quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

HORÓSCOPO NORDESTINO: o preá


 
Fonte: Circulando por e-mail (internet).

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Falecimento do Professor Antônio Wilson Vasconcelos


Manifesto, com retardo, o meu profundo pesar pelo falecimento do Prof. Antônio Wilson Vasconcelos, ocorrido em Fortaleza na quarta-feira, dia 23 de dezembro de 2015, na antevéspera dos festejos natalinos, o que dificultou a tomada de conhecimento desse inditoso fato.
O Prof. Antônio Wilson Vasconcelos possuía graduação em Medicina e residência médica em Anatomia Patológica pela Universidade Federal do Ceará, mestrado em Patologia Humana pela Universidade Federal da Bahia, doutorado em Cytologie et Cytochimie pela Université Pierre et Marie Curie e pós-doutorado nessa mesma universidade francesa. Tinha experiência na área de Parasitologia, com ênfase em Protozoologia de Parasitos.
Antônio Wilson Vasconcelos era professor adjunto IV da Universidade Estadual do Ceará (UECE), desde 2002, lotado no Centro de Ciências da Saúde. Coordenava a disciplina Mecanismos de Agressão e Defesa do Curso de Medicina e ministrava a disciplina Patologia Geral do Curso de Enfermagem. Foi vice-coordenador do Curso de Medicina nas duas gestões em que eu estive à frente dessa coordenação na Uece.
O Prof. Antônio Wilson Vasconcelos era docente aposentado da Universidade Federal do Ceará, na qual lecionou durante trinta anos, e foi Coordenador do Núcleo de Medicina Tropical da Faculdade de Medicina e Vice-Coordenador da Pós-Graduação em Patologia da UFC.
Era viúvo da Profa. Isabel Alencar, com quem teve três filhos.
A missa de sétimo dia por sua alma acontecerá às 19h de hoje (30/12/15), na Igreja de N. Sra. das Graças, do Hospital Geral do Exército, situado na Av. Des. Moreira, 1.500 – Aldeota, Fortaleza-CE.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Professor do Curso de Medicina-UECE

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

HOMENAGEM A RONALDO DE ALBUQUERQUE RIBEIRO


Por Paulo Roberto Carvalho de Almeida (*)
A vida, em suas múltiplas faces, se faz prolífica em símbolo, nos infinitos grãos de areia, a escorrer por entre os dedos de todos os homens, de todas as épocas. E nos deixa a sensação da inutilidade de tentar retê-la, da impossibilidade de apreendê-la, principalmente de compreendê-la em sua fugacidade perene. O “herói de mil faces” de Campbell permeia o imaginário mitológico de incontáveis civilizações. Ele tem uma origem, uma trajetória e constrói um destino, com lutas, sacrifícios, prazer e sofrimento. O herói paga um preço, às vezes a própria vida, para no final atingir a redenção, o cume, a quase-perfeição. Um semi-deus que no final se humaniza, em sua mortalidade e enfim, torna-se mito. E os mitos, como disse Pessoa, podem não ser verdade, mas serem verdadeiros.
Assim sucedeu com Ronaldo Ribeiro, tornado mito em sua fugacidade, morto prematuramente, segundo creio, ou cremos. Assim se extinguiu, de repente, um meteoro gigantesco, que cresceu aos poucos no cenário científico local, nacional, mundial, iluminando quantos, em tantos caminhos que com ele cruzaram.
A civilização grega, como nossa essência primordial, cultural e filosófica, nos legou, entre tantos tesouros, uma rica mitologia. Nela a figura de Aquiles desponta em máxima magnitude. Filho da deusa do mar Tétis e do mortal Peleu, Aquiles, considerado “o mais valente dos gregos” adquiriu poderes quase imbatíveis ao ser banhado, logo que nasceu, por sua mãe, nas águas do rio Estige. Seu único ponto fraco residia em seu calcanhar, onde sua mãe segurou-o ao mergulhá-lo.
Como no mito grego, Ronaldo jamais abdicou de uma luta, não entregava os pontos e geralmente ganhava. Como o herói de Tróia, enfrentava os maiores obstáculos com a disposição de alguém muito mais jovem, temperado por uma vontade ferrenha de conquistar a verdade científica. Foi assim que me guiou em minha aventura através da ciência e me incentivou a trabalharmos juntos, o que muito me honra e orgulha. Quando Ronaldo me orientou na pós-graduação, o Prof. Livino Júnior, nosso amigo, brincava com ele, apelidou-o de “macrófago” por ter-me “fagocitado” para a Farmacologia, o Ronaldo ria às gargalhadas com esse apelido dado pelo Livino.
Diferente de Aquiles, seu ponto vulnerável estava mais acima, no coração. Coração que viveu apaixonadamente cada minuto, que vibrou com intensidade máxima em cada pequena ou grande descoberta, que comemorou a vida em sua cotidianidade festiva e explodiu em excessos barrocos a exuberância de sua mente e de sua verve nos relacionamentos humanos.
Ronaldo viveu como queria. E morreu como seria esperado. Como Aquiles, preferiu a vida intensa e curta a uma longevidade serena sem muitos fatos marcantes. De certa forma, morreu como quis, pesquisando, ensinando, estudando, aprendendo, viajando nos congressos, nas cidades e nas almas. É emblemático que tenha morrido durante um Congresso científico, depois de uma festa!
Não vi seu corpo, tal a multidão que se concentrou em torno de nossa despedida para ele. Mas talvez até eu não quisesse vê-lo. Para mim e para muitos, creio, Ronaldo será sempre a imagem do eterno menino, agitado, inquieto, discutindo sobre tudo, avesso a algumas regras absurdas, sempre disposto a estender a mão e que deixa um vazio imensurável em nossas vidas, nos seus amigos, a quem soube cativar.
Ronaldo estará presente conosco neste e noutros lugares, a lembrar que o tempo, o espaço, cabem dentro de nossas mentes e de nosso peito, a recordar que suas palavras, pensamentos e ações se multiplicarão nas aulas, nos laboratórios, nos congressos, nas pesquisas, nas festas e também nos momentos solitários de nossas reflexões e decisões em que nos desiludimos e nos reinventamos.
Em seu poema “Morte absoluta”, Manuel Bandeira indaga: “Mas que céu pode satisfazer teu sonho de céu? “Respondo: se céu houver e assim espero (embora duvido muito), Ronaldo estará brincando com as barbas de São Pedro, questionando “se é um mecanismo dos receptores Toll-like” ou “um caso para se tratar com o mesilato de Imatinib”. E assim ele viverá, querido, irreverente, enquanto houver memória, enquanto houver saudade. Eu poderia encerrar com uma frase sobre saudade de Da Costa e Silva, “Saudade, asa de dor do pensamento”, tão apreciada pelo Prof. Eilson Góes, nosso também querido e falecido mestre da Patologia, mas prefiro as palavras do próprio Eilson sobre a memória: “Então, a borboleta trêfega, adornada de mil nuances, fascinou-se pelos jardins da memória, repousando afinal…. ainda com um sopro de vida, que ressurgia ao cálido contacto de existências que se encontravam numa encruzilhada de destinos” . Assim estamos todos nós aqui, para fazer valer a memória nessa encruzilhada de destinos unidos pelo nosso amigo Ronaldo Ribeiro.
Obrigado por compartilharem este momento.
 (*) Médico patologista, Professor da Universidade Federal do Ceará.
Em Fortaleza, aos 12 de dezembro de 2015.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

