A GRANDE DIFERENÇA
Serzedelo Correia - "Páginas do Passado",
pág. 20.
Manhã de 15 de novembro de 1889. Em frente ao
quartel-general Deodoro punha em linha as bocas de fogo da tropa revoltada.
Ignorando toda a extensão da conspiração militar, o Visconde de Ouro-Preto
chama Floriano e pergunta por que as forças fiéis ao governo não saíam, para
dar combate à força rebelde.
- É que Deodoro tem artilharia e, em cinco minutos,
arrasaria o quartel-general, - respondeu o
mestre de campo.
Ouro-Preto estranhou a resposta:
- No Paraguai
tomava-se artilharia; só se aquela não pode ser tomada por estar comandada por
um general valente...
- Não, não é por isso,
- revidou Floriano, compreendendo a ironia.
E no mesmo tom:
- É que no Paraguai eram inimigos, e ali são brasileiros!
A QUEIXA DOS TUPINAMBÁS
Jean de Lery - "História de uma viagem à terra
do Brasil", ed. De 1926, pág. 154.
Quando Nicolau de Villegaignon se fixou na baía do Rio de
Janeiro, em 1555, os índios tupinambás, que habitavam o litoral, achavam-se na
guerra com a tribo dos maracajás, cujos prisioneiros eram todos devorados. Para
impedir a continuação da antropofagia, procurava o conquistador francês
adquirir por compra todos os prisioneiros, salvando-os, assim, da voracidade do
inimigo.
Essa interferência do hóspede branco negócios da raça não
agradava nada aos tupinambás, um dos quais se queixava, num suspiro a Jean de
Lery:
- Não sei o que será de nós, de agora em diante!...
Depois que Paicolás (nome davam a Villegaignon) veio para a ilha, não comemos
nem a metade dos nossos prisioneiros!...
HONESTIDADE DE MINISTRO
J.M. de Macedo - "Ano Biográfico", vol.
II, pág. 83.
Era José Bernardino Batista Pereira de Almeida Sodré
ministro da Fazenda, em 1828, quando o seu colega da pasta da Guerra lhe
oficiou, pedindo o pagamento das despesas de transporte, e outras, de alguns
operários que o Imperador mandara engajar na Alemanha. Recusado esse pagamento,
mandou Pedro I chamar José Bernardino, interpelando-o.
- Senhor, - respondeu
o ministro, - no orçamento que vigora não
tenho verba que autorize essa despesa; ela é, portanto, ilegal, e eu não a
posso ordenar.
- Mandei
engajar esses homens, - tornou o Imperador,
com energia; - quero que as despesas sejam pagas.
- E se-lo-ão, Senhor; pois que Vossa Majestade o quer.
Dias depois, indagado pelo monarca sobre o cumprimento da
sua ordem, o ministro informou:
- Em face da lei, o Tesouro Nacional não podia pagar a
esses engajados; a ordem de Vossa Majestade tinha, porém, de ser cumprida.
- E então?
- Paguei-os de meu bolso particular!
BATUTA DE MARINHEIRO
Moreira de Azevedo - "Mosaico
Brasileiro", pág. 151.
Era o capitão-tenente Bento José de Carvalho, irmão do
Visconde de Inhaúma, comandante da corveta Isabel, quando esta
naufragou, em 1859, nas costas de Marrocos.
O sinistro ocorreu durante uma tempestade. As ondas,
enormes e furiosas, varriam o navio, quando este, rebentado o casco e partidos
os mastros, começou a afundar-se.
- A vida de um comandante, depois do naufrágio, é fardo
que não se deve disputar às ondas! - gritou,
em desespero, o bravo marujo.
E atirou-se ao abismo.
Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927)