sábado, 31 de agosto de 2024

MARIO RIGATTO – vida e legado de um professor de medicina

 

Por Ana Margarida Furtado Arruda Rosemberg, médica e historiadora

Meu enleio vem de que um tapete é feito de tantos fios que não posso me resignar a seguir um fio só; meu enredamento vem de que uma história é feita de várias histórias.

Clarice Lispector - Os Desastres de Sofia (conto).

É missão das mais honrosas apresentar o livro “MARIO RIGATTO – VIDA E LEGADO DE UM PROFESSOR DE MEDICINA” de autoria da Profa. Dra. Helena Pitombeira, aqui no HEMOCE - Templo Sagrado da Medicina Cearense.

É, também, motivo de alegria e prazer tecer considerações sobre essa vultosa e relevante obra que, além de resgatar a vida e o legado de Mario Rigatto, para familiares e amigos, enriquecerá os anais da História da Medicina.

Por outro lado, é grande a responsabilidade de expor um livro de conteúdo raro, pois trata-se do memorial de um dos maiores luminares da medicina brasileira do século XX.

Rompendo o abismo e a pátina do tempo, Helena evoca o passado e nos brinda, depois de 24 anos da partida de seu amado, com uma obra primorosa revestida de uma aura que exala amor, carinho e reconhecimento do legado de Mario Rigatto.

A frase que abre livro “SAUDADE É UM ELOGIO AO PASSADO” e o texto que antecede o sumário foram retirados da “Aula da Saudade”, proferida por Rigatto no término do curso médico, da turma de 1974, da UFC, e que ensejou o espraiamento dessas aulas por todo o Brasil.

O elogio ao passado levou a autora, em parceria com sua amiga e cunhada, Helena Rigatto Kauer, a gestar esse livro, uma grande colcha de retalhos afetivos, como ressaltou sua filha Maria Helena.

Helena cerziu a colcha com textos seus e de Mario, além de tocantes depoimentos de familiares e amigos.  Depois, embelezou-a com fotos históricas de documentos e momentos mágicos da vida de Rigatto e de seus ancestrais.

O livro, impresso nas oficinas da gráfica Expressão Gráfica e Editora, com a Coordenação Editorial de Ítalo Gurgel, Projeto Gráfico/Capa de Geraldo Jesuíno e fotografias do acervo da família, é carinhosa e generosamente dedicado aos sete filhos de Mario Rigatto: Virginia, Paulo, Beatriz, Luiz, Marília, Maria Helena e Roberto.

Os Agradecimentos são dirigidos à Helena Rigatto Kauer, com quem a autora divide os méritos do livro, ao dr. Carlos Antônio Mascia Gottschall, ao jornalista Ítalo Gurgel, ao professor Geraldo Jesuíno, à Tereza Gurgel e a todos que dedicaram a Rigatto textos de profundo sentimento, no dizer de Helena.

O Prefácio de Carlos Gottschall, discípulo, amigo e companheiro de trabalho de Mario Rigatto por quatro décadas, além de amoroso, enaltece ao virtudes e as belas facetas da personalidade do amigo e engrandece suas atividades profissionais.

é um resumo da vida de Rigatto, com foco em suas atividades profissionais.

A Apresentação de Maria Helena, filha de Rigatto e Helena, fala do pai encantando plateias, lembra um pai carinhoso e atencioso com os filhos, mostra o esforço de sua mãe em selecionar fotos e organizar o livro com ajuda de sua tia Leninha e ressalta que a obra é uma visita intimista aos amigos e espaços percorridos por Rigatto.

Os Capítulos são teias que se interligam em uma dança mágica para contar a história de Rigatto, enveredando-se por outras histórias.

Como nos ensina o provérbio chinês, atribuído a Confúcio, “Uma imagem vale mais que mil palavras”, Helena recheou oito, dos dez capítulos, com imagens.

O Capítulo I, OS RIGATTOS E OS PILLMANNS DO RIO GRANDE DO SUL, evoca as raízes italianas e alemãs de Mario, reverenciando os antepassados.

O Capítulo II, INFÂNCIA FELIZ, JUVENTUDE IRREQUIETA, nos apresenta um Rigatto que, apesar de ter perdido o pai com apenas 12 anos, não perdeu a alegria de viver.

O Capítulo III, SERVIÇO MILITAR E O AMOR PELO ESPORTE, ressalta o orgulho de Rigatto em servir à pátria e a paixão pelo remo, esporte que cultuou durante toda a vida.

O Capítulo IV, IMENSA DEDICAÇÃO À FAMILIA, nos brinda com a transcrição da homenagem que Rigatto fez à sua mãe, Anna Luiza, em sua posse na Academia Nacional de Medicina, no dia 12.08.1991, e, também nos fala de sua dedicação sem limites à ampla família.