DESPRENDIMENTO E POBREZA CRISTÃ

Por Francisco Fernandez Carvajal (*)

I. O EFETIVO DESPRENDIMENTO daquilo que somos e possuímos é necessário para seguirmos Jesus, para abrirmos a alma ao Senhor que passa e nos chama pelo nosso nome. Pelo contrário, o apego aos bens da terra fecha as portas a Cristo e fecha-nos as portas ao amor e ao entendimento daquilo que é o mais essencial na nossa vida: Qualquer um de vós que não renuncie a tudo o que possui não pode ser meu discípulo.
O nascimento de Jesus, como toda a sua vida, é um convite para que examinemos nestes dias a atitude do nosso coração em relação aos bens da terra. O Senhor, Unigênito do Pai, Redentor do mundo, não nasce num palácio, mas numa gruta; não numa grande cidade, mas numa aldeia perdida, em Belém. Não teve um berço, mas uma manjedoura. A fuga precipitada para o Egito foi para a Sagrada Família a experiência do exílio numa terra estranha, com poucos meios de subsistência além dos braços acostumados ao trabalho de José. Durante a sua vida pública, Jesus passará fome e não disporá de duas pequenas moedas de pouco valor para pagar o tributo do Templo. Ele próprio dirá que o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça. A morte na Cruz é a demonstração do seu supremo desprendimento. O Senhor quis conhecer o rigor da pobreza extrema – carência do necessário – especialmente nas horas mais importantes da sua vida.
A pobreza que o Senhor nos pede a todos não é sujeira, nem miséria, nem desleixo, nem preguiça. Essas coisas não são virtude. A pobreza que o cristão tem que viver deve ser uma pobreza ligada ao trabalho, ao cuidado da casa e dos instrumentos de trabalho, à ajuda aos outros, à sobriedade de vida. Por isso já se disse que “foram sempre o melhor exemplo de pobreza esses pais e essas mães de família numerosa e pobre que se desfazem pelos filhos e que os mantêm com o seu esforço e constância – muitas vezes sem voz para dizer a ninguém que passam necessidades –, criando um lar alegre onde todos aprendem a amar, a servir, a trabalhar”.
Quando se dispõe de recursos de fortuna, também é possível viver como “esses pais e essas mães de família numerosa e pobre” e usar desses meios materiais para fazer o bem, porque “a pobreza que Jesus declarou bem-aventurada é aquela que se baseia no desprendimento, na confiança em Deus, na sobriedade e na disposição de compartilhar com os outros”.
Para vivermos o desprendimento dos bens, no meio da onda de materialismo que parece submergir a humanidade, temos que olhar para o nosso Modelo, Jesus Cristo, que se fez pobre por amor de nós, para que vós fôsseis ricos pela sua pobreza. 

II. OS POBRES a quem o Senhor promete o Reino dos céus não são todos os que padecem necessidade, mas aqueles que, tendo ou não bens materiais, não se sentem presos a eles. É uma pobreza segundo o espírito, que deve ser vivida em qualquer circunstância da vida. Eu sei viver na abundância – dizia São Paulo – e sei viver na fome e na escassez.
O homem pode orientar a sua vida para Deus, usando de todas as coisas materiais como meios, ou pode ter como fim o dinheiro e a riqueza nas suas múltiplas manifestações: desejos de luxo, de comodidade desmedida, ambição, cobiça... São dois fins inconciliáveis: Não se pode servir a dois senhores. O amor à riqueza desaloja violentamente o amor a Deus: não é possível que Deus possa habitar um coração que já está cheio de outro amor. A palavra divina fica afogada no coração do rico, como a semente que cai entre espinhos. Por isso não nos surpreende ouvir o Senhor ensinar que é mais fácil a um camelo entrar pelo buraco de uma agulha do que a um rico entrar no Reino dos céus. E como é fácil, se não se está vigilante, que o espírito de riqueza invada o coração!
A Igreja tem-nos recordado sempre, desde o seu início até os nossos dias, que o cristão deve estar de sobreaviso quanto ao modo de utilizar os bens materiais, e “chama a atenção dos seus filhos para que cuidem de orientar retamente os seus afetos, a fim de que não aconteça que o uso das coisas do mundo e o apego às riquezas, contrário ao espírito de pobreza evangélica, os impeça de alcançar a caridade perfeita. Lembra-lhes a advertência do Apóstolo: Os que usam deste mundo não se detenham nele, porque os atrativos deste mundo passam (cfr. 1 Cor 7, 31)”. Quem se apega às coisas da terra não só perverte o seu uso reto e destrói a ordem estabelecida por Deus, mas, além disso, fica com a alma insatisfeita, prisioneira desses bens materiais que a tornam incapaz de amar verdadeiramente a Deus.
O estilo de vida cristão exige uma mudança radical de atitude em relação aos bens terrenos: estes devem ser procurados e usados não como se fossem um fim, mas enquanto meios para servir a Deus. Como meios que são, não merecem que se ponha neles o coração; são outros os bens autênticos.
Devemos recordar na nossa oração que o desprendimento exige sacrifício. Se o desprendimento não custa, é porque não é bem vivido. E manifesta-se frequentemente em saber prescindir do supérfluo, em lutar contra a tendência desordenada para o bem-estar e para a comodidade, em evitar caprichos, em renunciar ao luxo e aos gastos feitos por pura vaidade, etc.
É tão importante esta virtude para um cristão, que bem se pode dizer que “quem não ama e vive a virtude da pobreza não tem o espírito de Cristo. E isto é válido para todos: tanto para o anacoreta que se retira para o deserto, como para o simples cristão que vive no meio da sociedade humana, usando dos recursos deste mundo ou carecendo de muitos deles...” 

