domingo, 31 de janeiro de 2021

TIRO DE CANHÃO PARA AJUSTE DOS RELÓGIOS

          Narra-se que em Recife, no início do século XIX, havia um problema com a definição do horário oficial: não havia um veículo público de comunicação e os relógios das torres das igrejas das praças não eram lá muito confiáveis. Essa imprecisão do horário implicava falha na pontualidade dos indivíduos nas suas relações sociais e até perda de compromissos, à conta de atrasos.

Os relógios eram de corda, funcionando por certo tempo, e, por vezes, com a marcha mais lenta, atrasando a marcação cronológica. As pessoas que tinham relógios precisavam “dar a corda” quando eles paravam; para isso, perguntavam a terceiros qual era a hora para acertarem os seus relógios.

Para sanar o problema, as autoridades pernambucanas combinaram com o comando militar sediado em Recife que este receberia a informação do horário certo oriunda da única relojoaria da cidade, e, exatamente ao meio-dia, o quartel do exército dispararia um tiro de canhão.

Assim, religiosamente, nas primeiras semanas, ao meio-dia e ao som do canhão, os recifenses, diariamente, ajustavam seus relógios. No entanto, com o correr dos meses, as pessoas passaram a perceber uns descompassos envolvendo os tiros e seus apetrechos cronométricos, o que provocou uma avaliação dos procedimentos instaurados para o estabelecimento do horário oficial.

A investigação, após criteriosa avaliação de processos, identificou que a relojoaria deixara de informar a hora certa ao comando, e até passara a ajustar os relógios postos à venda com o tiro do canhão, cujo disparo partia mais da intuição cronométrica do samango-artilheiro, que, por sinal, segundo as más línguas, sequer possuía um “roscofe” qualquer.

Marcelo Gurgel Carlos da Silva

Ex-Presidente da Sobrames-Ceará

* Publicado In: SILVA, M. G. C. da (Org.). Meia-volta, volver! Médicos contam causos da caserna. Fortaleza: Expressão, 2014. 112p. p.68-69.

A EXUMAÇÃO DO GENERAL SAMPAIO

          O general Antônio de Sampaio, nascido em Tamboril, em 24 de maio de 1810, e falecido em Buenos Aires, em 6 de julho de 1866, foi um herói da Guerra do Paraguai. Considerado um dos maiores militares da história do Brasil, participou das principais guerras travadas pelo exército ao longo do século XIX, vindo a falecer a bordo do navio Eponina, na sequência dos três ferimentos produzidos por balas e estilhaços de granada (dois nas costas e um na coxa) recebidos na Batalha de Tuiuti, no dia 24 de maio de 1866. Por sua bravura nos campos de batalha, o general Sampaio é o patrono da arma de Infantaria no Brasil. O general morreu em consequência da gangrena na perna atingida.

Em 24 de maio de 1966, ao ensejo dos Centenários de sua morte e da Batalha de Tuiuti, seus restos mortais são removidos do cemitério S. João Batista para um mausoléu na Avenida Bezerra de Menezes, em Fortaleza, onde permaneceram até 24 de maio de 1996, ocasião em que os seus despojos foram trasladados para o Panteão Brigadeiro Sampaio, erguido na parte frontal da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, sede do Quartel-General da 10ª Região Militar, onde passaram a repousar, em definitivo.

Quando da exumação do seu corpo, no cemitério de Fortaleza, em 1966, seus restos mortais foram periciados por um professor de Patologia da UFC, sob a assistência de vários militares de alta patente do exército brasileiro.

Durante a perícia, o patologista pinça um pequeno corpo esférico enegrecido, e quando o examina, com maior cuidado, desperta a curiosidade do oficialato ali presente. Um deles, mais afoito, e na expectativa daquele achado necroscópico, indaga ao mestre:

– É a bala!? Foi a bala que o matou?

– Não! Isso não é uma bala – afirmou, com segurança, o legista.

– E então, professor, do que se trata? – Arguiu um oficial-comandante.

– Isso é apenas cocô – retrucou o médico.

– Mas como pode ser cocô, com esse formato de bala? – Contestou outro oficial, visivelmente decepcionado com o resultado da autopsia.

Ao que o professor, peremptoriamente, diagnosticou:

– É simplesmente merda. Bosta ressequida ao longo do tempo.

A partir daí, com a plateia emudecida, a exumação seguiu sem qualquer interrupção ou interesse da parte dos militares.

Marcelo Gurgel Carlos da Silva

Ex-Presidente da Sobrames-Ceará

* Publicado In: SILVA, M. G. C. da (Org.). Meia-volta, volver! Médicos contam causos da caserna. Fortaleza: Expressão, 2014. 112p. p.67-68.

sábado, 30 de janeiro de 2021

Obra do novo Hospital Universitário do Ceará vai custar R$ 274,7 milhões

Por Raone Saraiva, colunista

O contrato entre o Governo do Estado e o Consórcio Saúde Ceará foi assinado na quinta-feira, 14. A previsão é que a obra seja concluída em 202216:38 | 16 de janeiro de 2021

Empreendimento que deverá ser inaugurado em 2022 em Fortaleza, o novo Hospital Universitário do Ceará custará R$ 274,74 milhões aos cofres públicos estaduais. Com validade de 36 meses, o contrato entre o Governo do Estado, por meio da Superintendência de Obras Públicas (SOP), e o Consórcio Saúde Ceará, foi assinado na quinta-feira, 14. A previsão é que a obra seja concluída em dois anos.

O consórcio é formado por três empresas: Engeform Engenharia Ltda, Passarelli Engenharia e Construção Ltda e Temon Técnica de Montagens e Construções Ltda. O grupo será responsável pela elaboração e desenvolvimento dos projetos de arquitetura e engenharia, obtenção de licenças, aprovações, execução das obras e serviços de engenharia, arquitetura, montagens dos sistemas envolvidos e comissionamento das edificações. As informações foram divulgadas no Diário Oficial do Ceará (DOE) dessa sexta-feira, 15.

