Por
Vladimir Spinelli Chagas (*)
Inaugurado em 1866, em substituição ao São
Casemiro, que sofria influências das dunas ali existentes, onde foi construída
a Estação Ferroviária João Felipe, o Cemitério São João Batista, com área de 95
mil metros quadrados, é o guardião da memória de ilustres personagens.
Uma das formas de se perceber essa
importância histórico-cultural do São João Batista é fazer-se um cotejo com as
praças, equipamentos e vias urbanas de Fortaleza. Nestas, prestam-se homenagens
a destacados vultos, como é o caso dos Barões (de Aquiraz, de Studart, de
Aratanha), Carlos Jereissati, Virgílio Távora, Tristão Gonçalves, Boticário
Ferreira, Dragão do Mar e tantos outros.
Cego Aderaldo, Mister Hull, Cônego Bessa,
Demócrito Rocha, Meneses Pimentel, Cordeiro Neto, Natércia Campos, Rogaciano
Leite, Frei Tito, Soares Bulcão, Rodolfo Teófilo, Plácido Castelo, Pessoa Anta,
Padre Mororó, Juvenal de Carvalho, Quintino Cunha, Martins Filho são outras
ilustres personalidades cujos corpos foram depositados no São João Batista.
A longa trajetória do São Batista permite
conviver-se com os diferentes estilos arquitetônicos dos seus túmulos, do
neoclássico, gótico ao eclético, alguns deles com anjos importados da Europa e
materiais como gesso, cobre e pedras, que enriquecem a arquitetura de
Fortaleza.
E muitas lendas fazem parte do histórico do
cemitério, como a da Mulher Serpente, ou relatos de aparições como a de um
visitante que, receoso de ficar sozinho numa visita tardia, aproximou-se de uma
mulher que lá estava e, confiante, lhe disse ter medo de pessoas mortas, ao que
ela teria retrucado: quando eu era viva, também tinha.
Assim, defendemos a ideia de um São João
Batista como equipamento turístico-cultural de Fortaleza. Afinal, ele é o ponto
extremo do chamado corredor que se inicia no antigo prédio da Alfândega,
passando pela 10ª. RM, Catedral, Passeio Público, Santa Casa e a antiga Estação
Ferroviária.
Desta forma, a Irmandade teria como manter
o Cemitério em muito melhores condições, permitindo às famílias, aos turistas,
aos historiadores e aos amantes da cultura um novo e rico espaço da
história cearense.
(*) Professor aposentado
da Uece, membro da Academia Cearense de Administração (Acad) e conselheiro do
CRA-CE. Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Fortaleza.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 8/09/25. Opinião. p.18.