III. O CORAÇÃO HUMANO tende a buscar os bens da terra de uma maneira desmedida; se não empreender, pois, uma luta real por viver desprendido das coisas, pode-se afirmar que, de modo mais ou menos consciente, colocou o seu fim nas coisas da terra. E o cristão não deve esquecer nunca que caminha para Deus.
Devemos, portanto, examinar-nos com frequência, perguntando-nos se amamos a virtude da pobreza e se a vivemos; se cuidamos de não cair no excesso de conforto ou num aburguesamento que é incompatível com a nossa condição de discípulos de Cristo; se estamos desprendidos das coisas da terra; se as possuímos, enfim, como meios para fazer o bem e viver cada vez mais perto de Deus.
Podemos e devemos sempre ser comedidos nas necessidades pessoais, vigiando a tendência para criar falsas necessidades e sendo generosos na esmola e na ajuda a obras boas. Devemos cuidar com esmero das coisas do nosso lar, bem como de todo o tipo de bens que nos venham parar às mãos, pois, na realidade, só os possuímos como que em depósito, para administrá-los bem. “Pobreza é o verdadeiro desprendimento das coisas terrenas, é enfrentar com alegria as incomodidades, se as há, ou a falta de meios [...]. Viver pensando nos outros, usar as coisas de tal maneira que haja algo para oferecer aos outros – tudo isso são dimensões da pobreza que garantem o desprendimento efetivo”.
É desta e de muitas outras formas que se manifesta o nosso desejo de não ter o coração posto nas riquezas, mesmo quando, pela profissão que exercemos, dispomos para nosso uso pessoal de outros bens. A sobriedade de que dermos provas então será o bom aroma de Cristo, que deve acompanhar sempre a vida de um cristão.
Dirigindo-se a homens e mulheres que se esforçam por alcançar a santidade no meio do mundo – comerciantes, professores universitários, camponeses, empregados de escritório, pais e mães de família – dizia o Bem-aventurado Josemaría Escrivá: “Todo o cristão corrente tem que tornar compatíveis na sua vida dois aspectos que, à primeira vista, podem parecer contraditórios: pobreza real, que se note e que se toque – feita de coisas concretas –, que seja uma profissão de fé em Deus, uma manifestação de que o coração não se satisfaz com coisas criadas, mas aspira ao Criador, desejando encher-se do amor de Deus e depois dar a todos desse mesmo amor; e, ao mesmo tempo, ser mais um entre os seus irmãos os homens, de cuja vida participa, com quem se alegra, com quem colabora, amando o mundo e todas as coisas criadas, a fim de resolver os problemas da vida humana e estabelecer o ambiente espiritual e material que facilite o desenvolvimento das pessoas e das comunidades. Conseguir a síntese entre esses dois aspectos é – em boa parte – questão pessoal, questão de vida interior, para julgar em cada momento, para encontrar em cada caso o que Deus pede”.
Se lutarmos eficazmente por viver desprendidos do que temos e usamos, o Senhor encontrará o nosso coração limpo e completamente aberto quando vier novamente a nós neste Natal. Não acontecerá com a nossa alma o que aconteceu naquela pousada: estava cheia e não tinham lugar para o Senhor.
(*) Padre, teólogo e escritor espanhol.
Fonte: Meditação diária de Falar com Deus.

domingo, 27 de dezembro de 2015

A FERTILIDADE GALINÁCEA

Um criador de galinhas vai ao bar local, senta-se ao lado de uma mulher e pede uma taça de champanhe.
A mulher comenta:
Que tal isso? Eu também pedi uma taça de champanhe.
Que coincidência! – diz o fazendeiro. Hoje é um dia especial para mim. Eu estou celebrando.
Hoje é um dia especial para mim também! – diz a mulher. Eu também estou celebrando.
Que coincidência! – diz o fazendeiro.
Quando eles ‘batem’ as taças, ele complementa:
O que você está celebrando?
Eu e meu marido vínhamos tentando ter um filho e hoje o meu ginecologista me disse que estou grávida.
Que coincidência! – diz o homem. Sou criador de galinhas e por anos as minhas galinhas não eram férteis. Mas hoje elas estão pondo ovos fertilizados.
Isto é ótimo – diz a mulher. Como suas galinhas ficaram férteis?
Eu usei um galo diferente – diz ele.
A mulher sorri, brinda novamente e diz:
Mas que coincidência!!!
Fonte: Internet (circulando por e-mail). Sem autoria definida.

Casamento de Diana & João Victor


Ocorreu, na noite de ontem (26/12/2015), na Igreja do Cristo Rei, em Fortaleza, o casamento do médico João Victor Sales, filho de Veridiano e Francisca Vânia Sales, e da minha dileta sobrinha, a psicóloga Diana Gurgel, filha de Luciano e Francisca Elsa Gurgel.
Após a cerimônia religiosa, as centenas de convidados presentes foram anfitrionadas no Teca’s Buffet, em uma muito bem cuidada recepção festiva.
O evento propiciou-me a satisfação de ver reunidos dez filhos e a maior parte da descendência de Luiz Carlos da Silva e Elda Gurgel e Silva.
Desejo ao jovem casal uma duradoura vida de amor mútuo e repleta de harmonia e felicidades.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva 

sábado, 26 de dezembro de 2015

À PORTA DO INFERNO


Por Marcelo Gurgel Carlos da Silva
O Prof. Livino Pinheiro ministrava uma aula no anfiteatro do Departamento de Patologia e Medicina Legal da UFC, com uso de projetor de slides, o que levava a fechar portas e janelas, evitando qualquer facho de luminosidade, para não prejudicar a qualidade da projeção.
Com a exposição em franco andamento, um acadêmico retardatário adentra no anfiteatro, no intervalo entre um e outro slide, quando o recinto estava um breu, quedando-se estupefato.
Nesse instante, já com pouco de iluminação da porta entreaberta, o insigne mestre, apoiando-se em Dante Alighieri, pronuncia a célebre sentença disposta na porta do Inferno:
– “Lasciate qui ogni speranza, voi ch’entrate”! – surpreendendo a toda audiência.
O intruso extemporâneo, sem entender o que ouvira, retrucou:
– Como é que é, professor! O que isso significa? Desculpe-me pela minha ignorância, mas eu não sei nada de latim.
– Isso não é latim, meu filho. Eu apenas apropriei-me de um verso do Canto III da Divina Comédia para traduzir a sua inexcedível surpresa.
– Ainda bem, amado mestre! Eu pensei que o senhor falava da minha mãe – arrematou o engraçadinho.
E aí não deu mais conter as gargalhadas estudantis.
Fonte: SILVA, M.G.C. da. À porta do inferno. In: SOBRAMES – CEARÁ. Ritmo literário. Fortaleza: Sobrames-CE/Expressão, 2015. 304p. p.199.
* Publicado, originalmente, In: SILVA, M.G.C. da. Contando Causos: de médicos e de mestres. Fortaleza: Expressão, 2011.

DESPACHO JUDICIAL POUCO COMUM


Despacho inusitado de um juiz em uma sentença judicial envolvendo dois pobres coitados que furtaram duas melancias.

