O JUIZ CRISTÃO
Mário de Alencar - Revista da Academia Brasileira de Letras, n° 7, 1912
Era Raimundo Correia juiz no Rio de Janeiro quando lhe foram a despacho os papéis de um processo-crime, sobre um ferimento, a facão, num açougueiro, feito pelo seu próprio empregado.
Raimundo mandou chamar as partes. Declarou que ia absolver o culpado, porque havia sido ofendido no insulto. Mas, só o faria com uma condição: se os dois não guardassem ódios. Fez-lhes uma preleção sobre a violência, e terminou:
- Vocês têm religião?
- Sim, senhor.
E aproximando-os:
- Então, vão, e sejam amigos...
AS BARBAS DE D. FRANCISCO
Moreira de Azevedo - Mosaico Brasileiro, pág. 37
Era costume de D. Francisco de Almeida, depois segundo conde das Galveas e íntimo de D. João VI, comparecer ao Paço com a barba por fazer. Um dia, o monarca observou-lhe:
- Pois nem hoje, dia dos meus anos, D. Francisco, fizeste a barba?
- Por que não fez Vossa Majestade anos ontem, que foi dia em que me barbeei? - retrucou o fidalgo, na sua bonomia.
A TÁTICA DE FLORIANO
Faria Neves Sobrinho - A Manhã, de 19 de janeiro de 1927
Verificada a renúncia de Deodoro, e conseqüente ascensão de Floriano, os amigos deste promoveram por todo o país movimentos revolucionários, pondo no governo dos Estados gente do seu grupo. Em Pernambuco, deposto o Barão de Contendas, foi constituída uma Junta governativa, com o general Jaques Ouriques, José Vicente Meira de Vasconcelos e Ambrósio Machado Cunha Cavalcante. Urgia, entretanto, eleger um governo definitivo, e a Junta, em telegrama a Floriano, propôs três nomes: Martins Júnior, José Vicente e Ambrósio Machado.
Dias depois vinha este telegrama lacônico de Floriano:
- "Barbosa Lima aceita e agradece".
A Junta ficou boquiaberta. Jamais havia passado pela idéia dos seus membros o nome de Barbosa Lima.
MODÉSTIA CONTRA ARROGÂNCIA
Taunay - Reminiscências, vol. I, pág. 30
Discutia-se no Senado o projeto de lei emancipando os escravos, quando Zacarias, que lhe era contrário e ocupava a tribuna, exclamou, em certo momento, zombeteiro, ferindo de frente Rio-Branco:
- Podem, por exemplo, sr. Presidente, dizer a um desses escolhidos: "És um Rio, e às tuas brancas águas entregarei a nau que leva os destinos da coroa!"
Quando Zacarias acabou, Rio-Branco subiu à tribuna e começou assim:
- Sou o primeiro, Sr. Presidente, a lamentar que as circunstâncias me colocassem nesta posição e que ao ministério de que faço parte coubesse a realização de tão grande idéia. Fora, sem dúvida, mais feliz o país se tivesse à frente do seu governo um atleta da força do nobre senador pela Baía. Mas S. Excia. mesmo teve a bondade de recordar-nos que, às vezes, a Providência permite que pequenos e modestos instrumentos possam realizar maiores feitos do que alterosos gênios.
E entrou, em seguida, no assunto.
O IMPERADOR E BENJAMIM
Tobias Barreto - "A tolerância do Imperador", no O Jornal, de 5 de dezembro de 1925
Pedro II estava no exílio, quando, ao abrir um jornal, deparou a notícia da morte de Benjamim Constant.
- Aqui está uma notícia que me entristece, - declarou.
O Barão de Penedo, que se achava presente, estranhou aquele sentimento, por quem se mostrara tão ingrato. E o neto de Marco Aurélio:
- Nada tem uma coisa com a outra. Esse era o homem político. Deploro a morte do homem de ciência, que estimei, e que era muito boa criatura.
A EXPERIÊNCIA DE UM MORALISTA
Moreira de Azevedo - "Mosaico Brasileiro", pág. 135.
Ao contrário do que se pode concluir das suas máximas, o marquês de Maricá não era um homem sisudo, grave, conceituoso, na palestra. Gostava de pilheriar com finura, tendo deixado, nesse terreno, alguns ditos interessantes.
Certo dia, estava ele à mesa, quando recebeu uma participação de casamento.
- Vamos, marquesa, - disse, pondo-se de pé; vamos quanto antes dar os parabéns aos noivos. Bom será que seja hoje mesmo.
- Hoje, marquês? Por que tanta pressa?
- Para não acontecer - respondeu ele, - o que sempre acontece; isto é, dar-se parabéns quando os noivos já estão arrependidos.
OS PERIGOS DA ELETRICIDADE
Anais do Senado
Sessão de 7 de julho de 1894, no Senado. Quintino acaba de defender os interesses de Floriano Peixoto, advogando a prorrogação do sítio e a suspensão das imunidades parlamentares. Ora Leopoldo de Bulhões.
Ramiro Barcelos aparteia-o. A manutenção das imunidades vai ser um fermento de novos pronunciamentos.
Bulhões protesta:
- V. Excia. engana-se!
E numa imagem:
- Pelo fato da eletricidade e do vapor produzirem desastres, deve a indústria deixar de empregar, de servir-se dessas forças?
Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927)