quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Inauguração da Galeria dos ex-Presidentes da Sobrames-CE



A Presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – Regional Ceará, Dra. Celina Côrte Pinheiro, conduziu, na noite de ontem, 30 de outubro de 2013 (quarta-feira), a inauguração da Galeria de fotos dos presidentes, atual e anteriores, da Sobrames-CE.
O primeiro presidente da Sobrames-CE foi Emanuel de Carvalho, sendo sucedido por: Paulo Gurgel, Geraldo Bezerra, Luiz Moura, Pedro H. S. Leão, Wellington Alves, José Telles, José Maria Chaves, Flávio Leitão e Celina Pinheiro.
O evento contou com a participação de sobramistas e seus familiares, que foram aquinhoados com uma conferência sobre Albert Schweitzer, proferida pelo Prof. Dr. William Moffitt Harris, docente aposentado da FSP/USP, residente em Campinas, que integra o quadro de associados da Sobrames-CE.
Durante a solenidade, foi apresentada a bela bandeira da entidade, obra concebida pelo cirurgião plástico e artista plástico Isaac Furtado e entregue a cada presidente um quadro contendo a sua caricatura também elaborada pelo citado colega.
A festa se estendeu com o excelente serviço de coquetel oferecido aos presentes.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Sócio da Sobrames-CE

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

O BRASIL ANEDÓTICO LVIII



ORDEM DA ROSA
Visconde de Taunay - "Trechos de minha vida", pág. 168.
O retrato que Pedro I possuía da princesa Amélia de Leuchtenberg, tornara-o ansioso pela sua chegada ao Rio de Janeiro. A visita da filha do príncipe Eugênio quase que o enlouqueceu, pois que o original era mais lindo ainda que o retrato.
Ao vê-la, a bordo da embarcação que a trouxera, o Imperador não se conteve. A princesa vestia, para o desembarque, um delicioso vestido de gaze branco, salpicado de rosas meio abertas. E foram essas rosas que deram ao imperial noivo, de espírito cavalheiresco, a idéia súbita de criar uma Ordem honorífica.
- Será a Ordem da Rosa! - declarou.
E criou-a nesse mesmo dia, com a divisa:
- "Amor e Fidelidade".
O VIDIGAL
Moreira de Azevedo - "Mosaico Brasileiro"
O major Miguel Nunes Vidigal, cujo nome atravessou o tempo e é citado hoje, depois de um século, como se tivesse passado há dois anos, era não só enérgico, severo na imposição dos castigos, mas, também, inteligente.
Com carta branca para restituir a segurança e o sossego à cidade, invadiu o major, certa noite, uma casa de pândega, encontrando aí, entre outros infratores da moralidade noturna, um cadete, filho de um seu amigo, a quem logo reconheceu. O rapaz, ele próprio, alegou essa qualidade, procurando escapar ao corretivo.
- O que?! trovejou Vidigal. Esse tratante, além de metido nestes lugares, ainda quer passar como cadete e filho de um amigo meu! Metam-lhe a chibata! O moço de quem ele fala não era capaz de tomar parte nestas reuniões tão ridículas!
E após a surra, baixo, para o rapaz:
- Eu o reconheci. O senhor é o cadete filho do meu amigo. Mas... para que os senhores fazem destas?
UMA INDISCRIÇÃO DE PEDRO I
Alberto Rangel - "Pedro I e a Marquesa de Santos", pág. 40.
É nos dias tormentosos de 1830, quando a Câmara ferve, discutindo a eleição do ex-ministro da Guerra, Joaquim de Oliveira Álvares, eleito deputado pelo Rio Grande do Sul. Ansioso pela salvação do amigo, Pedro I chega a uma das janelas do Paço que dá para o edifício da Câmara, e é recebido com chufas e assobios pela população aglomerada na rua.
Nesse momento, chega alguém que vem da Câmara. O Imperador volta-se, aflito, indagando:
- Quem está falando neste momento na Assembléia?
- É o Ledo, - responde-lhe. - Está estupendo, quebrando lanças pelo Oliveira Álvares!
- Forte tratante! - exclama o soberano, contente.
E esfregando as mãos, feliz:
- É a terceira vez que o compro e de todas tem me servido bem!...
A CARIDADE
J.M. de Macedo - "Ano Biográfico", vol. III, pág. 317.
O dr. Mateus Saraiva, que exerceu a clínica no Rio de Janeiro na primeira parte do século XVIII, e que escreveu A América Portuguesa Ilustrada, obra em que procurava demonstrar a passagem do apóstolo Tomé pelo Brasil, tornou-se veneradíssimo pela sua caridade.
Era sua esta frase:
- Se há alcaide que prenda a Deus, ou se Deus se pode deixar prender, é a caridade o único ministro que, sem sacrilégio, pode executar a diligência!


Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927).
 