A Escola Nacional de Magistratura incluiu em seu banco de sentenças, o despacho pouco comum do juiz Rafael Gonçalves de Paula, da 3ª Vara Criminal da Comarca de Palmas, em Tocantins. A entidade considerou de bom senso a decisão de seu associado, mandando soltar SR e HR, detidos sob acusação de furtarem duas melancias:
DESPACHO JUDICIAL...
DECISÃO PROFERIDA PELO JUIZ RAFAEL GONÇALVES DE PAULA NOS AUTOS DO PROC Nº 124/03 - 3ª Vara Criminal da Comarca de Palmas/TO:
DECISÃO
Trata-se de auto de prisão em flagrante de SR e HR, que foram detidos em virtude do suposto furto de duas (2) melancias. Instado a se manifestar, o Sr. Promotor de Justiça opinou pela manutenção dos indiciados na prisão.
Para conceder a liberdade aos indiciados, eu poderia invocar inúmeros fundamentos: os ensinamentos de Jesus Cristo, Buda e Gandhi, o Direito Natural, o princípio da insignificância ou bagatela, o princípio da intervenção mínima, os princípios do chamado Direito alternativo, o furto famélico, a injustiça da prisão de um lavrador e de um auxiliar de serviços gerais em contraposição à liberdade dos engravatados e dos políticos do mensalão deste governo, que sonegam milhões dos cofres públicos, o risco de se colocar os indiciados na Universidade do Crime (o sistema penitenciário nacional)...
Poderia sustentar que duas melancias não enriquecem nem empobrecem ninguém. Poderia aproveitar para fazer um discurso contra a situação econômica brasileira, que mantém 95% da população sobrevivendo com o mínimo necessário apesar da promessa deste presidente que muito fala, nada sabe e pouco faz.
Poderia brandir minha ira contra os neoliberais, o consenso de Washington, a cartilha demagógica da esquerda, a utopia do socialismo, a colonização europeia....
Poderia dizer que George Bush joga bilhões de dólares em bombas na cabeça dos iraquianos, enquanto bilhões de seres humanos passam fome pela Terra - e aí, cadê a Justiça nesse mundo?
Poderia mesmo admitir minha mediocridade por não saber argumentar diante de tamanha obviedade.
Tantas são as possibilidades que ousarei agir em total desprezo às normas técnicas: não vou apontar nenhum desses fundamentos como razão de decidir.
Simplesmente mandarei soltar os indiciados. Quem quiser que escolha o motivo.
Expeçam-se os alvarás.
Intimem-se.
Rafael Gonçalves de Paula
Juiz de Direito
3ª Vara Criminal da Comarca de Palmas/TO
Fonte: Internet.
Nota do Editor do Blog: Esse despacho circulou por e-mails em 2010, mas deve ser mais antigo pelas referências históricas que revela.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

UMA LINDA HISTORIA DE FÉ

Esta é uma história verídica, narrada por John Powell, S.J., professor de Teologia da Fé, da Loyola University de Chicago, EUA.

 “Um dia, há muitos anos atrás, eu estava de pé na porta da sala, esperando meus alunos entrarem para nosso primeiro dia de aula do semestre. Foi aí que vi Tom pela primeira vez. Não consegui evitar que meus olhos piscassem de espanto. Ele estava penteando seus cabelos longos e muito loiros que batiam uns vinte centímetros abaixo dos ombros. Eu nunca vira um rapaz com cabelos tão longos. Acho que a moda estava apenas começando nessa época. Mesmo sabendo que o que importava não é o que está fora, mas o que vai dentro da cabeça, naquele dia eu fiquei um pouco chocado. Imediatamente classifiquei Tom com um “E” de estranho... Muito estranho!
Tommy acabou se revelando o “ateísta de plantão” do meu curso de Teologia da Fé. Constantemente, fazia objeções ou questionava sobre a possibilidade de existir um Deus-Pai que nos amasse incondicionalmente.
Convivemos em relativa paz durante o semestre, embora eu tenha que admitir que às vezes ele era bastante incômodo! No fim do curso, ele se aproximou e me perguntou, num tom ligeiramente irônico:
– O senhor acredita mesmo que eu possa encontrar Deus algum dia?
Resolvi usar uma terapia de choque:
– Não, eu não acredito! – respondi.
– Ah! – ele respondeu – Pensei que era este o produto que o senhor esteve tentando nos vender nos últimos meses.
Eu deixei que ele se afastasse um pouco e falei, bem alto:
– Eu não acredito que você consiga encontrar Deus, mas tenho absoluta certeza de que Ele o encontrará um dia.
Ele deu de ombros e foi embora da minha sala e da minha vida.
Algum tempo depois soube que Tommy tinha se formado e, em seguida, recebi uma notícia triste: ele estava com um câncer terminal. E antes que eu resolvesse se ia à sua procura, ele veio me ver. Quando entrou na minha sala, percebi que seu físico tinha sido devastado pela doença e que os cabelos longos não existiam mais, devido à quimioterapia. Entretanto, seus olhos estavam brilhantes e sua voz era firme, bem diferente daquele garoto que conheci.
– Tommy, tenho pensado em você. Ouvi dizer que está doente! – falei.
– Ah, é verdade, estou seriamente doente. Tenho câncer nos dois pulmões. É uma questão de semanas, agora. Você consegue conversar bem a esse respeito?
– Claro, o que o senhor gostaria de saber? Como é ter apenas vinte e quatro anos e saber que está morrendo? Acho que poderia ser pior.
– Como assim?
– Bem, eu poderia ter cinqüenta anos e não ter noção de ideais, ou ter sessenta anos e pensar que bebida, mulheres e dinheiro são as coisas mais “importantes” da vida.
 Lembrei-me da classificação que atribuí a ele:
– “E” de “estranho” (parece que as pessoas que recebem classificações desse tipo, são enviadas de volta por Deus para que eu possa repensar o assunto).
– Mas a razão pela qual eu realmente vim vê-lo – disse Tom – foi a frase que o senhor me disse no último dia de aula. (Ele se lembrava...)
Tom continuou: – Eu lhe perguntei se o senhor acreditava que eu encontraria Deus algum dia, e o senhor respondeu ‘Não’, o que me surpreendeu. Em seguida, o senhor disse, “mas Ele o encontrará”.
– Eu pensei um bocado a respeito daquela frase, embora na época não estivesse muito interessado no assunto. Mas quando os médicos removeram um nódulo da minha virilha e me disseram que se tratava de um tumor maligno, comecei a pensar com mais seriedade sobre a idéia de procurar Deus. E quando a doença se espalhou por outros órgãos, eu comecei realmente a dar murros desesperados nas portas de bronze do paraíso. Mas Deus não apareceu. De fato, nada aconteceu.
– O senhor já tentou fazer alguma coisa por um longo período, sem sucesso? A gente fica cansado, desanimado. Um dia, ao invés de continuar atirando apelos por cima do muro alto atrás de onde Deus poderia estar... Ou não... Eu desisti, simplesmente. Decidi que de fato não estava me importando... com Deus, com uma possível vida eterna ou qualquer coisa parecida. E decidi utilizar o tempo que me restava fazendo alguma coisa mais proveitosa. Pensei no senhor e nas suas aulas e me lembrei de uma coisa que o senhor havia dito noutra ocasião: “A tristeza mais profunda, sem remédio, é passar pela vida sem amar. Mas é quase tão triste passar pela vida e deixar este mundo sem jamais ter dito às pessoas queridas o quanto você as amou.”
– Então resolvi começar pela pessoa mais difícil: meu pai. Ele estava lendo o jornal quando me aproximei dele: – Papai... Eu disse. Sim, o que é? – ele perguntou, sem baixar o jornal. Papai, eu gostaria de conversar com você. Então fale. É um assunto muito importante! O jornal desceu alguns centímetros, vagarosamente.
– O que é? Papai, eu o amo muito. Só queria que você soubesse disso. O jornal escorregou para o chão e meu pai fez duas coisas que eu jamais havia visto: Ele chorou e me abraçou com força. E conversamos durante toda a noite, embora ele tivesse que ir trabalhar na manha seguinte. Foi tão bom poder me sentar junto do meu pai, conversar, ver suas lágrimas, sentir seu abraço, ouvi-lo dizer que também me amava!... Foi uma emoção indescritível!
– Foi mais fácil com minha mãe e com meu irmão mais novo. Eles choraram também e nós nos abraçamos e falamos coisas realmente boas uns para os outros. Falamos sobre as coisas que tínhamos mantido em segredo por tantos anos, e que era tão bom partilhar. Só lamentei uma coisa: que eu tivesse desperdiçado tanto tempo, me privando de momentos tão especiais.
– Naquela hora eu estava apenas começando a me abrir com as pessoas que amava. Parece que Deus não se deixa impressionar. Ele age a Seu modo e a Seu tempo. Mas o que importa é que Ele estava lá. Ele me encontrou... O senhor estava certo. Ele me encontrou mesmo depois de eu ter desistido de procurar por Ele.
– Tommy – eu disse, bastante comovido – o que você está dizendo é muito mais importante e muito mais universal do que você pode imaginar. Para mim, pelo menos, você está dizendo que a maneira certa de encontrar Deus, não é fazendo Dele um bem pessoal, uma solução para os nossos problemas ou um consolo em tempos difíceis, mas sim se tornando disponível para o verdadeiro Amor. O apóstolo João disse isto: “Deus é Amor e aquele que vive no Amor, vive com Deus e Deus vive com ele”.
– Tom, posso pedir-lhe um favor? Você sabe que me deu bastante trabalho quando foi meu aluno. Mas (aos risos) agora você pode me compensar por aquilo. Você viria à minha aula de Teologia da Fé e contaria aos meus alunos o que você acabou de me contar? Se eu lhes contasse não seria a mesma coisa, não tocaria tão fundo neles!
– Oooh!... Eu me preparei para vir vê-lo, mas não sei se estou preparado para enfrentar seus alunos.
– Então, pense nisto. Se você se sentir preparado, telefone para mim.
Alguns dias mais tarde, Tom telefonou e disse que falaria com a minha turma. Ele queria fazer aquilo por Deus e por mim. Então marcamos uma data.
Mas, o dia chegou... E ele não pode ir. Ele tinha outro encontro, muito mais importante do que aquele. Ele se foi... Tom havia dado o grande passo para a verdadeira realidade. Ele foi ao encontro de uma nova vida e de novos desafios. Antes de ele morrer, ainda conversamos uma vez. Não vou ter condições de falar com sua turma. – ele disse. Eu sei, Tom. O senhor falaria com eles por mim? O senhor falaria... Com todo mundo, por mim? Vou falar, Tom. Vou falar com todo mundo. Vou fazer o melhor que puder.
E a você Tommy, onde quer que esteja, aí está: eu falei com todo mundo... Do melhor modo que consegui. E espero que as pessoas que tiveram conhecimento desta história, possam contá-la aos seus amigos, para que mais gente possa conhecê-la...”
Não diga pra Deus que você tem um grande problema, diga pro seu problema que você tem um grande Deus”.
Fonte: Internet (circulando por e-mail).

