segunda-feira, 31 de agosto de 2020

UNIÃO FAMILIAR

 Por Luiz Gonzaga Fonseca Mota (*)

A Sagrada Família representa um exemplo para nós, mediante os sentimentos da fé, da humildade, da esperança, enfim, da solidariedade humana. É difícil viver fora do ambiente familiar. Na medida em que tenhamos uma família bem constituída, com certeza, as dificuldades e os problemas da vida cotidiana serão ultrapassados com mais facilidade e menos sofrimento. Dentro desta linha de pensamento, é básico reconhecermos a importância dos valores espirituais sobre os materiais. Aqueles são duradouros e nos conduzirão, sem dúvida, à vida eterna. Estes são efêmeros e, nem sempre, nos proporcionam, apesar do conforto, a alegria permanente. Os bons pais sabem a oportunidade de aconselhar, perdoar, compreender, a importância da paciência e da sinceridade, os momentos de repreensão- sem denegrir a imagem dos filhos -, a prudência nos julgamentos, bem como a liberdade com responsabilidade. Os ensinamentos e os exemplos paternos são fundamentais para uma educação saudável. A união familiar é importante para que possamos educar nossos filhos dentro de um ambiente de paz e concórdia. Segundo Coelho Neto, “é na educação dos filhos que se revelam as virtudes dos pais”. Por sua vez, os filhos devem respeitar a autoridade dos pais, sem contudo apresentar uma atitude de subserviência, mas de amor e carinho. Quando falamos em educação, não pretendemos nos deter apenas no aspecto relativo ao conhecimento formal. Porém principalmente à educação comportamental, representativa do caráter, do modo de ser, de amar o próximo, isto é, aquela educação que muitas vezes não se aprende nos bancos escolares e sim, em sua grande parte, no dia a dia da família unida. A melhor forma de se obter solidez num relacionamento familiar é mediante a união. Podemos dizer que uma família bem constituída segue a palavra de Deus, pois semeia o amor.

(*) Economista. Professor aposentado da UFC. Ex-governador do Ceará.

Fonte: Diário do Nordeste, Ideias. 7/8/2020.

domingo, 30 de agosto de 2020

A ESPERANÇA, FRUTO DA FÉ

Por Pe. Reginaldo Manzotti (*)

O isolamento social trouxe, para muitos, a oportunidade de uma autoavaliação de comportamentos, de valores e principalmente um reafirmar da fé. Conscientizamo-nos de nossas fragilidades e finitude e que nada somos sem Deus e precisamos da presença de Jesus, o Senhor das Santas Chagas.

A fé, a religião não são ópios, muito menos mecanismos de fuga, ao contrário, acredito que a fé é determinante para enfrentarmos e superarmos o que vem pela frente.

Não sabemos como será nossa realidade pós-pandemia, falasse num "novo normal", mas acredito que tem que ser a hora da mudança, de abandonarmos os velhos costumes, falo do comportamento individualista e consumista, refiro-me ao modo de pensar e de agir que atende apenas aos interesses do próprio indivíduo, sem se importar com as pessoas que estão em volta, o que fere gravemente os desígnios de Deus.

Tenho testemunhado que muitos já firmaram essa consciência, muitos se abriram ao próximo, muitos gestos de solidariedade e preocupação foram praticados e esse é o legado que deve permanecer.

Não somos anjos é verdade, ninguém vive de vento, todo mundo tem que comer, que se vestir, mas não precisamos fazer isso de maneira egoísta, acumulativa. A fé deve nos levar a viver de acordo com a Palavra de Deus, na solidariedade, na partilha, no amor.

Mesmo em tempos de incerteza, quando existe fé verdadeira, existe confiança e o sofrimento nos aproximam do Senhor, isso significa que não devemos concentrar nossa atenção somente nas dificuldades, e sim na presença de Jesus, que disse: "Neste mundo, vocês terão aflições, mas tenham coragem; eu venci o mundo" (Jo 16, 33).

A esperança é fruto da fé, mas é também o seu sustento. A nossa esperança tem sentido em Jesus, pois Ele é nossa esperança. Ninguém pode esperar de Deus a vida eterna, se antes não colocar sua confiança nas promessas de Jesus Cristo.

Sempre depois de uma tempestade vem a bonança. Tudo vai passar, mas é preciso um esperar ativo no Espírito Santo, confiante em Deus, e na presença de Jesus. Se assim nos mantivermos colheremos os frutos de uma fé provada e vitoriosa. 

(*) Fundador e presidente da Associação Evangelizar é Preciso e pároco reitor do Santuário Nossa Senhora de Guadalupe, em Curitiba (PR).

Fonte: O Povo, de 18/7/2020. Opinião. p.14.

sábado, 29 de agosto de 2020

A DEMANDA DE CUIDADOS DE SAÚDE APÓS A COVID-19

         A pandemia da rotulada gripe espanhola, que grassou entre nós nos anos 1918-20, teve taxas de mortalidade e de letalidade bem superiores às observadas pela Covid-19, porém não se disseminou nos vastos rincões nacionais, poupando várias unidades federativas, tanto que, na terra alencarina, há pouco registro documental da passagem da “bailarina”, um dos epítetos aplicados a essa pandemia, associando-a a uma pretensa origem nas ilhas Baleares pertencentes à Espanha.

A epidemia de meningite meningocócica, que açoitou o Brasil de 1972 a 1974, atingiu boa parte do Brasil, produzindo elevadas taxas de incidência, de mortalidade e de letalidade; contudo, não causou tanta comoção nacional à conta do estado de exceção, na vigência do regime castrense que nos governava, quando então não se poderia divulgar na imprensa a ocorrência dessa epidemia, por suposta questão de segurança nacional.

A maneira como a Covid-19 chegou ao Brasil, aportada nas classes sociais mais abastadas, a partir das suas conexões internacionais e depois como transmissão comunitária, assumiu uma expansão avassaladora nas periferias urbanas e entre populações economicamente desprivilegiadas, gerando uma situação de epidemia de alcance geográfico não experimentado nos últimos cem anos.

A pandemia da Covid-19 que agora, em meados de agosto, acumula um passivo superior a cem mil mortos e de mais de três milhões de casos confirmados no Brasil, desestruturou uma economia que vinha cambaleante há anos, quando esta ensaiava os seus passos em prol da recuperação do desenvolvimento nacional, e expôs fragilidades do provimento de cuidados de saúde, tanto o público como o privado.

