Por Patrícia Soares de Sá Cavalcante (*)
Observar a comunicação entre um bebê e sua
mãe nos primeiros meses de vida é algo profundamente comovente. Lembro-me,
emocionada, da minha experiência como mãe de primeira viagem da Marina. Na
maior parte das vezes, eu sabia exatamente o que ela queria. Tínhamos uma
cumplicidade expressa pelo olhar, pelo sorriso e pelas brincadeiras.
Embora ela falasse apenas algumas palavras
- algo natural para a sua idade -, parecia que já estávamos conversando. Quando
eu chegava do trabalho, ela provavelmente ouvia o barulho do elevador e, antes
mesmo de eu entrar em casa, eu a escutava dizer: "Mamãe!". Ao abrir a
porta, dava-lhe um beijo e dizia: "A mamãe estava com saudades".
Certo dia, não consegui chegar a tempo para
colocá-la para dormir - uma rotina que mantínhamos quase diariamente. Na minha ausência,
ela, com apenas um ano e nove meses, verbalizou, ainda sem conseguir formar
frases: "mamãe... saudade".
Segundo Lacan, sem ausência não há palavra,
e a palavra, sobretudo quando compreendida, favorece os encontros. Nosso
primeiro grande encontro costuma ser com a mãe, ou com quem exerceu uma função
de cuidado e amparo. Alguém que nos ajudou a desenvolver a linguagem e a
traduzir nossos sentimentos, mesmo diante das imperfeições - que, aliás, são
inevitáveis e essenciais para o amadurecimento.
Mesmo depois de adquirirmos a linguagem
verbal, mantemos uma comunicação não verbal que diz muito. Às vezes, uma imagem
ou um olhar valem mais que mil palavras. Porém, comunicar-se não é uma tarefa
simples: há o que é dito, o que o outro entende e o que fica nas entrelinhas,
além das mensagens inconscientes que podem permear qualquer diálogo.
O suprassumo da comunicação ocorre quando
conseguimos estabelecer uma compreensão mútua, seja no falar ou no silenciar.
Há algo mais acolhedor do que quando alguém percebe o nosso tom de voz, a
expressão do nosso olhar, o nosso sorriso ou compreende o que o nosso silêncio
revela? Quando isso acontece, a angústia do que não foi possível dizer em
palavras se esvai.
É como receber o melhor dos abraços. Mas
isso é coisa rara. Como dizia Vinicius, "A vida é a arte do encontro,
embora haja tanto desencontro pela vida".
(*) Médica
psiquiatra.
Fonte:
Publicado In: O Povo, de 15/07/2025.
Opinião. p.16.
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