Os Capítulos V, VI, VII, VIII e IX são consagrados à vida profissional de Rigatto, como médico, professor e pesquisador. É dado um estaque especial às campanhas antifumo, que Rigatto abraçou com pioneirismo, lançando, em 1975, no Rio Grande do Sul, a primeira campanha formal de luta antitabágica no Brasil; enaltece o pesquisador que mostrou a existência de seis corações do homem e o conferencista sedutor, mestre da palavra que encantava e deleitava qualquer auditório e que proferiu 1035 conferências.

Como cientista, a produção de Rigatto foi abrangente:  430 publicações nacionais e internacionais, 82 artigos, 147 resumos, seis livros publicados, 57 capítulos de livros, 18 teses orientadas, 110 ensaios, 239 temas livres, 195 participações em congressos.

O Capítulo X, MARIO RIGATTO NÃO MORREU – DEPOIMENTOS, é composto por 33 comoventes relatos de filhos, irmãos, familiares e amigos.

Dois textos fecham o livro com “Chave de Ouro”. A homenagem que Helena presta a sua cunhada, “ODE A UMA GRANDE AMIGA, HELENA RIGATTO KAUER e a notável biografia de Rigatto, destacando a homenagem póstuma do Conselho Federal de Medicina – Comenda Mario Rigatto – Medicina e Humanidades Médicas.

O estilo da escrita de Helena remete a “teoria do iceberg” elaborada pelo afamado escritor estadunidense Ernest Hemingway (1899-1961), ganhador do Nobel da Literatura, em 1954, com seu magnífico livro “O Velho e o Mar”.

Podando seus textos, Hemingway dizia que o significado mais intenso de suas histórias está imerso, está nas entrelinhas.

Em seu livro de memórias, “Paris é uma festa”, ele explica que a parte omitida fortalece a história, comparando-a a um iceberg.

Como frisou Maria Helena na apresentação do livro “Com certeza nem tudo foi dito aqui. Esta obra não tem a pretensão de ser completa, mas sim de ser sincera, traduzindo através de seus textos e imagens o amor que Mario Rigatto espalhou.”

O livro de Helena, de uma elegância ímpar, ostenta em sua capa azul marinho uma foto icônica de Mario Rigatto, com sua emblemática gravata borboleta, adornada com sua artística assinatura.

Na quarta capa, o romântico texto de Rigatto:

“De acordo com o poeta, a sede do amor é o coração. Alguns anos depois de eu me haver dedicado ao estudo do pulmão, partindo de uma formação de cardiologista, comecei a ter serias dúvidas sobre a legitimidade dessa localização do amor. Afinal de contas, o que pode o amor fazer ao coração? Acelerar-lhe um pouco a frequência? Por outro lado, o pulmão tem muito a ver com a nossa vida afetiva. Pois não é com o pulmão que nós rimos? Não é com o pulmão que choramos? Não é o pulmão que soluça? Não é do pulmão que partem todas as interjeições afetivas, de onde nascem todos os ais de amor? E aos meus relutantes companheiros cardiologistas, tenho ponderado: o que pode uma discreta taquicardia sinusal comparada à respiração arfante de uma mulher apaixonada?”

Obrigada pela atenção!

(*) Discurso de apresentação do livro “Mario Rigatto – vida e legado de um professor de medicina”, de autoria da Profa. Dra. Helena Pitombeira, pronunciado por Ana Margarida Furtado Arruda Rosemberg no Auditório do Hemoce, em Fortaleza, em 30 de agosto de 2024.


LANÇAMENTO DO LIVRO MARIO RIGATTO DE HELENA PITOMBEIRA

 


Componentes da mesa diretora (da esquerda para a direita): Geraldo Jesuíno, Plínio Câmara, Luciana Barros, Ana Margarida Rosemberg, Maria Helena Pitombeira e Ítalo Gurgel. No canto, à direita, o cerimonialista Marcelo Gurgel.

Uma seleta audiência, composta por aproximadamente oitenta pessoas, participou na manhã de ontem (30/08/24)2, no Auditório do HEMOCE, no antigo Campus do Porangabuçu, atualmente denominado Campus Rodolfo Teófilo da Universidade Federal do Ceará (UFC), do lançamento do livro MARIO RIGATTO: vida e legado de um professor de medicina”, de autoria Maria Helena Pitombeira.

Atuei, como mestre de cerimônia, iniciando pela formação da mesa diretora, com a seguinte composição: Drs. Luciana Barros, diretora geral do HEMOCE; Maria Helena Pitombeira, a autora; Ítalo Gurgel, assessor de redação; Geraldo Jesuíno, responsável pelo projeto gráfico, Ana Margarida Rosemberg, apresentadora e Plínio Câmara, representado a Academia Cearense de Medicina (ACM), cabendo a presidência dos trabalhos à Dra. Luciana Barros.