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

ADESTE FIDELES

Pedro Henrique Saraiva Leão (*)
Cântico religioso natalino composto por John Reading (1677-1746), organista em Winchester, Inglaterra: “Vinde, fiéis”. Vinde adorar o Deus menino, a salvo dos Herodes e demais demos, ancorado na praia. Vinde juntar-se aos refugiados a palmilhar o chão, da Síria aos Inhamuns, buscando a salvação. É o povo refazendo as trilhas dos missionários, hoje infestadas por mercenários e assoldadados outros, a serviço dos anticristos.
“Adeste Fideles”, vinde integrar esta turma de sobreviventes, orar pelos que nasceram para não ser, e morreram de fome, de frio, no mar, ou na lama de Mariana. Ignoremos as vozes dos algozes e ouçamos os vagidos vindos daquela manjedoura. Fechai-lhes, Pai, os ouvidos ao ribombar das metralhadoras daqueles que fazem da morte um meio de vida. Deploremos o que vaticinou (profetizou) o filósofo genebrês Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) em seu “Discurso sobre Ciências e Artes”: “quanto mais civilizados ficamos, mais corruptos nos tornamos”. E bárbaros! Tempos insanos estes.
Dias da ira, irônicos tempos. Assaltantes matam cardiologista com bala no coração, alpinista morre abalroado em rodovia. Estaríamos assistindo a um ensaio de outro apocalipse? Sonho, pesadelo ou realidade? Mas, como apregoam os africanos, a água da chuva não é tão preta como aparentam as nuvens. Festejemos o infante Jesus, em mais este Natal nosso, das luzes, dos sinos, nos presépios de palha e nos berços dourados, nas senzalas e nas casas grandes.
Natal das juras veladas, promessas não cumpridas, palavras que esquecemos de dizer, graças obtidas sem nosso reconhecimento. Penitenciemo-nos. Nessa noite, na consoada (ceia natalina ou de Ano Novo) recordemos quem partiu sem se despedir. Acorram! É tempo de colher a nova safra de esperança. Natal é Cristo de novo, um eterno templo de fé. Contrariemos o ódio e uma das “Odes” (1,1,8) do poeta e filósofo romano Quintus Horatius Flaccus (65 – 8 a.C.) em suas “Carmina”: “Carpe diem, quam minimum crédula postero”, i.e., aproveita o dia (ou o momento fugaz) confiando o mínimo no futuro.
Esqueçamos este Horácio e pensemos com confiança. O Natal está dobrando a esquina. Exultemos, ao jeito de crianças esperando Papai Noel. O essencial é a espera. O resto é só alegria. Acreditemos no futuro que a Deus pertence, porquanto ele é nosso também.
Aleluia! Feliz Natal!
(*) Professor Emérito da UFC. Titular das Academias Cearense de Letras, de Medicina e de Médicos Escritores.
Fonte: O Povo, Opinião, de 9/12/2015. p.8.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