terça-feira, 29 de outubro de 2013

MENOS DE 10% APROVADOS NA PRIMEIRA ETAPA DO REVALIDA



Apenas 9,7% dos inscritos no Revalida são aprovados na primeira etapa

Flávia Foreque, de Brasília
Do total de 1.595 médicos formados no exterior que fizeram o Revalida neste ano, apenas 155 (9,7%) seguirão para a segunda etapa da prova. Esse é o menor percentual já registrado nessa fase do exame.
Em 2011, quando o Revalida foi oficializado, o percentual de aprovados na primeira fase foi de 14,2%. No ano seguinte, o índice foi de 12,5%. Composta por 110 questões objetivas e 5 discursivas, essa é a etapa que elimina a maior parte dos inscritos.
O exame federal é utilizado hoje por 37 universidades públicas para a revalidação do diploma de medicina.
Como mostrou reportagem da Folha, o Inep, órgão do Ministério da Educação responsável pelo exame, adiou por duas vezes a divulgação do resultado. Inicialmente previsto para 11 de setembro, a lista de aprovados foi adiada para 26 de setembro e, em seguida, para a data de hoje. O resultado foi divulgado pelo Inep apenas no fim da tarde desta segunda-feira (28).
Integrantes do governo chegaram a associar o atraso à tramitação, no Congresso Nacional, da medida provisória que criou o Mais Médicos. Um resultado negativo no exame, avaliaram, poderia tumultuar o debate no Legislativo.
Uma das principais polêmicas do programa federal, que visa aumentar a presença de médicos no interior e em periferias de capitais, é a permissão para que médicos formados no exterior atuem no Brasil sem revalidar o diploma.
O Inep nega haver relação entre o adiamento da divulgação do resultado e o Mais Médicos. O instituto afirma que o motivo foi o volume de inscritos nesta edição: houve um aumento de 75,5% em comparação ao número de participantes no ano passado.
SEGUNDA ETAPA
Os 155 médicos aprovados na primeira etapa passarão ainda por uma nova fase do exame. No final de novembro, eles farão prova prática em Brasília e só então o resultado final será divulgado.
No ano passado, do total de 884 candidatos que fizeram o exame, só 8,7% puderam revalidar o diploma. Em 2011, o percentual foi de 9,6%. Diante das altas taxas de reprovação, o Inep chegou a anunciar um pré-teste para a participação de formandos de medicina matriculados em instituições nacionais.
O objetivo era avaliar o grau de dificuldade do Revalida e, eventualmente, calibrar o exame.
A iniciativa, no entanto, não foi colocada em prática. Diante do número insuficiente de formandos inscritos o Inep não levou o pré-teste adiante. Apenas 505 estudantes confirmaram participação no pré-teste --a adesão era voluntária. O objetivo do instituto era ter um universo de cerca de 4.000 participantes.
Fonte: Folha/Notícias UOL 28/10/2013

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

O verdadeiro gigante está nas ruas



Por Ricardo Alcântara (*)
Duas atitudes mentais extremas muito contribuem para o fracasso: o medo de perder e a certeza de ganhar. E – é comum observar – os que sentem o primeiro costumam ocultar tal emoção sob o uso dissimulado de argumentos do segundo.
Não tem outra pulsão, a declaração de João Santana, assessor de Marketing do governo petista, de que a presidente Dilma é um “gigante” eleitoral e seus adversários “não passam de anões”: é puro temor disfarçado de onipotência.
O jogo é jogado e o eleitor não joga a favor de ninguém, senão de si mesmo. Sim, a presidente entra na pista com o crédito residual de um ciclo promissor, mas leva nas costas a geladeira de nada de mais significativo ter acrescentado a ele.
Os ganhos mais expressivos do ciclo – crescimento econômico e pleno emprego, base de crédito e bolsa família – já deixam de ser percebidos pela população como benefícios emergentes e passam a ser vistos como obrigações públicas.
Das manifestações populares deste ano guardamos um recado claro: “foi bom, mas foi pouco”. Ou, numa versão mais generosa: “foi muito, mas não foi o bastante”. O que parecia a explosão inicial de um processo emancipatório logo perdeu força.
E, assim, não seria suficiente que Dilma fosse candidata apenas do muito que um dia fizeram: precisaria injetar na sociedade a crença de que continuará fazendo, ainda que a tudo que lhe fora legado nada tenha acrescentado de realmente novo.
Sem nada que possa pronunciar como mérito autoral e lhe faltando ainda carisma para produzir momentos mágicos que realizem as substituições simbólicas da esperança coletiva, Dilma se abre para uma disputa sem “gigantes” nem “anões”.
A seu favor, a fragilidade objetiva dos adversários: Aécio Neves e Eduardo Campos são desconhecidos e comprometidos – o primeiro, com a herança maldita do governo tucano; o segundo, com tudo aquilo que até aqui fora chamado de Lulismo.
O principal adversário – não da Dilma propriamente, mas dos símbolos que o governismo carrega – está nas ruas: a inquietude de uma nação que, tendo dado contundente prova de insatisfação, se mostra sensível aos novos experimentos.
Neste sentido, o maior risco foi superado quando Marina Silva desistiu da disputa: ela, sim, tinha o perfil das ruas e por mais ostensivo que seja o apoio dado agora a Eduardo Campos, não o fará encarnar tão bem o espírito do tempo quanto ela.
E como o eleitor só joga a favor de si mesmo, bocado servido é bocado comido: contaminar a população com o medo de perder conquistas recentes pode não ser suficiente para atropelar os anões. Porque o verdadeiro gigante está nas ruas.
(*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta Livre.
Pauta Livre é cão sem dono. Se gostou, passe adiante.

domingo, 27 de outubro de 2013

MÚLTIPLO USO DAS DST NA MEDICINA



Conta-se que, na Faculdade de Medicina da UFC, no limiar dos anos setenta, um acadêmico fez uma revisão bibliográfica sobre as Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), a fim de servir como tarefa para a Nota de Trabalho Individual (NTI) da Disciplina de Medicina Social, ministrada no segundo ano do curso, obtendo com ela um bom conceito, nessa avaliação.
Contente com o resultado, e ciente da potencialidade do tema, comum a diferentes matérias, o aluno aproveitou a sua revisão, com a devida substituição da capa, para servir de NTI, de semestre a semestre, até ingressar no Internato, nas diversas disciplinas, como: Bioagentes Patogênicos, Iniciação ao Exame Clínico, Clínica Médica, Doenças Infecciosas, Dermatologia, Ginecologia, Urologia etc. Em alguns casos, no entanto, foi necessário fazer alguns cortes do trabalho original, ajustando-o ao escopo da disciplina da vez.
É bem verdade que o assunto tratado faz interfaces com diversos campos ou especialidades médicas, mas a esperteza nunca foi descoberta, porquanto, à época, as turmas já eram numerosas, repletas de alunos transferidos, o que demandava esforços tremendos da Coordenação do Curso, para oferecer matrículas e créditos suficientes a tantos discentes. Além disso, não havia diálogo dos regentes das disciplinas vinculadas a distintos departamentos acadêmicos, e nenhum colega quis “entregar” o sabido.
Desconhece-se, hoje, se esse médico tenha também abraçado a Venereologia, como campo de atuação profissional.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Da Sobrames-CE e da ABRAMES
* Publicado In: SOBRAMES – CEARÁ. Letras que curam. Fortaleza: Sobrames-CE/Expressão, 2013. 328p. p.222-3.