Fortaleza, a partir de março último, tomou a dianteira nas cifras de casos e óbitos de Covid-19, tendo a insólita companhia de outras capitais brasileiras, como Manaus, Belém, São Luís, São Paulo e Rio de Janeiro, alcançou o pico da pandemia na segunda quinzena de maio, experimentando um pequeno interregno de platô, e já em junho viu a sua ocorrência percorrer a alça descendente da curva epidêmica.

Essa transformação favorável transcorreu ao tempo em que se observava no Ceará a interiorização da doença, começando pelos municípios de maior porte populacional (acima de cem mil habitantes), e gradualmente avançou entre os de médio porte (de 30.001 a 100.000 habitantes) e, por fim, espalhou-se nos de pequeno porte (até 30.000 habitantes), marchando das sedes municipais aos distritos e povoados.

Transbordando as divisas cearenses, outras unidades federativas, até então relativamente poupadas pelo novo coronavírus, nos últimos dois meses passaram a sentir o gosto travoso da doença e da morte, impingindo atroz sofrimento a seus concidadãos.

O Ceará, ainda que tenha tido mais de oito mil vítimas fatais atribuídas ao novo coronavírus, por ter partido cronologicamente na frente de outros estados, sorve o arrefecimento da pandemia, patenteado no declínio da curva de contágio que se reflete na redução dos casos sintomáticos e na retração da hospitalização de pacientes, especialmente dos enfermos de maior gravidade, manifestos na menor utilização de respiradores e na diminuição da taxa de ocupação de leitos de UTI reservados à Covid-19.

A desaceleração da pressão de atendimentos por novo coronavírus na rede hospitalar que está sendo verificada no Ceará, entretanto, não significa o fim do sufoco do setor de saúde público e privado.

Em função da flexibilização das regras de isolamento social, além da preocupação de uma nova onda de contágio, que é incerta mas possível, pois se trata de um agente infeccioso de comportamento pouco conhecido e, portanto, se requer maior atenção, há uma demanda grande de atendimentos que ficou reprimida.

Por conta da demanda exacerbada de atendimentos derivados da Covid-19, houve uma decisão importante de cancelar os procedimentos elegíveis, bem como de tudo o que não fosse urgência médica. Mas uma vez debelado o pico da crise, isso volta com muito mais força. Pacientes portadores de enfermidades crônicas, como hipertensão arterial e diabetes mellitus, podem ter o estado de saúde agravado por complicações subjacentes que vão exigir cuidados desdobrados e de maior complexidade técnica; cirurgias eletivas suspensas se avolumaram e estendem a lista de espera que já era inaceitável.

Até mesmo a oncologia, especialidade que não estava oficialmente prevista a suspensão de suas atividades, se ressentiu dos efeitos da pandemia em seus pacientes. A legislação vigente dispõe que o tempo decorrido entre o diagnóstico de um câncer e o início do seu tratamento não pode ser maior do que sessenta dias; no entanto, incontáveis pacientes por razões pessoais ou institucionais ficaram privados de um diagnóstico em um momento mais oportuno, o que deve ter conduzido a uma proporção maior de diagnósticos em estádios mais avançados dessa doença. Por outro lado, muitos pacientes que estavam em tratamento (cirurgia, radioterapia, quimioterapia etc.), com receio de contaminação, uma vez que tinham ciência da imunodepressão que os acompanhava, deixaram de ser tratados e, como se sabe, é grande o risco de uma evolução rápida para um caso mais grave quando há descontinuidade no tratamento oncológico.

Esta pressão da demanda reprimida sobre o sistema de cuidados de saúde, público e privado, ocorre em um contexto de maior fragilidade econômica do País, quando já não há mais tantas alternativas de onde se extrair mais recursos, na sequência de uma descabida inflação de custos no setor saúde, com parte dos seus insumos injustificadamente majorados.

Os hospitais prestadores de serviços, conveniados com o Sistema de Único de Saúde (SUS) ou contratados via rede de saúde complementar, tiveram substancial retração das receitas auferidas dos procedimentos eletivos que não foi compensada financeiramente pela receita obtida com o atendimento à Covid-19, ou mesmo como resultado da sua ociosidade operacional por não se adequarem às necessidades específicas de pessoas acometidas pela pandemia.

Os planos de saúde, por exemplo, passam presentemente por um aumento significativo de gastos que tiveram de ser feitos para atender à demanda da pandemia, simultaneamente a uma queda significativa da receita por conta da perda do poder aquisitivo da população, redundando em incremento na inadimplência dos seus afiliados e no enxugamento da sua carteira de clientes, algo que perdurará nos meses vindouros, até quando se der a estabilização e, quiçá, o soerguimento da economia do País.

Os hospitais próprios da rede pública, a despeito da crônica hipossuficiência de recursos financeiros que atravessam, foram induzidos a redirecionarem seus leitos para o atendimento da epidemia e a criarem leitos extras de UTI. Para tanto, receberam aporte de numerários, via transferências governamentais, o que pode não ter sido suficiente para o adequado atendimento de uma demanda excedente de pacientes, muitos deles de maior gravidade e portadores de comorbidades, que concorreram, adicionalmente, para a exaustão de materiais de consumo hospitalar. Para esses hospitais seguirem com seus atendimentos, faz-se necessária a reposição dos seus estoques, ou seja, hão de incorrer em gastos que não estariam, certamente, nas suas previsões orçamentárias.

Como os recursos humanos dos hospitais públicos eram amiúde limitados ou parcialmente inadequados, porquanto especializados para outras entidades mórbidas, os hospitais precisaram arcar com os custos da manutenção da sua força de trabalho inercial e, de igual modo, buscar recursos humanos, por meio de contratação temporária, por vezes, adotando a precarização da mão de obra, por intermediação de terceiros contratantes.

Parcela expressiva da mão de obra posicionada na linha de cuidados à Covid-19, como decorrência natural da maior exposição ocupacional, migrou da função de cuidadora para a de assistida, o que incluiu muitas baixas no quadro de pessoal dos estabelecimentos de saúde, tanto em casos como em mortes associadas à doença, resultando em perdas econômicas temporárias ou definitivas para o SUS, bem como em intangíveis custos sociais.

