Por Lucas Vieira, Rafael Santana,
Camila Pontes e Luciana Pimenta, de O Povo (*)
Em um determinado dia, um jovem resolveu
visitar seu pai em São Paulo. Ao entrar no avião, sentou-se ao lado de uma
mulher. Logo, começou a tremer de maneira intensa, causando desconforto na
passageira vizinha, que expressou seu incômodo. À medida que o rapaz continuava
tremendo, sua reclamação ganhou a atenção de todos que estavam ali presentes.
Assim, antes da decolagem, todos na
aeronave estavam cientes da situação e se uniram à mulher em sua manifestação
para que fizessem algo com aquela circunstância que causava tanto desagrado. O
jovem, então, foi retirado do voo e submetido a uma revista pela Polícia
Federal no aeroporto, para verificar se aquele rapaz portava algum tipo de
substância ilícita.
O relato acima dá conta da experiência
vivenciado pelo então designer de mídia e colunista de games Bruno Sofia,
após ter sido diagnosticado com a Doença de Parkinson (DP), quando tinha apenas
27 anos. Na época, Sofia trabalhava no setor de marketing O POVO. Com o
diagnóstico, teve que se adaptar às suas atividades no trabalho para lidar com
os sintomas iniciais do acometimento.
A história dele está no documentário Os
dias de Sofia, em cartaz no OP+ a partir desta segunda-feira, 4 de outubro.
O Parkinson, segundo o médico
neurocirurgião Caio Sander, é uma doença neurológica progressiva, sem cura, e
idiopática, isto é, sem uma causa definida, causada pela degeneração do sistema
dopaminérgico cerebral, ocasionando alterações motores e não-motores.
“Com a falta dessas células nessa área da mente, isso acaba
interferindo na produção de dopamina, hormônio responsável pela sensação de
prazer e humor no ser humano. Esse neurotransmissor também é responsável pelo
controle motor, bem como os movimentos estomacais e esofágicos”, explica.
Segundo o especialista, a causa exata do DP
ainda é desconhecida, mas já se sabe que existem fatores genéticos e ambientais
que podem contribuir para o surgimento da doença. “A doença acomete mais
frequentemente pessoas com idade acima de 60 anos, com predomínio do sexo
masculino. Cerca de 10% dos casos surgem com idade inferior a 50 anos”, afirma.
Segundo dados informados pela Organização
Mundial da Saúde (OMS), estima-se haver cerca de 8,5 milhões de pessoas no
mundo com a Doença de Parkinson. No Brasil, o número de casos da patologia deve
chegar a 200 mil habitantes. Esses dados representam um aumento dos casos da
doença nos últimos 25 anos.
A história de Bruno faz parte de uma
pequena parcela da população mundial diagnosticada com a DP antes dos 60 anos,
o que mostra que a atenção com o problema não deve ser direcionada somente aos
idosos, mas também as pessoas mais jovens.
A experiência vivida pelo jovem no avião o
marcou profundamente, causando até mesmo o desenvolvimento de crise de
ansiedade e pânico. Para o médico Caio Sander, atualmente existe um grande
aumento no diagnóstico com idade mais precoce, mas ainda não se sabe exatamente
o motivo por trás dessa realidade.
“Sabemos que existem fatores genéticos e ambientais que
provavelmente influenciam no surgimento da doença, como algumas mutações
genéticas, o consumo de álcool, sedentarismo e tabagismo. Outro motivo também
se deve ao diagnóstico mais precoce da doença através do melhor acesso a
médicos e a exames complementares como Ressonância Magnética e ao PET”, esclarece.
Bruno Sofia relembra que o primeiro sintoma
que apresentou da DP foi um tremor que não era comum a sua idade. Esse tremor,
que ele chama de tremor essencial, evoluía de maneira que passavam os dias,
principalmente em situações em que ele estava nervoso. “É comum que o tremor
essencial não evolua, mas se mantenha na pessoa. Entretanto, no meu caso,
estava aumentando”, descreve.
O neurologista Caio Sander aponta como
sintomas motores os tremores, a rigidez, a lentificação dos movimentos, a
instabilidade postural e os distúrbios da marcha. “A doença também
provoca sintomas não motores, como alteração do sono, perda do olfato e
problemas cognitivos”, conclui.
(*) Jornalistas de O Povo.
Fonte: Publicado In:
O Povo, de 3/11/2024. Ciência & Saúde. p. 18-19.