TESTANDO A VIRGINDADE



Na Faculdade de Medicina da UFC, por volta de 1970, o Prof. Viliberto Porto ministrava aula de anatomia do tórax, quando foi interrompido por um estudante, com uma pergunta muito intrigante:
– Professor, qual é a distância do hímen até os grandes lábios?
– Você quer saber a profundidade, a partir do exterior? – respondeu com uma pergunta, para melhor esclarecer a dúvida do acadêmico.
– Sim, mestre! É isso exatamente! – falou o aluno curioso.
– Ah, isso depende, porque há variações individuais, raciais e, sobretudo, etárias – explicou o docente.
– Professor, para uma mulher de 18 anos, de quanto é essa distância?
– É, em média, de 2 a 3 centímetros – concluiu o Prof. Viliberto.
O mestre, considerando inoportuna e extemporânea a questão, inquiriu o perguntador:
– Mas por que você quis saber essa informação, se o tema da aula de hoje não é anatomia ginecológica?
Antes que o acadêmico explicasse o motivo da sua dúvida, os colegas sentados próximos a ele perceberam que o rapaz, com o indicador direito em riste, e usando o polegar, como se fosse medir uma determinada marca invisível, pronunciou, com um misto de decepção e de revolta:
– Que sacana! Ela me enganou: não era mais moça, não!
O que ele não disse foi se estava se referindo à idade, ou à integridade himenal da suposta donzela.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Da Sobrames-CE e da ABRAMES
* Publicado In: SOBRAMES – CEARÁ. Letras que curam. Fortaleza: Sobrames-CE/Expressão, 2013. 328p. p.222.

sábado, 26 de outubro de 2013

PEDREIRO PORTUGUÊS ACIDENTADO



TENTE LER SEM RIR ... Após ler o relatório, a Seguradora pagou o seguro.
Abaixo está a explicação de um operário português, acidentado no trabalho, à sua Cia. Seguradora.
A Cia. de Seguros havia estranhado tantas fraturas, e em uma só pessoa num mesmo acidente.
Chamo a atenção para o fato de que se trata de um caso verídico, cuja transcrição foi obtida por meio de cópia dos arquivos da Cia. Seguradora envolvida.
O caso foi julgado no Tribunal da Comarca de Cascais - Lisboa- Portugal.

À Cia. Seguradora.
Exmos. Senhores,
Em resposta ao seu gentil pedido de informações adicionais, esclareço:
No quesito nº 3 da comunicação do sinistro mencionei: 'tentando fazer o trabalho sozinho' como causa do meu acidente.
Em vossa carta V. Sas. me pedem uma explicação mais pormenorizada, pelo que espero sejam suficientes os seguintes detalhes:
Sou assentador de tijolos e no dia do acidente estava a trabalhar sozinho num telhado de um prédio de 6 (seis) andares. Ao terminar meu trabalho, verifiquei que haviam sobrado 250 kg de tijolos. Em vez de levá-los a mão para baixo (o que seria uma asneira), decidi colocá-los dentro de um barril, e, com ajuda de uma roldana, a qual felizmente estava fixada em um dos lados do edifício (mais precisamente no sexto andar), descê-los até o térreo.
Desci até o térreo, amarrei o barril com uma corda e subi para o sexto andar, de onde puxei o dito cujo para cima, colocando os tijolos no seu interior. Retornei em seguida para o térreo, desatei a corda e segurei-a com força para que os tijolos (250kg) descessem lentamente. Surpreendentemente, senti-me violentamente alçado do chão e, perdendo minha característica presença de espírito, esqueci-me de largar a corda ... Acho desnecessário dizer que fui içado do chão a grande velocidade.
Nas proximidades do terceiro andar dei de cara com o barril que vinha a descer. Ficam, pois, explicadas as fraturas do crânio e das clavículas. Continuei a subir a uma velocidade um pouco menor, somente parando quando os meus dedos ficaram entalados na roldana. Felizmente, nesse momento já recuperara a minha presença de espírito e consegui, apesar das fortes dores, agarrar a corda.
Simultaneamente, no entanto, o barril com os tijolos caiu ao chão, partindo seu fundo. Sem os tijolos, o barril pesava aproximadamente 25 kg.
Como podem imaginar, comecei a cair vertiginosamente, agarrado à corda, sendo que, próximo ao terceiro andar, quem encontrei? Ora pois, o barril vinha a subir. Ficam explicadas as fraturas dos tornozelos e as lacerações das pernas. Felizmente, com a redução da velocidade de minha descida, veio minimizar os meus sofrimentos quando caí em cima dos tijolos embaixo, pois felizmente só fraturei três vértebras. No entanto, lamento informar que ainda houve agravamento do sinistro, pois quando me encontrava caído sobre os tijolos estava incapacitado de me levantar, porém pude finalmente soltar a corda. O problema é que o barril, que pesava mais do que a corda, desceu e caiu em cima de mim fraturando-me as pernas. Espero ter fornecido as informações complementares que me haviam sido solicitadas. Esclareço que este relatório foi escrito por minha enfermeira, pois os meus dedos ainda guardam a forma da roldana.
Atenciosamente,
Antonio Manuel Joaquim Soares de Coimbra
Fonte: Internet (circulando por e-mail).

