Por Pe. Eugênio
Pacelli SJ
(*)
Agosto sempre provoca em mim um
movimento de interioridade. É o mês em que a Igreja nos convida a olhar para
dentro e escutar, com atenção renovada, o chamado que Deus dirige a cada um. A
vocação, para mim, nunca foi apenas “o que vou fazer da vida”, mas “para quem
desejo viver”. É mais que profissão ou função: é modo de ser, entrega total,
uma resposta amorosa que dá sentido a todos os dias e ilumina até mesmo as
noites mais escuras.
Na minha caminhada como jesuíta, aprendi
com Santo Inácio que discernir a vocação é empreender uma peregrinação
interior. É percorrer, com calma e oração, as estradas da alma, reconhecendo de
onde brota a paz profunda e onde floresce a alegria infindável. É observar
movimentos interiores — consolações e desolações — e perceber que a verdadeira
escolha é aquela que mais se aproxima de Deus e do serviço.
As vocações são a seiva da Igreja,
sustentando sua missão de anunciar e testemunhar o Evangelho. Na sociedade, são
faróis de esperança e ética. Nas famílias, cada vocação é uma herança
espiritual, transmitida em exemplos, histórias e gestos concretos que moldam
gerações. Um sacerdote, uma religiosa, um casal fiel, um leigo consagrado —
todos são expressões diferentes de um mesmo amor que se doa e se renova.
Mas discernir não é simples. Exige
coragem para deixar caminhos confortáveis e seguir a bússola do Espírito. É
preciso rezar, esperar, amadurecer, aceitar os tempos de silêncio como parte do
processo.
Santo Inácio nos convida a “buscar e
encontrar Deus em todas as coisas”, até nas circunstâncias banais, pois nelas
também Ele se revela. É nesse olhar atento que a vocação se manifesta, e cada
talento é transformado em dom fecundo para os outros.
Neste mês das vocações, convido você a
fazer uma pausa, cultivar o silêncio e a escuta. Deus raramente grita; Ele fala
na brisa suave, no íntimo do coração. Quando acolhemos sua voz, a vida se
alinha ao propósito para o qual fomos criados. Como nos ensinou Santo Inácio,
“o amor deve se colocar mais nas obras do que nas palavras”. Que o seu “sim”
seja diário, generoso e capaz de transformar não apenas a sua história, mas
também o mundo ao seu redor.
(*) Sacerdote
jesuíta e mestre em Teologia. Escritor. Diretor do Mosteiro dos Jesuítas de
Baturité e do Polo Santo Inácio. Fundador do Movimento Amare.
Fonte: O Povo, de 23/08/2025.
Opinião. p.14.
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