A VASSOURA E O AJUNTADOR
Moreira de Azevedo - Mosaico Brasileiro, pág. 141
Bernardo Pereira de Vasconcelos, no início da moléstia grave que afinal o inutilizou para o serviço do país, sofria de uma paralisia nas pernas, que o obrigava a arrastar os pés, quando andava. Entrava ele, certa vez, no Senado, esfregando os sapatos no soalho, quando o visconde de Caravelas, que era coxo e abaixava-se de uma banda a cada passada, lhe observou, rindo:
- Que é isso? Você está varrendo o Senado?
- É verdade - confessou o grande tribuno. - É verdade.
E, aludindo ao defeito do agressor:
- Eu varro o Senado e você ajunta o cisco!
OS MELÕES DO BERNARDINHO
Alfredo Pujol - Machado de Assis, pág. 15
Achava-se Francisco Otaviano uma tarde no escritório, quando lhe apareceu o seu velho camarada Carlos Bernardino de Moura, redator da Pátria, de Niterói, e pediu-lhe algum dinheiro para levar à família, que não tinha o necessário para as despesas do dia.
- Olha, Bernardino, vamos dividir irmãmente o que eu tenho no bolso, - propôs o poeta.
E tirando da algibeira quarenta mil réis, passou vinte ao camarada.
Meia hora depois, ao sair do escritório, encontrou Otaviano o Bernardino na rua do Ouvidor, à porta de uma confeitaria, sobraçando dois vistosos melões "casca-de-carvalho", que se não compravam por menos de dez mil réis cada um. Deu-lhe caça, tomando-lhe a frente.
- Olha, Bernardino, - disse, detendo-o.
E tomando-lhe um dos melões:
- Vamos dividir isso irmãmente!
O ORGULHO DE ALENCAR
Taunay - Reminiscências, vol. I, pág. 109
O Imperador Pedro II não tinha grandes simpatias pessoais por José de Alencar. Porque este o houvesse ferido por mais de uma vez pela imprensa, ou porque lhe fizesse mal o amor-próprio, ou melhor, o orgulho do escritor, foi o soberano contrário, desde o princípio, à candidatura do seu ministro da Justiça à cadeira de senador pelo Ceará. No dia em que este lhe foi comunicar que era candidato, o monarca objetou-lhe:
- No seu caso, não me apresentava agora: o senhor é muito moço...
Alencar, num daqueles repentes que lhe eram habituais, não se conteve.
- Por esta razão, - disse - Vossa Majestade devia ter devolvido o ato que o declarou maior antes da idade legal...
E tomando conta de si:
- Entretanto, ninguém até hoje deu mais lustre ao governo...
O Imperador não lhe perdoou, jamais, esse ímpeto, vetando, como se viu depois, o seu nome, que era o mais votado da lista.
O IMPERADOR E MARTINS JÚNIOR
Tobias Barreto - A tolerância do Imperador, O Jornal 5-12-1925
Era Ferreira Viana ministro no gabinete João Alfredo, quando, em um concurso na Faculdade de Direito de Recife, Martins Júnior, republicano e positivista, tirou o primeiro lugar em um concurso, contra o filho de um dos maiorais do governo na província. O Imperador defendia, a todo o transe, Martins Júnior, contra os interesses do gabinete.
- Ele é republicano, majestade! - alegou Ferreira Viana.
- Isso não é razão, - contestou o monarca; - a fé republicana não o impede de ser um bom professor.
- Depois, é um ateu.
- Ainda menos, - tornou o soberano. - Todas as crenças podem ser admitidas, desde que sejam sinceras.
Ferreira Viana sentiu-se vencer, e reagiu:
- Bem. Vossa Majestade, dispensa no civil, mas eu não dispenso no religioso!
E fechou a questão.
Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927)
Uma bossa nova sobre a série de Fibonacci
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