Em janeiro de 1954, o
jovem, mas já famoso cirurgião carioca José Hilário, tido como um dos pioneiros
da cirurgia cardíaca no Brasil, a convite do Prof. Newton, veio a Fortaleza, a
fim de ministrar um curso prático de cirurgia cardíaca, para um seleto grupo de
professores da Faculdade de Medicina, marcando esse evento o início dessa
especialidade, no Ceará.
Para viabilizar a
empreitada, o Dr. José Hilário fez-se acompanhar de parte de sua equipe: o
anestesista e a instrumentadora, aqui contando com os Prof. Newton Gonçalves,
Haroldo Juaçaba e Paulo
Machado, que se revezavam, como seus cirurgiões auxiliares.
Como a Faculdade de Medicina do Ceará não dispunha de numerários, a vinda dos
convidados foi patrocinada por alguns mecenas locais que pagaram as passagens,
enquanto a hospedagem e as despesas do curso ficaram garantidas pelos
professores e médicos envolvidos no treinamento.
Com o fito de
ratificar a conhecida hospitalidade cearense, após o término do curso, os convidados
foram levados para passar o final de semana em Guaramiranga, onde foram, com
toda fidalguia, muito bem anfitrionados por Raul Carneiro e Carlos Jereissati,
cunhados do Prof. José Carlos
Ribeiro, responsável pela logística do Hospital Geral Dr.
César Cals, local de realização do treinamento.
O Prof. Newton
Gonçalves, em seu livro “Prosa Dispersa” (p.331-2), reconta que na volta desse
passeio, um pedregulho “feriu” o carter de um dos dois carros que os
transportavam, causando um ameaçador vazamento de óleo.
Parados no meio da
estrada, eles não sabiam o que fazer.
Dr. José Hilário,
acostumado com a surpresa das hemorragias, falou:
– Só tamponando, imediatamente. Talvez se
possa alcançar um lugarejo próximo e pedir ajuda.
– Mas, tamponar com o que? – Perguntou o cardiologista Dr.
Antônio Jucá.
Foi então que Isabel,
a hábil instrumentadora cirúrgica, não vacilou na pergunta:
– Um “Modess” serve, professor?
As senhoras da
comitiva, diante da insólita indagação, entreolharam-se surpresas, pois sequer
havia anúncios ou reclames de absorventes femininos nos meios locais, àquela
época. Coisas de mulher jamais seriam expostas, com tanto despudor, era o que
pensavam. O que valeu, no entanto, foi que o “Modess” cumpriu, a contento, a
sua nova e imprevista indicação.
Com esse artefato, e
tal artifício, foi possível alcançar outra condução, chegando todos a
Fortaleza, trazendo na lembrança a inusitada utilidade do famoso produto íntimo
da “Johnson & Johnson”, que, de tão folclórico, tornou-se motivo de sérios
risos no grupo de convivas.
Se houvesse
publicitário vanguardista, bem à frente daqueles tempos, o absorvente poderia
até ganhar um slogan bem apropriado: “Modess não escolhe. Vai de carro a
mulher, com a maior garantia”.
*
Publicado, originalmente, In: SILVA, M.G.C. da. Contando Causos: de médicos e
de mestres. Fortaleza: Expressão, 2011. 112p. p.96-97.
Fonte: SILVA, M.G.C. da. Tamponamento inusitado.
In: SOBRAMES – CEARÁ. Sopro de luz. Fortaleza: Sobrames-CE/Expressão, 2020.
364p. p. 243-244.