Historiador cearense lança livro sobre o primeiro
brasileiro graduado em Harvard, o médico cearense Joaquim Antônio Alves Ribeiro,
natural do Icó.
Linhas
argumentativas contrapõem as narrativas originadas de uma distorção do
imaginário popular da historiografia dentro do Ceará. Essa é a essência
instigada no livro "A Ciência Peculiar de Joaquim Antônio Alves Ribeiro: Ceará - Harvard -
Ceará", do
historiador e professor universitário Eduardo Henrique Barbosa de Vasconcelos.
Eduardo é
graduado em história pela Universidade Federal do Ceará e realizou mestrado em
história das ciências e da Saúde da Fundação Oswaldo Cruz a Fiocruz no Rio de
Janeiro. Os estudos de doutorado feitos pelo pesquisador da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul foram transformados neste livro sobre o médico
cearense que ainda é pouco conhecido.
A recente obra
foi lançada no final do mês de fevereiro e já tem recebido destaque entre
pesquisadores e estudiosos na área. A narrativa é voltada especialmente à
história do primeiro brasileiro a estudar em Harvard, Joaquim Antonio Alves
Ribeiro, cearense que após os estudos no exterior retorna à cidade natal para
aplicar seus aprendizados.
Foi a partir
da dificuldade de encontrar informações sobre o primeiro museu de história
natural, que o autor cearense teve contato com os feitos do Doutor Alves
Ribeiro. Após a descoberta, ampliou os seus estudos para além do primeiro museu
cearense e descobriu os avanços e tecnologias do médico para a área da
medicina, assim como o movimento de democratização do acesso ao atendimento
médico ainda no século XIV.
Segundo o
historiador, durante o desenvolvimento da obra, focou em apresentar uma
perspectiva progressista do Nordeste. "Então, o primeiro médico brasileiro em
Harvard é um cidadão do Ceará. Fato interessante porque isso não é retratado
dentro da historiografia. É muito comum, sempre manter uma narrativa de seca,
cangaço, messianismo e mandonismo, porque essa é a imagem atrelada ao nordestino." pontua o estudioso.
Eduardo
ressalta o poder da obra para resgatar a memória histórica da cidade.
"Quero com o livro desmistificar a representação muito rala que se tem da
região. Aqui no Ceará, por exemplo, temos a primeira academia de Letras do
Brasil. Antônio Sales foi um cara fundamental para essa criação, com a
influência da padaria espiritual, e essas figuras acabam sendo apagadas, né?
Então o meu trabalho é enfrentar esse problema." destaca.
No livro, o
Professor Universitário defende os acréscimos do médico cearense para a
história do estado, e contraria a classificação de Alves Ribeiro como uma
pessoa à frente do tempo que vivia. "Ele foi um homem de seu tempo, as pessoas são
atentas à possibilidade do seu tempo, as pessoas não podem sair de seu tempo".
Outro ponto
ressaltado pelo autor é a projeção do Médico a projetos focados na cidade natal
e em Fortaleza. Após a passagem pela universidade norte-americana, o autor
retornou ao Ceará para aplicar os aprendizados da área estudada, fato que
contribuiu aos avanços científicos no Estado, mas também impactou o público que
não tinha acesso a atendimento médico.
"O debate à reflexão do conhecimento por parte
tanto de médicos como de pessoas leigas era uma preocupação dele. Por exemplo,
ele escreveu o manual da Parteira, pois ele deveria ter visto que havia uma
demanda muito grande por esse tipo de informação de serviço, e entendeu que nem
todos poderiam ir até a Santa Casa. Então, ele era um cidadão preocupado tanto
a nível regional e nacional, em circular essas informações e notícias médicas."
O historiador
e professor universitário Eduardo Henrique Barbosa de Vasconcelos
disponibilizou um pouco sobre as pesquisas e história de Alves Ribeiro no site
"cientista Alves Ribeiro". A obra do autor cearense também está
disponível para compra no mesmo endereço digital.
O pioneirismo de Joaquim
Antonio
O médico
cearense Joaquim Antonio Alves Ribeiro nasceu na cidade de Icó e cursou
medicina em Harvard, onde obteve o diploma em 1853. Segundo o historiador Eduardo
Vasconcelos, a ida do cearense aos Estados Unidos possivelmente tenha relação
com a profissão do pai, dono de terras e criador de gado, diante a família que
estava inserida no contexto da ocupação do sertão.
Possivelmente,
algum comerciante estrangeiro, dos EUA ou do Reino Unido, em contato com o pai
de Ribeiro, forneceu sugestões sobre como e onde estudar fora. O professor
pontua que os campi universitários
norte americanos não tinham muito prestígio, diante do processo de consolidação
dos Estados Unidos, um ponto que motivou o ingresso de Ribeiro em Harvard.
"Universidades
americanas eram boas e mais baratas. Além disso, o processo de seleção era
relativamente simples, com provas de latim, matemática e inglês", acrescenta o historiador.
Com o retorno
ao Brasil, o clínico geral desenvolveu suas atividades profissionais.
Inicialmente, atuou no interior da província do Rio Grande do Norte, onde
passou cerca de um ano. Em seguida, estabeleceu seu consultório médico na
província de Pernambuco, onde passou por volta de três anos.
Dr. Alves
Ribeiro retornou à província do Ceará, ocupando a cidade de Fortaleza para
atender pessoas em situação de vulnerabilidade social. E em 1861, com a
inauguração do primeiro hospital da Cidade, atuou como o primeiro médico da
Santa Casa de Misericórdia.
Alves Ribeiro
dentre seus estudos também participou de periódicos voltados à medicina.
Baseado na revista "Lancet", para
onde ele mandava correspondências e teve pequena participação, ele lançou
"A lanceta", o primeiro jornal médico científico de
Fortaleza.
Vale
ressaltar, a interferência do médico na criação e manutenção do primeiro museu
de História Natural do Ceará. Assim como o uso do éter como anestésico em
procedimentos médicos, experiência profissional citado em debate que ocorreu na
Gazeta Médica da Bahia.
Vitimado por
um câncer de estômago, Joaquim Antonio Alves Ribeiro morreu em 1875, aos 45
anos.
Lançamento de "A
Ciência Peculiar de Joaquim Antonio Alves Ribeiro"
Quando: quarta-feira, 24, às 15h30min
Onde: Instituto do Ceará (R. Barão do Rio Branco, 1594 - Centro)
Entrada
gratuita
Preço do livro: R$ 50
Mais
informações e vendas on-line: alvesribeirocientista.com.br
Fonte: Publicado In: O Povo, de 13/04/2024. Vida
& Arte. p.3.