É com
pesar que registro a morte do Dr. José de Aguiar Ramos, membro honorário da
Academia Cearense de Medicina (ACM), da qual estava afastado do quadro de
titulares por problemas de saúde, ocorrida hoje, em Fortaleza, dia 25 de
dezembro de 2017.
Dr. Aguiar
Ramos, quando menino residiu no bairro Otávio Bonfim, tendo estudado com o meu
pai, Prof. Luiz Carlos da Silva, no Instituto Pe. Anchieta, e na sua adolescência
vivenciou os chamados “Anos Dourados do Otávio Bonfim”, à época do Frei
Teodoro, ofm.
Por
diversas vezes, recebi dele palavras elogiosas aos nossos feitos, isso em parte
pela conhecida generosidade com que ele aquinhoava seus colegas mais jovens,
incitando-nos a trilhar o bom exercício profissional.
Ele foi
mestre de tantos cirurgiões que sorveram seus ensinamentos na Santa Casa de
Misericórdia de Fortaleza, formando uma plêiade de oncologistas cearenses.
O seu
corpo está sendo velado no Jardim Metropolitano, e após a missa, marcada para
as 9 horas de 26/12/17, será cremado nessa necrópole.
Para
perpetuar a memória desse insigne médico, lanço mão da reprodução de parte do
discurso de posse do Ac. Huygens Garcia,
pronunciado ao tomar posse na cadeira que teve o dr. Aguiar Ramos como ocupante
derradeiro.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Acadêmico Titular da
cad. 18 da ACM
JOSÉ DE AGUIAR RAMOS
Por
José Huygens Parente Garcia
O último
ocupante da cadeira 13 foi o Dr. José de Aguiar Ramos. Às 15h do dia 14 de
janeiro, liguei para a residência do Dr. Aguiar, que, de imediato, aceitou em
me receber. Quando cheguei na Rua Barbosa de Freitas, 1777, me deparei, na
calçada, à minha espera, com a figura simpática do Dr. Aguiar Ramos. Sentamos
na varanda e conversamos por mais de 3 horas, onde tive o prazer de conhecer um
pouco de sua história. Incrível como Dr. Aguiar, de forma alegre e bem-humorada,
relatou de forma cronológica, datas e fatos importantes que marcaram a sua rica
trajetória profissional. Como se tudo estivesse programado, quando já tínhamos
conversado sobre todos os temas por mim selecionados, eis que surge de repente,
sua esposa, a Dra. Valdite Walter de Aguiar. Outras informações foram
acrescentadas e, nessa ocasião, foi, mais uma vez, confirmado que “por trás de
um grande homem, sempre há uma grande mulher”.
José de Aguiar
Ramos nasceu em Sobral no dia 29 de julho de 1931. Concluiu Medicina na
Universidade Federal do Ceará em 1959, e como relatou, havia se preparado para
trabalhar no interior do estado. Havia propostas de trabalho em Senador Pompeu,
Camocim e São Benedito. Dr. Aguiar escolheu São Benedito pela beleza, natureza
e clima da serra de Ibiapaba. Provavelmente, o que mais influenciou, foi o
convite do Dr. Chagas Oliveira. Dr. Aguiar encontrou uma cidade sem saneamento
básico, mas com todas as dificuldades, inaugurou a primeira maternidade de São
Benedito.
Em 1961,
a convite do Dr. Roberto Cabral, retornou a Fortaleza e o destino foi a Santa
Casa, precisamente no Serviço de Câncer. Aí começaria toda a carreira vitoriosa
do nosso acadêmico, consolidada com o estágio, em 1962, no Hospital A. C.
Camargo de São Paulo, então dirigido pelo grande cearense Fernando Gentil.
Como
queria exercer uma medicina generalista, aceitou convite do Dr. Galba Araújo
para um estágio no exterior. Dr. Aguiar Ramos foi certificado pela Johns Hopkins University – Baltimore – Maryland
– EUA, pelo treinamento em princípios de cuidados de saúde da família, em 1980.
Dr.