Também não deve ser desconsiderado o fato de que, entre os que superaram a fase aguda da Covid-19, são cada vez mais apontadas as situações de pessoas, cujo restabelecimento se faz de forma lenta ou de sobrevivência com algum grau de déficit funcional provocada por danos físicos, além de duradouras sequelas psicológicas advindas do iminente risco de morte ocorrido na vigência de um longo período de internação hospitalar.

O pouco alentador panorama traçado para as autoridades públicas brasileiras das três esferas de governo (Federal, Estadual e Municipal) e dos três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), diante de tão ciclópico desafio na vigência e no período pós-pandemia, cobra a união de esforços de todos contra o inimigo comum, o novo coronavírus, pois a nossa grande nau, o Brasil, precisa sobrepujar a procela e rumar para um porto seguro, de onde emergirá uma nação renovada e revigorada.

Que Deus guarde a todos os brasileiros e nos permita sobrepujar essas vicissitudes, nos tornando melhores seres humanos.

Prof. Dr. Marcelo Gurgel Carlos da Silva

Médico-sanitarista e economista da Saúde

*Publicado In: Jornal do médico digital, 1(4): 54-8, agosto de 2020. (Revista Médica Independente do Ceará). (Doc. Nº 8.2.577).

sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Crônica: "Outubro Amarelo Queimado" ... e outros causos


Outubro Amarelo Queimado
É muita categoria associar uma cor a um mês nas iniciativas de cuidados com a saúde. Congratulações a quem pensou no Fevereiro Roxo do Alzheimer, no Abril Azul do Autismo, no Junho Vermelho de incentivo à doação de sangue, no Agosto Dourado da amamentação, no Setembro Verde da doação de órgãos, no Outubro Rosa do câncer de mama, no Novembro Azul do Câncer de próstata.
Parabéns, especialmente, ao genial Jota Crocodilo pelo discernimento de conceber a campanha que dá título a estas mal traçadas: o Outubro Amarelo Queimado, dos cuidados com a sovaqueira (pelo uso do limão galego, por mais desodorantes à base de vinagre com areia grossa, pelo recurso da fé de que um dia a inhaca passará). Algo referencial em qualquer certame científico.
Somado ao Novembro Marrom (de defesa dos traídos) e ao Dezembro Cardão (de defesa do jumento nosso irmão solto nas capoeiras da vida), temos aí um arco-íris de possibilidades para a redenção da humanidade. Sobre o Março Alvinegro (de combate ao pano branco e ao pano preto, ao cuspe grosso e ao cuspe fino, à impingem em pescoço de doido e ao bicho de pé na mão), creio seja também uma ideia que a OMS acolherá sem reservas.
Senão desaparecerem os sintomas...
Moquinha vivia acabrunhada, despombalizada. Perdera o marido ainda jovem e nunca mais um homem na vida. Tentou combater a melancolia entranhada na alma com companhias agradáveis, como a tia por parte de mãe, dona Ceiça, senhora de 90 anos e de astral de quem está nos 20 e poucos anos - altíssimo astral. Por osmose, sabe lá, tomaria emprestada a alegria que lhe faltava. Mas, nem tanto. O contato com a feliz da vida dona Ceiça não foi a solução.
Certo dia, na farmácia da esquina, Moquinha encontra uma amiga de longas datas, tipo esculhambada, que ouviu os queixumes da viúva e, desvendando os mistérios por trás de tanta tristeza, passou receita, segundo ela, milagreira, infalível para esses casos de desânimo lascativo grave. Pediu que tomasse "bilau".
- Bilau? É pastilha? Comprimido ou supositório? É de chupar ou beber? - indagou Moquinha cheia de dúvidas.
- Procure, e basta tomar uma vez por semana! - reiterou a colega presepeira.
A mulher se animou. Na farmácia onde estava, pergunta da coisa, mas nada do remédio nas prateleiras. Desiludida, já em casa, pede a uma sobrinha que procure no Google o tal bilau. Nada de notícia do medicamento de nome estranho. "Pois bota aí bilausina, bilaulex, bilautiazida..." Nada! Finda, Moquinha, por perguntar à nonagenária tia Ceiça onde achar o diabo do bilau. Escolada...
- Enganchado na zona do agrião do macharal!
- É pra tomar diariamente? - indaga Moquinha ingênua.
- Aí tu te lasca. É efeito colateral pra mais de metro!
Reconhecimento
Mostrei a um primo - grande ledor da alma humana - foto minha em pose demais invocada ao lado do dentista Dr. José, e ele asseverou sem rodeios:
- Pelo franzido da testa e o lepo-lepo da orelha, liberaste uma bufinha na hora do clique.
- Como sabes?
- Pela bolota dos olhos do padre. E foi peido ariado! O pecado é ainda maior!
Fonte: O POVO, de 4/10/2019. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.