Estrutura do hospital

O hospital terá mais de 650 leitos de internação, distribuídos entre internação geral (470) e terapia intensiva (184). Contará também com leitos de apoio e observação nas alas de urgência e emergência, centro cirúrgico e obstétrico. O equipamento vai ocupar área de 75 mil metros quadrados (m²), em terreno que pertence à Universidade Estadual do Ceará (Uece), no bairro Itaperi, com acesso pela rua Betel, próximo à rua Holanda.

O complexo será composto por um edifício principal de três torres (clínica, cirúrgica e materno-infantil). Serão seis pavimentos integrados com diferentes ambientes, como enfermarias pediátricas e adultas, ambulatórios, área de exames e laboratórios, consultórios médicos e odontológicos, centro de convivência, dois auditórios com 50 lugares cada, área técnica e de ensino, e heliponto.

Assistência terciária

O equipamento terá perfil de assistência terciária, realizando atendimento em casos de alta complexidade e dando suporte a hospitais da Região Metropolitana de Fortaleza e do interior do Estado.

”O Hospital Universitário, além de funcionar como a nova sede do tradicional Hospital César Cals, vai permitir conciliar, em parceria com a Uece, o atendimento à população com o ensino de novos profissionais da área”, disse Aline Cordeiro, diretora de Projetos de Edificações da SOP, em março do ano passado, quando o Governo do Ceará informou sobre o lançamento do edital para a obra, do tipo Regime Diferenciado de Contratações Públicas Integrada (RDCi).

Fonte: Publicado In: O Povo, de 28/1/21. Reportagem, p.22.

ANUNCIADO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO NA UECE

Editorial de O Povo, de 29 de janeiro de 2021.

Em um momento de grande significado para a saúde pública, o governador Camilo Santana (PT) assinou na última quarta-feira, 27, a ordem de serviço para construção do Hospital Universitário do Ceará (HUC), a ser instalado no Campus do Itaperi, da Universidade Estadual do Ceará (Uece). O equipamento abarcará uma área de 79,5 mil metros quadrados e terá 654 leitos (470 de internação geral e 184 de terapia intensiva). O projeto prevê um edifício de três torres — clínica, cirúrgica e materno-infantil. Ao todo, serão erguidos sete pavimentos que reunirão mais de 30 especialidades médicas. A obra inclui um heliporto, e já no próximo ano (2022) espera-se que seja entregue ao público. Quase R$ 275 milhões, bancados pelo governo estadual, se destinarão a pôr a edificação de pé.

Por suas proporções será o maior hospital público do Ceará, destinando-se ao atendimento terciário, isto é, aos casos de alta complexidade. Ao mesmo tempo, dará suporte a hospitais da Região Metropolitana de Fortaleza e do interior do Estado. Se sua missão se resumisse só a isso, já estaria plenamente justificada. Mas, é bem mais importante, complexa e frutífera: vai ser um centro formador de profissionais médicos para o Ceará, unindo ensino, pesquisa e extensão. Tratando não apenas da parte teórica, mas da prática profissional médica. Esta última é muito cobrada pela sociedade para que possa se sentir confiante quando posto sob os cuidados de um recém-formado. Ou seja: além de dar o embasamento teórico, o HUC vai treinar o profissional, integrar universidade e hospital e, através da extensão, prestar um bom serviço à população.

Embora o binômio ensino-assistência prevaleça como marca desse tipo de instituição, a definição de hospital universitário (HU) é mais abrangente, implicando também a pesquisa, isto é, a produção do conhecimento, o fazer ciência. Não é à toa que o reitor da Uece Hidelbrando Soares enfatizou a junção desse eixo: "Essa aproximação - hospital, ciência, ensino e extensão - tem tudo para tornar essa área um polo de inovação no Estado do Ceará".

Criar uma unidade como essa, no momento em que a ciência, no âmbito do poder mais alto da República, se torna cada vez mais rarefeita como referencial civilizatório, é uma aposta lúcida que descortina um horizonte menos asfixiante. Isso assim também foi entendido pelo secretário da Saúde do Estado do Ceará, Carlos Roberto Rodrigues, no comentário sobre a importância de "juntar ensino e prática como reconhecimento da valorização da ciência e do conhecimento como mecanismo de transformação social".

Dessa forma, é possível saudar o projeto da construção do Hospital Universitário do Ceará como uma decisão histórica da jovem geração governante cearense, que honra a capacidade prospectiva do seu povo.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 28/1/21. Editorial, p.18.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Crônica: “Tempo, o sábio mudo” ... e outros causos

"Tempo, o sábio mudo"

Quando Mauricéa fala - "intiriço à moda cantiga de grilo", não tem quem segure. Alcunhada "radiadora gasguita", é capaz de desfiar em um minuto só dela, e sempre nada concluindo, 500 assuntos na ruma, entre eles: brotoeja na virilha do menino, carestia que alcançou o bolo mole, jumento inteiro, gorgulho branco em feijão preto, sacristão buliçoso, cabaré fechado, peste de raposa, goma fresca, toicim... 

Em homenagem àquele jeitão ímpar, o marido e poeta Zé Pereira escreveu o cordel "A Melodia do Silêncio - O Som das Palavras Vazias", do qual extraímos a estrofe 37:

"Mauricéa, Mauricéa

Infeliz é teu bodejar

Começando a labutica

É potoca pra arrombar

Por amor ao seu Pereira

Se é de falar besteira

Mió calar, mió calar"

Misteriosamente, uma semana depois da obra lançada, a "radiadora" pifou.

A confusão de José Maria

O casal dona José e seu Maria deixava qualquer um mental do juízo, sempre que se apresentava, pelos "mesmos nomes de revestrés". Foi o que sucedeu, por exemplo, na Mesbla, "no início da Era Cristã", como nos conta papai. Na extinta loja, abertura de crediário, os dois sentadinhos. A atendente...

- A senhora é...

- José.

- Ah! - respondeu a moça com estranheza.

- E o senhor, com o se chama?

- Maria.

- Quer dizer que temos aqui uma dona José e um seu Maria!

- Sim! - respondeu ele.

- Deduzo então que o senhor se chame José Maria! Correto?

