segunda-feira, 31 de agosto de 2015

O BRASIL ANEDÓTICO LXXII


O ESTILO DE EUCLIDES
Anedota corrente, confirmada ao colecionador por Olavo Bilac e Coelho Neto.
Conversava-se, uma vez, em um grupo de homens de letras, sobre Euclides da Cunha, que acabava de publicar os Sertões, quando Joaquim Nabuco, que lhe censurava o estilo retorcido, opinou:
- É um grande escritor, concordo.
E num gesto de desagrado:
- É pena que escreva com cipó...

OS HÓSPEDES DE SANTO ANTÔNIO
Ernesto Sena - "Notas de um Repórter", pág. 164.
Católico praticante, verdadeiro frade leigo, o conselheiro Ferreira Viana residia, mesmo quando ministro do Império, em uma cela do convento de Santo Antônio, onde os religiosos o tinham como companheiro. Certa vez, em palestra à mesa, frei João Costa, membro da confraria, começou a enumerar as pessoas que tendo residido naquela casa de Deus, tinham dali saído para ser ministros ou para outros cargos importantes.
- Frei João, frei João, fale baixo! - pediu Ferreira Viana, com ares misteriosos. E olhando em torno:
- Não conte isso lá fora, senão toda essa gente se vem meter aqui no convento!...

RESPEITO À ETIQUETA
J.M. de Macedo - "Ano Biográfico", vol. I, pág. 312.
O dr. Antônio Ferreira França, que foi deputado geral pela Bahia em quatro legislaturas, entre 1823 e 1837, era não só um dos oradores mais espirituosos da Câmara como um dos médicos mais ilustres do seu tempo. Sentindo-se Pedro I doente, ordenou que chamassem o médico baiano, o qual compareceu prontamente.
No correr da visita, o imperial enfermo sentiu sede, e o dr. França, que nada entendia da etiqueta da Corte, encheu um copo dágua, e ia dar-lhe, quando um dos camaristas o deteve, brusco, dizendo-lhe que não lhe cabia aquela honra, que só a ele competia dar água ao Imperador.
O dr. Ferreira desculpou-se quanto pôde e, voltando ao Paço no dia seguinte, sucedeu que estando sozinho com o monarca, este manifestasse desejo de verter água. O "criado-mudo" estava ao alcance da mão, mas o dr. França resolveu vingar-se; correu à porta do quarto, abriu-a, e, as mãos em concha, gritou para o corredor:
- Quem é o do vaso?!... Venha, quem é o do vaso!...

COLEGAS...
Ernesto Sena - "Notas de um Repórter", pág. 185.
Após a sua entrada para a pasta da Fazenda, havia o conselheiro Francisco Belisário Soares de Sousa recorrido, já, três vezes, ao crédito do país no estrangeiro, quando, ao passar um dia pela rua do Ouvidor, ouviu que alguém o saudava, alto:
- Bom dia, sr. Conselheiro, meu amigo e colega!
O ministro voltou-se, e, vendo Paula Ney, de chapéu na mão, numa reverência, correspondeu, atrapalhado, ao cumprimento.
E Ney, logo, com o mesmo sorriso:
- Colega, sim... Porque... V. Excia. Também não vive de empréstimos?
Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927).

domingo, 30 de agosto de 2015

NAPOLEÃO: curiosidades e lendas sobre essa personalidade histórica II


Créditos de imagem: France Presse- AFP
Em 2014, um chapéu de duas pontas, usadas por Napoleão, foi leiloado por 1,89 milhão de euros – cerca de R$ 6,5 milhões. Dos 120 chapéus que o imperador usou durante seu governo, 19 foram encontrados. Boa parte deles está em coleções de franceses.
 
 5) Solução do enigma dos hieróglifos


Créditos de imagem: Wikimedia Commons
Napoleão teve um papel essencial para decifrar os hieróglifos egípcios, um dos mais antigos sistemas de escrita do mundo. Durante a invasão do Egito, em 1798, Napoleão levou um grupo de estudiosos, que deveria trazer à França todos os patrimônios de interesse cultural ou artístico.
Um dos soldados de Napoleão encontrou uma pedra de granito, que continha inscrições em três tipos de escrita: grego, hieróglifo egípcio e demótico. Mesmo com diferentes caligrafias, o texto inscrito na Pedra de Roseta, como ficou conhecida, continha o mesmo significado. Foi, portanto, essencial para resolver o enigma dos hieróglifos.
 
6) Anticristo?

Créditos de imagem: Wikimedia Commons
A rainha portuguesa Maria 1ª, apelidada de Maria, a Louca, acreditava que Napoleão seria o "anticristo". Portugal era um dos alvos do imperador, pois o país era aliado e tinha fortes laços comerciais com a Inglaterra. Napoleão havia proibido o comércio com os ingleses, no ato que ficou conhecido como Bloqueio Continental  - e por causa dele, a família real portuguesa fugiu para o Brasil em 1808. 
Fonte: UOL Notícias, São Paulo, de 18/6/2015.
 
 
 

 

NAPOLEÃO: curiosidades e lendas sobre essa personalidade histórica I


Há 200 anos, em 18 de junho de 1815, acabava o império de um dos principais estrategistas militares da história, o francês Napoleão Bonaparte (1769-1821). Em seu auge, o império napoleônico ocupou boa parte da Europa, acumulando quase um terço da população do continente.
A queda de Napoleão aconteceu na Bélgica, no episódio conhecido como Batalha de Waterloo. Depois de retomar o poder por mais de três meses, no período chamado de Governo dos Cem Dias,  Waterloo marcou o fim da carreira política de Napoleão. 

O UOL separou seis curiosidades sobre o líder, conhecido por sua personalidade forte:


1) Casar de branco

Créditos de imagem: Arte UOL

Para o evento de sua coroação, em 1804, Napoleão mandou confeccionar trajes brancos seguindo o modelo de sua esposa Josefina. Durante a cerimônia, o papa Pio 6º também oficializou o casamento deles. Antes de Napoleão e Josefina, as pessoas se casavam com trajes de qualquer cor. Depois do casal,  a opção pelo branco começou a se popularizar.

Outra relação entre Napoleão e a moda é a lenda de que os botões presentes nas mangas de paletós e casacos foram ideia dele. O imperador gostava que suas tropas estivessem alinhadas e bem vestidas -- ele não gostava que os soldados limpassem o nariz e a boca nas mangas da farda. Por isso, ordenou que oito botões de metal fossem colocados no local, a fim de evitar tal atitude. Com menos botões, o design dos trajes permanece até hoje. 
 