LEMBRANDO DOM ALOÍSIO: oito anos da sua partida deste mundo menor


Há oito anos, deixou o nosso convívio sua eminência Dom Aloísio Lorscheider, que foi por mais de vinte e dois anos arcebispo metropolita de Fortaleza.
Foi da nossa responsabilidade a proposta da concessão do diploma de doutor honoris causa, para Dom Aloísio, apresentada ao Conselho Universitário da Universidade Estadual do Ceará (UECE), e aprovada por unanimidade entre os membros do egrégio conselho.
Por ocasião da outorga dessa honraria, Dom Aloísio revelou à audiência que aquela láurea o tocava, no íntimo do coração. Além de ter sido o proponente, competiu-nos a honrosa atribuição de saudar o prelado católico, em nome da comunidade universitária.
A memória de Dom Lorscheider é referenciada por diversos biógrafos, dentre os quais nos inserimos com dois livros que explicitam a trajetória de vida desse príncipe eclesial.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Médico integrante da SMSL

PARTICIPAÇÃO NO LANÇAMENTO DE LIVRO SOBRE PAULA NEI


Jader Soares autografa, para Marcelo Gurgel, o seu livro contendo a biografia do primeiro humorista brasileiro
No sábado passado (19/12/15), participei do lançamento do livro “Paula Nei - o primeiro humorista brasileiro”, de autoria do estudioso do humor Jader Soares, mais conhecido por seu nome artístico “Zebrinha”, que, diferentemente, da grande maioria dos esculachados humoristas cearenses, faz um humor sério e inteligente, bem distante das baixarias tão identificadas nos espetáculos de humor produzidos no Ceará.
O evento aconteceu dentro da programação da I Festa Literária do Humor Cearense, no Teatro Chico Anysio do Museu do Humor Cearense, equipamento cultural criado e dirigido por Jader Soares, que presta bons serviços à arte e à cultura locais.

Geovani de Oliveira, ladeado por Jader Soares e Marcelo Gurgel, apresenta o seu livro “O Direito de Rir VI”
Na ocasião, também foi lançado o livro “O Direito de Rir VI”, de autoria de Geovani de Oliveira, advogado militante em Iguatu-CE, que atua como humorista e cordelista, e responsável pela edição de uma série de livros de humor.
Marcelo Gurgel, observado por Jader Soares e Geovani de Oliveira, fala informalmente no lançamento de “Paula Nei - o primeiro humorista brasileiro”
Durante o evento, de modo não esperado, fui convidado por Jader Soares a subir no palco para prestar um depoimento sobre a temática do humor, o que me permitiu falar sobre obras de humor e de contar alguns causos relacionados a Iguatu.
Para deleite do leitor, o livro sobre Paula Nei, com suas oitenta páginas de biografia e passagens hilárias do perfilado, pode ser lido e apreciado rapidamente, o que fiz com muito gosto.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Da Academia Cearense de Médicos Escritores

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

SAÚDE NO LIMITE


João Brainer Clares de Andrade (*)

"Estamos no maior hospital estadual do Ceará, que definha pela inércia administrativa do Governo Estadual"
“Passamos do limite!” - disse o irmão da paciente de 45 anos, vindo de diversos locais pedindo ajuda. O irmão exclamava que ‘ninguém’ havia verificado a pressão dela por horas, que ‘ninguém’ havia ‘conseguido’ uma maca para ela, exausto e confuso com o adoecimento da irmã. Terminando minhas 36 horas seguidas no mesmo hospital, não consegui esconder minha revolta, e disse:
 “Isso! Passamos! Estamos no maior hospital público estadual do Ceará, que, no entanto, definha pela inércia administrativa do Governo Estadual. Seja ou não por falta de repasses do Governo Federal, não houve priorização do custeio da saúde. Pessoas morrem aos montes todos os dias, porque falta tudo! Até os profissionais estão escassos: técnicos de enfermagem estão há meses sem receber salário; muitos faltam porque não conseguem pagar sequer o transporte. Dezenas de cirurgias são desmarcadas todas as semanas porque faltam itens como fios cirúrgicos! Cirurgiões estão comprando do próprio bolso esses fios para não permitir que pacientes passem ainda mais tempo nos corredores. Eu mesmo, inclusive, já comprei remédios e luvas. Sim, já precisei comprar caixa de luva por R$ 22 porque essa faltava no maior hospital público do Ceará! Certa noite, foram 13 óbitos somente aqui nesta emergência. Boa parte, talvez quase todos, em condições potencialmente reversíveis, se não fossem a falta de antibióticos, leitos de UTI, cateteres de hemodiálise etc. Sim, um material de pouco menos de R$ 70 poderia ter salvado a vida de vários pacientes. Veja a que limite chegamos! Veja o quanto vale uma vida para o governador do estado do Ceará!” – exclamei quase a um único fôlego.
Visivelmente emocionado e cansado por brigar contra um inimigo que prefere culpar servidores a reconhecer que não prioriza a saúde, continuei:
 “Estamos vivendo o pior dos tempos! No mesmo momento que profissionais se mantêm aqui, sob baixos e atrasados salários, por acreditarem que ainda podem fazer diferença na vida das pessoas, também entramos em estafa. Já nos resta pouca força! Não aguentamos mais ver gente morrendo! Não aguento mais preencher declaração de óbito de pacientes, cujas famílias são enganadas com os discursos do governador ou notas da secretaria de saúde de que nada está faltando, de que todas as medidas estão sendo tomadas. Mentira.”
Por fim, com a voz já trêmula, disse:
“O senhor tem razão: a saúde do Ceará chegou ao seu pior limite!”
(*) Médico. Residente de Neurologia do HGF.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 15/12/2015. Opinião. p.11.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Fosfoetanolamina é uma fantasia que mais fere do que ajuda


