Chorar de catarro grosso
Chicute
aprendeu a batucar num penico velho de alumínio de casa, enjeitado. Precisava
ver a categoria, um Naná Vasconcelos depois da catapora. Na bodega de Lidu,
pleno "mêi dia" do sábado, Raimunda Caçula vê Chicute agarrado ao
instrumento de "receber porcaria a disparar aprumadas notas
percutidas" e pergunta que marmota era aquela que aprontava o
improvisador. Sem parar de batucar, responde ele garboso:
-
Pinicando!!!
Novidades caricatas da modernidade
1ª
- A pessoa roubar o carrinho de compras do supermercado de outro comprador,
pela tampa de mercadorias, em breve vacilo, após uma hora de esforço pela
escolha do melhor produto, da promoção imperdível. Aconteceu num mercantil
perto de casa: a senhora enchera o carrinho e... "Cadê minhas
compras"? Um cabra véi garapeiro tomou de assalto o carrinho dela. Ocorre
que um terceiro viu a arrumação e tudo foi esclarecido. Justiça feita,
evitando-se mão de tabefe justo na seção de laticínios.
2ª
- O sujeito "brechar" o celular do outro, ficar de "ôi
grelado" no Samsung alheio, "bilando" o que rola no aparelho de
quem está ao lado - numa viagem de ônibus, por exemplo, a ponto de perder a
parada e seguir até o fim da linha, sem querer. Pior: chegar ao cúmulo de pedir
ao dono do celular que repita determinada cena, toque de novo uma música.
Observei isso num carro da Vitória, no caminho de Catuana. Sem-vergonhamente, o
indivíduo reclamou do que a outra assistia:
-
Muito paia isso aí, ó! Muda! Ligeiro! Vai!
Comendo luz e arrotando em pensamento
Contou-me
o amigo Inácio Carvalho uma das tantas presepadas do sobralense Chico
Milionário, pão duro que só a peste. Pra que não conhece, Chico é o tal que,
morrendo alguém na zona rural, segue no ônibus da Prefeitura onde estão
familiares e amigos do de cujus a caminho do derradeiro adeus só pra fazer
enxame (com a rabeca, anima a viagem, promovendo o que chama 'turismo
funerário').
Mas,
falando de gaiatice das boas, vamos à derradeira que Inácio jura verdadeira.
Vinha Chico Milionário pra Fortaleza com um filho pequeno, brochote. Saiu
madrugadinha de casa, tão somente pra economizar no café da manhã. A meio de
caminho, o pivete acusa a natural fome de caráter ainda semi-suportável. Pede
ao pai um bico pão, duas bolachas, batata doce, quissuco, mariola. Chico
minimiza a dor da fome e pede ao menino que pense num copo grande de leite e o
tome tudo de cinco goladas. E lamba os beiços, inclusive.
-
É tiro e queda, a fome passa ligerim!
E
o bichim vai na onda do pai e engana direitinho o bucho! Mais adiante, porém,
mais fome a perturbar a criança indefesa. Milionário pede agora que o menino
pense numa manga jasmim bem madurinha, dessas de quilo e meio, e coma-a na
imaginação, com casca e tudo, raspando o caroço. De novo o garoto ludibriado
engana o bucho.
Quando
os dois vêm já apontando na Mister Hull, entrada de Fortaleza, o filho de Chico
não aguenta o jejum e vuco! Desmaia! Vendo a cena, o pai avarento pede pro
menino se refazer, concluindo cínico:
-
Tá vendo, filho? Vá misturar leite com manga, vá! Um veneno, Francisco Júnior!
2ª
edição da Grande Enciclopédia
-
Eu vim pra dizer que vô num vim - Desculpa de alguém que, d'algum modo, não vai
comparecer.
-
Sem ver nem pra que - De forma imprecisa, do nada.
-
Picica seca pisada - Farinha de milho pilado, seca que só o cão. Que entala.
Fonte: O POVO, de 1/08/2025. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.
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