 2) Arco do Triunfo: monumento às vitórias das tropas napoleônicas
Créditos de imagem: Reuters
O Arco do Triunfo, em Paris, é parada turística obrigatória para quem vai para a França. Mas nem todo mundo sabe que os desenhos do monumento fazem referência a batalhas travadas pelas tropas napoleônicas.
Ele foi construído em 1805, quando o exército francês fazia uma campanha militar para lá de bem sucedida. Naquele ano, o império conseguiu uma de suas principais vitórias na Batalha de Austerlitz,  numa região que corresponde à atual República Tcheca. Nesse confronto, o exército francês venceu as tropas austro-russas, apesar de ter menor número de soldados que o inimigo. Os historiadores consideram a batalha uma obra prima da tática de Napoleão, o que evidenciou a sua genialidade como estrategista militar. 
O monumento contém gravados os nomes de 128 batalhas e 56 generais. Apesar de ter planejado a homenagem, Napoleão nunca chegou a ver o Arco do Triunfo pronto. A obra só ficou pronta em 1836, 15 anos após a morte do imperador e 21 anos após a derrota em Waterloo.

3) O imperador sem pênis

Créditos de imagem: Wikimedia Commons
Napoleão morreu em 1821, na Ilha de Santa Helena. No entanto, o corpo não foi sepultado com todos os órgãos O pênis do imperador teria sido amputado horas depois da sua morte. A principal hipótese para explicar esse fato é que a amputação tenha sido feita durante a autópsia, pelo médico francês Francesco Antommarchi.
A relação de Antommarchi com Napoleão era pouco amistosa. Enviado para cuidar do câncer de estômago do imperador, o anatomista pouco entendia do assunto. O fato irritou Bonaparte, que o recebia com insultos e cusparadas. A amputação teria sido uma vingança do médico.
Mais de um século depois, a relíquia reapareceu nos Estados Unidos, guardada pelo urologista John Lattimer. Segundo a Time, Lattimer permaneceu com o órgão até sua morte em 2007. A filha que herdou a relíquia deseja leiloá-la. O preço inicial é 100 mil dólares (cerca de R$ 310 mil).
Fonte: UOL Notícias, São Paulo, de 18/6/2015.

 

sábado, 29 de agosto de 2015

Defesa de Tese em Saúde Coletiva (UFC) da Enfermeira Francismeire Magalhães


Aconteceu na manhã de ontem (28/08/15), na Universidade Federal do Ceará, mais uma defesa de tese do programa de Doutorado em Saúde Coletiva em Associação Ampla da Universidade Estadual do Ceará, da Universidade Federal do Ceará e da Universidade de Fortaleza.
A banca examinadora, composta pelos Profs. Drs. José Gomes Bezerra Filho, Luiza Jane Eyre de Sousa Vieira, Augediva Maria Jucá Pordeus, Rosa Lívia Freitas de Almeida e Marcelo Gurgel Carlos da Silva, aprovou a Tese “Fatores determinantes da gravidade de lesões em acidentes envolvendo motocicletas”, apresentada pela doutoranda FRANCISMEIRE BRASILEIRO MAGALHÃES, orientada do Prof. José Gomes Bezerra Filho.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Professor do Doutorado em Saúde Coletiva

CONVITE: Posse Frei Hermínio B. de Oliveira na AMLEF


No próximo dia 31 de agosto, às 19h30, no Plenário 13 de Maio da Assembleia Legislativa, ocorrerá a Sessão Solene em comemoração aos 10 (dez) anos da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza - AMLEF. Na ocasião, será empossado o Frei Hermínio Bezerra de Oliveira, na cadeira nº 01 e será outorgada a Medalha Mário Caúla (a mais alta comenda da AMLEF) às senhoras Luciana Dummar, Presidente do Grupo de Comunicação O POVO, e Sra. Leda Maria, jornalista que coordena os Suplementos Literários do Jornal O POVO.
Convidamos os parentes, familiares e amigos para nos honrar com suas luminosas presenças.
Na paz,
JÚNIOR BONFIM - OAB/CE 15.545
Presidente da AMFLEF

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

INTERIORIZAÇÃO E PIONEIRISMO DA UECE


Por João Rameres Regis (*)
"Quantas histórias podem ser contadas pelos mais de 20 mil profissionais formadas em suas unidades interioranas?"
A universidade é uma das maiores e mais importantes criações da humanidade. As primeiras remontam ao início do segundo milênio da era cristã. O desejo inerente à condição humana de sobrepujar os limites que a prendia ao domínio da natureza e de usá-la em seu proveito, aliada à ideia de que o homem, pela razão, seria capaz de construir sua liberdade, fez da universidade o locus da produção de saber e técnica.
A história das universidades brasileiras segue outro percurso; elas são muito mais jovens que as demais, inclusive hispano-americanas. A USP, nossa mais velha, remonta a 1934. No Brasil, elas foram criadas para formar a inteligência nacional, ligada à elite socioeconômica e às necessidades burocráticas do Estado Nação.
Se visto em contexto milenar ou secular, os 40 anos da Uece podem parecer mínimos, mas, se adotado o ponto de vista da função social que ela exerce para o povo cearense, a Uece se agiganta e alcança os pódios do sucesso, mesmo tendo que sobreviver enfrentando as dificuldades que lhes foram impostas em sua trajetória.
A magnitude e a complexidade da Uece se expressam, sobretudo, por sua história de pioneirismo. Foi a Uece a primeira IES do Ceará a iniciar o processo de interiorização do ensino superior. Esta ação tem valor incalculável e inenarrável, pois não há número que possa mensurar nem letra capaz de expressar o valor de uma oportunidade aberta a um jovem de família urbana ou rural residente nas nove áreas de atuação da Uece.
Quantas trajetórias individuais e coletivas foram construídas pela presença da Uece numa região? Quantas histórias podem ser contadas pelos mais de 20 mil profissionais formadas em suas unidades interioranas? Eis aí o valor e o diferencial da Uece, sua capacidade de subverter a ordem das coisas e de abrir portas fadadas a permanecerem cerradas.
Na sua fundação, em 1975, entre as seis escolas que a constituíram, estava a Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos (Fafidam), em Limoeiro do Norte. Posteriormente, vieram os campi de Quixadá, Iguatu, Itapipoca, Crateús, Tauá e os últimos, especiais, os campi de Pacoti, do Centro de Ciências da Saúde, e de Guaiúba, da Faculdade de Veterinária.
No interior a Uece está presente com Licenciaturas, para a formação de professores que atuarão nas redes públicas e particulares da educação básica. Assim, nesses 40 anos, a Uece contribui para a elevação do nível educacional, técnico, político e cultural do povo cearense, habilitando profissionais capazes de desenhar um novo futuro para si e para as gerações vindouras. Também tornando plena minha história pessoal, pois nela fiz minha graduação e hoje sou professor e diretor da unidade onde me graduei.
(*) Historiador, doutor em História Social, professor e diretor da Fafidam/Uece (Limoeiro do Norte).
Publicado In: O Povo, Opinião, de 15/8/15. p.7.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

