Por José Nelson Bessa Maia (*)
O recente anúncio
pelo presidente americano Donald Trump de taxação de 50% sobre as exportações
brasileiras para os EUA por razões não econômicas, mas sim geopolíticas (BRICS)
e de interferência em assuntos internos do Brasil gerou indignação e repúdio por
parte dos diversos segmentos da opinião pública. Afinal, o Brasil é um país
cronicamente deficitário em suas transações de comércio com os EUA e não se
encaixaria no argumento comumente usado pela Administração americana para taxar
com altas tarifas seus parceiros comerciais.
Em caso dos EUA
não aceitarem rever a medida e o Brasil retaliar mesmo que de forma seletiva
isso criará, além de perda de receita e empregos no setor exportador, uma
pressão de custos sobre o agronegócio brasileiro que importa máquinas,
equipamentos e óleo diesel dos EUA, gerando uma inflação adicional e uma perda
de atividade no setor com efeitos em cadeia.
Trata-se,
portanto, de um grave contencioso e que exigirá do Brasil muita habilidade
negocial, jogo de cintura e, ao mesmo tempo, capacidade para abrir espaço em
novos mercados de destino para os segmentos econômicos mais afetados pelo
tarifaço.
No caso do Ceará,
que depende mais do que o Brasil do mercado americano para suas exportações, os
impactos serão relativamente mais fortes do que para o país como um todo. Os
EUA são o principal mercado para nossas exportações, cerca de US$ 658,9 milhões
em 2024 (44,8% naquele ano e 52,2% no primeiro semestre de 2025), mas tinham
sofrido forte queda (-31,4%) em relação ao ano anterior. Assim, mesmo sem o
aumento de tarifas, as vendas de produtos cearenses aos EUA já vinham em forte
declínio, não compensado pelo aumento que se verificou nos seis primeiros meses
deste ano.
Com a eventual
imposição de 50% de tarifas, as receitas de exportação para o mercado americano
terão uma queda ainda mais acentuada. Dado o peso dos produtos siderúrgicos
(ferro fundido, ferro e aço) na pauta exportadora e a importância dos EUA
(cerca de 80% das vendas externas desses produtos) como destino, o impacto
sobre as receitas da Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP) serão consideráveis.
Em face dos
riscos que essa situação impõe para a economia cearense, cabe aos responsáveis
locais pelas decisões, tanto no setor público quanto privado, articular com o
Governo Federal uma estratégia de negociação com o Governo dos EUA que reveja o
tarifaço ou minimize seus efeitos e, simultaneamente, procurar promover, via
suporte da APEX-BRASIL, exportações em terceiros mercados, de modo a reduzir a
dependência crônica em relação aos EUA.
Urge, portanto,
uma ação rápida e pragmática para resguardar o nível de atividade e emprego no
Complexo do Pecém e superar esse enorme choque externo contra a
dinâmica de crescimento do Ceará.
(*) Mestre em
Economia e doutor em Relações Internacionais pela UnB e ex-secretário de
Assuntos Internacionais do governo do Ceará. Pesquisador independente das relações China-Brasil, China-Países
Lusófonos e China-América Latina.
Fonte: O Povo, de 17/07/25. Opinião. p.21.
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