- Não, José Maria é ela.

- Conclusão, senhor é Maria José. Certo?

- Não, sou José Maria, que nem ela. Só que ela é um mais véa que eu. Predomina! Entendeu?

A vaca Lady Laura

A história é conhecida no centro-sul cearense. Zé Rivando lidava com o gado vacum. Numa dessas secas, década de 1980, perdeu quase todo o plantel. Uma das sobreviventes foi a vaca Madonna, a melhorzinha que sobrou. Castigada pela estiagem, estava em petição de miséria: magra, taba do queixo torta, metade do rabo, um chifre a menos, só uma coisinha de "ubre".

Zé precisava de dinheiro, urgente. Anunciou a venda de Madonna. Ligeiro um ricão da região, fanático pelo Rei Roberto Carlos, interessou-se em comprar o animal. Rivando recebe a visita do bichão, que a preço de banana estava adquirindo tudo quengado pras suas fazendas. De longe escarra a vaca, encostada na cerca:

- Quero não, Zé. Tá muito sarrabuiada esse teu bicho. 

Rivando tem um estalo e, em feliz repente, redireciona a conversa.

- Se é assim! Ontonho (vaqueiro dele), leve Lady Laura pra comer cuscuz no alpendre! 

O ricaço se anima todo ao ouvir o nome da vaca e demais circunstâncias. Pondera:

- Lady Laura? Peraí, Zé, vamos conversar melhor!

Fonte: O POVO, de 17/04/2020. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Camilo assina ordem de serviço para Hospital Universitário na Uece

SAÚDE| O equipamento ocupará área de 79,5 mil metros quadrados e terá mais de 650 leitos de internação. A entrega está prevista para 2022

Por Beatriz Gonçalves, jornalista

O governador Camilo Santana (PT) assinou ontem, 27, a ordem de serviço para construção do Hospital Universitário do Ceará (HUC), no Campus do Itaperi, da Universidade Estadual do Ceará (Uece). O terreno pertence à universidade e tem acesso pela rua Betel, próximo à rua Holanda.

O equipamento ocupará área de 79,5 mil metros quadrados e terá 654 leitos (470 de internação geral e 184 de terapia intensiva). O projeto prevê um edifício de três torres — clínica, cirúrgica e materno-infantil. Serão sete pavimentos abrangendo mais de 30 especialidades. O equipamento contará ainda com um heliponto e tem entrega prevista para 2022. O novo Hospital Universitário terá investimento de R$ 274,74 milhões aos cofres públicos estaduais. O equipamento terá perfil de assistência terciária, realizando atendimento em casos de alta complexidade e dando suporte a hospitais da Região Metropolitana de Fortaleza e do interior do Estado.

Durante a live de apresentação do projeto ontem, Camilo Santana explicou que o hospital faz parte do programa de modernização da saúde pública do Ceará e que estava previsto desde 2019. "Será o maior hospital público do Estado. Todas as especialidades médicas estarão nesse hospital", acrescentou o governador.

Sobre o vínculo com a universidade, o gestor disse que "além de prestar serviços à população, [o hospital] também vai ser um importante lugar de ensino". "Para nós, é um momento histórico para a saúde pública do Ceará", completou.

O secretário da Saúde do Estado do Ceará, Carlos Roberto Rodrigues, Dr. Cabeto, comentou sobre a importância de juntar ensino e prática. "Essa prova simboliza a valorização da ciência e do conhecimento como mecanismo de transformação social". Já o reitor da Uece, Hidelbrando Soares, complementou: "Nós estamos juntando e integrando universidade e hospital. Essa aproximação: hospital, ciência e ensino e extensão tem tudo para tornar essa área um polo de inovação no Estado do Ceará".

O prefeito de Fortaleza, José Sarto (PDT), também estava presente na solenidade de lançamento. Ele citou centros de saúde como o Hospital Geral De Fortaleza (HGF) e Instituto Doutor José Frota (IJF), e ressaltou a importância da construção: "Essa região da cidade carecia. A saúde é a maior demanda da sociedade brasileira".

O Hospital Universitário do Ceará será um complexo hospitalar que funcionará como nova sede para o Hospital César Cals. Seu entorno também receberá adaptações urbanísticas que serão executadas durante as obras do hospital, como o alargamento das vias de acesso, paisagismo e iluminação.

Estrutura do Hospital

O HUC terá 640 leitos de internação, sendo 470 de internação geral e 184 de terapia intensiva

Edifício terá sete andares e três torres principais destinadas a clínica, cirúrgica e materno-infantil.

Será o maior hospital público do Estado

Fonte: Publicado In: O Povo, de 28/1/21. Reportagem, p.15.

FELICIDADE EM TEMPOS DE PANDEMIA

Por Cláudia Leitão (*)

E 2020 se foi. Todos dirão que já foi tarde, ou que esse ano nem aconteceu. Mas se pensarmos mais e melhor, poderíamos concluir que este annus horribilis poderia nos ter ensinado muito.

O primeiro aprendizado é que, apesar dos benefícios conquistados pelo projeto civilizatório iluminista, a felicidade continua tão invisível para nós quanto o alinhamento sideral de Júpiter e Saturno.

Se olharmos para os últimos séculos, poderíamos constatar que a idade da razão nos vendeu "gato por lebre" e que os avanços materiais e intelectuais do ser humano não o aproximaram do bem viver. A pandemia veio coroar essa sensação de fracasso e por o dedo em nossas feridas existenciais quando nos adverte que, nem o domínio da natureza, nem o aperfeiçoamento das virtudes humanas, nem o governo racional permitiram à humanidade um final feliz.

Afinal, no que erramos? Como transformamos o sonho do jardim das delícias em uma realidade ecológica catastrófica, ameaçadora da nossa própria existência no planeta?

Eduardo Gianetti observa que o erro capital da ética iluminista foi dar uma ênfase desmesurada à transformação, em detrimento de uma atenção maior à espiritualidade. Evidente que há condições objetivas e subjetivas para que se possa experimentar o status da felicidade. E, quanto mais se produzem indicadores para tentar mensurar esse état d'âme, menos conseguimos experimentá-lo.