AI DE TI, BRASIL


Por Arnaldo Jabor (*)
"Ai de ti, Brasil, eu te mandei o sinal, e não recebeste. Eu te avisei e me ignoraste, displicente e conivente com teus malfeitos e erros. Ai de ti, eu te analisei com fervor romântico durante os últimos 20 anos, e riste de mim. Ai de ti, Brasil! Eu já vejo os sinais de tua perdição nos albores de uma tragédia anunciada para o presente do século XXI, que não terá mais futuro. Ai de ti, Brasil – já vejo também as sarças de fogo onde queimarás para sempre! Ai de ti, Brasil, que não fizeste reforma alguma e que deixaste os corruptos usarem a democracia para destruí-la. Malditos os laranjas e as firmas sem porta.
Ai de ti, Miami, para onde fogem os ladrões que nadam em vossas piscinas em forma de vagina e corcoveiam em “jet skis”, gargalhando de impunidade. Malditas as bermudas cor-de-rosa, barrigas arrogantes e carrões que valem o preço de uma escola. Maldita a cabeleira do Renan, os olhos cobiçosos de Cunha, malditos vós que ostentais cabelos acaju, gravatas de bolinhas e jaquetões cobertos de teflon, onde nada cola. Por que rezais em vossos templos, fariseus de Brasília? Acaso eu não conheço a multidão de vossos pecados???
Ai de vós, celebridades cafajestes, que viveis como se estivésseis na Corte de Luís XIV, entre bolsas Chanel, gargantilhas de pérola, tapetes de zebra e elefantes de prata. Portais em vosso peito diamantes em que se coagularam as lágrimas de mil meninas miseráveis. Ai de vós, pois os miseráveis se desentocarão, e seus trapos vão brilhar mais que vossos Rolex de ouro. Ai de ti, cascata de camarões!
Tu não viste o sinal, Brasil. Estás perdido e cego no meio da iniquidade dos partidos que te assolam e que contemplas com medo e tolerância? Cingiram tua fronte com uma coroa de mentiras, e destes risadas ébrias e vãs no seio do Planalto. Ai de vós, intelectuais, porque tudo sabeis e nada denunciais, por medo ou vaidade. Ai de vós, acadêmicos que quereis manter a miséria “in vitro” para legitimar vossas teorias. Ai de vós, “bolivarianos” de galinheiro, que financiais países escrotos com juros baixos, mesmo sem grana para financiar reformas estruturais aqui dentro. Ai de ti, Brasil, porque os que se diziam a favor da moralidade desmancham hoje as tuas instituições, diante de nossos olhos impotentes. Ai de ti, que toleraste uma velha esquerda travestida de moderna. Malditos sejais, radicais de cervejaria, de enfermaria e de estrebaria – os bêbados, os loucos e os burros –, que vos queixais do país e tomais vossos chopinhos com “boa consciência”. Ai de vós, “amantes do povo” – malditos os que usam esse falso “amor” para justificar suas apropriações indébitas e seus desfalques “revolucionários”.
Ai de vós, que dizeis que nada vistes e nada sabeis, com os crimes explodindo em vossas caras.
Ai de ti, que ignoraste meus sinais de perigo e só agora descobriste que há cartéis de empresas que predam o dinheiro público, com a conivência do próprio poder. Malditas sejam as empresas-fantasma em terrenos baldios, que fazem viadutos no ar, pontes para o nada, esgotos a céu aberto e rapinam os mínimos picuás dos miseráveis.
Malditos os fundos de pensão intocáveis e intocados, com bilhões perdidos na Bolsa, de propósito, para ocultar seus esbulhos e defraudações. Malditos também empresários das sombras. Malditos também os que acham que, quanto pior, melhor.
A grande punição está a caminho. Ai de ti, Brasil, pois acreditaste no narcisismo deslumbrado de um demagogo que renegou tudo que falava antes, que destruiu a herança bendita que recebeu e que se esconde nas crises, para voltar um dia como “pai da pátria”. Maldito esse homem nefasto, que te fez andar de marcha à ré.
Ai de ti Brasil, porque sempre te achaste à beira do abismo ou que tua vaca fora para o brejo. Esse pessimismo endêmico é uma armadilha em que caíste e que te paralisa, como disse alguém: és um país “com anestesia, mas sem cirurgia”.
Ai de vós, advogados do diabo que conseguis liminares em chicanas que liberam criminosos ricos e apodrecem pobres pretos na boca do boi de nossas prisões. Maldita seja a crapulosa legislação que vos protege há quatro séculos. Malditos os comprados juízes, repulsivos desembargadores, vendilhões de sentenças para proteger sórdidos interesses políticos. Malditos sejam os que levam dólares nas meias e nas cuecas e mais ainda aqueles que levam os dólares para as Bahamas. Ai de vós! A ira de Deus não vai tardar...
Sei que não adianta vos amaldiçoar, pois nunca mudareis a não ser pela morte, guerra ou catástrofe social que pode estar mais perto do que pensais. Mas, mesmo assim, vos amaldiçoo. Ai de ti, Brasil!
Já vejo as torres brancas de Brasília apontando sobre o mar de lama que inundará o Cerrado. Já vejo São Paulo invadido pelas periferias, que cobrarão pedágio sobre vossas Mercedes. Escondidos atrás de cercas elétricas ou fugindo para Paris, vereis então o que fizestes com o país, com vossa persistente falta de vergonha. Malditos sejais, ó mentirosos, vigaristas, intrujões, tartufos e embusteiros! Que a peste negra vos cubra de feridas, que vossas línguas mentirosas sequem e que água alguma vos dessedente. Ai de ti, Brasil, o dia final se aproxima.
Se vossos canalhas prevalecerem virá a hidra de sete cabeças e dez chifres em cada cabeça e voltará o dragão da Inflação. E a prostituta do Atraso virá montada nele, segurando uma taça cheia de abominações. E ela estará bêbada com o sangue dos pobres, e em sua testa estará escrito: “Mãe de todas as meretrizes e mãe de todos os ladrões que paralisam nosso país”. Ai de ti, Brasil! Canta tua última canção na boquinha da garrafa."
(*) Arnaldo Jabor, jornalista e colunista de O Globo, rendeu Homenagem a Rubem Braga com esse artigo.
Fonte: Publicado In: O Globo, 9/06/2015.

