Pedro
Henrique Saraiva Leão (*)
Não
mencionaremos aqui os radicais livres, os dendrímeros, ou o encurtamento dos
telômeros (sobre os primeiros consultar “Quem tem medo de câncer”, O POVO,
26/X/2016). Contudo, contemplando o envelhecimento, impõe-se-nos começar
citando Seneca (Lucius Annaeus), para quem “Senectus
enim insanabilis morbus est”: A velhice é
realmente uma doença insanável. E Cícero (Marcus Tullius) aconselhava lutar
contra a senescência, qual doença. A tecnologia vem contrariando essas gnomas
(sentenças), e a senectude não é mais tão incurável. Para o dr. Ronan Factora,
geriatra da Cleveland Clinic (EUA), “nunca estaremos velhos demais para manter
o bem-estar do corpo” (revista Time, fev-mar, 2015), conceito subscrito pelos
porvirólogos, estudiosos que perscrutam o amanhã.
Assim, Ray Kurzweil prevê vida eterna tecnicamente
possível após 2029, a que aludimos em “Transhumanismo”, (6/XI/2013), e há pouco
(2/4/2017), em Folha de S. Paulo. Tais premonições (pressentimentos) nos
lembram, da Literatura, Gilgamesh, e FranKenstein, na sua ânsia de
amortalidade. Há um século e meio a expectativa de vida era apenas 37 anos. Em
1925, medidas sanitárias elevaram-na para 59; nos trinta anos seguintes vacinas
nos tornaram setuagenários. Trintanos depois, a prevenção das cardiopatias, e a
redução do tabagismo nos acrescentaram mais um lustro (5), e em 2015,
alcançamos os atuais 79.
A partir de 2045, especula-se atingiríamos a média de 81
anos (sugiro ler/reler, neste jornal, “2045”, de 23/3/2013, e artigos de
30/1/2013, e 15/2/2017). Sabemos que, além do acidente vascular cerebral (AVC),
das moléstias respiratórias, renais, hepáticas, e do diabetes, letais podem ser
também o câncer, as cardiopatias (malgrado os “stents” e “by passes”), os males
imunológicos e degenerativos, como o de Alzheimer. E temos como riscos
exponenciais (maiores) para os morbos (enfermidades) cardíacos, o colesterol
elevado, a hipertensão, e a obesidade.
Respeito à nossa natural, inata morbidade (chance de
adoecer), atua em silêncio a inflamação – não aguda (calor/rubor/tumor/dor),
mas sua variedade crônica, subclínica, pauci-sintomática (com poucos sintomas),
presente nas artrites, na asma, nas alergias, e até nas gengivites
persistentes, promovendo depósitos arteriais de colesterol.
Seria outro tema acerca da “Lebensabend”, a tarde da
vida, como dizem os alemães, na sua exatidão vocabular. Ali abordaríamos,
outrossim, os efeitos nocivos do estresse, recôndito inimigo nosso.
Hodiernamente (hoje) preocupam-se por igual os cientistas com a reversão da
senilidade. Resultados animadores desafiam o inexorável (inflexível) curso dos
órgãos e sistemas humanos.
Em obediência à brevidade, apontamos tão somente o que
ocorre nos pulmões, no coração, e nos rins. A função respiratória decai 1% ao
ano nos trintenários; as paredes cardíacas endurecem entre as 20ª e 30ª
décadas, e sem sintomas/sinais aparentes, o trabalho renal diminui em torno dos
50 anos.
“Ergo” teríamos mais tendências para morrer do que para a
vida! Portanto, sejamos como os latinos (Horacio): “Carpe diem quam minimum credula postero” (aproveitemos o dia confiando o mínimo no futuro).
Enquanto vivos, vivamos. Apenas durar, não.
(*) Professor Emérito da UFC.
Titular das Academias Cearense de Letras, de Medicina e de Médicos Escritores.
Fonte: O Povo, 23/08/2017.
Opinião, p.14.