Em um país marcado por uma histórica e abissal desigualdade sócio-econômica, vale, ainda, refletir sobre os significados e a viabilidade do "ser feliz"? Em tempos de pandemia talvez tenhamos uma consciência para responder a essa pergunta. De repente, todas as grandes ambições pessoais e profissionais sucumbem diante dos pequenos desejos e instintos legitimam nossa humanidade.

Queríamos abraçar, acolher, estar próximos. Queríamos nos reunir para exorcizar juntos esse ano trágico, mas a ratio humana cumpre seu importante papel e estimula a prudência. Quem sabe possamos reconhecer, em meio a tantas perdas e impossibilidades, que a felicidade se alimenta da empatia e da solidariedade e, por isso, como poetizou Belchior, é uma arma quente.

(*) Professora da Uece. Diretora do Observatório de Governança Municipal do Iplanfor.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 28/12/20. Opinião, p.21.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

PANDEMIA E SUBJETIVIDADE

Por José Jackson Coelho Sampaio (*)

Desde quando McLuhan, na década de 1960, estabeleceu o conceito de Aldeia Global, vivemos às turras entre desenvolvimentos do real concreto (levar a vida) e do real abstrato (pensar a vida) e entre uns e outros. Ficou claro, aos poucos, que o globo não se comportaria como uma aldeia, socialmente homogênea, próxima da experiência de família, clã ou tribo, com território ampliado ao planeta.

Vimos a mudança do critério organizador da ideia de aldeia, mantendo o mesmo ar de marasmo, mas reordenada por faixa etária, hábito de consumo, profissão de crenças esquemáticas (lógicas do slogan e da partidarização) etc. Multiplicaram-se aldeias a testarem fronteiras entre si, sem nascerem, ou sendo violentados ao nascer, sistemas democráticos globais. O lema do século XIX, "trabalhadores de todo mundo, uni-vos", teve a universalização do trabalho superada pela universalização do capital, que se beneficia das crises de toda ordem e dos avanços tecnológicos, reprodutores dos modos de pensar.

Diante do capitalismo financeiro globalizado e da fragmentação belicosa da webesfera em aldeias desterritorializadas ideologicamente, ou reterritorializadas por crenças esquemáticas, explicações passionais de como levar a vida, nos colocamos diante de outra pergunta: como a experiência da informação em tempo real, filtrada por algo/alguém com poder de filtro, ou a experiência das guerrilhas virtuais, com assassinatos no mínimo simbólicos dos que forem diferentes de narciso, pode afetar nossa consciência?

A consciência tem pelo menos quatro faces, sempre misturadas: a consciência para os outros, isto é, a personalidade, que pode ser conservadora (identidade) ou inovadora (criatividade), e a consciência para si, isto é, a subjetividade, que também pode ser identitária ou criativa. Considerando-se este esquema fluido, sem estatuto de forma ou de lei, quais reações, imediatas e mediatas, podem ser identificadas frente à pandemia da COVID19, a 1ª do mundo globalizado?

Diante do nenhum ou pouco saber, esquecidos das epidemias anteriores registradas na história, manipulados por interesses econômicos e/ou político-eleitorais, vamos criando, nas ruas e na internet, nas campanhas eleitorais e na busca de hegemonia midiática, alguns padrões de reação: os mais primitivos e perniciosos são, num extremo, o negativismo e, no outro, a afirmação belicosa de uma ignorância. Entre os extremos, quatro destaques: instintuais reacionários, instintuais progressistas, intelectuais reacionários e intelectuais progressistas.

Haja tribo a buscar hegemonia no discurso das redes de comunicação de massa, sempre reducionistas ao slogan pela busca da maior cobertura; no discurso das bolsas de valores e dos chamados mercados, desterritorializados; e no discurso político-partidário; todos em crise, apartados das práticas por trás dos discursos. As igrejas, que poderiam oferecer conforto privado, disputam o mercado político-partidário. Enquanto isso, o indivíduo sofre o destino de bola de tênis de mesa, para lá e para cá, parecendo folha morta, mas com o sofrimento próprio do humano perdido na floresta. 

(*) Professor titular de Saúde Coletiva e Ex-reitor da Uece.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 24/12/20. Opinião, p.21.

terça-feira, 26 de janeiro de 2021

FAZ NOITE, MAS EU CANTO!

Por Pe. Eugênio Pacelli SJ (*)

O fantasma do coronavírus ainda ronda entre nós. O pior de toda esta crise é não saber até onde vai. Diante de tal indefinição, ficamos refém do medo e de imaginações negativas.

A falta de "esperança e confiança" constituem o mal "obscuro" dos tempos atuais. Encontramos opiniões de pessoas que se dividem no que se refere à esperança. Muitos, céticos quanto a tudo e a todos, outros que dão crédito e agarram-se com toda força aos conhecidos aforismas: 'Enquanto há vida, há esperança".

Precisamos de esperança para nos manter em caminho. O papa Francisco tem insistido, diante de um mundo "oprimido pela pandemia", o contágio da esperança.

Em toda mensagem cristã se respira uma atmosfera de esperança. Nos livros sagrados a esperança se caracteriza em esperar, perseverar e confiar. Assim, o cristianismo é muito mais religião de futuro do que de passado, onde sempre viu a fé e a esperança como elementos fundamentais para ler os sinais dos tempos. Forças positivas que nos fazem caminhar rumo a um horizonte, no qual, apenas a alegria de estar caminhando já é, de certa forma, transformadora da realidade. Não há, portanto, verdadeira percepção da mensagem cristã sem a esperança: ela como que se identifica com a pessoa caminhante. Porque sem ela não se chega ao amor ou ao bem.

Portanto, se somos pessoas de fé e amor, não podemos ser menos de esperança. Sem ela, ficaríamos imóveis, colados ao chão, inativos. A esperança é caminhada, mesmo quando as forças parecem faltar, são asas nos pés para atingir o bem possível, é canto que supera os soluços e as dores.