A ACM se fez bem representar pela presença de muitos dos seus Membros Tilares, comportando mencionar as confreiras Ana Margarida Rosemberg, Elizabeth Daher, Lúcia Alcântara, Márcia Alcântara, Maria Helena Pitombeira e Maria dos Prazeres Rabelo, e os confrades Carlile Lavor, Fernando Barroso, João Martins, Marcelo Gurgel, Milton Lima, Ormando Campos, Paulo Reis, Plínio Câmara e Sebastião Diógenes. Também a realçar a boa participação de docentes e funcionários da UFC, entre ativos e aposentados.

A primeira parte do evento foi o lançamento do livro, sob os cuidados da Acad. Ana Margarida Rosemberg, que, em um bem elaborado elóquio, esmiuçou detidamente o conteúdo da obra, devendo esse discurso ser postado, em sua integralidade, em postagem seguinte deste Blog.

A segunda parte consistiu da exibição de um audiovisual, montado por Thayson Pinheiro, um interno do Curso de Medicina da Uece e expert em Inteligência Artificial, a partir das imagens dispostas no livro em comento, tendo a canção francesa Sous le ciel de Paris, de Edith Piaf, como fundo musical. O audiovisual, concluso com dois slides expondo uma síntese da biografia de Mario Rigatto em construção na Wikipédia, feita por Thayson Pinheiro, despertou viva atenção dos presentes, culminando em aplausos, com todos postados de pé.

A terceira parte foi reservada à fala de agradecimentos da autora que, após 24 anos da perda terrena do seu amado Mario Rigatto, publicava um memorial eivado de imorredouras lembranças, em homenagem ao seu consorte. Ela registrou a estreita colaboração do jornalista Ítalo Gurgel e do professor Geraldo Jesuíno, e assinalou os seus laços de amizade com os demais membros gaúchos da família Rigatto, e prestou o seu reconhecimento público à dileta amiga Ana Margarida, pelo incentivo à feitura do livro e pela generosa apreciação que fizera do mesmo. Ela encerrou a sua peroração convidando o confrade João Martins a se pronunciar, naquela ocasião, o que ele fez, com a habilidade da sua conhecida verve de bom orador, apontando fatos preciosos relacionados à vida do biografado.

Ao término da sessão, enquanto se projetava um audiovisual histórico do cantor franco-italiano Ives Montand interpretando Sous le ciel de Paris, a autora recebeu os calorosos cumprimentos de seus convidados, que foram brindados com um belo e magnífico exemplar da obra recém-lançada, e, em seguida, agraciados por um bem-servido coquetel.

Acad. Marcelo Gurgel Carlos da Silva

Membro titular da ACM – Cadeira 18


sexta-feira, 30 de agosto de 2024

Crônica: “Jamais diga uma mentira que não possa provar” ... e outro causo

Jamais diga uma mentira que não possa provar

Valho-me de pensamento do genial Millôr Fernandes para dar título a estas mal traças, e contar duas potocas. Uma de papai e outra minha. Começo por seu Zé Duarte. Papai contava 85 anos quando passou a exercitar mui fertilmente a imaginação, registrando - bem sério - histórias que mais se assemelhavam a cabeludas estórias.

- Como é que é, colega?!? Tu foste volante do Ferrim? - mamãe assustada com a boa novíssima do marido.

- Servi muita bola, dona menina, pra Fernando e Zé de Melo em goleadas homéricas do meu glorioso Tubarão da Barra!

- E porque diabo tu nunca me falaste isso? - tornava a cismar dona Terezinha, conhecedora de cada detalhe de vida do marido, com quem estava unida em matrimônio há 60 anos à época.

Sem a menor cerimônia, ele emendava uma pabulagem na outra, em meio a familiares e amigos descrentes. Jurou de pé junto, naquele domingo, que fora delegado de polícia, prendera muito meliante no Alagadiço e no Coqueirinho, deu carreira em ladrão de bode, foi responsável pela captura de conhecido puxador de carros. Mamãe, encabulada total...

- Zé, pelo amor de Deus! Tu me matas de vergonha!

Agora é a minha vez!