Por Noam Pondé

Especial para o UOL
A fosfoetanolamina se tornou nos últimos meses um dos mais frequentes assuntos discutidos entre os profissionais que trabalham com oncologia. Apesar dos avanços no tratamento do câncer e de que pacientes curados tenham se tornado comuns nos consultórios, a triste realidade é que o câncer ainda causa muitas mortes e muito sofrimento. Sofrem os pacientes e todos que os cercam – familiares, amigos e profissionais da saúde. Como oncologista, poucas situações são mais desafiadoras do que lidar com um paciente ou uma família em desespero.
Quando o câncer entra em nossas vidas, queremos bani-lo, temos a esperança que tudo volte a ser como antes e relutamos a aceitar que isso nem sempre é possível. Diante desta realidade, todos nós fazemos uma escolha, consciente ou inconscientemente: aceitamos a realidade – mesmo que aos poucos– e construímos novas formas de esperança ou negamos a realidade e deixamos que a esperança se transforme em fantasia. O câncer é impiedoso com fantasias, e, inevitavelmente, elas são quebradas, para o enorme sofrimento dos que as construíram. Todos os profissionais da oncologia já presenciaram esse triste processo, e, frequentemente, o tratamento do tumor é mais simples do que o tratamento das fantasias que ele provoca.
É da fantasia que gera a profusão de remédios milagrosos e terapias alternativas que prometem a cura do câncer. Todo oncologista aprende a conviver, tolerar e, por vezes, até respeitar práticas alternativas – a ponto de algumas delas, modernamente serem integradas à prática, após estudos sobre sua eficácia e segurança. Mas, em algumas situações, especialmente quando o manto da ciência é usado para encobrir o pensamento mágico, a convivência entre oncologia e terapia alternativa se torna difícil. A fosfoetanolamina é um destes casos.
O problema da comunidade científica não é, como vem sendo alegado pelos "pesquisadores" envolvidos na exposição de seres humanos de maneira irregular a uma substância experimental, em interesses financeiros, falta de apreço pelo português ou pelo Brasil, ou mesmo falta de empatia pelo sofrimento dos pacientes. São questionamentos relevantes de ordem ética, científica e a preocupação com as consequências para pacientes e para o SUS.
Como falar em ética e regras em pesquisa quando pessoas estão sofrendo e morrendo? Será que não deveríamos tomar medidas excepcionais quando pacientes estão desesperados? É especialmente por respeitar a solenidade desta situação tão comum que não devemos tomar medidas excepcionais e sim seguir as regras que garantem que não vamos adicionar mais sofrimento a essa situação. Pacientes e familiares têm o direito de se desesperar, já médicos e pesquisadores, não.
No passado, cientistas inescrupulosos usaram das mais diversas formas o poder que o desespero e a falta de informação de pacientes conferem para realizarem seu desejo por fama, por respeito e até por dinheiro. Escândalos como os experimentos nazistas e o estudo de sífilis em Tuskegee levaram governos e pesquisadores a perceberem que a ciência, descolada do respeito à autonomia do paciente e da honestidade, pode cometer crimes graves. Foi construído um sistema para impedir que isso se repetisse.
Pacientes devem saber exatamente o potencial da substância em estudo. Devem ser livres para entrar e sair de estudos e nunca podem ser forçados ou manipulados. A transparência deve ser total. Dados devem publicados, avaliados, hipóteses testadas repetidamente por diferentes grupos.
Cientistas sérios apresentam suas conclusões e suas dúvidas em congressos na frente de milhares de colegas que estão lá para aprender e para questionar cada detalhe. Dados referentes a centenas ou milhares de pacientes são necessários antes de declarar uma substância eficaz. Apelos emocionais não são lançados para apoiar dados –pois emoções não apoiam dados e sim colocam em questão sua qualidade e até sua própria existência. Do ponto de vista ético, a fosfoetanolamina não pode ser considerada um remédio, pois ainda não passou por todo esse processo.
A prática clínica e a pesquisa em biologia celular nos mostram todos os dias o adversário que enfrentamos. Drogas que no laboratório parecem funcionar e matam células cancerígenas podem não ser eficazes quando aplicadas ao paciente. Drogas que são eficazes, muitas vezes, deixam de ser para um paciente, pois o tumor se adapta, evolui e passa a resistir a elas. A célula cancerígena é flexível e adaptável e pode escapar de um único remédio de muitas maneiras diferentes.
Portanto, do ponto de vista científico, está claro que um remédio nunca será "a cura do câncer". As declarações sobre a polivalência da fosfoetanolamina, que age supostamente sobre qualquer tumor e em qualquer cenário clínico (seja tumor localizado ou disseminado) não fazem sentido do ponto de vista científico. Inibir o crescimento de células em laboratórios é uma coisa, em seres humanos é outra.
Não são só pessoas que auxiliam o progresso da oncologia, mas também instituições – hospitais, universidades, a indústria farmacêutica (que é um aliado fundamental e não um adversário, como muitos imaginam) e agências reguladoras. No Brasil, esta agência se chama Anvisa. Embora muitas vezes seus processos sejam por demais lentos, seu trabalho – em essência declarar uma droga como tratamento para uma doença no Brasil – exige cuidado, aderência absoluta às evidencias e liberdade de ação.
Pressão por autorização de drogas sem as evidências adequadas, ou pior, de liberações "extraordinárias" por pretensas razões humanitárias, seja esta pressão oriunda de setores da sociedade, ou mais grave ainda, de políticos com cargos públicos, é inaceitável. Uma universidade ser obrigada a fornecer uma substância sem valor científico comprovado pode ser o primeiro passo para o SUS ter que custear qualquer forma de terapia alternativa.
Como oncologista, eu rejeito a fosfoetanolamina como forma de tratamento científico para o câncer e não a indicaria em nenhuma situação. Isso pode mudar, se ela for eficaz em testes adequados e conduzidos de maneira ética e sem pressão externa sobre os pesquisadores. Mas não mudará a minha convicção de que fantasias ferem mais do que ajudam e de que, embora os pacientes possam fazer uso de seu livre arbítrio e usar a fosfoetanolamina de maneira independente, médicos, pesquisadores e governantes têm a responsabilidade de agir dentro dos limites da realidade e nunca estimularem fantasias que só podem terminar por causar mais sofrimento.
Fonte: Do UOL Notícias, de 15/12/2015.

domingo, 20 de dezembro de 2015

O HOMEM DE UM LIVRO

Por Marcelo Gurgel Carlos da Silva
O Prof. Livino Pinheiro, em suas preleções, apreciava alertar os alunos sobre o “perigo do homem de um livro só”. Essa sentença, originalmente de Santo Tomás de Aquino, em latim: “Homo unius libri timeo” aplicava-se bem a esquerdistas doutrinados, exclusivamente, na leitura de “Das Kapital”, de Karl Marx, nos anos setenta, e à juventude hitlerista, anestesiada pelas ideias de Adolf Hitler, contidas em “Mein Kampft”, na década de trinta, na Alemanha nazista.
Hoje, esse perigo está presente no fundamentalismo religioso: tanto por parte de cristãos, dos que fazem da Bíblia a fonte única da verdade, como de muçulmanos, que usam o Alcorão para normatizar a vida das pessoas em países teocráticos.
Fonte: SILVA, M.G.C. da. O homem de um livro. In: SOBRAMES – CEARÁ. Ritmo literário. Fortaleza: Sobrames-CE/Expressão, 2015. 304p. p.198-9.
* Publicado, originalmente, In: SILVA, M.G.C. da. Contando Causos: de médicos e de mestres. Fortaleza: Expressão, 2011.