DICA DE SAÚDE



“Homens que querem ter uma alimentação saudável, devem c.... mulheres de fibra."
Fonte: Internet (circulando por e-mail).
Nota do Blog: A dica é grosseira, valendo apenas como humor politicamente incorreto.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Cheiro de Saudade: três meses de falecimento de Elsie Studart



CHEIRO DE SAUDADE
Por Elsie Studart Gurgel de Oliveira
No final da década de 1950, começo de 1960, a Praça Clóvis Bevilácqua era conhecida como Praça da Bandeira; o verde das árvores centenárias não fora ainda substituído pelo cinza do concreto – obra e graça do Prefeito José Walter, mais preocupado em construir uma mega cisterna subterrânea para abastecimento d’água à população de Fortaleza, do que mesmo em preservar o meio-ambiente, até porque, àquela época, ecologia não fazia parte dos assuntos do dia, nem das políticas de governo.
A Faculdade de Direito pontificava no quadrilátero da praça, como celeiro de inteligência. Ali se formava a intelectualidade do Estado, mercê das aulas sábias dos eméritos catedráticos da antiga Salamanca. Conhecia-se um aluno do curso, pelo uso do paletó, pela bagagem de livros trazidos debaixo do braço, e, não raro pelos óculos de lentes grossas que denunciavam cansaço de visão, pelas horas consumidas na leitura dos códigos e outros instrumentos jurídicos.
Bem ao lado da praça, entre as ruas Clarindo de Queiroz e Meton de Alencar, ficava o CEU – Clube dos Estudantes Universitários, na verdade, um pedacinho do céu, transmudado para a Rua Senador Pompeu, uma das artérias mais importantes da capital, nos idos de 1950/60.
No local, funcionava o Restaurante Universitário, ponto certo dos estudantes que não tinham familiares na cidade, e ali iam se servir de comida boa e barata. Outros, procuravam o CEU para estudar, sendo comum a freqüência de alunos, de cursos diferentes, que se reuniam para realizar trabalhos, repassar informações, discutir matéria relativa às aulas e/ou mesmo questões de interesse particular.
Mas o bom mesmo do CEU, eram as tertúlias das sextas-feiras, iniciadas por volta das nove, dez horas, e prolongando-se até depois da meia-noite. Havia até um conjunto, formado pelo José Almar, da Agronomia, Vicente Vieira e Afrodísio Pamplona, da Engenharia, Anchieta Mendes, do Curso de Direito, Paulo Picanço e Maurício Benevides, da Medicina (esses os nomes guardados na minha memória).
Era tempo de Ray Connif, das músicas do Elvis Presley, do Pat Boone, do Nat King Cole, isso sem falar dos boleros tradicionais que eram, verdadeiramente, o must, dentro daquele universo onde a juventude se divertia, saudavelmente, sem apelar para o consumo de drogas, restritas quase sempre ao uso do cigarro e da bebida. No máximo, algumas doses de cuba libre (rum e coca-cola), umas tomadas de gim, vodka e uma boa quantidade de cerveja rolando, para levantar o ânimo do pessoal. O cheiro do cigarro não deixava por menos: Continental, Hollywood, Minister, faziam a festa, ou melhor, o fumacê, sem ninguém questionar o tabagismo, se o fumo dava ou não alergia, se provocava câncer, porque, afinal, o que todos queriam, mesmo, era apenas diversão.
O rock já ensaiava os seus passos, mas, no CEU, o que pesava, de fato, eram as baladas românticas, do tipo Besame Mucho, Solamente una Vez, Petite Fleur, Mona Lisa, Over the Rainbow, Perfídia, Fascinação e tantas outras. De vez em quando, uma música apressada, como o Gavião Malvado, para sacudir a galera (este termo, por sinal, não fazia parte do vocabulário dos frequentadores do clube).
Aos poucos, a Bossa Nova foi chegando, e logo dominou o espaço, das noites de sexta-feira, por conta da sua identificação com o perfil da juventude universitária, de então. Samba de uma Nota Só, Desafinado, Lobo-Mau, começaram, de pronto, a ganhar corpo na interpretação do conjunto que apelava, também, para as performances maravilhosas de Vicente Vieira, no piano, de Anchieta Mendes, no saxofone, e de Maurício Benevides, o crooner da vez.
Nesse meio-tempo, muitos namoros se fizeram, debaixo do céu estrelado (o dancing era ao ar livre), muitos amores cresceram, e como não poderia deixar de acontecer, muitos relações foram cortadas e muitos corações saíram partidos. Uma das razões disso é que boa quantidade de estudantes procedia do interior, e tão logo concluído o curso universitário, eles retornavam às suas origens, ou iam buscar emprego, fora do Estado. Daí, o rompimento ser só uma questão de tempo e de oportunidade.
Era interessante como se conseguia aliar a figura de estudante, à sua faculdade. Quem, por exemplo, fazia agronomia, diferenciava-se de quem fazia direito, só pelo modo de vestir. Calças jeans, para os futuros causídicos, nesse caso, nem pensar;  calças do tipo far west, ou US Top, ficavam para quem mexia com as coisas do campo; já o pessoal da engenharia, passava um ar de seriedade, dando a impressão de que vivia com régua e compasso na cabeça.
Um fato que chamava atenção, à época, era o código de honra, mantido na antiga escola de engenharia. Ninguém colava. Todos tinham consciência das suas responsabilidades, e, portanto, ali, era totalmente descartada a presença de fiscal.
Arquitetura só veio depois, criando-se então um nicho de inteligências meio que tangenciosas, com relação à ortodoxia dos costumes, mas bem antenadas com a política e com a arte.
Quem era da Farmácia e da Odontologia limitava-se mais a estudar do que a formar uma casta, como acontecia com os acadêmicos de medicina, espaçosos em suas atitudes, e muito cheios de estilo, sempre olhando de cima, de salto alto, como era comum se dizer. Os alunos da Economia não tinham o vezo da exibição. Eles sabiam que terminado o curso, não haveria dificuldade maior para a sua absorção pelos bancos oficiais, pela SUDEC, pela SUDENE, pelo DNOCS, até pelo fato de o momento brasileiro ser propício às grandes iniciativas de projetos que careciam da mão-de-obra dessa categoria.
Muito embora não fizessem parte desse bloco universitário, os cursos de enfermagem e de serviço social eram bastante prestigiados, mais ainda no CEU, por conta do gênero, já que a freqüência era totalmente feminina. Havia também o pessoal da Pedagogia, que trazia no seu bojo um componente de religiosidade, em muito porque da clientela participavam ex-seminaristas, além de professores interessados, de fato, em regularizar a situação de educador, o que não deixava, como ainda não deixa de ser, um sacerdócio. Os que tinham uma queda por português, francês, espanhol, escolhiam línguas neolatinas; os que preferiam inglês e alemão iam para as anglogermânicas.
No final das contas, eram todos jovens universitários, sedentos de conhecimento, mas, também, de diversão, nas noites de sexta-feira do CEU. O mesmo pessoal que freqüentava aquele reduto, era geralmente encontrado nas manhãs domingueiras do Comercial, do Massapeense, do Iate Clube e, ainda, nas tertúlias do Maguari, nas noites de domingo, embaladas por Ivanildo e seu Conjunto.
À época dos jogos universitários, tudo virava festa. Primeiro, os desfiles em carro aberto, pelas ruas do centro, com atletas e simpatizantes fazendo muito alarido, sem dúvida nenhuma estimulados pelo álcool, que corria à solta, nesses acontecimentos, muito embora não fossem registradas ocorrências que iriam ilustrar as páginas policiais.
O clima era, na verdade, de competição, mas tudo sem descambar para a violência. Ao final do certame, que durava toda uma semana, era eleita a Rainha dos Jogos Universitários. E tome festa. E tome bebida, porque, afinal, ninguém era de ferro.
Por outro lado, havia uma legião de estudantes, cursando algumas dessas faculdades, vocacionados para as coisas além da matéria. De um modo geral, eles compunham o grupo da JUC - Juventude Universitária Católica, que independia do curso freqüentado, e que tinha o foco centrado na discussão de assuntos relacionados à fé, e ao exercício de atividades de cunho nitidamente social.
O CEU era, realmente, um espaço democrático, onde se juntavam todas as tribos, com um único propósito: diversão, sem preocupação com dinheiro, com violência, com má-falação. A linguagem era um só: a do viver em paz, feito menino-passarinho com vontade de voar. É que os ouvidos pareciam estar acostumados a um mesmo tipo de música, sem apelação. As moças, como era o costume, de então, ficavam sentadas na mureta baixa, que rodeava o dancing, à espera do convite para dançar. E quando iam para a pista, deixavam-se levar, mais pela canção, do que mesmo pela cantada dos parceiros, já que ontem, como agora, a oportunidade faz o ladrão.
E lá se vão mais de 50 anos do Clube dos Estudantes Universitários, na Praça da Bandeira. Mais de cinco décadas também de bossa-nova, com João Gilberto cantando baixinho e compassado: “Eis aqui este sambinha, feito de uma vista só”. No meio de toda essa história, vivida e contada, os anos de chumbo. O tempo passou e não dá mais para se dizer: fotografei você, com a minha rolley-flex. Tudo isso vai para o baú das memórias. Mas, “Chega de saudade! como a vida precisa ser reinventada, no dizer de Cecília Meireles, nada como pegar uma gravação nova, pensando no vinil da Nara Leão, que ficou guardado na estante, até que tomaram emprestado e não mais devolveram.
Isso, com certeza, vai fazer lembrar dos bons tempos do CEU, quando se cantava e dançava “Manhã de luz, festa do sol”, sem preocupação alguma com o que pudesse acontecer.
O mais importante, para quem ia ali, era ver aquele céu descoberto, era ouvir aquele som sem ferir os ouvidos, era se deixar embalar pela canção de Consuelo Velasquez: “como se fuera aquella noche, la ultima vez”.
* Publicado In: SOBRAMES – CEARÁ. Letras que curam. Fortaleza: Sobrames-CE/Expressão, 2013. 328p. p.79-82.
Nota do Blog: É com imensa saudade que registramos os três meses de falecimento de D. Elsie Studart. Como editor da antologia da Sobrames de 2013, incluímos esse texto de Elsie, prenhe de lembranças dos tempos universitários, dos anos sessenta, como uma forma de homenagem dos sobramistas cearenses a essa tão brilhante escritora, cuja modéstia a levava a fugir dos holofotes e das badalações.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva

Lúcia Dummar - vida longa com qualidade



Antero Coelho Neto (*)
Lúcia Dummar foi, e será sempre, um exemplo de vida longa com qualidade. Foram 96 anos vividos com exemplar “vida ativa, criativa e saudável”. Este lema, defendido e propagado pela OMS, em seu trabalho para os idosos de todo o mundo e por nós há 14 anos, em nosso programa (Rádio AM do POVO e na FM Universitária), terá sempre em dona Lúcia um dos exemplos maiores no nosso Estado.
Foi uma vida com qualidade para ela e exemplo de vida para todos os cearenses. Para mim, e sei que todos vocês concordam comigo, torna-se ainda mais importante pelo fato de que dona Lúcia tinha como uma das dimensões maiores de sua vida: o valor dado por ela à memória.
Com a sua evidente capacidade criativa, elaborou e montou um memorial em sua linda casa, colecionando escritos, fotos e obras sobre sua família, O POVO e fatos que ela reconhecia como valiosos. Nessa casa, destacada por seu amigo Lúcio Brasileiro como o “Castelo da Lagoa”, tudo estará preservado, lembrando o que foi importante para ela, para o Ceará e para todos nós.
Amiga desde há muitos anos, torna-se eterna também pelo seu grande trabalho de solidariedade e ajuda para muitos cearenses.
Em 20/11/99, dona Lúcia participou do nosso Programa “Novas Dimensões”, na Rádio AM do Povo, de número 100, com grande alegria e que gravamos como exemplo de satisfação de viver. Ao realizar a sua gravação, tive uma enorme surpresa ao constatar que ela, de uma maneira muito alegre e especial, citou positivamente os 20 “mandamentos” para uma longevidade feliz que adotamos, baseados nos achados e pesquisas dos melhores centros de avaliação de longevidade do globo e divididos em: o que devemos fazer, evitar e não fazer.
Jamais tinha tido respostas tão positivas e ditas com tanta firmeza, que gravei e transmiti para meus ouvintes. E, ao terminar as perguntas, disse que a sua grande alegria, naquele momento, era que estava aprendendo a trabalhar no computador. E, ao lhe perguntar sobre o fundamental em sua vida, respondeu: amor aos filhos, sua religião, esperança e determinação de alcançar o futuro desejado. Ali estava um exemplo, aos 83 anos, de uma mulher longeva com ótima qualidade de vida.
Telefonava falando do nosso programa de rádio, dando acolhedoras sugestões e, algumas vezes, nos convidando para almoçar com ela em sua casa. Cozinheira famosa e usando muitos alimentos de sua própria horta e aves, nos encantava pelo sabor.
Com suas fotografias e momentos publicados em vários jornais locais, juntamente com informações e programas gravados com ela e com seu filho Demócrito, elaboramos um CD que distribuímos para ela e para membros de sua família. Era a nossa gravação para que esses momentos e fatos ficassem para sempre na nossa memória.
É uma lembrança de grande significado emocional para nós. Para ela, concentramos nossa consciência, neste momento e em outros que virão, pois nossa saudade será para sempre.
(*) Médico, professor e ex-presidente da Academia Cearense de Medicina.
Publicado In: O Povo, 2/10/2013. p.6.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