Neste tempo de Advento, é preciso acreditar e cantar a esperança do novo que há de vir, a chegada do Menino Jesus nos dará ânimo para recomeçar bem a jornada que virá.

Nesta hora difícil, com a mão na âncora da esperança, repitamos as palavras de Jesus: "Não tenhais medo!". O bem vai chegar! Ânimo! Faz noite, mas o coração cheio de esperança, canta!

(*) Sacerdote jesuíta e mestre em Teologia. Diretor pastoral do Colégio Sto. Inácio.

Fonte: O Povo, de 5/12/2020. Opinião. p.20.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

MOEDA: aspectos históricos

Por Luiz Gonzaga Fonseca Mota (*)

Nesse resumido texto, observa-se que a origem da moeda está relacionada com a evolução dos sistemas econômicos. A natureza dinâmica das atividades produtivas e as forças de mercado forçaram o surgimento da moeda. Com efeito, os sistemas mais rudimentares caracterizavam-se pela ausência de trocas e consequentemente de moeda, tendo-se, portanto, a chamada economia natural. As pessoas produziam tudo aquilo de que necessitavam e, por conseguinte, eram auto-suficientes. Como segundo tipo de sistema surgiu a economia de escambo, a qual apresentava a característica de serem as trocas realizadas diretamente, sem a existência de intermediário monetário. Não obstante o progresso verificado, a economia de escambo ainda apresentava uma série de problemas que impedia uma expansão mais acelerada das atividades produtivas. Entre esses problemas, valeria destacar: indivisibilidade dos bens, coincidência de interesses e dificuldade de transportes. O terceiro tipo de sistema foi chamado de economia monetária, caracterizando-se por um mecanismo de trocas indiretas, isto é, havia um intermediário monetário. Nesse tipo de economia, já foi possível a especialização. Acredita-se que a moeda surgiu como uma necessidade de sobrevivência dos sistemas econômicos. Fatalmente se estaria diante de economias estagnadas, por não apresentarem taxas de crescimento. Dentro da economia monetária, a moeda apresentou duas formas: moeda-mercadoria e moeda fiduciária. A moeda-mercadoria caracterizava-se por apresentar valor intrínseco. Já a moeda fiduciária, que não possui valor intrínseco, mas de face, depende exclusivamente da confiança, assumiu as seguintes modalidades: moeda-papel, que era conversível; papel-moeda que era inconversível, e, finalmente, a moeda bancária. Observando-se a evolução das várias formas, constata-se uma gradativa desmaterialização da moeda.

(*) Economista. Professor aposentado da UFC. Ex-governador do Ceará.

Fonte: Diário do Nordeste, Ideias. 18/12/2020.

domingo, 24 de janeiro de 2021

ESCAPANDO DA CORTE MARCIAL

         Corria o ano de 1944, em plena II Guerra Mundial, quando o clima de conflito imperava nas cidades costeiras do Brasil, submetidas a blecaute, a fim de não atrair forças inimigas, com sorrateitos ataques.

Muitos acadêmicos de Medicina estavam engajados no Centro de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR), dentre eles um conterrâneo cearense, que era aluno mais adiantado, já prestes a se graduar na Faculdade de Medicina do Recife. Esse colega, um estudante brilhante, por sinal, há tempos mantinha um desentendimento com um capitão-médico, seu superior, que, por ter limitados conhecimentos médicos, guardava um certo despeito do futuro colega “cabeça-chata”, o qual, por sua vez, era implacável com o beócio militar.

Numa oportunidade, aconteceu um sério entrevero no refeitório da guarnição do CPOR, quando foi oferecida, no cardápio, uma carne com fortes indícios de deterioração. Houve um clamor geral dos aspirantes a oficial, em franco protesto contra a comida ali servida.

O dito capitão-médico, abusando de sua autoridade, diante do protesto coletivo, ameaçou a todos:

– Vocês vão ter que comer tudo.

– Mas, capitão, a comida está estragada – insistiram os aspirantes.

– Não aceito recusas e não pode ter restos nos pratos retrucou o prepotente oficial.

– A carne exala um mau cheiro; está horrível, capitão – ponderou outro aspirante.

– Não me interessa e pronto: esse é o “rango” que vocês bem merecem.

– Capitão, o senhor, como médico, sabe bem que isso pode nos causar transtornos intestinais – argumentou o conterrâneo e quase médico cearense.

– Você acertou! Disse bem: sou médico formado, enquanto você não passa de um acadêmico.

– Isso está errado, nós somos aspirantes – reclamou um colega paraibano.

– Aspirantes ou “samangos”, para mim, é tudo igual, não passam de meros recrutas inservíveis.

– Não vamos comer nada, capitão – falou um baixinho invocado, um filho da Zona da Mata pernambucana.

– Se não comerem agora, determinarei a detenção coletiva no quartel – explodiu o capitão.

Nesse momento, o acadêmico do Ceará, que vinha até então controlando o seu ímpeto adrenérgico, em parte contido por seus colegas de farda, um jovem de compleição, que parecia com Henrique VIII, mais largo do que alto, aproxima-se do capitão-médico, e aplica-lhe um vigoroso bofete. Em consequência do golpe, o capitão foi ao chão, ficando desfalecido, e somente depois de quase meia-hora despertou do desmaio.

O caso gerou um pandemônio na caserna, e a subsequente prisão, em solitária, uma vez que o episódio foi considerado uma insubordinação de extrema gravidade. Por ocorrer em um conturbado período belicoso, o alto comando militar sediado no Recife decidiu levar o impetuoso cearense à Corte Marcial, de imprevisível veredicto.

A mobilização dos docentes e dos discentes da Faculdade de Medicina do Recife somente conseguiu livrar o impulsivo acadêmico por meio de um atestado de loucura. O “doido” em tela tornou-se um exímio médico e um dos mais aguerridos professores da nossa UFC.

Marcelo Gurgel Carlos da Silva

Ex-Presidente da Sobrames-Ceará

* Publicado In: SILVA, M. G. C. da (Org.). Meia-volta, volver! Médicos contam causos da caserna. Fortaleza: Expressão, 2014. 112p. p.65-67.