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

DONA FELÍCIA


Completaria 100 primaveras no ano seguinte. Nesse dezembro tive que operá-la durgência, por obstrução intestinal. Era diabética e hipertensa, controladas. Há quatro meses a colonoscopia atestara tumor no cólon sigmoide, cuja biópsia revelou adenocarcinoma, i.e., câncer. Indiquei a operação embora aludindo ao risco cirúrgico maior pela morbidade (conjunto de causas produtoras de uma doença) aumentada nessas circunstâncias. Lembrei a ineficácia de tratamentos alternativos (quimioterapia) na permanência do tumor.
A família desautorizou a conduta cirúrgica, mesmo contrariando dona Felícia, mais corajosa e disposta. Perdemos contato por alguns meses. Em uma manhã chuvosa de sábado, um dos seus 15 filhos me convocou para vê-la, então na Emergência daquele hospital. Constatei uma ocorrência grave, a exigir solução urgente. Aberto o abdome, revelou-se massa envolvendo e ocluindo parcialmente o cólon esquerdo. A competente anestesia pelo dr. José Telles possibilitou uma operação segura e breve.
Vale lembrar que os idosos requerem o mesmo cuidado anestésico como as crianças, em relação às constantes fisiológicas. São os dois pólos da vida, por igual carentes de especiais atenções clínicas. Sogra de uma amiga de minha mãe, das sessões de crochê e tricô, tínhamos amiúde boas notícias de dona Felícia, já aos 102 laboriosos anos. Pessoas desavisadas condenam operação nos mais velhos, ignorando que indivíduos senis, em emergências acutíssimas, estão gravíssimas para não serem operados, ou dispensados do bisturi.
Assim deve acontecer na apendicite aguda, nas perfurações de úlceras pépticas gastro–duodenais ou de diverticulites, como nas complicações iminentes das infecções intestinais resultando em dilatação aguda (megacólon tóxico) das colites ulcerativas inespecíficas. Após rápida correção de eventuais desequilíbrios fisiológicos importantes, estes clientes serão entregues ao cirurgião, sob pena de morte.
É quando este se impõe, não apenas por saber operar, mas, sobremaneira, por reconhecer a necessidade de realizar ou não a operação. Aliás, esta é a palavra correta, e não “cirurgia”, como dissecamos linguisticamente aqui em 29/2/2012. Os procedimentos cirúrgicos (como o tricô e o crochê) são trabalhos manuais, mais ou menos complexos e/ou delicados, aos quais nos habituamos pela prática repetida, quase sempre igual.
A familiaridade com a clínica cirúrgica ditará a urgência da intervenção operatória, ou da abstenção desta, optando-se por medidas incruentes. Tal raciocínio confere verossimilhança maior à soberania da clínica. Realmente, o bom cirurgião é um clínico que sabe operar. Detalhamos isto aqui em 16/10/2007, e sempre dessa arte ensinamos aos futuros cirurgiões da Faculdade de Medicina da UFC.
Dona Felícia, aos 103 anos, queixava-se apenas de “um probleminha de vista”! Fazia sol quando morreu aos 104, quase quatro após a operação.
(*) Médico. Professor Emérito da UFC. Ex-presidente e atual secretário geral da Academia Cearense de Letras.
Fonte: O Povo, Opinião, de 5/8/2015. p.12.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

O Movimento que Quer Derrubar Dilma Rousseff


Por EUGÊNIO BUCCI
A cada palavra que Dilma pronuncia, sua aprovação cai. Seus improvisos conspiram contra ela a todo momento.
Existe um forte movimento para derrubar Dilma Rousseff. O movimento labial. Dela própria. Os índices de desaprovação da presidente batem todos os recordes e, para piorar, os insatisfeitos vão às ruas caudalosamente para protestar contra a governante. Esta, de seu lado, não se ajuda. Suas falas de improviso – imprevisíveis e imprevidentes – conspiram contra ela própria a todo momento. Os improvisos de Dilma constituem um fator sério de embaraço para o governo dela. Talvez sejam o fator mais grave, muito embora hilariante, de desestabilização política.
Quando Dilma solta o verbo e principia a dizer o que pensa (ou o que parece pensar que pensa), dá-se o desastre institucional em forma de comédia. Seus enunciados geram piadas prontas de repercussão imediata e retumbante. É impossível não rir do ridículo autoimposto. Convertidas em musiquinhas ritmadas nas redes sociais, sua tirada sobre a “mulher sapiens” e sua louvação apologética da mandioca já figuram entre os clássicos do cancioneiro galhofeiro (nesse caso, a galhofa se volta contra a própria compositora). Suas incursões à corrente filosófica da “negação da negação” revelam-se igualmente impagáveis. Aquela história da meta que não é meta nenhuma (igual a zero, portanto) e que será dobrada tão logo seja atingida, convenhamos, deixa no chinelo tanto a dialética de Karl Marx como a estética de Groucho Marx (além da matemática, por certo). Não dá para não rir, mesmo chorando ao mesmo tempo.
Estamos submetidos a um discurso paradoxal, elíptico e disruptivo. Num país que, como já se disse, a cada 15 anos esquece o que se passou nos últimos 15 anos, a presidente se afirma como um prodígio imbatível. A cada final de frase, ela se esquece completamente do que pretendia dizer no início daquela mesmíssima frase. Considerando que suas orações costumam ser curtas, o negócio da memória que não tem memória (como a meta que não é meta nenhuma) transparece ainda mais. A incredulidade nervosa se apossa do público.
Quando Dilma fala, um sentimento de aflito suspense consome a parcela ultraminoritária da sociedade que ainda insiste em apoiá-la. Quanto aos demais, que são a imensa maioria do povo, para eles é diversão garantida. Quando Dilma fala, o céu certamente não se ilumina – nem se conjumina. Quando Dilma fala, só o que acontece é que, desgraçadamente, o Brasil se dobra de rir. E ri tanto, com tanto gosto, que vai deixando de levá-la a sério. Se existe hoje um movimento que tudo faz para derrubar Dilma Rousseff, é o movimento labial dela própria. A cada palavra que a chefe de Estado pronuncia, lá se vai mais um decimal de seus escassos pontos de aprovação. Já há quem considere que, para o bem de todos e felicidade geral da nação, o Congresso deveria aprovar em regime de urgência uma emenda constitucional suprimindo toda e qualquer manifestação de improviso presidencial. Há quem argumente que esse não seria um caso de censura prévia, mas postura preventiva.
Falando sério (se é que isso ainda é possível), se Dilma Rousseff falasse menos, talvez a gente compreendesse mais. As coisas não sairiam tanto do lugar. E não existiria no horizonte do Brasil a sombra da corrosão máxima da autoridade na figura da máxima autoridade da República. Mais um pouco e nem mesmo o motorista vai querer obedecer a ela. Falando sério, Dilma ganharia mais se aprumasse mais sua mensagem ao país que governa, com sobriedade, frases serenas, pensadas (antes, de preferência) e sobretudo claras. Falando sério, estamos numa situação em que a desorientação dos improvisos denota uma desorientação política – o que é ainda mais angustiante – e isso precisa ser revertido quanto antes. Ainda é tempo – e isso não é uma piada.
Até aqui, o desgoverno verbal de Dilma Rousseff só lhe prestou desserviços. Entre outros efeitos colaterais, fez com que Michel Temer parecesse o maior estadista da história do Brasil. Em contraste com o estilo randômico da titular, o vice encarna agora o juízo imperturbável. Enquanto Dilma tece loas à mandioca, o vice não inclina a sobrancelha nem quando comenta os arroubos de Eduardo Cunha. Com seus pronunciamentos estrábicos, que apontam para sentidos opostos sem ter sentido nenhum, Dilma transferiu para Temer o lastro da governabilidade de seu mandato. Se cair, a culpa terá sido principalmente de seu movimento labial. Se não cair, e será melhor que não caia, o mérito será da continência – a continência verbal – que ela deve aprender já.
Eugênio Bucci é jornalista e professor da ECA-USP.
Fonte: Época Nº 897, de 17/08/15. p.12.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