quinta-feira, 27 de agosto de 2020

TRANSDISCIPLINARIDADE x PANDEMIA


Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
TRANSDISCIPLINARIDADE é algo integrador de disciplinas diversas; poderíamos usar como exemplo a Ecologia que se vale de várias ciências (sociologia, biologia, geografia, botânica, etc.) para apoiar o estudo de uma unidade complexa. (MORIN, E.A. cabeça bem feita: repensar a reformar, reformar o pensamento. RJ. 15ªed. Bertrand Brasil, 2008.), conferir: https://www.dicionarioinformal.com.br/transdisciplinaridade/
PANDEMIA [do gr. pandémia.] Doença epidêmica amplamente difundida. (Dicionário Aurélio) A Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou como pandêmica a gripe causada pelo Covid-19, o novo coronavírus (Sars-COV-2).
As pesquisas transdisciplinares poderiam estar mais corretamente centradas neste momento de “pandemônio informatizado” causado por esse vírus denominado Covid-19. Essa falta de concentração poderia ser melhorada através dos jornais, rádios, TV, blogues ou sites especializados. A facilidade de acreditar em terceiros, simplória e evidente, é uma das maiores dificuldades da espécie Homo sapiens. Há pairando no ar um culto às fantasias causadas pela mixagem de notícias distorcidas por polarização política.
Poucos são os midiáticos e os medicinais que sabe distinguir o significado de certos termos, tais como: endemia (enfermidade entre pessoas que em maior ou menor grau habitam determinada localização geográfica); epidemia (aumento da incidência de uma doença) e surto (quando ocorre um aumento repentino do número de casos de uma doença em uma região específica).
Tanto os epidemiologistas quanto sobretudo os jornalistas, têm como objetivo final promover a qualidade da informação que recebem e transmitem aos seus escutadores, fazendo uso de dispositivos moveis ou imóveis.
Lembrem-se: as pandemias passam, porém, as sequelas traumáticas permanecem.
Prossigo: alguns médicos e cientistas, em busca dos seus 15 minutos de glória, dão opiniões tão absurdas que prefiro considerar que seja por ignorância ou por não serem especialistas no assunto. Seria talvez decorrência da nossa Cultura coeva em que prevalece o narcisismo, termo que vem do mito grego de Narciso; um bonito jovem e indiferente ao amor que ao se ver refletido na água apaixonou-se pela própria imagem refletida.
Não é segredo: somos feitos de pó, vaidade e muito medo, segundo afirmava o profeta Millôr Fernandes.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE), da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES) e da Academia Recifense de Letras. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).

quarta-feira, 26 de agosto de 2020

FELICIDADE


Por Tales de Sá Cavalcante (*)
Certa vez, estava eu a negociar com o mar para que o veículo por mim dirigido vencesse a maré cheia. Acima, um céu de brigadeiro. À esquerda, o belo Ceará: praia e mar de Beberibe. À direita, o Ceará feio: um casebre, onde residiam alguns dos inúmeros injustiçados que a pandemia mostrou ao clamar "acorda, Brasil".
Observei que, apesar de sua pobreza e da convivência de oito pessoas num único vão, as crianças que se aproximavam possuíam um precioso sorriso em seus rostos. E refleti: elas são mais felizes que um riquíssimo amigo que estava nos EUA a se tratar de depressão.
Realmente, riqueza não produz felicidade, embora um homem simples, mais "filósofo" que muitos "doutores", ao ser entrevistado pelo Fantástico, tenha afirmado: "Dinheiro não traz felicidade, mas a falta dele pode trazer infelicidade."
A palavra "cínico" tem hoje outro significado, mas, antigamente, os cínicos constituíam uma corrente filosófica que considerava a verdadeira felicidade independente de luxo, poder político ou qualquer coisa efêmera. Para eles, ela poderia ser alcançada por todos.
Conta-se que o famoso filósofo cínico Diógenes estava a tomar sol, e Alexandre, o Grande, conhecido na época como o mais poderoso do mundo, disse-lhe: "Tudo o que quiseres eu posso dar a ti. O que desejas?". E Diógenes respondeu: "Não me tires o que não me podes dar!". Ou seja: sai da frente do meu sol.
Um estudo de Harvard, feito durante 80 anos, concluiu que a chave da felicidade está na qualidade dos relacionamentos. O que não deve ser confundido com quantidade de amizades virtuais das redes sociais. Trata-se, nesse caso, de uma conexão profunda com amigos, família e com a comunidade em que se vive, resultando na conquista de mais saúde e maior longevidade. Segundo Shawn Achor, "primeiro se é feliz, para depois se ter sucesso, e não o contrário".
Nesta pandemia, aproveitemos para ficar mais off-line com o trabalho e em tempo real com a família. Sejamos felizes e alegres, ao seguir o Poetinha Vinicius quando disse: "É melhor ser alegre que ser triste. Alegria é a melhor coisa que existe."
(*) Reitor do FB UNI e Dir. Superintendente da Org. Educ. Farias Brito. Membro da Academia Cearense de Letras.
Fonte: Publicado In: O Povo, Opinião, de 2/07/20. p.16.

terça-feira, 25 de agosto de 2020

LIVE DE 38º ANIVERSÁRIO DA SOBRAMES CEARÁ

A cultura médica literária está em festa, uma vez que, em 24 de agosto de 1982, há 38 anos foi fundada a Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – Regional Ceará (SOBRAME/CE).

E, para celebrar essa data, a Presidência da Sobrames Ceará, com o apoio dos editores do Jornal do Médico, promoveu mais uma live comemorativa que podia ser acessada pelas plataformas digitais do Jornal do Médico.

A live começou às19h30 e terminou às 21h30. Um grande número de sobramistas acompamhou a transmissão que teve a participação do Dr. Arquimedes do Vale, Presidente da Sobrames Nacional, e da Dra. Márcia Etelli, Presidente da Sobrames Regional São Paulo.

Conduzida pelo Presidente Arruda Bastos, os ex-presidentes e outros dirigentes da Sobrames Ceará deram substantivos depoimentos. Foi especialmente tocante as reverências prestadas aos sobramistas falecidos Celina Côrte Pinheiro e Chico Passeata.

A sobramista Ana Margarida apresentou um vídeo discorrendo sobre a pintura “A gota de leite”, de Froyd, um marco da puricultura mundial. A mim, coube-me falar sobra a história das antologias da nossa Sobrames Ceará.