Bem, fui inventar de contar episódio de minha infância, que somente eu sabia, e acabei tomando tonitruante vaia da assistência - o povo da família. Passei por "muito mentiroso". Como provar que, no início de 1969, aos 12 anos, ainda as pernas ligeiras, treinei no Fortaleza Esporte Clube, levado ao Parque dos Campeonatos por um olheiro de meninos bons de bola do São Gerardo? "Cadê fotos? Matéria de jornal? Testemunhas?" Jurandir Branco é como se chamava o olheiro, conhecido no bairro por "Ratinho". Fomos a pé ao Pici, cortando caminho por dentro. Ingênuo, eu expunha:

- Jurandir me deu uma camisa e me empurrou pra dentro do gramado, na ponta-direita, no meio duma ruma de meninos. 10 minutos em campo e não vi a cor da bola. Fui sacado do time. Voltei pra casa sem mostrar potencial, triste...

A plateia atenta à aventura de 55 anos atrás, entre admirada e incrédula, disparou comentários mordazes, levando-me a recordar as arrumações ditas por papai. Vê só!

- Conversa é essa, vô! Num tá vendo que o senhor nunca jogou no Fortaleza! - disparou um neto. - Conta outra, vai!

- Aí mente, Garricha depois da gripe! - disparou um vizinho despeitado.

- Tarcisim, meu fí! Esse você nunca me confidenciou! - despachou elegante a mulher.

- Com que pernas tu jogava bola, Tatá? - indagou a filha desconfiada.

- Por Deus como eu joguei bola no Fortaleza, meu povo! Quero é cegar na hora da morte! Tudo bem que eu não tenha tocado na pelota, mas... - tentei justificar-me, em vão.

- Faz o seguinte, conta agora aquela em que tu morre no final!

Aí foi a gota d'água. Parei imediatamente o converseiro. E o pensamento em papai, quando o bichim falava aquelas (im)prováveis lorotas. Pensei: e se seu Zé Duarte jogou mesmo no Ferrim? E se for verdade que ele se formou em Administração, na turma de Donald Birungueta? Sim, é possível que ele tivesse o domínio de 11 idiomas. Sabe lá ele não deu plantão no 7º DP nas férias do delegado Pantico! Acho até que ele chegou a comentar futebol ao lado de Paulino Rocha, na Assunção? E se papai estivesse falando a verdade?

Comecei a desconfiar de mim, acreditando que, em verdade, eu treinei foi no Ceará Sporting, nos tempos de Gildo, Gojoba, Magela, Edmar. Acho que foi. Arturzão chegou a dizer que eu tinha futuro como meia esquerda no time juvenil, dando assistência a Ivanildo...

Fonte: O POVO, de 12/07/2024. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.

quinta-feira, 29 de agosto de 2024

SECURITIZAÇÃO DA DÍVIDA: um caminho para ampliar investimentos

Por Alexandre Sobreira Cialdini (*)

Acertadamente o Presidente Luís Inácio Lula da Silva sancionou a Lei Complementar n.º 208, de 2 de julho, que amplia a capacidade de investimentos do Estado ao autorizar a securitização do fluxo de recebíveis da dívida ativa dos governos federal, estadual e municipal. Os três entes da federação brasileira poderão ceder onerosamente os direitos originados de créditos tributários e não tributários, inclusive quando inscritos em dívida ativa às pessoas jurídicas de direito privado ou a fundos de investimento, que são regulamentados pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

A aprovação representa um marco histórico para as finanças públicas do país e abre a oportunidade para recuperar receita, ampliar os investimentos públicos e reduzir o inadimplemento de devedores com a União, os Estados e Municípios. Afora isso e, em cumprimento à Lei de Responsabilidade Fiscal, a receita de capital decorrente da venda de ativos, destinar-se-á, pelo menos, 50% (cinquenta por cento) desse montante às despesas associadas a regime de previdência social.

De uma maneira geral, securitizar é um processo através do qual uma variedade de ativos financeiros ou não-financeiros (ativos base) são vendidos, no mercado, a investidores na forma de títulos. Desta forma, qualquer fluxo de caixa, seja atual ou futuro, que é gerado por ativos, pode ser securitizado, como é previsto na LC 208/2024. À medida que o mercado de securitização cresceu e se tornou mais sofisticado, e a variedade de ativos securitizados também aumentou. Assim, há uma necessidade dos governos também se modernizarem e incorporarem outros mecanismos de receita para aumentar investimento público e dar sustentação financeira e atuarial à previdência.

A securitização é apenas um dos mecanismos existentes para transferir riscos a terceiros - o que a literatura chama de finanças estruturadas, compreende os arranjos privados e públicos para refinanciar atividades econômicas de forma não convencional, com o intuito de reduzir custos de tomada de recursos e de intermediação de instituições financeiras. Tivemos oportunidade de trabalhar no nascedouro desse processo e, na época levantamos a recuperação destes valores, que não chegava a 0,7% dos estoques de dívida ativa, numa amostra de 10 estados brasileiros.