A história do frango Mike, que viveu mais de 1 ano sem cabeça



Mike ficou famoso como 'milagroso frango sem cabeça' e rodou os Estados Unidos em espetáculos para o público (Life Getty Images)
Por Chris Stokel-Walker
Há 70 anos, um fazendeiro decapitou um frango no Colorado, Estados Unidos, mas uma coisa curiosa aconteceu: a ave 'se recusou' a morrer. Mike, como ficou conhecido o fatídico frango, sobreviveu por 18 meses e se tornou famoso. Mas como ele viveu sem a cabeça por tanto tempo?
Em 10 de setembro de 1945, Lloyd Olsen e sua esposa Clara estavam matando frangos na fazenda da família em Fruita, no Estado de Colorado.
"Eles chegaram ao fim do dia e um frango ainda estava vivo e andando para lá e para cá", conta o bisneto do casal, Troy Waters, que também é um fazendeiro em Fruita. O frango saiu correndo e não parou mais.
Eles o deixaram pela noite em uma caixa de maçãs e, quando Lloyd Olsen levantou na manhã seguinte, foi checar o que havia acontecido. "O maldito frango ainda estava vivo", disse Waters.
"Virou parte da história esquisita da nossa família", conta Christa Waters, a esposa de Troy.
Waters ouviu a história quando era pequeno, após seu bisavô ter ido morar na casa de sua família. Ele já não podia mais sair da cama e, como o quarto dele era logo ao lado do de Waters, o menino ouvia muitas histórias do velhinho antes de dormir.
"Ele levou os restos do frango para vender no mercado de carne", conta o bisneto.
"Pegou o frango decapitado - e, naquela época, ainda usava uma carroça como meio de transporte - levou-o na bagagem e começou a apostar com as pessoas que tinha um frango sem cabeça valendo uma cerveja ou alguma outra coisa."
A conversa se espalhou pela cidade sobre o "milagroso frango sem cabeça". O jornal local enviou um repórter para entrevistar Olsen e duas semanas depois, um produtor de um espetáculo chamado Hope Wade viajou quase 500 km de Salt Lake City para encontrar o 'dono do frango sem cabeça'. Ele tinha uma proposta simples: levar o frango para o espetáculo - e eles ganhariam um dinheiro com isso.
"Naquela época, década de 1940, eles tinham uma pequena fazenda e passavam dificuldades. Isso os motivou a aceitar a proposta", explica Waters.

Final trágico

Primeiro, eles visitaram Salt Lake City e a Universidade de Utah, onde o frango foi submetido a uma bateria de testes. Existem relatos de que cientistas da universidade removeram por meio de cirurgia as cabeças de vários outros frangos para verem se algum deles iria sobreviver.





Família Olsen se aproveitou do frango sem cabeça para fazer dinheiro Arquivo pessoal
 
 

Foi aí que a revista "Life Magazine" descobriu a história de Mike, "o milagroso frango sem cabeça", como chamou Hope Wade no espetáculo. Dali em diante, Lloyd, Clara e Mike rodaram os Estados Unidos.
Foram para Califórnia e Arizona, e Hope Wade levou Mike ao sudeste dos Estados Unidos, quando os Olsen tiveram de voltar para a fazenda para recolher a colheita.
As viagens de Mike foram documentadas cuidadosamente por Clara em um caderno que Waters tem até hoje.
Depois das primeiras viagens, a família levou Mike a Phoenix, no Arizona, onde acabou de vez a sorte do frango, na primavera de 1947.
"Foi ali que ele morreu, em Phoenix", disse Waters.
Eles costumavam alimentar Mike com comida líquida e água diretamente pelo esôfago. Outra função vital com a qual eles o ajudavam era limpar o muco de sua garganta. Eles o alimentavam com um conta-gotas e limpavam sua garganta com uma seringa.
Na noite em que ele morreu, a família despertou com um ruído do animal, que parecia estar engasgado. Quando buscaram a seringa, eles se deram conta de que a haviam esquecido na feira e, antes que pudessem encontrar outra alternativa, Mike acabou morrendo sufocado.
"Durante anos, eles me disseram que haviam vendido Mike para um homem no circuito das feiras", disse Waters. "Só anos depois que ele tinha morrido que me contaram que ele estava morto. Acho que não queriam admitir que eles tinham vacilado ao deixar morrer a 'galinha dos seus ovos de ouro'".
Olsen nunca disse o que fez com o frango morto. "Aposto que ele o atirou em algum lugar do deserto no caminho de Phoenix para cá, onde provavelmente ele foi comido pelos coiotes."

Como ele viveu por tanto tempo

O que mais surpreende Tom Smulders, um especialista em frangos do Centro de Estudos sobre Comportamento e Evolução, da Universidade de Newcastle, é que Mike não tenha sangrado até a morte quando foi decapitado.
O fato de ele ter sobrevivido por muito tempo sem cabeça, para ele é mais fácil explicar.
Para um ser humano, perder a cabeça significa perder quase todo o cérebro. Para um frango, é diferente.
"Você se surpreenderia com quão pequena é a parte do cérebro que está na cabeça de um frango", explica Smulders.
A maior parte do cérebro está concentrada na parte traseira do crânio, atrás dos olhos, segundo ele.
Relatos indicam que o ataque a Mike para matá-lo levou bico, rosto, olhos e uma orelha. Mas Smulders estima que cerca de 80% de sua massa cerebral - e quase tudo o que controla o corpo do frango, incluindo o ritmo do coração, a respiração, a fome e a digestão - permaneceu intacta.
Naquele tempo, sugeriu-se que Mike teria sobrevivido porque parte ou todo o tronco cerebral dele ainda estaria ligado ao seu corpo. Desde então, a ciência evoluiu e se descobriu que o que se chamava tronco cerebral é, na verdade, parte do mesmo cérebro.
Por que os que tentaram matar Mike não conseguiram é algo ainda difícil de explicar. Parece que o corte, no caso de Mike, foi feito no lugar certo e um coágulo de sangue se formou no tempo certo para evitar que ele morresse com o sangramento.

Cerveja grátis

Troy Waters suspeita que seu bisavô tentou várias vezes repetir o feito com outros frangos. Certamente, outros também tentaram.
Um vizinho dele comprou frangos em um leilão e logo se aproximou da família Olsen com uma caixa de cervejas na tentativa de convencê-lo a contar como havia conseguido deixar Mike daquela forma.

"Lembro que ele me contava isso rindo sobre como recebia cervejas de graça no fim de semana porque o vizinho estava certo de que sabia como ficaria rico com seu frango", conta Waters.
Mas, segundo o bisneto, a história não trouxe tanto dinheiro assim.
Uma vez, Waters perguntou a Lloyd Olsen se ele havia se divertido com Mike. "Ele me disse: 'Ah, claro, tive a oportunidade de viajar e conhecer partes do país de uma maneira que jamais haveria conhecido. Pude modernizar minha fazenda'. Mas agora isso ficou no passado."
Ele seguiu com a fazenda pelo resto da vida, ganhando seu dinheiro da maneira como podia."
Fonte: BBC/AP. Do UOL Notícias, de 13/09/2015.
 

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