JOSÉ VALDIVINO DE CARVALHO: um educador cristão e social



Nasceu o poeta José Valdivino de Carvalho, em Água Verde, povoado então pertencente a Pacatuba, no Ceará, no dia 25 de fevereiro de 1911, filho de Pedro Lopes de Sá e Antônia Valdivino de Sá.
Em 1922, aos 11 anos deixa o aprazível Engenho Livramento, onde morava, para iniciar seus estudos no Seminário Arquidiocesano de Fortaleza, o conhecido Seminário da Prainha, reduto da formação de inúmeros intelectuais, que brilharam e enriqueceram a cultura e a política cearenses.
Em 1929, passa a residir com seu pai adotivo, o Cel. Juvenal de Carvalho, no palacete localizado à rua Floriano Peixoto, Nº 1.171, e a estudar com os Irmãos Maristas no Colégio Cearense Sagrado Coração.
Bacharelou-se, em 1938, em Direito pela Faculdade de Direito do Ceará, unidade que viria integrar em 1954, a Universidade Federal do Ceará. No entanto, nunca militou na advocacia, porquanto o embate e a divergência entre as partes produziam um sofrimento no imo de sua alma, face à bondade imperante em suas ações, imbuído que era do total desprendimento para com o próximo, calcado na doutrina cristã que abraçara e pautara a sua existência.
Homem de convicção religiosa sólida, católico fervoroso, sentia-se engrandecido por pertencer à associação dos Irmãos do Santíssimo e exercer o Ministério Extraordinário da Eucaristia. Por suas estreitas relações com o Sr. Arcebispo metropolita, Dom Antônio de Almeida Lustosa, engajou-se na criação e implantação da Associação de Educação Familiar e Social de Fortaleza, que daria guarida ao Instituto Social de Fortaleza.
Em 2 de março de 1935, desposou a jovem Maria Adamir Correia Leitão, com quem teve nove filhos, formando a todos, e legando ao Ceará uma plêiade de filhos talentosos e valorosos cidadãos.
O seu ganha-pão foi, sobretudo, decorrente da atribuição de professor de português e francês, ensinando em várias escolas de Fortaleza, como o Colégio das Dorotéias, o Colégio Juvenal de Carvalho, das Irmãs Salesianas, o Castelo Branco e o São José, tendo alcançado o acme no magistério, como Diretor da então Escola Normal Justiniano de Serpa, tradicional centro de formação das professoras primárias.
Em 15 de agosto de 1953, dia de Nossa Senhora da Assunção, a padroeira desta Fortaleza, chega a “imortalidade terrena”, ao assumir a Cadeira Nº 11, da Academia Cearense de Letras, patroneada pelo médico e historiador Barão de Studart.
No dia 15 de outubro de 1974, no salão de honra do Palácio da Abolição, recebeu das mãos do então Governador do Estado a Medalha Justiniano de Serpa.
Pertenceu ainda à Academia Cearense de Língua Portuguesa e ao Instituto Cultural do Vale Caririense.
José Valdivino de Carvalho destacou-se sobremaneira como escritor, tendo publicado vários livros, alguns dos quais convém ressaltar. O primeiro deles, “Florilégio”, impresso pela Tipografia Santos, em 1938, foi uma compilação das perorações do seu tio avô, o Pe. Valdivino Nogueira, um notável tribuno sacro. Em “O Perigo da Coeducação”, editado em 1939, traduziu o pensamento católico da época que se insurgia contra a possibilidade da educação de jovens, em colégios mistos. “Ma Grammaire Française”, impresso em 1940, pela Editora A Fortaleza, foi um didático livro para aprendizado da língua francesa. Em 1942, estreou na ficção, quando trouxe a lume, “A Flor da Jurema”, obra que pode ser qualificada no gênero romance.
Publicou ainda, em 1943, “A Poética do Padre Antonio Tomás” e “Pontos de Português”. Por intermédio da Editora e Gráfica Tipogresso, lançou, em 1975, “Você e a Crase”, e, em 1980, “O Étimo de Valdivino”. Em 1984, escreveu onze pequenos contos e ao final de alguns teceu mensagem de cidadania, de moral e ética para seus netos. Por fim, publicou “Historinhas Para Meus Netos e Bisnetos”, recriando, em uma linguagem acessível às crianças, contos infantis que escutara de sua ama, quando menino no Engenho Livramento.
No entanto, foi principalmente como poeta que José Valdivino de Carvalho se projetou entre os seus pares, pranteando a saudade de sua bucólica terra, ratificando o amor sem limites por sua Maria Adamir. O seu primeiro livro de versos, “Coração”, foi publicado em 1939. A obra “Tardes sem Sol”, editada pela Secretaria de Cultura do Estado do Ceará em 1978, foi o coroamento da maturidade lírica do grande vate.
Por mais de quatro décadas, empregou a sua velha e querida máquina de escrever como instrumento de trabalho, pontificando como articulista de diversas revistas, a exemplo da revista Valor, da qual foi colaborador por alguns anos; da Revista da Academia Cearense de Letras, em que registrou mais de uma dezena de ensaios de inegável reconhecimento cultural; e da revista Verdes Mares, órgão oficial do grêmio estudantil do colégio marista, que serviu de berço para o desabrochar de jovens escritores no Ceará.
Não menor, contudo, foi a sua atuação como jornalista. Escreveu em “O Nordeste”, jornal da arquidiocese de Fortaleza, crônica semanal, intitulada “Às Quintas”. Essas crônicas foram regularmente divulgadas até o fechamento do jornal, quando passaram a ser publicadas no jornal O Povo.
Voltou à Casa do Pai, em 26 de abril de 1989, quando contava 78 anos de idade, após cumprir uma existência profícua, marcada por atos de quem sempre soube espargir o bem.
Prof. Dr. Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Da Academia Cearense de Medicina e
da Academia Brasileira de Médicos Escritores