Os créditos da Dívida Ativa são objeto de atualização monetária, juros e multas, previstos em contratos ou em normativos legais, que são incorporados ao valor original inscrito. A atualização monetária deve ser lançada de acordo com o índice ou forma de cálculo pactuada ou legalmente incidente. O estoque administrado de créditos tributários e de dívida ativa pela União, por exemplo, atingiu no ano de 2021 R$ 5,51 trilhões. Desse total, apenas R$ 885 bilhões (16,06%) foram reconhecidos no ativo, líquidos de ajustes para perdas, o que evidencia uma expectativa de recuperação relativamente baixa, que pode ser significativamente ampliada com a securitização da dívida ativa.

A política pública para facilitar futuras securitizações lastreadas em fluxo deve se concentrar na remoção de restrições. Os emissores podem reduzir os custos de transação planejando uma série de emissões (um chamado acordo - o master trust), o que permitiria economias de escala. O uso de agências de classificação de crédito, para obter um selo de qualidade, também podem reduzir os custos de transação. Agrupar recebíveis também é outra medida importante.

Portanto, cabe também mencionar o papel decisivo do senador José Serra, que foi protagonista desse projeto no Senador Federal, ao apresentar o PLS 204/2016. Agora cabem a todos os entes da federação organizarem a gestão e a governança desse processo.

(*) Mestre em Economia e doutor em Administração Pública e Secretário de Finanças e Planejamento do Eusébio-Ceará.

Fonte: O Povo, de 8/08/24. Opinião. p.21.


quarta-feira, 28 de agosto de 2024

O mestre Raimundo Francisco Padilha Sampaio

Por Pedro Jorge Ramos Vianna (*)

No dia 23 de julho, o professor Raimundo Francisco Padilha Sampaio lançou seu livro de memórias. Sem dúvida este é um livro para ser lido e relido pois as memórias deste importante economista contarão muito do que foi o processo de desenvolvimento do estado do Ceará e da criação do mercado bursátil de Fortaleza.

A minha ligação com o professor Padilha remonta a 1962, quando ele foi meu professor na cadeira de Introdução à Economia, na Faculdade de Economia da UFC.

Quero relembrar dois fatos importantes dessa minha relação com o professor Padilha. A primeira diz respeito ao meu amor pelos livros. Ele indicou dois livros para sua cadeira. Eu comprei os dois e como eram brochuras mandei encapá-los. Ele ficou admirado com este meu ato. Mas o que ele não sabe é que aí nasceu minha dedicação ao estudo da ciência econômica e a minha "mania" de comprar livros.

A segunda influência sobre o hoje "acadêmico" foi o seu modo de pensar a ciência econômica de maneira muito peculiar e muito diferente da análise ainda hoje em voga: sempre pensar nos efeitos sobre o sistema econômico quando há alguma modificação em uma variável ou parâmetro desse sistema, de maneira uniforme, direta.

Para ele, o "não necessariamente", devia sempre ser levado em consideração.

Vou aqui usar um exemplo. Todos conhecemos a querela Lula da Silva versus Roberto Campos. Ou "taxa de juros versus inflação" ou "taxa de juros versus investimento". Para o sr. Campos a taxa de juros é o principal parâmetro para combater a inflação. Para o senhor Lula, a taxa de juros é o principal parâmetro para influenciar o investimento. Aqui o "não necessariamente" é de extrema importância para a análise correta do problema.

Tomar a taxa de juros como parâmetro fundamental para combater a inflação é admitir que a inflação brasileira é "inflação de demanda". Mas isto "não necessariamente" é verdade. Todos sabemos da ineficiência da indústria nacional e, também, da pressão do comércio internacional sobre as "commodities" agropecuárias. Os dois têm muita importância para o processo inflacionário brasileiro. Portanto, não é aumentando a taxa de juros e, assim, diminuindo o consumo, que se debelará o processo inflacionário.

Por outro lado, não se pode pensar que o investimento é função apenas da taxa de juros. Mesmo nos investimentos em bens físicos outras variáveis são bastante importantes, tais como: a taxa de retorno, a taxa de risco, o tempo de maturação do investimento, o "preço sombra" para a taxa de retorno. E, no caso do Brasil, país que necessita dos investimentos estrangeiros, o "country risk".

Assim, estudemos o "não necessariamente"!

(*) Economista e professor titular aposentado da UFC,

Fonte: O Povo, de 4/08/24. Opinião. p.18.

terça-feira, 27 de agosto de 2024

Renda extra, oportunidade de manter as contas em dia

Por Fabiana Arrais (*)

Com o salário mínimo de R$ 1.412 é possível manter as contas básicas (aluguel, água, energia e gás) em dia? Esta indagação desafia o trabalhador que mensalmente conta apenas com 1 salário para o sustento a manter os compromissos financeiros em dia, e prevenir a inadimplência.

Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) no mês de junho o percentual de brasileiros endividados alcançou 78,8%. Dados mais específicos revelaram que dívidas contraídas com bancos, sociedades de crédito e cartões ainda são um dos principais motivos da continuidade do endividamento, e consequentemente da inadimplência.

É compreensível avaliar que dados tão relevantes se constroem em função da instabilidade econômica que permite com que a inflação aumente acarretando distorções, como: redução da taxa de emprego, desaceleração do crescimento econômico e a perda do poder de compra da moeda.

Diante deste cenário, existem dificuldades para o trabalhador em conter as dívidas, ao mesmo tempo em que o pagamento se torna desafiador. Estudos realizados pelo Movimento Pacto Nacional pelo Combate às Desigualdades desde o ano de 2022, apontam uma elevação do número de brasileiros que afirmam não conseguirem quitar suas contas básicas com o salário que recebem, necessitando de uma renda extra para cumprirem tais obrigações.

No ano de 2022, 45% dos brasileiros (91,3 milhões de pessoas) buscaram uma renda extra, em 2023 houve uma redução considerável para 31% (52% milhões de pessoas), dados que demonstram a dificuldade do brasileiro em gerenciar sua renda num cenário econômico em contínuo ajuste.

Na região do Padre Cícero, terminado o período intenso (junho - julho) das festas do interior é possível analisar os rearranjos que os trabalhadores caririenses assalariados fizeram para aumentar a renda, pois ao mesmo tempo em que desfrutavam dos espaços, fidelizavam uma clientela para longo prazo.

Encontramos um manancial de pequenos negócios que o simples fato de terem sido pensados já nos chamou atenção. Merecem destaques as ofertas de alguns serviços como, por exemplo: fogueiras nos tamanhos P- M e G, a Ceia de pamonhas e a quadrilha junina em domicílio (preço variando de acordo com o número de componentes). Outros optaram pela oferta de serviços em aplicativos como iFood, Uber e moto Uber.

É importante esclarecer que pequenos negócios podem a médio prazo, se bem administrado e gerenciados tornarem-se negócios lucrativos para o empreendedor e a economia local.

(*) Economista.

Fonte: O Povo, de 2/08/24. Opinião. p.19.

segunda-feira, 26 de agosto de 2024

MISSA DE SÉTIMO DIA POR PROFA. NOEMI ELISA ADERALDO

Hoje (26/08/24), segunda-feira, às 18h, na Igreja de N. Sra. das Graças, do Hospital Geral do Exército, situado na Av. Des. Moreira, 1.500 – Aldeota, será celebrada a Missa da Ressurreição, em sufrágio da alma do Profa. Noemi Elisa da Costa Soriano Aderaldo, docente aposentada da Universidade Federal do Ceará e membro titular da Academia Cearense de Letras (ACL), que faleceu na manhã de 18/08/2024.

Marcelo Gurgel Carlos da Silva

Membro titular da ACL – Cadeira 25


A ESCOLA DE GESTÃO PÚBLICA DO ESTADO DO CEARÁ

Por Alexandre Sobreira Cialdini (*)

A EGP, como carinhosamente chamamos, é a nossa escola de governo, formada por servidores e colaboradores m competentes, dedicados e voluntariosos, completa 15 anos, tendo a missão de desenvolver o processo educacional em gestão pública, com vistas ao aprimoramento das competências dos atores públicos, possibilitando a melhoria da prestação dos serviços ao cidadão. A EGP foi criada na gestão do Governador Cid Gomes, em 2009. (https://www.egp.ce.gov.br/).

A formação de servidores públicos recebeu atenção no contexto da expansão e modernização do estado brasileiro, cujo marco inicial foi a experiência da reforma administrativa do governo de Getúlio Vargas, entre 1937 e 1945, na qual foi conduzida pelo Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP), centro de difusão e fomento da temática de governo.

As escolas de Governo têm crescido em relevância, em todos os países, resultado demonstrado na pesquisa "Qual Rumo e qual futuro para as escolas de governo? A pesquisa foi realizada pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), em parceria com a Escola Nacional de Administração Pública (ENAP). (https://encurtador.com.br/t7dRw). A pesquisa direta nos trouxe informações importantes pois, a maior parte dos certificados emitidos pelas escolas integrantes da rede da OCDE são em educação executiva (67%) e mestrado ou equivalente (36%).

A estratégia mais adotada pelas escolas de governo para facilitar o processo de aquisição do conhecimento é convidar especialistas para compartilhar experiências (82%). Um outro recurso que tem sido muito utilizado é o ensino híbrido (63%), seguido de formação para professores em pedagogias de educação online (52%). Para os próximos cinco anos, o cenário é bem parecido, mas uma ação deve ganhar mais importância: a promoção de oportunidades colaborativas para aprendizagem online. A pesquisa foi realizada em 33 escolas de governo de 27 países, durante o período de novembro de 2021 a janeiro de 2022.