'Estado Islâmico' destrói templo histórico em Palmira


Templo de Baalshamin foi erguido em homenagem a um deus, na cidade de Palmira
Sob domínio do grupo que se autodenomina "Estado Islâmico" ("EI") desde maio, a cidade histórica de Palmira teve um templo destruído pelos jihadistas, segundo autoridades sírias e ativistas.
De acordo com as informações, o templo de Baalshamin teria sido destruído com explosivos neste domingo.
O Estado Islâmico assumiu o controle da cidade em maio, espalhando o medo de que monumentos históricos da cidade, que é considerada Patrimônio da Humanidade pela Unesco, pudessem ser destruídos.
Segundo informações dadas pelo responsável pelo departamento de patrimônio histórico da Síria, Maamoun Abdul Karim, à agência de notícias AFP, "vários explosivos foram colocados no templo e causaram uma explosão que causou muitos danos ao monumento."
"A cela (parte interna do templo) ficou destruída e as colunas ao redor caíram", disse.
Antigos moradores de Palmira que fugiram dali também confirmaram que o EI havia colocado explosivos no templo, mas disseram que o grupo havia feito isso um mês atrás, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos.
No mês passado, o EI divulgou fotos de militantes destruindo o que eles definiram como 'lugares saqueados' em Palmira. O grupo já fez isso com diversas regiões antigas no Iraque.
Na semana passada, descobriu-se que o arqueólogo de 81 anos que estudava as ruínas de Palmira há décadas havia sido decapitado pelo grupo.
O EI também publicou fotos do que eles disseram que seria a destruição de dois santuários islâmicos próximos à Palmira, que foram descritos por eles como "manifestações do politeísmo".
O templo de Baalshamin, supostamente destruído neste domingo, datava do século 1 e era dedicado ao deus fenício das tempestades e das chuvas fertilizantes.
A cidade de Palmira, conhecida na região por "Tadmur", fica em uma área estratégica na estrada entre a capital da Síria, Damasco, e a cidade no leste do país, Deir al-Zour.
Perto dali, as ruínas monumentais da cidade de 4 mil anos surgem do deserto. A Unesco considera o local um dos centros culturais mais importantes do mundo antigo.
Fonte: BBC-Brasil/UOL Notícias, de 23/8/2015.

domingo, 23 de agosto de 2015

A VIDA NAS ALTURAS II


Comissárias narram situações inusitadas vividas a bordo

Por Marina Oliveira e Thaís Macena
Ser comissário de voo é tudo de bom, afinal, eles podem viajar para onde quiserem. E de graça! Você já deve ter ouvido alguém dizer isso – ou pode até mesmo ter falado algo parecido. Por conta dessa imagem que se criou em torno da profissão, muitos jovens decidem investir na carreira. Mas só quem trabalha a bordo de um avião sabe que, a exemplo de qualquer outro trabalho, este também é cheio de desafios.
Para começar, os comissários têm que lidar com uma infinidade de pessoas todos os dias, dos mais diferentes perfis. Diante disso, não é de se estranhar que eles tenham muitas histórias para contar. O UOL Viagem conversou com profissionais do ramo e publica aqui algumas dessas aventuras. Os nomes dos entrevistados foram trocados para preservar a identidade deles.

5 Medo de voar
"Estava num voo de São Paulo para Fortaleza quando um rapaz turco foi para o final do avião pedir um copo de água. Ele tinha horror a voar e havia esquecido seu calmante na mala despachada. Como eu era a única mulher na tripulação, ele só teve coragem de conversar comigo. Assim, os outros comissários saíram para realizar o serviço de bordo e eu fiquei cuidando dele. Mas como ele andava muito de um lado para o outro, começou a assustar os outros passageiros, que já estavam comentando. Para piorar, ele começou a reclamar de palpitação e a dizer que estava passando mal. Eu achei que teria que declarar uma emergência ali mesmo. Por sorte, havia um médico a bordo, que falava inglês e que se ofereceu para ajudar. Mais sorte ainda porque era um cardiologista. Ele examinou o outro passageiro e concluiu que os sintomas eram resultado de puro nervosismo. Para ajudar, o médico sugeriu que o turista se sentasse ao lado dele, onde o turco permaneceu tranquilo por mais duas horas de voo."
Ana*, 23 anos, mora no Rio de Janeiro. Foi comissária de voo durante três anos e meio.
 
 
6 Era para ser engraçado?
"Era meu primeiro voo para a Rússia e eu estava empolgada para conhecer o país. Foi então que, alguns minutos após o avião decolar, eu estava preparando o serviço de bordo e um passageiro da poltrona 23K tocou a campainha e me chamou. Fui até ele e perguntei o que desejava. Ele era muito educado e atraente. Me pediu um copo de leite. Eu expliquei que, naquele serviço, não serviríamos leite, mas eu tentaria fazer o possível para conseguir atendê-lo. Fui até a primeira classe, enchi um copo de leite integral e voltei. Quando entreguei o pedido, ele me disse, com um sorriso sarcástico: 'Desculpe, mas eu queria do seu peito'. Sem saber como reagir, eu respirei fundo e disse que não estava mais amamentando."
Cibele*, 24 anos, mora em Dubai. É comissária de voo há quatro anos.
 

7 De cortar o coração
"Estava num voo do Recife para São Paulo, quando notei uma senhora muito triste, com os olhos cheios de lágrimas. Preocupada, me sentei ao lado dela e perguntei se ela viajava sozinha. Em meio a uma crise de choro, ela me contou que estava voltando para casa de uma viagem que havia feito com o marido. Para acalmá-la, eu fui buscar um copo de água. Quando voltei, ela continuou a me contar a sua história. Disse que aquela tinha sido a primeira viagem de avião deles, um presente dos filhos, por ocasião dos 25 anos de casamento dos pais. Só que no segundo dia do passeio o marido havia sofrido um mal súbito, vindo a falecer. O corpo dele estava sendo levado no porão do avião. Segurando as lágrimas para não chorar também, eu fiquei ao lado dela por um bom tempo, todo o tempo que foi possível."
Camila*, 35 anos, mora em Santo André. É comissária de voo há 13 anos.
 