* Publicado, com redução, In: Ceará em Brasília, 24 (255): 22, outubro de 2013. (Jornal da Casa do Ceará em Brasília).
Fonte de Dados: CARVALHO, Francisco Flávio Leitão de. O poeta José Valdivino de Carvalho. Conferência pronunciada no XXII Congresso Brasileiro de Médicos Escritores, realizado em Fortaleza, de 4 a 7 de junho de 2008, patrocinado pela SOBRAMES. 11p. (mimeo.).

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

ACELERAÇÃO DO PROJETO QUE LIBERA BIOGRAFIAS SEM AUTORIZAÇÃO



Líderes da Câmara decidem acelerar projeto que libera biografias sem autorização

Márcio Falcão e Ranier Bragon, de Brasília
Os líderes da Câmara dos Deputados decidiram nesta terça-feira (22) dar celeridade ao projeto de lei que libera biografias sem autorização e ainda fazer uma modificação na proposta para garantir rapidez na responsabilização de eventuais difamações e calúnias.
Ficou definido que os deputados devem analisar amanhã em plenário a chamada urgência para votação do texto, o que garante prioridade na pauta de votações. Alguns líderes, como o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), defendem que os parlamentares analisem amanhã mesmo o conteúdo do projeto.
A proposta, de autoria do deputado Newton Lima (PT-SP) autoriza a divulgação de filmes ou publicação de livros biográficos sem autorização da pessoa retratada ou de sua família.
Os líderes fecharam um acordo para apoiar uma sugestão de alteração no projeto apresentada pelo líder do DEM na Câmara, Ronaldo Caiado (GO). Ele propôs que o autor, em caso de difamação, enfrente processo judicial em rito sumário. A ideia é que o processo seja analisado por um colegiado de juízes e ganhe rapidez. Caiado processa, desde 2005, o autor Fernando Morais por citá-lo no livro "Na Toca dos Leões", que conta a história da agência W/Brasil.
"Você pode escrever o que quiser, mas desde que seja responsabilizado pelo que escreveu e esteja embasado", disse Caiado.
Segundo Caiado, esse rito sumário será para garantir que o trecho questionado seja suprimido da obra se a Justiça entender que houve difamação ou calúnia. O líder explicou ainda que não haverá retirada de obras das livrarias. As ações de indenização seguiriam o rito normal. A análise dos casos seriam em juizados especiais.
O líder do DEM defende que seja incluído no projeto uma determinação para que "a pessoa que se sentir atingida em sua honra, boa fama ou respeitabilidade" possa requerer a exclusão do trecho que lhe for ofensivo em outras edições da obra. O texto da emenda ainda não foi divulgado por Caiado.
Fora do colégio de líderes, deputados criticaram a celeridade. "Político está tão em baixa que se apega a qualquer coisa para melhorar a imagem. Até votar de afogadilho um tema como esse", afirmou o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA).
O líder do PT, José Guimarães (CE), disse que a proposta de Caiado unificou o entendimento dos líderes da Casa. Ontem, o petista indicou que poderia não apoiar a prioridade do texto na pauta de votações. "Com muita conversa, em 24 horas até manga no pé amadurece".
O líder do governo afirmou que a polêmica envolvendo artistas contribuiu para a retomada do projeto que estava parado desde abril na Casa. "Como sempre, fatores externos influenciam".
O debate sobre a liberação das biografias sem autorização da pessoa retratada ou de sua família reacendeu depois que Roberto Carlos e o grupo de músicos Procure Saber saíram em defesa da necessidade de autorização prévia para publicação de biografias.
Para o grupo Procure Saber, a comercialização de obras privilegia o mercado em detrimento dos biografados. A associação, entre outros pontos, também questiona os valores pagos por danos morais.
Do outro lado, o mercado editorial e os escritores são contra as restrições às biografias. Um manifesto divulgado em setembro na Bienal do Rio, assinado por autores como Boris Fausto e Ruy Castro, diz que a proibição às biografias não autorizadas é um "monopólio da história, típico de regimes totalitários".
O projeto está parado desde abril na Câmara. Na época, o texto foi aprovado em caráter terminativo pela Comissão de Constituição e Justiça e seguiria para análise do Senado, mas um recurso apresentado pelo deputado Marcos Rogério (PDT-RO) com apoio de mais de 70 parlamentares, levou a discussão para o plenário da Câmara.
MUDANÇA
O projeto pretende alterar o Código Civil, que atualmente só autoriza a divulgação de imagens e informações biográficas de personagens públicos em situações específicas.
São elas: com autorização da pessoa exposta ou, se ela já tiver morrido, com consentimento de parente; por necessidade da administração da Justiça e para manutenção da ordem pública.
Com base nesses critérios, a Justiça já proibiu a venda de obras como as biografias do músico Roberto Carlos e do jogador Garrincha.
O texto estabelece que "a ausência de autorização não impede a divulgação de imagens, escritos e informações com finalidade biográfica de pessoa cuja trajetória pessoal, artística ou profissional tenha dimensão pública ou esteja inserida em acontecimentos de interesse da coletividade".
Fonte: Folha/Notícias UOL 22/10/2013

