O PRÍNCIPE
CONSPIRADOR
J.M. de Macedo -
"Ano Biográfico", vol. III. Pág. 212.
A atitude das Cortes de Lisboa em relação ao Brasil havia
congregado os patriotas deliberados a emancipar a antiga colônia com ou sem o
auxílio do Príncipe Regente. As combinações para isso marchavam céleres,
multiplicando-se os emissários especiais entre São Paulo e Rio, estabelecendo
ligações para o grande movimento libertador.
Incumbido, um dia, pelos patriotas da Corte, de ir àquela
província com uma mensagem verbal aos conspiradores, o capitão Pedro Dias Pais
Leme, que foi mais tarde marquês de Quixeramobim, entendeu no seu dever, de
caminho, passar na Quinta da Boa-Vista, e, como amigo do príncipe, narrar-lhe o
que se tramava.
D. Pedro ouviu, calmo, a narrativa, e, ao fim, em vez de
agradecer-lhe ou dar-lhe qualquer ordem, pôs-se a falar de viagens e caçadas.
Até que, por certa altura, chegando à janela, começou a olhar o horizonte, no
rumo do sul. E apontando-o a Pais Leme:
- Que belo dia para se viajar!...
O oficial compreendeu tudo. Beijou, comovido, a mão do
Príncipe, desceu rapidamente as escadas, montou a cavalo, e partiu a galope.
JUSTIÇA DE FUNIL
Anais do Senado,
1895.
Sessão de 31 de maio de 1895, do Senado. Na tribuna,
atacando o governo, o sr. Coelho Rodrigues lembra aos seus colegas republicanos
que na monarquia, ele, orador, não poupava o soberano, toda a vez que este se
desmandava. E cita, entre outras, esta frase daquela época:
- "O direito é o mesmo, ou não existe".
E concluindo:
- "E a Justiça não é nenhum funil, com o lado largo
para Sua Majestade e o estreito para nós!"
DECEPÇÃO
Alberto Rangel -
"Pedro I e a Marquesa de Santos", pág. 48.
Certo coronel mercenário, utilizado, como tantos outros,
por Pedro 1 nos primeiros dias do Império, costumava gabar-se da amizade que
lhe dispensava o Imperador.
- Quando eu morre - dizia
ele, frequentemente, no seu português de alemão; - quando eu morre, lmperradorr chorra muito!
Um dia, durante um jantar entre camaradas em que todos
haviam bebido em demasia, entenderam estes de tirar a prova daquela asserção, e
mandaram um portador ao Paço, comunicar a Sua Majestade a morte do oficial.
Ao regressar o emissário, o coronel indagou, pressuroso e
comovido:
- Imperradorr chorra?
- Não, senhor, -
informou o encarregado da missão. - Quando eu
lhe dei a notícia, Sua Majestade limitou-se a dizer: -"Pois que vá feder
pra longe!"
DE "BODE
LER"
Alberto Faria -
Conferência na Academia Brasileira de Letras, em 1925.
Frequentador da casa dos Marianos, de que descende
Alberto de Oliveira, conheceu Fagundes Varela, aí, um mulato pernóstico, de
nome Teodorico. Aliteratado, o pardavasco pediu ao poeta que lhe emprestasse as
Flores do Mal.
- Não posso, - recusou Varela, piscando os olhos azuis.
E sem a menor consideração:
- É de Baudelaire; não para "bode ler"!
Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927).