Por Maurício Filizola (*)
Imagine um peixe dourado, nadando em
círculos dentro de um aquário reluzente. Alimentado todos os dias, protegido
das correntezas do mundo lá fora, ele vive. Mas nunca sai do lugar. O vidro é transparente,
quase invisível. E é justamente por isso que parece não haver prisão. Afinal,
por que lutar contra aquilo que nem se vê?
O Brasil está criando, há pelo menos duas
décadas, uma geração que cresce dentro desse aquário. Um sistema de ajuda do
estado que, se por um lado oferece socorro imediato, por outro não ensina a
nadar em mar aberto. O problema não é a mão estendida — é o tempo em que ela
permanece estendida, impedindo o outro de se levantar.
Mais de 20 milhões de famílias vivem hoje
do Bolsa Família. Um número maior que toda a população do Chile. São cerca de
14 bilhões de reais por mês em auxílios — o equivalente a milhares de escolas
modernas ou hospitais funcionando a pleno vapor. Mas o que se entrega, no fim,
é só o peixe. E quase nunca, a vara.
A armadilha é sutil. Quanto mais tempo o
cidadão passa dentro do sistema de benefícios, mais difícil se torna sair dele.
Empregos formais são recusados por medo de perder o auxílio. Pequenas empresas
não conseguem contratar. A economia enfraquece. E a dignidade, que só floresce
com independência, começa a murchar.
O governo, em vez de preparar o terreno
para o voo, vai podando as asas. Porque quem aprende a pescar pode não voltar
mais ao cais para buscar migalhas. E uma população dependente é uma população domesticada
— grata, fiel, previsível nas urnas.
Mas a verdade incômoda precisa ser dita:
Uma nação só prospera quando tira seu povo
da estagnação e o coloca em movimento.
É urgente reconstruir o pacto social com
base na autonomia, não na dependência. Oferecer educação de qualidade,
capacitação profissional e oportunidades reais de trabalho. O maior programa
social que pode existir é um emprego digno, uma carteira assinada, um negócio
próprio, uma chance verdadeira.
Porque o ser humano foi feito para navegar,
não para nadar em círculos.
Peixe alimentado demais esquece o mar.
Mas é nele que está a liberdade.
E só nela, a prosperidade verdadeira.
(*) Diretor da
Confederação do Comércio. Articulista de O Povo.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 10/05/25. Opinião, p.19.
Nenhum comentário:
Postar um comentário