Dr. Marcelo Gurgel Carlos da Silva

Ex-Presidente da Sobrames-CE

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

PENSAR


Por Luiz Gonzaga Fonseca Mota (*)
De forma objetiva, podemos dizer que pensar significa conceber ideias, racionar, refletir, enfim, buscar conhecimentos, muitas vezes polêmicos, que possam nos levar a um processo de tomada de posições ou de decisões. Não é fácil pensar. Assim disse Henry Ford: “Pensar é o trabalho mais pesado que há, e talvez seja essa razão para tão poucos se dedicarem a isso”. Por incrível que pareça, no momento atual, o número de pessoas pensantes, em termos relativos, a nosso juízo, está caindo. Não somos contra o progresso tecnológico, pelo contrário. Sem a informação e com as atividades em permanente evolução, dificilmente a humanidade teria condições de possuir um melhor padrão de vida, com respeito à realização de suas necessidades. Todavia, o que não desejamos é a substituição do pensamento humano por um computador, por exemplo. Somos a favor tanto da aprendizagem tradicional como da virtual. No entanto, não devemos deixar os métodos ortodoxos da leitura e da pesquisa nos livros, nos textos e nos jornais, pela comodidade cibernética. Tal comportamento pode nos conduzir a uma preguiça mental e consequentemente reduzir a capacidade de pensar. O importante é buscarmos uma conciliação que permita a convivência do pensamento e do progresso tecnológico, ou seja, sim à inclusão digital e também à inclusão do pensamento. A arte de pensar é o segredo da vida. Conforme Spencer, “É a mente que faz a bondade e a maldade. Que faz a tristeza e a felicidade, a riqueza e a pobreza”. Procuremos o sucesso, mediante o pensamento positivo, isolando as ideias inerentes aos sentimentos do ódio, da inveja, do desamor, dentre outros, e não apenas digitando números e letras, nem também procurando, sem esforço mental, informações existentes numa máquina. Lembremo-nos, por sua vez, de Victor Hugo: “Amo as pessoas que pensam, mesmo aquelas que pensam de maneira diferente de mim”.
(*) Economista. Professor aposentado da UFC. Ex-governador do Ceará.
Fonte: Diário do Nordeste, Ideias. 31/7/2020.

domingo, 23 de agosto de 2020

A PROFISSÃO DOS OUTROS


Um professor, um CEO e um faxineiro estão em uma floresta quando encontram uma fada mágica.
A fada diz: "Eu darei o que vocês mais desejam se vocês fizerem o trabalho de outra pessoa por um dia".
O professor diz: "Eu serei um professor do ensino fundamental. O que pode haver de tão difícil em ensinar um monte de crianças de 6 anos a ler?” Então ele é teletransportado para uma sala de aula. Depois de alguns minutos, todas aquelas crianças gritando o deixam nervoso, ele joga fora o seu material pedagógico e desiste.
O CEO diz: "Serei um garçom. Tudo o que ele faz é levar e trazer comida. Vai ser fácil. Então, ele é teletransportado para um restaurante. Depois de cerca de uma hora, todos os clientes irritantes o deixam louco, então ele atira os pratos no chão, quebrando tudo, e desiste.
O faxineiro diz: "Eu serei um artista".  Teletransportado para um stúdio de arte, ele cola todo o material da sala de aula e os pratos quebrados em uma tela e depois a vende por um bilhão de dólares. A fada pergunta ao faxineiro como ele foi tão esperto.
O faxineiro diz: "Eu tenho mestrado em arte".
Fonte: Disponível na home page “Tudoporemail”.

O PORSCHE MAIS BARATO DO MUNDO


Um garoto de quinze anos chegou em casa com um Porsche e seus pais, espantados, exclamaram: "Onde você conseguiu esse carro?"
Ele disse calmamente: "Comprei hoje".
"Com que dinheiro!?" perguntaram os pais. "Nós sabemos o quanto custa um Porsche."
"Bem", disse o garoto, "este me custou cinquenta reais".
Os pais exclamaram ainda mais alto. "Quem venderia um carro assim por cinquenta reais!?" eles perguntaram.
"Uma senhora que eu encontrei na calçada", disse o garoto. "Não sei o nome dela - eles acabaram de se mudar. Ela me viu passar de bicicleta e me perguntou se eu queria comprar um Porsche por cinquenta reais."
"Oh, céus!" gemeu a mãe, "ela deve ser uma abusadora de menores. Quem sabe o que ela fará a seguir? Alberto, você vai lá e vê o que está acontecendo."
Então o pai do menino foi até a casa onde a senhora morava e a encontrou no quintal, calmamente plantando flores. Ele se apresentou como o pai do garoto a quem ela vendeu um Porsche por cinquenta reais e exigiu saber por que ela fez isso.
"Bom", disse ela, "hoje de manhã recebi um telefonema do meu marido. Pensei que ele estivesse em viagem de negócios, mas fiquei sabendo por um amigo que ele estava no Havaí com a secretária. Então, aparentemente, ela roubou todo o dinheiro dele e o deixou por lá! Bem, ele me ligou, sem um real, e me pediu para vender seu novo Porsche e enviar o dinheiro. Então foi exatamente o que eu fiz."
Fonte: Disponível na home page “Tudoporemail”.

sábado, 22 de agosto de 2020

OS DOIS AMIGOS


Dois amigos, Pedro e Fernando, se encontram e começam uma conversa.
- E aí, Pedro. Acho que estou precisando tirar umas férias, mas este ano eu quero fazer alguma coisa diferente.
- E por que, Fernando? - O amigo se interessa.
- Porque nos últimos anos eu segui os seus conselhos e me dei muito mal.
- Como assim? – pergunta Pedro.
- Ah, Pedro, há três anos atrás você me sugeriu ir ao Havaí. Eu fui e Maria ficou grávida. No ano seguinte, você me recomendou ir às Bahamas. Eu fui e Maria engravidou pela segunda vez. E, como se não bastasse, no ano passado você me disse pra ir a Cancun. E, claro, Maria ficou grávida de novo. – Respondeu Fernando indignado.
- E o que você está pretendendo fazer de diferente neste ano, Fernando?
Vou levar a Maria comigo.

JOÃOZINHO E SEU SUSSURRO


Um garotinho está deitado na cama, segurando-se para ir ao banheiro.
Então ele se levanta, desce as escadas e encontra sua mãe conversando com um monte de amigas.
"MAMÃE", grita o garoto grita bem alto, "EU TENHO QUE MIJAR! EU TENHO QUE MIJAR!"
Obviamente, a mãe fica muito constrangida com a linguagem do filho na frente de suas convidadas e repreende o menino. "Joãozinho, nós não usamos esse tipo de linguagem na frente das visitas da mamãe! Da próxima vez, apenas sussurre, ok?"
O garotinho concorda timidamente. Sua mãe o leva ao banheiro e o coloca de volta na cama.
Na noite seguinte, o pequeno Joãozinho está estourando para ir ao banheiro novamente.
Então ele sai da cama, desce as escadas correndo para a sala de estar e a mãe está tomando uma taça de vinho com um grupo de colegas.
"Mãe! Eu tenho que sussurrar, eu tenho que sussurrar!"
A mãe pede licença e leva Joãozinho ao banheiro, sorrindo com a inocência do filho, mas aliviada por ele ser pelo menos mais discreto do que na última vez. Ela leva Joãozinho de volta para cima e o coloca na cama. "Muito bem, querido", diz ela, dando-lhe um beijo de boa noite. "Hoje você foi mais educado."
Algumas noites se passam, e eis que o menino está estourando para ir ao banheiro novamente.
Então ele sai da cama, desce as escadas para a sala de estar e o pai está assistindo TV.
"Papai!" diz Joãozinho: "Eu tenho que sussurrar, eu tenho que sussurrar!"
"Ah, é mesmo, meu garoto?" diz o pai, com os olhos fixos na televisão. "Venha aqui e sussurre no ouvido do papai."
Fonte: Disponível na home page “Tudoporemail”.

