O ESPÍRITO DE
PADRE ANSELMO
A. Cerqueira
Mendes - "Figuras Antigas", vol. I.
O arcipreste da Sé de São Paulo, Joaquim Anselmo de
Oliveira, era não só desabusado como espirituoso. Após uma vida acidentada, já
na velhice, embarcou para o Rio de Janeiro afim de ser operado da catarata que
lhe ia empanando a vista.
No dia seguinte ao da operação, Hilário de Gouveia, o
operador, aproximou-se dele, que se achava de olhos vendados.
- Sente-se feliz? -
perguntou.
- Muito! - retrucou o
sacerdote. - E compreende bem que há razão
para isso.
E prevendo o insucesso da intervenção cirúrgica:
- Vazam-me o olho por dois contos de réis! É barato!
O EMPREGO IDEAL
Moreira de
Azevedo - "Mosaico Brasileiro", pág. 156.
Este episódio é dado, também, como ocorrido com Floriano Peixoto. Domingos Barbosa ("Silhuetas", pág. 46), e atribui, por sua vez, ao Conselheiro Gomes de Castro.
Era Álvares Machado presidente do Rio Grande do Sul em
1840, quando se apresentou em palácio um indivíduo de boas maneiras que lhe ia
dar parabéns pela investidura e, ao mesmo tempo, pedir-lhe um emprego.
Desejava, porém, que o lugar fosse de representação, bem remunerado e de pouco
trabalho.Este episódio é dado, também, como ocorrido com Floriano Peixoto. Domingos Barbosa ("Silhuetas", pág. 46), e atribui, por sua vez, ao Conselheiro Gomes de Castro.
- Pois, não, meu caro senhor; pois, não, - prometeu o presidente. - O segundo que eu descobrir nessas condições será seu.
- O segundo? e por que não o primeiro?
E Álvares Machado:
- Porque, andando eu há muito tempo atrás de um emprego
desses, o primeiro, naturalmente, será meu!
A ÚNICA
REPÚBLICA: O IMPÉRIO
Múcio
Teixeira - "O Imperador visto de perto", pág. 192.
Era Múcio Teixeira cônsul geral do Brasil na Venezuela,
quando ali chegou a notícia da proclamação da República. Ao penetrar no palácio
do governo, onde fora pedir o seu "exequatur", o presidente da
Venezuela, dr. Rojas Paul, encaminhou-se para ele, dizendo:
- "Señor
Consul Geral do Brasil, pida a Dios que su Patria, que ha sido gobernada
durante medio siglo por un sabio, no sea de hoy por delante llevada por el
tacón del primero tirannelo que el ejercito le presente".
E abraçando-o,
comovido:
- "Se ha
acabado la unica Republíc; que existia en America: el Imperio del Brasil!"
O MARIDO MINEIRO
Presenciado
pelo colecionador.
Na sala de espera da Academia Brasileira de Letras, no
"Petit Trianon", um visitante falava mal dos mineiros, em geral, e
acentuava:
- Eu tenho tanta prevenção com mineiro, que, havendo uma
sobrinha minha, a quem muito estimo, contraído casamento recentemente com um
rapaz de Juiz de Fora, cortei inteiramente relações com ela. O mineiro tem
todos os defeitos e o principal é furtar nos negócios em que se mete.
O general Lauro Müller, que se achava próximo, e que,
como se sabe, era catarinense, não se conteve:
- Pois olhe, meu caro amigo, - interveio, mesmo sem conhecer o sujeito; - sabe de uma cousa? O senhor ainda vai ser muito amigo
desse mineiro, porque fique certo que ele vai tratar muito bem a sua sobrinha.
- Eu, amigo de um homem que furta?
- Sim, senhor, -
tornou Lauro Müller. Porque, o brasileiro,
em geral, furta da família para lançar fora; ao passo que o mineiro, se furta,
como o senhor diz...
E com entusiasmo:
- Furta para a família!
Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927).