 
8 Viagem em alta tensão
"Eu já estava na terceira viagem do dia, de São Paulo para Brasília. Quando me aproximei do avião, percebi que havia muitos carros de polícia ao redor. Cheguei a pensar que transportaríamos algum político. Mas, quando entrei na aeronave, policiais me revistaram e me explicaram o que estava acontecendo. Na realidade, iríamos levar um preso para depor, além da esposa dele. Ele ficaria algemado, na última fileira, entre dois policiais à paisana. Ela seguiria sem algemas, mas também com duas policiais à paisana, na parte da frente da aeronave. Outros três policiais à paisana, armados, estariam sentados em diferentes partes do avião. Fomos orientados a reportar qualquer atitude estranha dos passageiros a bordo. O voo estava lotado e foi muito tenso para toda a tripulação. Na hora de oferecer a refeição, eu precisei cortar a carne dele antes de entregar, já que ele estava algemado. Por fim, tudo correu bem e os passageiros nem perceberam o que estava acontecendo. Só depois que todos desembarcam é que os policias saíram com o prisioneiro."
Fernanda*, 34 anos, mora em Cotia. Foi comissária de voo por dois anos.
Fonte: Do UOL, em São Paulo, 23/02/2015. Fotos: Getty Images.
 
 
 
 
 

A VIDA NAS ALTURAS I

Comissárias narram situações inusitadas vividas a bordo
Por Marina Oliveira e Thaís Macena
Não se engane, comissárias de voo fazem mais do que arrumar a sua mala no bagageiro (Getty Images)
 
Ser comissário de voo é tudo de bom, afinal, eles podem viajar para onde quiserem. E de graça! Você já deve ter ouvido alguém dizer isso – ou pode até mesmo ter falado algo parecido. Por conta dessa imagem que se criou em torno da profissão, muitos jovens decidem investir na carreira. Mas só quem trabalha a bordo de um avião sabe que, a exemplo de qualquer outro trabalho, este também é cheio de desafios.
Para começar, os comissários têm que lidar com uma infinidade de pessoas todos os dias, dos mais diferentes perfis. Diante disso, não é de se estranhar que eles tenham muitas histórias para contar. O UOL Viagem conversou com profissionais do ramo e publica aqui algumas dessas aventuras. Os nomes dos entrevistados foram trocados para preservar a identidade deles.
 
 
1 Aqui não é o banheiro?
 
"Estávamos voando em direção ao Recife quando um passageiro, já mais idoso, entrou de repente no galley do avião - local onde armazenamos as comidas e bebidas e onde também ficamos assentos dos comissários, que são retráteis. Ele repentinamente fechou a cortina que temos ali para nos dar certa privacidade, abaixou o assento e começou a urinar. Quando questionado sobre a atitude, ele disse que não havia encontrado o banheiro. Resultado: o assento teve de ser interditado e uma das comissárias precisou procurar outro lugar para sentar-se na hora do pouso."
Thaís*, 21 anos, de Santo André. É comissária de voo há um ano.
 
 
 
2 Santa ingenuidade!
"Estávamos em pleno verão brasileiro quando uma senhora, que tinha cerca de 80 anos, embarcou como prioridade no avião e eu a acomodei na primeira fileira. Era o primeiro voo dela , por isso, estava muito apreensiva. Como as portas do avião ficaram muito tempo abertas até embarcarmos todos os passageiros, quando fechamos e o ar condicionado foi acionado, o resfriamento demorou um pouco para acontecer. Foi então que o voo decolou, a senhora me chamou, preocupada, e perguntou se eu poderia ajudá-la. Eu rapidamente disse que sim. Foi então que ela me pediu: 'Será que você pode abrir a janela para entrar um pouco de ar? Eu não estou conseguindo'. Infelizmente não pude ajudá-la, mas nunca mais esqueci essa história."
Monalisa*, 35 anos, mora no Rio de Janeiro. É comissária de voo há 15 anos.


3 O amor estava no ar
"Era um voo com destino a Londrina e, entre os passageiros, havia uma dupla sertaneja famosa, além da banda e da equipe técnica. Um dos integrantes da dupla me chamava a todo momento para pedir algo. No final, pediu o meu telefone. Ele dizia que tinha encontrado a mulher da vida dele. Eu não dei confiança, claro, mas fiz questão de tratá-lo bem. No momento do desembarque, ele entregou um papel com o telefone dele. Acabei tendo folga no dia seguinte, na cidade onde haveria show da dupla. Então, liguei para ele e fui com uma amiga ao show. Acabamos assistindo à apresentação do camarote e, no final, nós dois ficamos juntos. Chegamos a namorar por um tempo. Hoje, mantemos a amizade e, toda vez que estou em Londrina, ligo para eles."
Denise*, 27 anos, de Minas Gerais. É comissária de voo há dois anos.
 
 
4 Ops, foi mal!
"Eu estava realizando o serviço de bordo e perguntei a uma senhora com fone de ouvido se aceitaria uma bebida. Ela balançou a cabeça. Então, questionei: 'qual bebida, senhora?'. Ela voltou a balançar a cabeça e eu deduzi que ela não estava prestando atenção no que eu dizia. Naquele momento, comecei a ficar impaciente, porque era um voo de 45 minutos em que 118 passageiros precisavam ser atendidos. Então, eu a pedi para retirar o fone. Para a minha surpresa, ela começou a falar na linguagem de sinais, me explicando que era deficiente auditiva. Completamente desconcertada, eu sorri. E ela sorriu de volta. Ela usava fone porque provavelmente conseguia distinguir algum som, mas não o que eu estava dizendo."
Amanda*, 24 anos, mora em São José do Rio Preto. É comissária de voo há quatro anos.
Fonte: Do UOL, em São Paulo, 23/02/2015. Fotos: Getty Images.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