O Governador Elmano de Freitas tem ressaltado a importância e trazido a necessidade de estarmos integrando as atividades do Estado, com as necessidades e demandas federativas dos municípios. Para isso, assinou o Termo de Cooperação com o Instituto de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), da Universidade de Lisboa, com objetivo de viabilizar pós-graduação nas áreas de administração e políticas públicas, governança fiscal e gestão tributária e nos provocou a formularmos com o ISCSP e a EGP um centro de inteligência em planejamento territorial. A EGP também assumirá a missão de disseminar a execução e a gestão das ações previstas no Ceará 2050 e será uma instância do ISCSP-ULisboa aqui no Ceará.

Portanto, a nossa EGP está diante de enorme oportunidade, de empreender com liderança, transparência e inovação e preparar os servidores e colaboradores públicos do Estado e dos Municípios cearenses para um futuro mais aberto às transformações digitais, e em rede, com a partilha de recursos entre a sua escola e outras instituições, visando formar e qualificar os servidores, com objetivo de contribuir e se beneficiar do aprimoramento contínuo das experiências nacionais e internacionais para melhorarmos as nossas capacidades estatais, a partir de um processo de participação, cooperação e compartilhamento entre o Governo do Estado e seus municípios.

(*) Mestre em Economia e doutor em Administração Pública e Secretário de Finanças e Planejamento do Eusébio-Ceará.

Fonte: O Povo, de 25/07/24. Opinião. p.21.

domingo, 25 de agosto de 2024

TRIBUTO AO DR PAULO MARCELO MARTINS RODRIGUES (1933-1989)

Por José Maria Bonfim (*)

“Ergue-te! eu vim por ti e pela tarde, pelos campos a errar, sentir o vento respirando a vida. e livre suspirar.” (Álvares de Azevedo).

Em 1994 os 3 tenores fizeram um belo tributo a Gene Kelly e a Frank Sinatra. Em 2014 estivemos na Jordânia, fomos a Petra, onde houve um tributo ao Luciano Pavarotti, morto em 2007. Hoje dia 23 de agosto celebramos o aniversário de Gene Kelly o grande artista e dançarino de dançando na chuva. Marcelo com uma cultura refinada tirava certa admiração por talentos, embora que encantasse com os mais simples dos humanos. Num dos seus poucos poemas, lembra Woody Allen expressão vitoriosa no cinema. Marcelo gostava dele.

Mesmo com a pequenez, que não desgruda, do meu ser pequenino lá do Crateús, achei que algo faltava na minha alongada, vida de médico. Vi partindo um a um, os muitos colegas, que comigo caminharam nesta longa e gratificante jornada. Havia um imenso vazio, que parecia se aprofundar a cada dia que os meus dias eram retirados. Encurtavam os meus dias, e sobre mim um enorme peso.  Ainda havia caminho. Ainda havia estrada. Ainda, nem a penumbra ameaçava as minhas últimas horas. Mas senti que o sol corria. Desabava a luz que dele irradiava. Foi quando vi ressurgirem as alvoradas. Balancei os últimos orvalhos que ainda restavam e dediquei com extremado amor a memória sagrada de PAULO MARCELO MARTINS RODRIGUES. Era o que faltava, na minha vida, para nunca esquecer que sou feliz. Daí nasceu este livro, com suas falhas, seus erros, suas limitações e seus acertos. Porém em cada esquina de cada página está o grande amor, que deitava sobre este ser tão divino que Deus quis que ficasse pouco tempo entre nós. Foram 29 anos de convivência profícua. Momentos grandiosos. Momentos graves e solenes. Momentos de lágrimas e saudades. Momentos de mares bravios, com tsunami e procelas. Momentos questionáveis, pois não sabia onde findava o magistral esculápio. Nem também sabia onde se plasmava o homem digno. Decente. Ético. Amigo. Cheio de aflição. Cheio de cuidado. Parecia carregar a dor do mundo. Homem como Paulo Marcelo, Deus o fez nas poucas alvoradas divinas que o sol se liquefez, sobre os alcantis da terra. Paulo Marcelo é o sorriso mais belo de Deus. Eis a finalidade desta homenagem. Paulo Marcelo é o abraço amoroso de Deus, em cada paciente. Levava a Medicina de maneira solene. Ritualística. Uma liturgia que professava com alegria.

Escolhemos como local o Conselho Regional de Medicina, templo onde se zela pela ética. Sócrates afirmava que sem ética o ser humano nada é. Paulo Marcelo Martins Rodrigues, que nos deixou tão precocemente, nos doou este legado de um MÉDICO perfeito. Vocês três filhos são as pérolas que Paulo e Claudia nos legaram. Representam a continuação de tanta honradez e decência que o Dr. Paulo Marcelo legou ao mundo.

