HONESTIDADE DE MINISTRO
J.M. de Macedo - "Ano Biográfico", vol. II, pág. 83.
Era José Bernardino Batista Pereira de Almeida Sodré
ministro da Fazenda, em 1828, quando o seu colega da pasta da Guerra lhe
oficiou, pedindo o pagamento das despesas de transporte, e outras, de alguns
operários que o Imperador mandara engajar na Alemanha. Recusado esse pagamento,
mandou Pedro I chamar José Bernardino, interpelando-o.
- Senhor, - respondeu
o ministro, - no orçamento que vigora não
tenho verba que autorize essa despesa; ela é, portanto, ilegal, e eu não a
posso ordenar.
- Mandei engajar esses homens, - tornou o Imperador, com energia; - quero que as despesas sejam
pagas.
- E se-lo-ão, Senhor; pois que Vossa Majestade o quer.
Dias depois, indagado pelo monarca sobre o cumprimento da
sua ordem, o ministro informou:
- Em face da lei, o Tesouro Nacional não podia pagar a
esses engajados; a ordem de Vossa Majestade tinha, porém, de ser cumprida.
- E então?
- Paguei-os de meu bolso particular!
COTEGIPE E A PRINCESA ISABEL
A. J. de Araújo Pinho - "O Barão de Cotegipe no Rio da
Prata", pág. 85.
O Barão de Cotegipe, cujas previsões políticas lhe deram
a fama póstuma de profeta, foi, talvez, a inteligência mais aguda do Segundo
Império. Contrário à emancipação dos escravos pelo abalo econômico que essa
medida acarretaria, opôs-se quanto pôde à sua execução, observando sempre à
Princesa Regente, quando ministro, os riscos de uma providência radical. Feita
a abolição em 1888, encontrou-se um dia a Princesa com o velho titular, e
interpelou-o, feliz:
- Então, sr. Cotegipe?... A abolição se fez com flores e
festas... Ganhei ou não a partida?
O Barão fitou-a, com os seus olhos miúdos e inteligentes.
- É verdade, - confessou. E com tristeza:
- Vossa Alteza ganhou a partida,
mas perdeu o trono!...
Um ano depois, proclamava-se a República.
O GRITO DE PAES DE ANDRADE
Manuel de Carvalho Paes de Andrade, que havia de ser,
depois, a alma da Confederação do Equador, da qual foi o primeiro e Presidente,
exercia já uma influência poderosa em Pernambuco quando ali se cogitou do
movimento de 1817, sob o patrocínio de Antônio Carlos e do governador José Luiz
de Mendonça. O objetivo desse movimento era, porém, apenas, pedir a D. João VI
uma Constituição para o Brasil. Paes de Andrade já se não satisfazia, no
entanto, nesse tempo, com isso.
- Não basta! -
declarou, ao ouvir a proposta dos outros. -
República e só República!
E entre o espanto dos que o escutavam:
- Morra para sempre a tirania real!...
VOZES "PARLAMENTARES"
J.M. de Macedo - "Ano Biográfico", vol. II, pág. 151.
Em 1850, a enfrentar sozinho a Câmara inteira, Sousa
Franco, que ainda não era visconde e falava, apesar de doente, várias vezes por
dia, foi atacado da tribuna pelo deputado Aprígio, que procurava fazer espírito
com a "unidade oposicionista". A certa altura desse discurso um
espectador interrompeu o orador, arremedando o latir de um cachorro. O
presidente fez soar a campainha, protestando contra o insulto.
- Sr. presidente, -
reatou Aprígio, - foi um aparte do sr. Sousa
Franco.
- É engano de V. Excia. - retrucou, prontamente, este.
E revidando o golpe:
- Foi o eco de sua voz.
Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927).