sexta-feira, 21 de agosto de 2020

FOLCLORE POLÍTICO XLI


Abro a coluna com a raposice de Churchill
O primeiro ministro inglês fazia um discurso mordaz quando um aparteador, saltando do lugar para protestar, só conseguiu emitir sons abafados. Churchill observou:
- Vossa Excelência não devia deixar crescer uma indignação maior do que a que pode suportar.
Em outra ocasião, estava sentado, sacudindo a cabeça de maneira tão vigorosa e perturbadora que o orador gritou, afinal, exasperado:
- Quero lembrar ao nobre colega que estou apenas exprimindo minha própria opinião.
Ao que Churchill respondeu:
- E eu quero lembrar ao nobre orador que estou apenas abanando a minha própria cabeça.
________
Mas o sábio José Maria Alkmin não fica para trás em matéria de raposice política. O mineiro nunca perdia a tirada.
O eleitor chegou aflito:
- Doutor Alkmin, meu filho nasceu, eu estava desprevenido, não tenho dinheiro para pagar o hospital.
A matreira raposa tascou:
- Meu caro, se você que sabe há nove meses, estava desprevenido, calcule eu que soube agora.
Fonte: Gaudêncio Torquato (GT Marketing Comunicação).

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

EPIDEMIAS E SISTEMAS DE SAÚDE

Por Paulo Sérgio Arrais (*)
No passado (1889, 1918, 1957, 1968) foram registradas várias pandemias de gripe e milhares de mortes. Entretanto, eram épocas influenciadas por guerras, revoluções, fome, falta de saneamento básico e doenças (tifo, peste, tuberculose, varíola).
No século XIX e início do século XX, a seca, a fome e as doenças infectocontagiosas (varíola, febre amarela, cólera, sarampo), já foram os maiores problemas de saúde pública em nosso Estado, matando milhares de pessoas, principalmente os mais vulneráveis. O êxodo de pessoas para a capital, em busca de emprego, comida e cuidados levou ao colapso do sistema. O Ceará não possuía sistema de saúde organizado e os governantes não deram a atenção devida as pessoas, isolando-as nos lazaretos (grandes galpões), onde lutavam pela vida ou deixavam levar-se pela morte. Em outros momentos, as ações implementadas foram radicais e a população, em muitas ocasiões, mostrou grande resistência contra o esforço governamental.
Em pleno século XXI, outras epidemias, como a da Covid-19, voltam a assombrar. Olhando para o passado e vislumbrando o presente podemos constatar que muitas coisas mudaram, principalmente no que diz respeito a organização do sistema de saúde, onde contamos com o Sistema Único de Saúde (SUS), a Vigilância em Saúde (Epidemiológica, Sanitária, Ambiental e do Trabalhador), laboratórios oficiais para a produção de vacinas e medicamentos, a disponibilidade de novas tecnologias médicas, que auxiliam no diagnóstico de doenças, e de medicamentos e vacinas ofertados através da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais e suas congêneres nos estados e municípios, do avanço gradativo do saneamento básico e nas melhores condições de vida. As críticas ao SUS são frequentes, mas o sistema tem se mostrado necessário e resolutivo. É uma luta que não pode sofrer descontinuidade.
(*) Doutor em Saúde Pública e professor da UFC.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 7/07/2020. Jornal do Leitor. p.17.

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

A COVID-19 NO CEARÁ


Por Carlile Lavor (*)

À Miria - Linda jovem, surge num lampejo, simpatia esfuziante na manhã, Dois anos cortejando, felicidade: infindo amor então compartilhamos!
Foi muito importante a ação do Dr. Cabeto, secretário de Saúde do Ceará, e do governador Camilo Santana na preparação dos hospitais e dos profissionais de saúde para receber os casos graves de quem se contaminou com o coronavírus. A imprensa revela como nunca o sofrimento dos doentes, das suas famílias e dos profissionais que os atendem. A possibilidade de não alcançar o atendimento, ainda que possuindo recursos financeiros espalhou o pavor.
A doença atinge os povos de forma muito diferenciada. A Ásia, com a sua população muito adensada, vive uma sucessão de epidemias em sua longa história. A experiência lhe permitiu enfrentar mais rapidamente a Covid-19. O sucesso da China foi seguido pelos seus vizinhos, Taiwan e Coreia, e chegou à distante Nova Zelândia. Na Europa, é possível identificar formas diferentes de enfrentamento, mesmo nos povos de culturas muito semelhantes como os escandinavos; enquanto a Finlândia tem poucas baixas, sua irmã, a Suécia, sofreu pesadas perdas.
O Dr. Antônio Silva Lima Neto, o Tanta, documenta muito bem o desenrolar da pandemia em Fortaleza. Os cearenses que viajam e os turistas trouxeram a doença para os bairros de Meireles e da Aldeota. Os hospitais particulares receberam os primeiros doentes, anunciando a sua gravidade. O nível educacional e econômico da população dos dois bairros facilitou o controle da transmissão. O vírus se espalhou para a vizinhança com a população mais pobre e para toda a periferia de Fortaleza onde as condições sociais são mais difíceis.
Nestas novas áreas, a transmissão perdura por mais tempo, atinge um número bem maior de pessoas e a mortalidade atinge o seu auge. A pouca escolaridade dificulta a concepção do que é um micróbio e como se transmite. Fica difícil a compreensão da necessidade de lavar as mãos ou usar a máscara. Louis Pasteur, que identificou a relação entre micróbio e doença, foi expulso de Paris pelos médicos franceses, em pleno século XIX, porque fazia uma campanha para que esses profissionais lavassem as mãos antes de atenderem a um parto.
É grande a distância entre os que completaram os seus estudos e aqueles que não tiveram esta oportunidade. Lauro Oliveira Lima traduziu muito bem na sua Dinâmica de Grupo, a ideia de Piaget da construção da inteligência e da formação dos conceitos. As suas lições foram importantes para a formação dos Agentes Comunitários de Saúde, que ensinaram às mães a importância das vacinas, da higiene e da prevenção das doenças das crianças.
A educação ainda nos parece um dos caminhos mais rápidos para alcançarmos a saúde e o desenvolvimento. Muitas crianças estão fora da escola, saíram muito cedo, ou talvez nem entraram. Muitos pais conviveram pouco tempo ou nenhum, na sala de aula, e necessitam receber os conhecimentos essenciais para uma vida mais saudável.
A nossa capacidade de identificar as pessoas infectadas e de levarmos a compreensão da transmissão da doença e da sua prevenção aos que mais necessitam definirá o futuro da Covid-19 entre nós. 
(*) Médico-sanitarista. Coordenador da Fiocruz Ceará. Membro titular da Academia Cearense de Medicina.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 2/7/2020. Opinião. p.17.

