Por Nathana Garcez (*)
No início de maio, o conclave composto
por 133 cardeais surpreendeu o mundo ao eleger Robert Francis Prevost como o
novo papa, tornando-o o primeiro pontífice estadunidense da Igreja Católica. A eleição
do papa Leão XIV, nome adotado pelo cardeal Prevost, marcou uma decisão
estratégica sobre os rumos futuros de uma das instituições mais influentes do
planeta.
Nascido nos Estados Unidos, o cardeal
era considerado como uma opção pouco viável para o colégio eleitoral do
Vaticano em razão do histórico afastamento entre os EUA e a Igreja Católica.
Contudo, não foi o que ocorreu e, logo após a revelação do novo papa, pairaram
nas redes certas apreensões: o que um papa estadunidense significaria para a
Igreja Católica e para o mundo? As reformas de Francisco e sua mensagem mais
progressista seriam mantidas? E mais: como essa escolha dialogaria com um
cenário político global cada vez mais tenso devido às políticas disruptivas do
governo Trump?
As respostas para tais perguntas
começaram a emergir rapidamente. Já em seu primeiro discurso enquanto papa,
Leão XIV ressaltou - direta e indiretamente - seus princípios e objetivos. Com
frases em espanhol, o papa atenuou a preocupação de parte dos católicos sobre
um possível "americanocentrismo", destacando sua relação com a
América Latina, região onde morou por décadas e onde adquiriu a cidadania
peruana. Também em seu discurso, o papa Leão XIV esclareceu que pretendia
conduzir a Igreja de modo a dar continuidade ao legado do falecido Papa
Francisco, reforçando reformas internas já iniciadas e intensificando o papel
da instituição como mediadora de diálogos e promotora da defesa dos mais
pobres.
Sua trajetória parece de fato apontar
nessa direção. Ainda que não pareça possuir um perfil essencialmente liberal
devido ao suposto acobertamento de agressões sexuais de padres no Peru e de
declarações passadas sobre temas como eutanásia, aborto e homossexualidade, o
papa tem historicamente promovido os direitos dos povos refugiados, advogado
por justiça climática e por melhores políticas migratórias nos Estados Unidos.
Aliás, quanto ao governo Trump, cabe
destacar que a eleição do novo papa deve marcar um novo tensionamento nas
relações entre Vaticano e os EUA. Em entrevista ainda no fim de abril, o
ex-assessor de Trump, Steve Bannon, refletiu sobre o conclave e concluiu
acertadamente sobre a possibilidade de eleição de Leão XIV. No entanto, sua
mensagem foi de pessimismo, destacando o perfil considerado extremamente
progressista do cardeal.
Em que pese os prováveis atritos com os
EUA, a escolha do colégio de cardeais parece revelar um cálculo estratégico: a
Igreja buscou um perfil que pudesse consolidar as mudanças institucionais
recentes, mas também projetar uma liderança capaz de navegar entre
polarizações. Leão XIV, com sua dupla-nacionalidade, é o reflexo direto desse interesse
pelo fortalecimento a passos sutis da Igreja Católica. Resta agora esperar para
ver os resultados de tal estratégia.
(*) Doutoranda em Relações Internacionais e
mestre em Economia Política Internacional.
Fonte: O Povo, de 18/05/2025.
Opinião. p.20.
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