Meraldo
Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
…Não
será de admirar, a epidemia da fobia social esteja se tornando nesse século XXI
um dos maiores problemas médico-sanitários. Como a maioria das nosologias, a
doença fóbica, vem se alastrando a ponto de muitos psicólogos considerá-la como
epidêmica…
Desde que nascemos somos educados para
vencer na vida. Os 15 minutos de glória são uma das nossas maiores metas. Assim
fomos educados, criados e preparados… verdadeiros animais de competição.
Não será de admirar, a epidemia da fobia
social esteja se tornando nesse século XXI um dos maiores problemas
médico-sanitários.
Como a maioria das nosologias, a doença
fóbica, vem se alastrando a ponto de muitos psicólogos considerá-la como
epidêmica. Como qualquer doença é multifatorial: resultante de vários fatores,
ou sejam: vulnerabilidade individual, aprendizado, ambiente familiar, cultural
ou fatores psicológicos.
Ensinados, desde pequenos, a não errar, a
criança do século XXI poderá desenvolver em uma das fases da vida, um tipo de
fobia ou timidez, um medo terrível, denominada de Transtorno da Ansiedade
Social.
O portador dessa síndrome carrega um
excessivo acanhamento de ser foco de atenção de outras pessoas e enquanto está
em cena, fazer algo que considere ridículo ou humilhante diante de “todo
mundo”.
Será pertinente lembrar que normalmente
temos alguma ansiedade em falar em público a pessoas recém conhecidas. Esses
aumentos de ansiedade são considerados como normal, desde que não leve a pessoa
a evitar situações que acarretar-lhe-ão grandes prejuízos e muitas vezes ser
causas de várias moléstias.
Na ansiedade patológica muitas vezes
acontecem fenômenos denominados de medos ou ansiedades antecipatórios. No
momento em que a timidez social chega ao ponto de prejudicar sua carreira, sua
vida, é hora de procurar auxílio profissional. Exemplos:
Você evita a ir a determinadas reuniões ou
encontros embora sejam de importância para seu futuro. A sensação de ansiedade
é tamanha que prefere a derrota, a perda, contando que a sensação mórbida possa
ser evitada.
Quatro são os fatores do medo social que
podem ser considerados não-patológicos:
1.Varia de intensidade de uma pessoa para outra
ou até no mesmo indivíduo em determinadas circunstâncias.
2. Não leva as pessoas a evitarem ou
frequentarem determinadas situações.
3. Não acarretam grandes prejuízos.
4. Não está associada a outras doenças.
Certamente a ansiedade antecipatória é uma
boa bússola, se necessitamos de procurar ajuda especializada. Muito embora a
ansiedade atinja o indivíduo em qualquer época da vida (7% das pessoas tem ou
tiveram fobia social), ela se manifesta com maior intensidade dos 6 aos 10
anos, atingindo seu ponto de maior ocorrência em plena adolescência,
principalmente do 14 aos 20 anos, tendendo a diminuir após os 25 anos.
Os tipos de fobia são os mais variados e,
por ordem de grandeza, são elas: falar em público, conversar com autoridades,
abordar o sexo oposto, conversar com estranhos, comer em público, sanitários
públicos, ficar nu em público, falar ao telefone, notar que está sendo
observado, ou levar uma reprimenda, principalmente em presença de outrem. Assim
os psicoterapeutas dividiram as fobias sociais em dois grandes grupos clínicos:
os que têm fobia social restrita (geralmente medo de falar em público), e a
fobia social generalizada, que são as formas mais encontradas, têm medo de
tudo.
Apesar de ser quadro muito angustiante,
algumas pessoas conseguem viver driblando seus medos irracionais, muitas vezes
com enormes prejuízos psicossociais.
No geral, os portadores de transtornos de
ansiedade social casam-se menos, apresentam um desempenho acadêmico deficiente,
suicidam-se em maior número, são isolados, dependentes de álcool ou drogas,
depressivos e padecem de distúrbio de pânico. Geralmente esse pânico é que as
leva à procura do tratamento.
Como psicoterapeuta de jovem, a síndrome
ligada às fobias sociais é a mais comum entre os jovens que me procuram. Justo
na adolescência, pois é nessa fase quando somos instados ao aprendizado de uma
série de regras de intercâmbio social.
Não é exclusivamente a fobia em si, mas o
medo da falta de habilidade nas interações sociais. Uma das queixas mais
encontradas em meus pacientes é o não saber paquerar.
Devemos saber fazer o diagnóstico
diferencial entre fobia e síndrome do pânico. Geralmente, essas últimas
desenvolvem medos nos recintos onde a saída seja difícil, lugares cheios de
gente onde possam passar mal, medo de não serem socorridos.
O maior medo do paciente fóbico, é se tornar
o centro das atenções por isso eles não gostam de falar muito. O portador da
síndrome do pânico desconhece o motivo do ataque. Deve estar ciente que o
tratamento da fobia social é longo, envolvendo psicoterapia e algumas vezes
associadas a medicações ansiolíticas além de certos treinamentos. Não devemos
esquecer que o medo é uma força moderadora da Natureza sendo um dos gigantes da
alma.
A fobia social é reconhecida como um
transtorno altamente incapacitante. Entretanto, a maioria dos pacientes não
procura tratamento. Isto também ocorre com a distimia (doença do mau-humor) em
que um alto grau de incapacitação é acompanhado de ausência de tratamento.
A fobia social se apresenta frequentemente
associada a outros diagnósticos psiquiátricos, sendo a associação mais
frequente à depressão. Algumas hipóteses sobre a associação entre fobia social
e depressão, que procuram relacionar a fobia social e a depressão como
variantes de uma mesma doença que aparece em tempos diferentes, não são as
mesmas doenças e requererem tratamentos diversos. Estamos cansados de ver
chegar ao nosso consultório paciente, principalmente adolescente, rotulado de
depressivo, quando o seu distúrbio básico é o transtorno da ansiedade social.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE), da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES) e da Academia Recifense de Letras. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).