Eu conheci o Ac. Sérgio
Gomes de Matos quando ainda era estudante de Medicina e frequentei algumas
sessões clínicas na Casa de Saúde São Raimundo, onde ele integrava, como clínico
geral e pneumologista, o “staff” médico daquele afamado nosocômio, que então contava,
em seu corpo clínico, com a participação de alguns expoentes da Medicina cearense
(e.g. Haroldo Juaçaba, Pontes Neto, Paulo Marcelo Martins Rodrigues, Régis
Jucá, Eduilton Girão, Pedro Henrique Saraiva Leão).
Na década de 1980, o Dr.
Sérgio Gomes de Matos manteve e assinava uma coluna semanal “Informes Médicos”,
em jornal de grande circulação local, que funcionava como uma crônica dos fatos
e dos médicos na terra alencarina. Fiquei lisonjeado, quando ainda era eu um
recém-chegado da pós-graduação (especialização e mestrado) na Faculdade de
Saúde Pública da USP, e vinha trabalhando com estatísticas da Secretaria da Saúde
do Estado do Ceará, fui citado por ele em sua coluna como um dos médicos de
maior destaque do ano em curso, por conta da contribuição que eu estava
oferecendo para se conhecer melhor a situação de saúde no Ceará. Mesmo que
fosse um julgamento tendencioso, de parte de alguém generoso, fui por ele
ombreado aos grandes nomes de nossa Medicina quando sequer tinha cinco anos de
formado.
Sérgio Gomes de Matos
era conhecido por suas majestosas perorações e recordo bem do elóquio por ele
proferido, em 14/11/2005, quando da sua admissão na Academia Cearense de
Medicina (ACM), como Membro Titular, ocupante da cadeira 52 dessa arcádia. Nesse
sodalício, ao longo de pouco mais de treze anos, assumiu diversos cargos, em
sucessivas gestões, oferecendo o primor do seu beletrismo em documentos oficiais,
que evidenciavam a sua erudição, e o domínio da audiência em sua atuação como
mestre de crimônia em eventos acadêmicos.
Desde quando fui
admitido na ACM, como Membro Titular, em fevereiro de 2009, recebi do Ac. Sérgio
Gomes de Matos continuados estímulos para o labor acadêmico, pois,
rotineiramente, sugeria o meu nome para o cumprimento de tarefas pontuais,
pondo crédito nos atributos que ele me julgava detentor. Ele, por hábito me
rotulava de polígrafo e polímata; ele tinha razão apenas quanto ao primeiro
rótulo, que pode ser quantificado e conferido em meu currículo na Plataforma Lattes
do CNPq, porém a qualificação de polímata seria melhor apropriada a ele
próprio, um ledor voraz, que, por pura modéstia, evitava ostentar seus méritos.
Quando se discutia a
criação da Academia Cearense de Médicos Escritores (ACEMES), a pequena resistência
à inclusão do seu nome no quadro de acadêmicos-fundadores, por não ter um livro
publicado, foi logo relevada diante do reconhecimento da propalada virtuosidade
dos seus escritos, mormente na forma de ensaios, crônicas e discursos, esparsos
nos Anais da ACM e em obras de outros autores, dentre as quais vale realçar a inserção
de textos dele em três publicações sob o nosso copyright.
Ele era, de certa forma, um animador cultural, que torcia pelo
êxito dos seus amigos e colegas e gostava de presentear com livros. Em nosso
caso particular, apreciava assinalar o quanto valorizava o meu ingresso no
Instituto do Ceará, que considerava o mais importante equipamento cultural do
Ceará, ao tempo em que manifestava o seu apoio à minha intenção de admissão na Academia
Cearense de Letras se eu apresentasse essa postulação.
A abrupta e inesperada partida do Ac. Sérgio Gomes de Matos
deste mundo menor, em 24/04/2019, deixa um sentimento de saudades naqueles que
foram beneficiados ao conviverem com ele, notadamente entre os que o tinham
como irmão em nossas confrarias.
Ac.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Da ACM e
da ACEMES