UM BRASILEIRO PSEUDO-ARISTOCRATA

Hermes Rodrigues da Fonseca (nascido em São Gabriel-RS, em 12 de maio de 1855, e falecido em Petrópolis, em 9 de setembro de 1923) foi um militar e político brasileiro, presidente do Brasil, entre 1910 e 1914. Era sobrinho do marechal Deodoro da Fonseca e filho do marechal Hermes Ernesto da Fonseca e de Rita Rodrigues Barbosa. Fez uma rápida carreira militar, com sucessivas promoções que o levaram ao posto de marechal.

Desempenhou vários cargos governamentais até se tornar ministro da Guerra, durante o governo de Afonso Pena (1906-1909), entre 15 de novembro de 1906 e 27 de maio de 1908. Reformou o Exército e o Ministério com a criação de serviços técnicos e administrativos. Dessas inovações, a mais importante foi a instituição do serviço militar obrigatório.

Em novembro de 1908, após regressar de uma viagem à Alemanha, onde assistira a manobras militares como convidado de Guilherme II, foi indicado para a sucessão presidencial, sendo eleito em disputa contra o senhor Ruy Barbosa.

A reunificação dos estados alemães, em 1871, com Otto von Bismarck, dá-se logo após a guerra franco-prussiana, de 1870, quando a França foi vergonhosamente derrotada pelos alemães, sob a liderança da Prússia, que então se consolidam como grande poderio militar. Assim, no último quartel do século XIX e nos primeiros anos do século passado, a Alemanha passou a ser uma referência para a formação de quadros militares e modelo de estrategistas de guerra, servindo de intercâmbio para muitos países, entre os quais os latino-americanos.

Em geral os oficiais, sobretudo os de maior patente das forças armadas germânicas eram de ascendência nobre, cujas famílias da aristocracia carregavam um sobrenome precedido pela preposição von (pronuncia-se “fon”).

Diante do desfile de tantos von, o nosso marechal brasileiro Hermes da Fonseca, enquanto cumpriu sua missão na Alemanha, para não ficar por baixo, e procurando denotar uma linhagem aristocrata, apresentava-se aos alemães como:

Feldmarschall Hermes da von Seca!!! – Pronunciando o “fon”, de forma bem acentuada e estendida.

Marcelo Gurgel Carlos da Silva

Ex-Presidente da Sobrames-Ceará

* Publicado In: SILVA, M. G. C. da (Org.). Meia-volta, volver! Médicos contam causos da caserna. Fortaleza: Expressão, 2014. 112p. p.64-65.

sábado, 23 de janeiro de 2021

POSSE DA XXII DIRETORIA DA ACADEMIA CEARENSE DE MEDICINA

A Academia Cearense de Medicina (ACM) preparava-se para eleger a sua nova diretoria em abril de 2020, com o intuito de empossar os eleitos no mês seguinte, quando o mandato da sua então diretoria se expirava. Contudo, a introdução do novo coronavírus no Brasil e a sua subsequente expansão em terras brasileiras trouxeram consequências ao funcionamento das atividades normais no País, com a imposição de medidas restritivas, a exemplo do lockdown, que interromperam o ciclo de ações programadas pela ACM, incluindo a suspensão de seus trabalhos e demais expedientes presenciais.

A situação inusitada, não prevista no arcabouço jurídico institucional, que poderia resultar em interregno de mandato, de duração imprevisível, suscitou a feitura de demandas iniciais aos membros do Conselho Consultivo, constituído dos ex-presidentes do sodalício, que depois foram estendidas aos demais acadêmicos, chegando-se a uma solução salomônica e consensual que legitimava o recurso das plataformas virtuais para os procedimentos eleitorais e de posse, estabelecendo a devida adequação no regimento interno.

Nesse sentido, o vice-presidente que encerra o mandato, o qual por força das normas que regem a ACM torna-se o presidente do mandato sucedâneo, fez a inscrição da chapa contendo os nomes e os cargos elegíveis a serem submetidos a escrutínio, via Assembleia Geral Eleitoral (AGE), aprazada oportunamente, ficando consignado o direito do voto por meio eletrônico, aos que assim desejassem, e, de modo paralelo, do voto por correspondência, praticamente inviabilizado pela vigência da presente pandemia.

Isto posto, em 8/07/2020, às 15 horas, deu-se início a realização da AGE da ACM, para eleger a Diretoria e o Conselho Fiscal para o biênio 2020-2022, nas dependências do Instituto de Neurologia e Eletrodiagnóstico, em Fortaleza-CE, em virtude da sede da ACM encontrar-se temporariamente fechada.

A reunião, de caráter híbrido (presencial e remoto), teve transmissão on-line, via web, possibilitando a participação dos Membros Titulares pelo emprego do aplicativo digital Google Meet, tendo acesso ao seu conteúdo livremente franqueado através de um link exclusivo.

Conclusa a votação, procedeu-se o início da apuração dos votos presenciais e dos votos enviados pelos correios eletrônico e tradicional, sendo contados 54 votos válidos de um total de 63 votantes possíveis, todos favoráveis às da Diretoria e do Conselho Fiscal inscritas.

Finda a AGE, e com a proclamação da chapa vencedora pelo Presidente Djacir Gurgel de Figueirêdo, procedeu-se a cerimônia protocolar de posse do Presidente Pedro Henrique Saraiva Leão, consoante estipulam o Estatuto e o Regimento Interno da ACM. O Ac. Djacir Gurgel de Figueirêdo pronunciou a sua saudação de despedida, realçando a gratidão a todos e a convicção do dever cumprido.

Os acadêmicos componentes da nova Diretoria Executiva são os seguintes: Pedro Henrique Saraiva Leão (Presidente), Janedson Baima Bezerra (Vice-Presidente), José Henrique Leal Cardoso (Secretário Geral), Sebastião Diógenes Pinheiro (Secretário Geral Adjunto), Francisco José Costa Eleutério (1º Secretário), César Silva Pontes (2º Secretário), Ormando Rodrigues Santos (1º Tesoureiro) e Lineu Ferreira Jucá (2º Tesoureiro).