sábado, 22 de agosto de 2015

Laços entre a Sociedade Médica São Lucas e a Academia Cearense de Medicina


Recentemente, nesse mesmo Boletim, foram traçados aspectos históricos que conectam duas entidades médicas cearenses: a Sociedade Médica São Lucas (SMSL) e a Academia Cearense de Medicina (ACM). Ambas instituições, por meio de seus médicos, com essa dupla afiliação, tiveram ativa participação na organização e na realização do I Congresso Brasileiro de Médicos Católicos (I CBMC), evento que fermentou a instalação da Faculdade de Medicina do Ceará, em 12 de maio de 1948, materializando uma legítima aspiração de muitas famílias cearenses.
Saliente-se o papel de Dom Antônio de Almeida Lustosa, o Arcebispo Metropolitano de Fortaleza, prelado que, na década de 1940, fora o indutor da criação da Escola de Enfermagem São Vicente de Paulo, em 1943, serviu de esteio à instalação da pioneira escola médica cearense, em 1948, e a da Escola de Serviço Social, em 1949.
Desde a criação da ACM, os laços mantidos com a SMSL foram vigorantes, com seis lucanos entre os 26 acadêmicos fundadores e oito dos patronos das cadeiras originais, aos quais se agregariam mais 12 lucanos, como novos patronos, dentre as cadeiras posteriormente criadas no sodalício, ao tempo em que outros confrades, igualmente participantes da SMSL, foram empossados, apontando um estreito vínculo funcional dessas instituições.
Presidiram a SMSL os acadêmicos Vinicius Antonius de Holanda Barros Leal e Janedson Baima Bezerra. A SMSL, por sua vez, conferiu a Comenda Médica São Lucas, aos confrades: Geraldo Wilson da Silveira Gonçalves, Haroldo Gondim Juaçaba (in memoriam), Janedson Baima Bezerra, João Martins de Sousa Torres, José Eduilton Girão, José Waldemar Alcântara Silva (in memoriam), Maria Gonzaga Pinheiro e Vinicius Antonius de Holanda Barros Leal.
São, presentemente, membros em dupla militância, na ACM a na SMSL, os médicos: Anastácio Queiroz de Sousa, Antônio Mota Pontes, Fernando Vasconcelos Pombo, Francisco Flávio Leitão de Carvalho, Janedson Baima Bezerra, João Martins de Sousa Torres, José Eduilton Girão, Marcelo Gurgel Carlos da Silva e Roberto Misici, os quais, como médicos católicos, se identificam, inteiramente, com o trabalho evangelizador da SMSL.
ACM tem inserido temas de interesse da SMSL em sua programação científica. Como testemunho disso, vale ressair duas exposições de responsabilidade de confrades lucanos. A primeira, do Ac. Janedson Baima Bezerra, que, em memorável sessão ordinária, de 13/04/2010, pronunciou a palestra “A História da Sociedade Médica São Lucas”; e, a segunda, do Ac. Anastácio Queiroz de Sousa, que, como dedicado estudioso dos mistérios do Santo Sudário, discorreu, na sessão ordinária de 11/05/2010, em palestra sobre “Aspectos Clínicos da Morte de Jesus”, quando apresentou extraordinário conhecimento do tema exposto.
A parceria entre essas entidades médicas tem sido mais do que pessoal, em certos momentos, a exemplo de: a re-edição dos Anais do I CBMC, realizada por iniciativa da ACM, em 2010, que contou com apoio da SMSL e de outras instituições cearenses; do co-patrocínio da ACM ao I Congresso Cearense de Médicos Católicos, realizado pela SMSL, em novembro de 2012; e da nota conjunta de entidades médicas cearenses, assinada por SMSL, ACM e Associação Médica Cearense (AMC/AMB), Sindicato dos Médicos do Estado do Ceará (SIMEC), publicada na mídia local, em março de 2013, em repúdio ao equivocado posicionamento do Conselho Federal de Medicina, em prol da descriminalização do aborto no Brasil.
Há espaços para assegurarem maior entrelaçamento de ações dessas sociedades médicas, ora em apreço, via compromissos institucionais, traçando metas de mútuo interesse, enfocando a defesa de valores espirituais e bioéticos, que precisam ser preservados, a todo custo, nas sociedades modernas.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Da Sociedade Médica São Lucas 

Nota: Este artigo, redigido em 20/06/2015, é dedicado à memória do Dr. Antônio Mota Pontes, de saudosa lembrança, que retornou ao Pai em 21/06/2015.

* Publicado In: Boletim Informativo da Sociedade Médica São Lucas, 11(96): 4-5, julho de 2015.

CONVITE: Celebração Eucarística da SMSL - Agosto/2015

A Diretoria da SOCIEDADE MÉDICA SÃO LUCAS (SMSL) CONVIDA a todos para participarem da Celebração Eucarística do mês de AGOSTO/2015, que será realizada HOJE (22/8/2015), às 18h30min, na Igreja de N. S. das Graças, do Hospital Geral do Exército, situado na Av. Des. Moreira, 1.500 – Aldeota, Fortaleza-CE.
CONTAMOS COM A PRESENÇA DE TODOS!
MUITO OBRIGADO!

Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Da Sociedade Médica São Lucas

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

O AMIGO MESSIAS


Antero Coelho Neto (*)
Lembro que meu pai falava de um amigo, o Messias, que gostava tanto do lazer e de férias que muitos lhe davam o apelido de “Feriado”.
Preguiçoso? De temperamento inquieto, pelo contrário, era muito trabalhador e tinha grande alegria de trabalhar, na loja de seu pai.
Todos os dias se levantava bem cedinho para caminhar na praia Formosa pela areia. Diziam os irmãos dele que ia era “flertar” com as garotas que encontrava pelo caminho.
Alegre como ninguém, todo sábado à noite, ia para a farra nas “pensões” da Major Facundo onde era conhecido por não beber álcool. Vez por outra, pagava bebidas para todos para agradar a “madame”, dona da pensão. Odiava a fumaça dos cigarros e charutos dos amigos porque dizia que fedia e manchava suas roupas. Outros diziam que não fumava porque seu pai, um dia, quando criança, tinha lhe queimado com um charuto acesso.
Era o tipo, cantado em prosa e verso, do “almofadinha”. Boa pinta e boa fala, cantava todas que chegavam perto, mas somente queria as magras, mais de 20 anos de idade, alegres e que fossem carinhosas e não as “boas de cama” como todos exigiam na época. Era magro, comia pouco e sempre estava pedindo peixe com batatas. Dizia que a gordura da carne de boi lhe obrigava “arrotar” e que não fazia a digestão.
Nas férias, ia para a Serra da Meruoca-Sobral, onde tinha uns lugares secretos para passear e ler os seus livros. Ah! Ia esquecendo que, depois de mulher, o que mais gostava era de ler os romances da época. Vez por outra, foi flagrado escrevendo poesias que ninguém nunca conseguiu ler, pois as escondia. Era religioso e tinha muita fé em São Paulo que ele achava um “senhor santo” e que muito a ele devia.
Quando já tinha uns 40 anos, foi embora para a Bahia, casou, teve um filho e lá viveu sempre muito alegre até que faleceu com 103 anos, lúcido e ativo.
Sentiram, meus leitores, os estilos de vida do Messias? Por suas razões e escolhas, tinha hábitos exemplares. Por sua própria decisão, praticava exatamente o que receitamos hoje como verdadeiros “remédios” para a cura e prevenção: férias com regularidade, momentos de lazer várias vezes por semana, alegria, alimentação saudável, atividade física diária, sem fumo e sem álcool, trabalho com prazer, gostar de ler romances e poesias, gostar de mulheres carinhosas, praticar o sexo a que tinha direito, fé em Deus e muita autoestima.
Soube destes dados sobre o Messias, em um caderno que meu pai guardava, como exemplo de vida longa com qualidade.
Querem uma surpresa mais? Adorava cenoura (betacaroteno), laranjas (vitamina C), leite (cálcio) e, pasmem, castanha do Pará (rica em selênio).
Querem mais? Bebia muita água, pois dizia que era bom fazer muito pipi.
(*) Médico, professor e ex-presidente da Academia Cearense de Medicina.
Fonte: O Povo, Opinião, de 22/7/2015. p.8.