Aguiar Ramos foi Superintendente do Instituto Dr. José Frota e, como ele faz
questão de lembrar, escolhido pelos próprios colegas. Exerceu o importante
cargo de Secretário de Saúde de Fortaleza na gestão do prefeito Evandro Aires
de Moura. Foi ainda presidente do Centro Médico Cearense em 1982.
Vencedor
do concurso de monografias do Conselho Regional de Medicina do Ceará em 1998,
recebendo o prêmio Prof. Dalgimar Beserra de Menezes, pelo trabalho intitulado
“O médico e a política”.
Dr.
Aguiar exerceu suas atividades médicas na Santa Casa de Fortaleza, no Hospital
Geral de Fortaleza e na Casa de Saúde São Raimundo. Como reconhecimento a sua
ação humanística, sempre atendendo com carinho os pacientes menos favorecidos,
recebeu uma medalha comemorativa dos 150 anos da fundação da Santa Casa.
Pela sua
postura ética, recebeu o diploma ético-profissional do Conselho Regional de
Medicina do Ceará, em 2009. Continuando a lista enorme de homenagens, Dr.
Aguiar Ramos foi homenageado, por ocasião de sua aposentadoria, pelo HGF e
também pala Maternidade Escola Assis Chateaubriand. Na Faculdade de Medicina,
mesmo sem pertencer ao quadro docente, ficou imortalizado pela turma de 1982.2
que recebeu o nome “Turma Dr. José de Aguiar Ramos”. Como enfatizou várias
vezes durante o nosso encontro, Dr. Aguiar Ramos tinha prazer em atuar
amplamente na cirurgia geral e oncológica, realizado procedimentos que
envolviam múltiplos órgãos e vísceras. Chegou a citar seu filho, médico
cirurgião, Paulo Aguiar, renomado mastologista da nossa cidade, mas que operava
somente mama! E também oftalmologistas que operavam somente a retina. Realmente
é muito pouco para quem exerceu medicina da família. Obstetrícia, cirurgia
geral e oncologia.
Dr.
Aguiar Ramos completou 55 anos de casado com sua colega de turma, Valdite
Walter de Aguiar. Inicialmente, a Dra. Valdite atuou como anestesiologista.
Após a chegada dos filhos, com o objetivo de ter mais tempo para educá-los,
passou a exercer a especialidade de pediatria. Dessa união, nasceram cinco
filhos: Ricardo Wagner (médico), Fernando Antônio (psicólogo), Érika Elisa
(médica anestesiologista, esposa do cirurgião vascular Wellington Forte), Paulo
Henrique (mastologista) e Andrea Sílvia (odontóloga e professora da Faculdade
de Odontologia da UFC). A família Aguiar Ramos cresceu com a chegada de nove
netos.
Hoje,
aos 84 anos, lúcido e sempre de bem com a vida, Dr. Aguiar Ramos, em agradável
conversa nos jardins de sua casa, relembrou algumas frases memoráveis. Citando
Wiliam Osler: “Medicina não é comércio, pois utiliza simultaneamente o cérebro
e o coração”. Ou de sua autoria quando indaguei qual era o conselho que daria
aos jovens médicos: pensem sempre no doente, pois com medicina não se
enriquece. E aí, não resisti! Fiz uma pergunta que todo cirurgião deseja saber
a resposta mais adequada: Quando um cirurgião deve parar de operar? E Dr.
Aguiar Ramos respondeu na ponta da língua: “Quando o cirurgião ficar irritado
no campo cirúrgico, culpando os auxiliares, o anestesiologista ou até mesmo a
instrumentador.
Esse é o ilustre Dr.
José de Aguiar Ramos! Ë uma tarefa hercúlea substituí-lo nessa Academia.
* Extraído do discurso de posse do Acadêmico José
Huygens Parente Garcia, como membro titular da cadeira 13 da Academia Cearense
de Medicina (ACM), pronunciado no Auditório da Reitoria da UFC, em 23/01/2014,
e publicado no volume 17 dos Anais da ACM (p.238-40).