Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Nós
brasileiros esquecemos que por maior que seja um país, ele não é maior que o
mundo todo. Para eles (os do Primeiro Mundo) não passamos de um país
periférico, quando não produtor de bananas ou como diziam os ingleses no meu
tempo em que lá vivi: país de onde vêm as “Brazil nuts” (castanhas do Pará) e
terra do Pelé…
A
Amazônia é uma região de 7 milhões de quilômetros quadrados, ocupa 60% do
território brasileiro e abriga cerca de 25 milhões de habitantes, 85% deles
vivendo em cidades sem infraestrutura, sem saneamento básico, com péssimos
serviços de energia e comunicação, com altas taxas de desemprego e de
analfabetismo, dados que jamais mobilizaram as atenções mundiais de seus
“defensores”, nem mesmo no Brasil – onde, há muito tempo, mantêm-se uma atitude
de “colonialismo interno” e o olhar distante da região, tratando-a como “terra
exótica”, habitada por índios e papagaios, almoxarifado da indústria sulista e
“reserva ecológica” para turistas pós-modernos, como afirmam vários
intelectuais brasileiros, embora acreditem que suas florestas guardam riquezas
incalculáveis e até medicamentos para a juventude eterna.
Mas
vamos lá ao que este médico de província está no momento matutando sobre o
assunto.
Não
entendo este pipocar barulhento, toda essa explosão midiática até internacional
sobre o fogo na maior floresta do mundo. Queimadas sempre ocorreram, por lá,
mais constantes na época seca, apesar de corriqueiras, nem por isso significa
serem legais ou acertadas.
O
“insulto” do presidente da França e as respostas do nosso Presidente soam como
jogadas político-marqueteiras, servindo apenas para ocupar as páginas dos
noticiosos já prenhes de novidades e fuxicos abaladores que facilitam a
obtenção do pão nosso de cada dia pelos profissionais da imprensa de todos os
países envolvidos.
Não
discuto os interesses gauleses do abalo dos preços de sua produção agropecuária
com a implantação do acordo do Mercosul com a Comunidade Europeia. Nem
muito menos os das nossas exportações de commodities e de
alimentos.
Com
o presidente francês Macron e outros chefes políticos europeus em decadência
eleitoral, as “queimadas amazônicas” passaram a ser o bode expiatório da
intoxicação carbônica do meio ambiente e assim eles aparecem encobertos pela
cortina de fumaça dos incêndios florestais- tropicais, tornando-os em fatores
eleitoreiros para que tais políticos pareçam mais simpáticos ou palatáveis aos
eleitores dos seus respectivos países, sem que seus corpos e aparências sejam
chamuscados pelo incêndio midiático por eles iniciado.
Nós
brasileiros esquecemos que por maior que seja um país, ele não é maior que o
mundo todo. Para eles (os do Primeiro Mundo) não passamos de um país
periférico, quando não produtor de bananas ou como diziam os ingleses no meu
tempo em que lá vivi: pais de onde vêm as “Brazil nuts” (castanhas do Pará) e
terra do Pelé…
Vamos
cuidar de nossa Amazônia na parte que nos toca e convém. Isso é da nossa conta.
Deixe quem quiser falar.
Basta
escutar/ler/compreender as nossas publicações periódicas, jornais, programas de
TV para que se note o pouco que nossas mídias antissociais falam sobre assuntos
importantes, principalmente os internacionais. Escrevem, fuxicam, sobre a
política/situação do vizinho ou do conhecido. Sobre a situação internacional,
jamais comentam. Mantêm-se apenas ao nível das brutalidades opinativas e as
polarizações político-jabuticabenses. Sempre locais. Quando a tecnologia
precede a cultura é o que acontece!
Vivem,
a maioria dos brasileiros, olhando mais para o próprio umbigo, esquecendo que
apesar de sermos quase do tamanho de um continente, fazemos parte de um planeta
aonde cada estado-nação defende seus próprios interesses. Não existe país
amigo, o que ocorre é a coincidência de interesses conjunturais simultâneos.
Algo
que deveria ser pensado é a eterna continuação de nosso colonialismo interno,
que domina em regiões de um estado ou de um município subjugados pelo seu
próprio governo ou elite dominante. Vale salientar que a politização do
termo migração interna pelos marxistas — colonialismo externo ou interno — tem
criado óbices para uma discussão profunda e sem ideologias
acabadas/ultrapassadas deste assunto.
No
caso brasileiro, a dominação por parte dos estados mais desenvolvidos e sua relação
com os mais pobres deveria ser mais bem discutida.
É o
caso da Amazônia Legal e a miséria dos que lá vivem ou apenas sobrevivem. Temos
obrigação de irrigá-los com mais atenção e ajudá-los.
Lembro
que apesar de não termos o problema dos imigrantes em número europeus creio que
as migrações dos nordestinos para o centro-sul do país, foram maiores do que o
aporte ora recebido pela Europa, sem que nos esqueçamos das migrações de
pessoas oriundas do Leste da Europa após a queda do muro de Berlim.
Termino
este artigo dizendo: há males que vêm para o bem, há males que apenas vêm…
filosofia popular. Ou extrato de sabedoria acumulada. Fica a critério do
leitor.
Acho
que o presidente da França, nação que nos influencia por sua cultura e outras
tantas coisas mais, tenha, sem querer, chamado a atenção para nós brasileiros
da nossa importância Mundial, não somente pela Amazônia brasileira, mais do
reconhecimento do Brasil no contexto das demais nações.
Vamos
cuidar de nossa Amazônia na parte que nos toca e convém. Isso é da nossa conta.
Deixe quem quiser falar. Como diz Vinícius de Morais:
Deixa
“Fala
quem quiser falar, meu bem
Deixa
Deixe o coração falar também
Porque ele tem razão demais quando se queixa
Então a gente deixa, deixa , deixa, deixa
Ninguém vive mais do que uma vez
Deixa
Diz que sim prá não dizer talvez
Deixa
A paixão também existe
Deixa
Não me deixes ficar triste
Nenhum
“Macron” deste mundo vai tirar nossa alegria.
(*) Professor Titular da Pediatria
da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União
Brasileira de Escritores (UBE), da Academia Brasileira de Escritores Médicos
(ABRAMES) e da
Academia Recifense de Letras. Consultante Honorário da Universidade de Oxford
(Grã-Bretanha).