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