terça-feira, 18 de agosto de 2020

Prometer vacina para Covid em 2020 é grave desserviço ao público, avalia Presidente da Merck

Prometer vacina para Covid em 2020 é grave desserviço ao público, avalia Presidente da Merck

"Se você vai usar uma vacina em bilhões de pessoas, é melhor você saber o que essa vacina faz", alerta Ken Frazier.

Ken Frazier, Presidente e CEO da principal produtora de vacinas do mundo, a gigante farmacêutica Merck & Co., em entrevista à Professora Tsedal Neeley, da Harvard Business School, lembrou que a vacina mais rápida já trazida ao mercado foi o medicamento da Merck contra a caxumba. Levou cerca de quatro anos.

A vacina da Merck para o Ebola levou cinco anos e meio e só neste mês foi aprovada na Europa.

A vacina para tuberculose levou 13 anos, rotavírus 15 anos e catapora 28 anos.

Frazier explicou que o processo de desenvolver uma vacina é demorado porque requer uma rigorosa avaliação científica. No caso da Covid, "nem sequer entendemos o vírus em si ou como o vírus afeta o sistema imunológico".

Frazier disse que as diferentes abordagens, de cerca de 160 programas de desenvolvimento no mundo, visam criar uma vacina que possa ser segura, eficaz e durável, porém ressaltou que são três questões diferentes.

"Ninguém sabe ao certo se algum desses programas de vacinas produzirá ou não uma vacina como essa. O que mais me preocupa é que o público está com tanta ansiedade, tão desesperado para voltar à normalidade, que está nos empurrando [a indústria farmacêutica] para mover as coisas cada vez mais rápido", alertou.

"Há muitos exemplos de vacinas no passado que estimularam o sistema imunológico mas não conferiram proteção. E, infelizmente, há alguns casos em que não só não conferiu proteção mas ajudou o vírus a invadir a célula porque a vacina estava incompleta em termos de suas propriedades imunogênicas. Temos que ter muito cuidado", disse Frazier.

Em última análise, "se você vai usar uma vacina em bilhões de pessoas, é melhor você saber o que essa vacina faz".

"Quando as pessoas dizem ao público que vai haver uma vacina até o final de 2020, por exemplo, eu acho que fazem um grave desserviço ao público. No final do dia, não queremos apressar a vacina antes de termos uma ciência rigorosa. Vimos no passado, por exemplo, com a gripe suína, que essa vacina fez mais mal do que bem. Não temos um grande histórico de introduzir vacinas rapidamente no meio de uma pandemia. Precisamos ter isso em mente", ponderou o CEO.

No último quarto do século passado, foram desenvolvidas apenas 7 novas vacinas, 4 delas pela Merck, contra patógenos para os quais não havia anteriormente nenhuma vacina.

Para Frazier, o anúncio que uma vacina está chegando leva políticos e população a reduzirem os cuidados com o vírus.

"É fundamental que as pessoas entendam que, enquanto esperamos pela vacina, a proteção imediata contra a propagação desse vírus é boa higiene, máscaras, distanciamento social, etc.", disse Ken Frasier.

Fabricação e distribuição

No entendimento do CEO da Merck, a fabricação e distribuição da vacina "é um desafio maior do que o desafio científico de chegar a uma vacina segura e eficaz".

"Eu diria que há dois grandes problemas no que diz respeito à distribuição global. Em primeiro lugar, estamos vivendo em um tempo de ultranacionalismo onde os países querem pegar o que está disponível e dizer: 'Vou usá-lo primeiro na minha própria população', em vez de usá-lo primeiro nas populações globais que estão em maior risco", disse Frasier.

O segundo problema é a produção em escala.

"Há sete bilhões e meio de pessoas no planeta agora. E nunca tivemos uma vacina que tenha sido usada em população desse tamanho", afirmou o executivo.

Frasier explicou que será preciso resolver não apenas o problema de fabricar em escala que atenda esse número de pessoas, mas também descobrir formas de distribuir o medicamento, particularmente nas áreas do mundo onde as pessoas não podem pagar a vacina e também onde o desafio de chegar ao necessitado é maior.

As empresas farmacêuticas têm se comprometido com acesso amplo, equitativo e acessível, mas a concretização é de difícil execução. Por exemplo, as indústrias não têm capacidade de produzir frascos suficientes para acomodar as doses.

A Índia, maior produtora mundial de frascos, e fabricantes americanos, como a Corning, podem aumentar sua produção, mas, como outros, foram surpreendidos pela propagação da pandemia. Um material particular usado na fabricação dos frascos de vacinas, chamado borosilicate tubing, está esgotado nos fornecedores.

A escassez de frascos poderá interferir não apenas com a disponibilidade de uma vacina contra o coronavírus, mas de outros medicamentos, incluindo aqueles administrados em hospitais.

Alguns fabricantes de vacinas já estão se preparando para essa crise potencial.

"Normalmente, estamos produzindo vacinas em frascos de dose única", disse Albert Bourla, CEO da Pfizer. "Também estamos explorando com os governos agora se seria mais conveniente se houver frascos de 5 ou 10 doses".