terça-feira, 22 de outubro de 2013

JALECO SUJO, MÃO SUJA



João Brainer Clares de Andrade (*)
O discurso é bonito e entusiasmante: “levar mais médicos a quem precisa”. Não há quem possa ir contra, pois seria um atentado à população que mais precisa de investimento e, sobretudo, respeito.
O tema que parecia se findar com o quase esgotado esforço de evitá-lo ainda habita as primeiras páginas de jornal. O discurso do Governo é revestido de aura publicitária: toca no sentimento da população, dramatiza o caos, oculta os problemas estruturais e, mais ainda, terceiriza a culpa. O paradeiro da culpa, então, vai ao médico, agora vilão do sistema de saúde: de benfeitor a insensível com a causa popular tão evocada pelo jargão ministerial de “levar mais médicos a quem precisa”. A estratégia é quase matemática: a culpa é dos médicos, o jaleco deles está sujo pela ganância que lhes é própria...
Ante o entrave, ainda surge o ministro da Educação e propõe que os médicos devem ser “especialistas em gente” e que devemos dialogar com o sentimento das pessoas. Senhor ministro, não há nada mais denso na faculdade de Medicina que o contato com a população que mais sofre. Somos, como profissionais, igualmente vitimados por um sistema que não fecha suas contas e que deixa faltar medicamentos, equipamentos, leitos e profissionais a quem mais precisa. Somos humanizados à força no ambiente brutalizante que o Governo mantém.
Se houvesse franco interesse de levar mais dignidade a quem precisa, o Governo não tiraria de pauta o aumento de recursos ao SUS, haveria investimento em carreira pública aos médicos brasileiros e os estrangeiros (que sejam muito bem-vindos) viriam revalidados, pois não se é digno oferecer duas Medicinas: a do rico e a do pobre; a feita por bons médicos e a feita por médicos sequer avaliados. A emoção pela causa nobre cega contra os interesses eleitoreiros, as práticas desumanas, as investidas peçonhentas que, embora não pareçam, colocam a população em risco constante.
Se o nosso jaleco está sujo pelos pecados que nos são depositados, pela culpa que nos impõem, digo, pois, que as mãos de quem gere o SUS estão sujas de sangue.
(*) João Brainer é concludente do curso de Medicina da turma de 2013.
Fonte: Publicado In: O Povo, 10/10/2013. Opiniãp. p. 6.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Eduardo e Marina: riscos e oportunidades de uma aliança



Por Ricardo Alcântara (*)
O governador dos pernambucanos toca adiante uma gestão de bons índices e alguns méritos, desempenho que, somado a vocação política de berço, faz dele hoje liderança sem rivalidades no estado que governa. Pernambuco é Eduardo Campos.
Somou-se à eficiência uma boa dose de sorte: nenhum estado ao Norte de Brasília recebeu tantos investimentos de patrocínio público quanto Pernambuco nos anos de governo do conterrâneo Lula. Quem viu aquilo, sabe: é coisa de pai para filho.
É essa, a sua base de confiança para a decisão recente de disputar uma eleição presidencial no próximo ano: Eduardo se julga capaz de convencer o Brasil de que pode fazer por ele mais do que se vê feito agora por Dilma, sua parceira.
Pois se são muitas as ressalvas que faz ao atual governo, andou muito calado por esses dias todos: dele, nunca se ouviu – nos tempos que antecederam a decisão tanto quanto agora – nenhuma crítica mais substantiva ao que está aí.
Sem que tenha construído um discurso de gradual discrepância, a candidatura presidencial do antigo aliado, um carimbado governista, foi ao mercado com o desafio de superar o signo carreirista com o vislumbre de novas perspectivas.
Devolvidos os cargos na esfera federal e desprendido das obrigações éticas daí decorrentes, entrega-se agora à segunda etapa: balizar as diferenças que em seu projeto justifiquem a ruptura em medida suficiente para uma candidatura.
Eduardo não iria muito longe nisso: sabe da boa margem de prestígio popular do governo e, parceiro longevo na obra que dele receberá agora tardias restrições, tem suas digitais impressas também nas decisões controvertidas dessa gestão.
De acordo com o trajeto definido no início da jornada, deixaria para o tucano Aécio Neves, com os ônus decorrentes, a personificação de opositor ideológico do petismo e tentaria ocupar o espaço intermediário da convergência moderada.
“O que é bom pode melhorar” seria a batida do samba. Não o oposto, mas o contraste: romper a dicotomia política entre tucanos e petistas com um concerto político permeável ao arrojo empreendedor, sem abdicar das conquistas sociais.
E, assim, como uma eventual vitória sua não seria para o PT pior notícia do que devolver Brasília aos tucanos ou entregá-la aos sonháticos de Marina Silva, não seria muito combatido por eles antes que se desenhasse o perfil do segundo turno.
Era este o mapa, mas o território mudou. Com o inesperado apoio oferecido por Marina Silva à sua candidatura, e naturalmente aceito, seu posicionamento estratégico sofre uma inflexão que o afasta mais daquele ponto de equidistância.
Isso porque, embora seja Marina, como ele e até muito mais que ele, um rebento das forças que hoje se concentram no governo Dilma, a seringueira atua numa dimensão crítica mais radical sobre os rumos dados ao país pelo chamado Lulismo.
A aliança com Marina Silva oferece a ele a oportunidade de uma maior sintonia com o coração das ruas e amplia sua base de apoio popular, mas exige dele maior disposição para se expor ao risco de contrariar expectativas do status quo.
Ao lado dela – cujo aval higieniza seu projeto, mas lhe impõe uma sobrecarga de independência – para agentes como Rede Globo e FIESP o seu potencial de adoção como uma espécie de “Collor do bem” mergulha numa sombra de incertezas.
A partir de agora, sabe que não terá vida fácil. Os primeiros sinais do Planalto já indicam o acionamento dos mecanismos de tração que a estrutura federal dispõe para inibir a ousadia dos novos experimentos eleitorais nas bordas de sua base.
O acordo de Eduardo e Marina indica que, nos cálculos subjetivos da política, a soma de dois “anões” pode ser maior do que a estatura de um “gigante”, para usar, contra eles mesmos, a metáfora prepotente dos feiticeiros do marketing palaciano.
O fato é que, até então, as peças apenas estavam postas sobre o tabuleiro. Agora, os dados começaram a girar. Não será uma eleição fácil, isto eles já sabem por lá.
(*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta Livre.
Pauta Livre é cão sem dono. Se gostou, passe adiante.
 

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