Foto: Diário do Nordeste. Entrevista.
Lembrado por alunos e colegas como um profissional empático e
dedicado, Erasmo pesquisava temas como morte, luto e cuidados paliativos
Morreu, nesta quinta-feira (30/01), o psicólogo, tanatólogo,
professor e pesquisador Erasmo Miessa Ruiz, aos 62 anos. Professor da
Universidade Estadual do Ceará (Uece) há 27 anos, Erasmo foi pioneiro nos
estudos da tanatologia do Ceará e se tornou referência nacional na área. Nos
últimos meses, ele estava em tratamento contra um câncer. A causa da morte não
foi divulgada pela família.
Em nota de pesar publicada no perfil de Erasmo no Instagram, a
filha do professor, Carmen Ruiz, destacou o quanto o pai gostava de
compartilhar conhecimento também nas redes sociais, que Erasmo usava como
espaço de diálogo e aprendizado. Com frequência, o professor publicava no
Instagram textos e vídeos com reflexões sobre vida, morte, luto, amor, arte e
questões sociais importantes na contemporaneidade. Na rede, ele era acompanhado
por mais de 40 mil pessoas.
"Papai amava postar aqui no Instagram dele, amava ver esse mundo
de likes e visualizações, amava mostrar um pouco do trabalho incrível dele e,
principalmente, amava ajudar as pessoas", destacou Carmen.
Ruiz se formou em psicologia pela Universidade de São Paulo (USP)
em 1989 e, após a graduação, cursou um mestrado em Educação na Universidade
Federal de São Carlos (Ufscar) e um doutorado em Educação pela Universidade
Federal do Ceará (UFC). Entre as diversas contribuições relevantes para a área
da saúde, ele foi consultor da Política Nacional de Humanização do
Ministério da Saúde (PNH/MS) e coordenou cursos e pesquisas sobre Cuidados
Paliativos no Ceará.
Atualmente, ministrava aulas nos cursos de graduação em Psicologia,
Serviço Social, Terapia Ocupacional, Enfermagem e Medicina e era
vice-coordenador do curso de Terapia Ocupacional da Uece. Também lecionava no
mestrado profissional de Ensino na Saúde da instituição.
A Uece divulgou uma nota de pesar lamentando a partida do docente e
ressaltando a inteligência, alegria e bom humor de Erasmo, que era muito
querido na comunidade acadêmica.
"A Universidade se faz de pessoas, e todas elas são
importantes. Cada vez que a comunidade acadêmica 'perde' uma delas, o primeiro
sentimento é o de lamento. O segundo passo deve ser sempre o de celebrar a
alegria de ter estado junto. O professor Erasmo Ruiz será lembrado como alguém
que marcou muitos alunos e profissionais, a quem inspirou; colegas que
conviveram com sua inteligência, alegria e humor fino; leitores que receberam
os livros que produziu e ajudou a publicar, além de centenas de pessoas que passaram
por uma perda dolorosa, mas a quem ele ensinou a lidar com o luto, em seus
estudos e projetos sobre tanatologia”. “Um mestre nunca morre: suas palavras
continuam ecoando naqueles que com ele aprenderam a semear novos caminhos", diz parte do
comunicado.
O Sindicato de Docentes da Uece (Sinduece) também publicou uma nota
de pesar, destacando a atuação sindical de Erasmo e "sua fina capacidade
de aliar o pessimismo a inteligência, como um nato apreciador de Gramsci".
"Além de um ser humano singular, Erasmo era um dedicado
docente, psicólogo e sindicalista, múltiplas faces que ele exercia com
maestria. Hoje, torna-se para nós uma saudade irreparável: de um amigo
insubstituível, parceiro de conversas, um mestre, um guia e um pai amoroso. Sua
partida nos deixa um vazio imenso, mas também a certeza de que seu legado
seguirá vivo em cada conquista que celebrarmos", destaca a nota.
Nas redes sociais, diversos alunos, colegas de profissão e amigos
lamentaram a partida do professor, que tem recebido uma série de homenagens.
Uma delas partiu do grupo "Sobreviventes Enlutados", voltado para a prevenção do suicídio e o apoio às famílias
que perderam entes queridos.
"Sua paixão pela psicologia e dedicação ao ensino são
verdadeiramente inspiradoras. Agradecemos não apenas pelo conhecimento que
compartilhou, mas também pela empatia e apoio que sempre demonstrou. O impacto
que o senhor teve em nossas vidas é imensurável e levaremos seus ensinamentos
conosco sempre. O senhor se foi, mas o seu legado ficará para sempre", diz uma
publicação do grupo.
"lidar com a morte é uma
forma de potencializar a existência"
Durante as últimas décadas, Erasmo Ruiz se dedicou a ajudar as
pessoas a lidarem melhor com a morte para viver uma vida mais plena, fosse por
meio da docência ou do apoio a grupos de apoio e pesquisa.
Em entrevista ao Diário do Nordeste em outubro de 2023, o professor comentou a importância da
tanatologia, área da ciência que estuda a morte e seus impactos sociais. "Aprender a lidar com
a morte é uma forma de potencializar a sua existência, porque você entende que
ela é efêmera", destacou, à época.
O professor defendia que essa aprendizagem deveria ser estimulada
especialmente nos cursos de saúde, como Psicologia, Enfermagem e Medicina, como
modo de formar profissionais mais humanos e preparados para lidar com a dor dos
pacientes.
Erasmo Ruiz deixa esposa, filha e um grande legado para a
comunidade científica cearense.
Fonte: Escrito por Redação producaodiario@svm.com.br
31 de janeiro de 2025 - 11:50 (Atualizado às 11:53)