"Se for uma apresentação aceitável e prática dada a pandemia, acho que podemos resolver uma parte significativa do gargalo da manufatura", acrescentou.

Para Paul Stoffels, diretor científico da Johnson & Johnson, não existe capacidade para produzir frascos em bilhões. "Cinco ou 10 vacinas por frasco provavelmente será essencial para podermos lidar com o volume", disse Stoffels.

Rick Bright, ex-diretor da Agência de Pesquisa e Desenvolvimento Biomédico dos Estados Unidos, disse que poderá levar dois anos para a indústria produzir frascos suficientes apenas para as necessidades americanas de vacinas.

Produzir e distribuir centenas de milhões de frascos de vacinas também exigirá grandes quantidades de rolhas especiais de borracha ou latex — fabricadas por duas empresas que dominam o mercado global — bem como agulhas e unidades de refrigeração. Estoques baixos de qualquer um desses componentes poderão retardar os esforços de vacinação.

A pressão pela fabricação de vacinas e suprimentos relacionados poderá eclipsar a disputa por máscaras, ventiladores pulmonares e testes.

Realidade

"Precisamos de políticos que tenham a vontade e a integridade para contar a verdade às pessoas. A realidade do mundo é dada, o que eu disse sobre o desenvolvimento de vacinas, a realidade do mundo é que nesta época do próximo ano muito bem pode parecer com o que estamos experimentando agora", disse o CEO da Merck.

"E quando você pensar em mandar as crianças de volta para a escola, nós vamos ter que encontrar uma maneira de fazer isso com segurança porque os pais estão presos se os filhos estão em casa. E nas cidades do interior, por exemplo, muitos pais dependem das escolas para alimentar seus filhos: café da manhã, almoço e, muitas vezes, lanche após a escola. Então temos que achar um jeito de abrir a creche. Você tem que encontrar uma maneira de abrir as escolas, sem mencionar o fato de que o aprendizado remoto não funciona para todas as crianças", ponderou Frasier. "Se você está olhando para a nossa população, há um monte de pessoas que não têm acesso à banda larga muito menos o tipo de dispositivos que eles precisam. Então essa ideia de que podemos conduzir a educação remotamente, vai funcionar para algumas crianças, as crianças mais favorecidas, mas vai levar populações desfavorecidas a movê-las mais para trás do que já estão".

Warp Speed

O governo americano montou uma iniciativa sob o nome de "Warp Speed" para acelerar o desenvolvimento de vacinas. Liderado pelo diretor da unidade de vacinas da FDA, Peter Marks, o projeto, no entanto, poderá enfrentar obstáculos.

Acelerar o cronograma da vacina significa tomar atalhos. Alguns, como deixar os fabricantes de vacinas abandonarem certos estudos em animais, ou fazê-los em paralelo com os primeiros testes em humanos, já estão em andamento.

O governo também poderá emitir uma autorização de uso emergencial para uma vacina promissora antes de completar todas as etapas típicas de revisão, assim como tem sido feito para alguns testes de coronavírus e medicamentos.

O desafio do Warp Speed é obter 300 milhões de doses de vacinas seguras e eficazes entregues até janeiro de 2021.

O prazo de meses em vez de anos traz muitos problemas. A estratégia de focar apenas nos métodos mais rápidos pode, no final, não render vacinas experimentais bem-sucedidas. Com o financiamento concentrado em desenvolvimento rápido, as soluções que requerem um tempo maior não foram consideradas.

No entanto, o Dr. Gregory Poland, um dos principais cientistas da Clínica Mayo, adverte que os EUA estão em uma corrida "lebre e tartaruga", que não acaba até que uma vacina seja comprovadamente segura, eficaz e escalável.

O projeto americano selecionou um portfólio de oito vacinas: quatro delas são vetor viral (desenvolvidas por Johnson & Johnson, AstraZeneca, Merck e Vaxart), três são genéticas (sendo desenvolvidas pela Pfizer e BioNTech, que recusaram financiamento federal; Moderna; e Inovio), e uma é à base de proteínas (desenvolvida pela Novavax).

Por que não há suporte para vacinas com vírus inteiros inativados? A resposta é que elas seriam "antiéticas" nos termos do projeto.

Vacinas compostas por vírus inteiros usam uma tecnologia madura que tem sido licenciada para uso comercial por mais de 70 anos. Uma vez verificadas como seguras e eficazes, elas podem ser produzidas com instalações existentes em todo o mundo e administradas com obstáculos técnicos mínimos.

A dificuldade é que o desenvolvimento de vacinas com vírus inteiros pode levar muitos anos porque os cientistas precisam encontrar uma quantidade ideal de vírus que proteja os indivíduos sem fazê-los adoecer.

Como a proposta do Warp Speed é ter uma solução eficaz e segura até janeiro de 2021, a tecnologia foi excluída porque o tempo recorde para desenvolver uma vacina com vírus inteiros inativados é de 4 anos.

Com um prazo pré-especificado, fica claro por que sete das oito vacinas financiadas pelos EUA são vetoriais virais e candidatos genéticos.

Esses dois tipos estão em rápida movimentação no processo de desenvolvimento e, se comprovados bem-sucedidos nos ensaios clínicos da Fase III, têm alguma chance de cumprir o prazo de janeiro de 2021. No entanto, nenhuma vacina genética foi aprovada para uso humano, enquanto vacinas de vetores virais têm sido usadas em animais, mas ainda não foram determinadas como eficazes.

Para o Dr. Babak Javid, pesquisador principal da Tsinghua University School of Medicine, Pequim, e consultor em doenças infecciosas dos hospitais da Universidade de Cambridge, "as vacinas inativadas tendem a funcionar menos bem em idosos. O que não sabemos é se um candidato à vacina usando uma tecnologia que nunca foi implantada em uma vacina humana licenciada, é melhor ou pior do que as vacinas inativadas a esse respeito".

A CoronaVac, a vacina experimental chinesa aprovada pela Anvisa para ensaios clínicos da Fase III no Brasil, conduzidos pelo Instituto Butantan de São Paulo e envolvendo 9.000 voluntários de vários estados brasileiros, usa a tecnologia de vírus SARS-CoV-2 inteiro e inativado.

Fonte: frontliner.com.br

 

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