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

INFLACIONAMENTO DE DIPLOMAS


Por Heitor Machado (*)
Em pesquisa divulgada em 2012 pelo Instituto Paulo Montenegro, verificou-se que 38% dos universitários estavam em situação de analfabetismo funcional. Já em pesquisa divulgada pela Universidade Católica de Brasília em 2014, apurou que 50% dos universitários se encontravam nessa situação. O analfabeto funcional é aquela pessoa que sabe ler e escrever, mas não se encontra em condição de interpretar textos simples, cálculos básicos ou capacidade de escrita de exposição de argumentos, ou mesmo de uma simples redação.
Sabe-se que um dos gargalos de crescimento no país é a carência de mão de obra qualificada, e num esforço para a resolução desse problema, mais do que dobrou o número de vagas no Ensino Superior no Brasil nos últimos dez anos. São diversos os motivos dessa alta: a criação programas de financiamento estatais como Fies e Prouni. No entanto, a despeito da informação sobre o analfabetismo funcional, continua-se criando vagas e investindo mais em educação de alto nível.
É bem verdade que ao criar mais notas, via Banco Central não se cria riqueza alguma, em contra partida cria-se cada vez mais diplomas para os brasileiros, sem que de fato a produtividade do país cresça de igual forma. Para exemplificar, se tivermos mais engenheiros diplomados que compreendam menos os projetos que fazem ou recebem, precisaremos de mais engenheiros para fazer o trabalho que apenas um muito produtivo faria.
Se quando o governo cria mais papel moeda sem lastro para pagar dívidas estatais cria-se juntamente à inflação, o que estaria nascendo quando tivermos mão de obra diplomada que não produz mais por não ter domínio ao interpretar um texto ou fazer uma operação matemática mais elaborada? Talvez a resposta seja desemprego qualificado.
A saída está na melhoria efetiva da educação básica, o desengessamento dos currículos que dariam assim ao mercado uma gama maior de possibilidades e possibilidade de customização de serviços, satisfazendo seus consumidores e aumentando as experiências de sucesso. É estranho que a sala de aula ainda seja muito parecida com a de duas gerações atrás, mesmo com tantas inovações tecnológicas em todos os outros campos.
(*) Heitor Machado é empreendedor e colunista do Instituto Liberal.
Fonte: Artigo no Alerta Total www.alertatotal.net.  Postado por Jorge Serrão.

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

PRÊMIO LITERÁRIO BIBLIOTECA NACIONAL


“Estão abertas até o dia 10 de setembro as inscrições para a edição 2015 do Prêmio Literário Biblioteca Nacional, concedido há mais de 20 anos pela instituição, com o objetivo de estimular a pesquisa e a criação literária no país. O concurso é aberto a autores, tradutores e designers gráficos e vai premiar a qualidade intelectual, técnica e estética dos livros inéditos publicados no Brasil, no período de 1º de maio de 2014 a 30 de abril de 2015.
O prêmio é dividido em nove categorias e estabelecido por meio de um edital de chamada pública. Segundo a Fundação Biblioteca Nacional (FBN), cada uma das categorias possui uma comissão julgadora própria e independente, composta por três profissionais de notório saber.
No valor de R$ 30 mil cada, os prêmios serão concedidos nas categorias romance, poesia, conto, ensaio social, ensaio literário, tradução, projeto gráfico, literatura infantil e literatura juvenil. Os critérios de avaliação por parte da comissão julgadora abrangem a qualidade da obra (exceto para a categoria projeto gráfico), originalidade, contribuição à cultura nacional, qualidade linguística da tradução (no caso dessa categoria) e criatividade no uso de recursos gráficos (somente para a categoria projeto gráfico).
SERVIÇO
*As inscrições devem ser feitas por via postal e endereçadas à sede da Fundação Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro. Formulários e maiores informações estão disponíveis no site www.bn.br .
Fonte: Agência Brasil/ Blog do Eliomar

terça-feira, 18 de agosto de 2015

O ANARQUISTA COROADO: perfil 2

O ensaio de Artaud sobre Heliogabalo, um césar da decadência romana, faz o leitor vivenciar dor, desorientação e certa dureza absurda. Este césar é filho, talvez, do imperador Caracalla, com Júlia Domma, sacerdotisa de Emesa, na Síria, descendente, à época, de um milênio de tradição dos cultos ao sol e à fertilidade.

Gerado em Roma, nasce em Antioquia e retorna a Roma para reinar, depois de uma sequência de grandes golpes políticos. Evidencia-se que suporta mal a rotina da coroa, o respeito às regras e o equilíbrio de decisões, e sempre que possível joga-se na confrontação direta, acendendo a adrenalina da luta no octógono dos palácios e das ruas, realizando espetáculos para o gosto das massas, pregando o extremo com o exemplo.
Artaud define Heliogabalo como um tirano, radicalmente coerente e obstinado, fiel a uma ordem mística e subjetiva, que faz do trono romano um teatro de fantoches. E todo tirano intenta acertar completamente o mundo pelo seu compasso singular, confundindo-se com a Lei. Portanto, este que acorda convulsões perigosas, cheias de rebelião teatralmente declarada e de leilões, de consciências e fidelidades, devora-se e devora.
Retirada a pátina escatológica, eu gosto deste poético esboço do ensaio-biografia sobre um individualista impulsivo e sistemático que, diante do poder absoluto, subverte-se absoluta e psicopaticamente. Em algumas ditaduras africanas ou asiáticas ainda é possível encontrar tais surrealismos, mas, mesmo domados, eles espreitam no comportamento de muitos gestores públicos atuais, pelo Brasil e pelo mundo, vítimas do desmedido.
Nos últimos milênios, criamos e recriamos uma palavra: democracia. Sua prática exige pactuação prévia de regras e obediência, até nova pactuação. Também exige articulações e mediações. Quando o gestor ultrapassa o rigor técnico, subverte as instâncias de mediação, toma partido diante de direitos legítimos em contradição e subleva as bases, a democracia cambaleia e passa a vogar, pelo ar, o odor da tirania.
(*) Professor titular em saúde pública e reitor da Uece.
Publicado In: O Povo, Opinião, de 8/8/15. p.8.
 

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