Nobreak no coffee break
Zé,
estimado amigo José de Pedim! Zé, haver nascido no seu tempo de existência
planetária é deveras uma felicidade, satisfação oceânica. Pense num ser
invadido pela gentileza, desde sempre, o José! Ah, se o mundo coubesse mais de
ti no coração do mundo, e as pessoas seriam mais gente, Zé meu! Do generoso e
prestativo amigo, duas histórias de devolver a esperança a nós tão
alquebrados...
1ª
- O intervalo curto pra comer e beber
Era
aniversário da empresa em que Zé labutava como auxiliar de serviços gerais. Dia
de festa, pois, na firma. E começava com um lauto coffee break para os 43
funcionários. Mas, o imprevisto: a pessoa encarregada de ir buscar o dicumê do
povo (sanduíches, bolos em fatias, pães de queijo, biscoitos, frutas, sucos e
café) já encomendado adoeceu e não deu as caras por lá. Só havia ele àquela
hora da manhã - 6h15 - no lugar.
O
chefe geral chamou nosso prestimoso José de Pedim e pediu socorro:
-
Se só tem tu aqui, vai tu mesmo!
-
Pradonde, dotô João?
-
Pro centro da cidade!
-
Eu vou! Fazer o quê?
-
Pegar o coffee break do pessoal!
-
Pegar o quê?!?
-
O coffee break, Zé! Aniversário da empresa e vamos servir um...
-
Entendi, entendi! É pra eu ir ao centro pegar o...
-
Coffee break!!!
Bem-mandado
como sempre foi, Zé saiu. Na pressa, nem o chefe disse o local em que amigo
deveria pegar o lanche ligeiro dos funcionários, tampouco ele perguntou o nome
da loja. Uma hora mais tarde, José de Pedim chega à empresa, suado, com... dois
no breaks na mão!!!
A terapêutica do radinho de
pilha
Prestativo,
servidor e, graças a Deus, sem maldade alguma, o querido Zé. Tão logo soube que
um sobrinho, filha da irmã mais velha (e dele afilhado), adoecera e tratou sem
detença de fazer algo de útil pelo menino. No caso, comprar um radinho de pilha
zero quilômetro, precisamente esse abaixo que ele descreve para o vendedor da
loja de eletroeletrônicos:
-
Um rádio portátil AM/FM à pilha retro vintage antigo recarregável com bluetooth
e USB.
-
É baratim, só 80 reais no Pix! O senhor vai amar!
-
Né pra mim, é pro meu sobrinho!
-
Ah, ele deve gostar muito de rádio!
-
Sim! Minha irmã disse que ele ia ficar curado com radioterapia.
O
melhor, acreditem: o menino tá em remissão! Pra Zé foi o radinho de pilha!
Um cara cheio de gratidão
Zé
gentil, Zé servidor, Zé sem maldades e, por último, Zé escritor. Mais
precisamente, autor único de "técnicas, orientações, informações ou
práticas para resolver problemas psicológicos até dum coqueiro". Gaba-se,
por já contar 65 anos, de ter por inspiração a grande Cora Coralina, que
estreou em livro com boníssima idade. Muito me envaideceu ao segredar-me que eu
era o personagem principal da obra ele. Do que trata o livro?
-
Autoajuda, como diria o grande Tarcísio Garcia, na ruma!
-
E o título, Zé?
-
Lições para você aprender a não morrer com facilidade. Pode até morrer, mas...
Fonte: O POVO, de 15/11/2024. Coluna
“Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.