O Conselho Fiscal, eleito na mesma oportunidade, tem por membros efetivos os acadêmicos: Francisco Flávio Leitão de Carvalho, Maria Helena Pitombeira e José Ribeiro de Sousa, e como suplentes o Ac. Elias Giovani Boutala Salomão e o Ac. Geraldo de Sousa Tomé.

Depois do juramento e da assinatura do termo de posse, o novo Presidente Pedro Henrique Saraiva Leão recebeu do Ex-Presidente Ac. Djacir Gurgel de Figueirêdo a medalha presidencial e proferiu o seu discurso de posse.

Ato contínuo, o presidente recém-empossado nomeou e deu posse aos seguintes dirigentes: Diretor de Publicações (Ac. Marcelo Gurgel Carlos da Silva), Diretor de Biblioteca, Arquivo e Museu (Ac. José Eurípedes Maia Chaves Júnior) e aos dois Diretores Vogais (Ac. João Evangelista Bezerra Filho e Roberto Bruno Filho).

Ao término dos trabalhos, a plataforma de transmissão permaneceu aberta aos participantes, acadêmicos e seus convidados, para as manifestações de congratulações à ACM, estando a reunião documentada em audiovisual acessível no Blog da ACM.

Ac. Marcelo Gurgel Carlos da Silva

Membro titular da ACM – Cadeira 18

*Publicado In: Jornal do médico digital, 2(9): 100-101, janeiro de 2021. (Revista Médica Independente do Ceará). 

CONVITE: Celebração Eucarística da SMSL - Janeiro/2021

 

A Diretoria da SOCIEDADE MÉDICA SÃO LUCAS (SMSL) convida a todos para participarem da Celebração Eucarística do mês de Janeiro/2020, que será realizada HOJE (23/01/2021), às 18h30min, na Igreja de N. Sra. das Graças, do Hospital Geral do Exército, situado na Av. Des. Moreira, 1.500 – Aldeota, Fortaleza-CE.

CONTAMOS COM A PRESENÇA DE TODOS!

MUITO OBRIGADO!

Marcelo Gurgel Carlos da Silva

Da Sociedade Médica São Lucas

Nota: Serão aplicadas as medidas preventivas recomendadas pelas autoridades sanitárias, sendo obrigatório o uso de máscara por todos os fiéis presentes.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Crônica: “Um homem derrotado pela liseira” ... e outros causos

Um homem derrotado pela liseira

Os sintomas não poderiam ser mais característicos da doença que ataca 10,5 cearenses em cada 11: vontade de comer areia do rio com creolina a 69% e a ideia fixa de quanto deve, de quanto não tem a receber e de quanto poderia investir se fosse um Dias Branco. Sem contar que é escorregadio, pede emprestado pra jogar na mega-sena e no Totolec e adeus devolução do dinheiro.

Percebe-se ao longe a existência de um bicho desses pela lapa das orelhas e a inhaca de cachorro molhado que dele irradia - energia densa, impregnada de blackout e a secura por chupar picolé do palito premiado. Torce pelo alvinegro, ronca e baba de ruma; dá bom dia a ninguém e é alérgico à paçoca. Caspa ali é que nem coceira de macaco. A impingem, no primeiro terço do pescoço, é metáfora.

Dorme emborcado pra não cair e quebrar o pau da venta. Doido por farinha. Se a mulher deixar, passa pra lei dos crentes ligeiro - no templo, soube por outro acometido desse mal, o milagre é bem rasinho. Não termina um capítulo de novela da Globo. E aqui uma contradição - tem esmorecimento no corpo, mas se pudesse, vivia batendo perna no mundo, a procura de... Muda de número de celular como quem muda uma muda de roupa, por motivos óbvios.

De graça, toma tudo que é vacina, só não cura essa liseira. Doença monstra!

Até pra coar café serve!

Matuto das brenhas, acostumado a "se alimpar" com sabugo e folha de marmeleiro, Lulu foi apresentado a um rolo de papel higiênico quase aos 18 anos. Bonitão e trabalhador, até que se deu bem na vida, casou-se com uma prima da cidade, de modos requintados - gente fina. Conheceram a Argentina.

Encantada com esse "papel fino e absorvente, que se desmancha em contato com a água, utilizado para uso sanitário e higiene pessoal, comumente utilizado para a limpeza íntima" após obrar ou escorrer o cipó, ela encontrou por lá uma marca cheirosa a sândalo, folhas quíntuplas, picotes rosas a cada palmo, carinhas de um ídolo do futebol portenho de um lado e poemas de amor do outro. Encantou-se.

O mercantil ficava no centro de Córdoba. Feliz que só com o amor a tiracolo, pediu que ele "me visse 100 rolos do argentino papel especial de limpar as partes, único na América do Sul", sob a desculpa de que seria essa melhor lembrança da viagem. Lulu não se conteve.

- Gilda, Gilda! Homi, papel higiênico é o mesmo em qualquer parte do mundo naquela parte do corpo. Caneco é caneco, aqui, em Londres e no Caxitoré!!!

Pedindo voto no cemitério

Dona Neinha no enterro do primo Elesbão, quase da mesma idade dele - 89 anos. E lá ela está, ainda no corpo de carne, participando de mais um adeus a familiar querido. Da igrejinha do campo santo até a cova, o cortejo atravessa uma quadra. A velhinha é uma das últimas. A metros, da cova, o pé dela atola num buraco de formigueiro, exatamente no jazigo de um ex-prefeito.

- Míura (sobrinha de Neinha), meu pé tá preso...

- Péra, tia! Vou ajudar a senhora a arrancar esse pé daí. Força!

Nada de o pé da octogenária sair. Enterro de Elesbão quase concluído e a senhora com o pé engasgado no buraco de formiga do jazigo do prefeito enterrado há anos.

- Tia, vou chamar o povo da família que tá acolá.

- Carece não. Já sei. Esse homem não larga do meu pé. O caso dele é reza...

Fonte: O POVO, de 3/04/2020. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

DEIXA QUEM QUISER FALAR

Meraldo Zisman (*)

Médico-Psicoterapeuta

Nós brasileiros esquecemos que por maior que seja um país, ele não é maior que o mundo todo. Para eles (os do Primeiro Mundo) não passamos de um país periférico, quando não produtor de bananas ou como diziam os ingleses no meu tempo em que lá vivi: país de onde vêm as “Brazil nuts” (castanhas do Pará) e terra do Pelé…

A Amazônia é uma região de 7 milhões de quilômetros quadrados, ocupa 60% do território brasileiro e abriga cerca de 25 milhões de habitantes, 85% deles vivendo em cidades sem infraestrutura, sem saneamento básico, com péssimos serviços de energia e comunicação, com altas taxas de desemprego e de analfabetismo, dados que jamais mobilizaram as atenções mundiais de seus “defensores”, nem mesmo no Brasil – onde, há muito tempo, mantêm-se uma atitude de “colonialismo interno” e o olhar distante da região, tratando-a como “terra exótica”, habitada por índios e papagaios, almoxarifado da indústria sulista e “reserva ecológica” para turistas pós-modernos, como afirmam vários intelectuais brasileiros, embora acreditem que suas florestas guardam riquezas incalculáveis e até medicamentos para a juventude eterna.

Mas vamos lá ao que este médico de província está no momento matutando sobre o assunto.

Não entendo este pipocar barulhento, toda essa explosão midiática até internacional sobre o fogo na maior floresta do mundo. Queimadas sempre ocorreram, por lá, mais constantes na época seca, apesar de corriqueiras, nem por isso significa serem legais ou acertadas.

O “insulto” do presidente da França e as respostas do nosso Presidente soam como jogadas político-marqueteiras, servindo apenas para ocupar as páginas dos noticiosos já prenhes de novidades e fuxicos abaladores que facilitam a obtenção do pão nosso de cada dia pelos profissionais da imprensa de todos os países envolvidos.

Não discuto os interesses gauleses do abalo dos preços de sua produção agropecuária com a implantação do acordo do Mercosul com a Comunidade Europeia.  Nem muito menos os das nossas exportações de commodities e de alimentos.

Com o presidente francês Macron e outros chefes políticos europeus em decadência eleitoral, as “queimadas amazônicas” passaram a ser o bode expiatório da intoxicação carbônica do meio ambiente e assim eles aparecem encobertos pela cortina de fumaça dos incêndios florestais- tropicais, tornando-os em fatores eleitoreiros para que tais políticos pareçam mais simpáticos ou palatáveis aos eleitores dos seus respectivos países, sem que seus corpos e aparências sejam chamuscados pelo incêndio midiático por eles iniciado.

Nós brasileiros esquecemos que por maior que seja um país, ele não é maior que o mundo todo. Para eles (os do Primeiro Mundo) não passamos de um país periférico, quando não produtor de bananas ou como diziam os ingleses no meu tempo em que lá vivi: pais de onde vêm as “Brazil nuts” (castanhas do Pará) e terra do Pelé…

Vamos cuidar de nossa Amazônia na parte que nos toca e convém. Isso é da nossa conta. Deixe quem quiser falar.

Basta escutar/ler/compreender as nossas publicações periódicas, jornais, programas de TV para que se note o pouco que nossas mídias antissociais falam sobre assuntos importantes, principalmente os internacionais. Escrevem, fuxicam, sobre a política/situação do vizinho ou do conhecido. Sobre a situação internacional, jamais comentam. Mantêm-se apenas ao nível das brutalidades opinativas e as polarizações político-jabuticabenses. Sempre locais. Quando a tecnologia precede a cultura é o que acontece!

Vivem, a maioria dos brasileiros, olhando mais para o próprio umbigo, esquecendo que apesar de sermos quase do tamanho de um continente, fazemos parte de um planeta aonde cada estado-nação defende seus próprios interesses. Não existe país amigo, o que ocorre é a coincidência de interesses conjunturais simultâneos.

Algo que deveria ser pensado é a eterna continuação de nosso colonialismo interno, que domina em regiões de um estado ou de um município subjugados pelo seu próprio governo ou elite dominante.  Vale salientar que a politização do termo migração interna pelos marxistas — colonialismo externo ou interno — tem criado óbices para uma discussão profunda e sem ideologias acabadas/ultrapassadas deste assunto.

No caso brasileiro, a dominação por parte dos estados mais desenvolvidos e sua relação com os mais pobres deveria ser mais bem discutida.

É o caso da Amazônia Legal e a miséria dos que lá vivem ou apenas sobrevivem. Temos obrigação de irrigá-los com mais atenção e ajudá-los.

Lembro que apesar de não termos o problema dos imigrantes em número europeus creio que as migrações dos nordestinos para o centro-sul do país, foram maiores do que o aporte ora recebido pela Europa, sem que nos esqueçamos das migrações de pessoas oriundas do Leste da Europa após a queda do muro de Berlim.

Termino este artigo dizendo: há males que vêm para o bem, há males que apenas vêm… filosofia popular. Ou extrato de sabedoria acumulada. Fica a critério do leitor.

Acho que o presidente da França, nação que nos influencia por sua cultura e outras tantas coisas mais, tenha, sem querer, chamado a atenção para nós brasileiros da nossa importância Mundial, não somente pela Amazônia brasileira, mais do reconhecimento do Brasil no contexto das demais nações.

Vamos cuidar de nossa Amazônia na parte que nos toca e convém. Isso é da nossa conta. Deixe quem quiser falar.   Como diz Vinícius de Morais:

Deixa

“Fala quem quiser falar, meu bem
Deixa
Deixe o coração falar também
Porque ele tem razão demais quando se queixa
Então a gente deixa, deixa , deixa, deixa
Ninguém vive mais do que uma vez
Deixa
Diz que sim prá não dizer talvez
Deixa
A paixão também existe
Deixa
Não me deixes ficar triste

Nenhum “Macron” deste mundo vai tirar nossa alegria.

(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE), da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES) e da Academia Recifense de Letras. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).

 

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