 O livro faz parte desta singela homenagem. Convidamos todas as entidades de classe para juntos cantar um Te Deum pela vida e o legado de Marcelo como médico, como pai, como esposo extremado, como filho, como irmão e como cidadão amigo. Como colega de classe.  Aqui trago os rogos daqueles pacientes que ele cobriu de esperanças. Trago os rogos daqueles que sufocados pelos gemidos da doença, viram vozes de salmodias de agradecimentos. Um tributo despido de vaidade. Desnudo de orgulho. Simples como Paulo. Mas imenso de fervor e amizade, como o era o inesquecível esculápio. Não é uma paga. Não é uma dívida resgatada. É um reconhecimento. É uma relembrança. É uma memória que nunca esmaeceu da minha mente do meu coração. Agradeço a DEUS a graça de ter a estrada da minha vida, tão pobre e tão simples, ter sido iluminada por este clarão cheio de saber. Esta luz vigorosa cheia de luz. Cheia de vida. Jamais poderíamos esquecer, de quem jamais esqueceu de nossas dores. De nossas febres que não cediam. Jamais poderíamos esquecer que cada paciente era uma história. Tinha um nome próprio. Tinha um lar. Tinha uma família.  Era o paciente o altar divino de sua oração de médico. Uma oração feita com imensa piedade. Uma oração polvilhada da Fé. Levava tinturas da esperança.  Erros sim. Aconteceram. Falhas sim. Mas o que nos marcou foi a sua humildade frente a doença e o doente. Sabia se conduzir e conduzir o paciente. Mas o mais belo de tudo isso, Paulo não desistia de lutar. De caminhar nos meandros do pensamento e do diagnostico lógicos. Não inventava. Não tangenciava. Não escapulia como a fuga dos fugazes e sem compromisso.

A obra que escrevemos, fruto de sedimentação, que foi se processando, dias após dias. Daquele dia que me fiz lágrimas de dor e de tristeza, se foram 35 anos. Foi uma vigília prolongada que se finda neste monumento de eterna gratidão. Eu o faço por mim, em primeiro lugar. Mais achegado o desfecho daquela manhã que nunca se findou. Preferia não estar presente naquele domingo cinzento e triste, que derrubou a minha alma e destroçou os horizontes que sonhava conquistar. Chorei tanto. Chorei muito com dó de mim. A minha vida se transformou.

Desarrumaram-se as estantes da minha alma. Letárgico e perdido. Custei muito a acertar meus passos. Mesmo assim fui momento a momento semeando esperanças com as sementes que Marcelo me ofereceu. E hoje já nos prelúdios da noite que se aproxima. Temendo a escuridão da velhice e da doença. Tropeçando nas próprias fimbrias do meu jaleco desbotado, trago esta tocha grandiosa. Este facho inapagável. Esta chama que nunca se consome. Esta sarça, na qual, coloquei todas as fichas da minha esperança. Trago a vida de Paulo Marcelo lapidada, esmiuçada, desenhada de amor e ternura. E não me achego só. Chego com todos que sentem a presença de Paulo, quando o mundo ensaia uma fátua esperança. Marcelo transpira raio do Éden, cheiro de cor divina.

Agradeço a todos os familiares do Dr. Paulo Marcelo. Minha mãe teve um quadro de vômitos e febre. Tinha 97 anos. Lucida. Pedi o Dr. Cabeto para vê-la. Ele não somente consultou, como a levou para o Hospital, onde ela se operou de colecistite. Ela perguntou quem era este médico. Respondi que era o Dr. Cabeto, filho do Dr. Paulo Marcelo. Aquele seu amigo? Ele sabe que vc amava tanto o pai dele? Então estou em boas mãos. Agradeço ao Aluisio que foi meu colega na Faculdade Católica. Agradeço a Mirella que a vi tão pequenininha. Agradeço a todos desta família maravilhosa.

Agradeço aos professores Dr. Martinho e Dr. Flávio Leitão, pelo apoio. Agradeço a família Dias Branco, na pessoa de Graça da Escossia pelo vigoroso apoio. Agradeço a Professora Francisca Ayla, da Academia Ipuense de Letras e Artes. E ao Dr. Euribes, sua esposa. Ao Dr. Josué de Castro que sempre nos ajudou.

Agradeço o apoio e sustentáculo nesta empreitada a minha esposa Dra. Eliane Barbosa, aos meus filhos que cultuam este meu amor Martiniano Rodrigues.

Agradeço a minha colega de turma Dr. Mary Neide Romero, que me trouxe a presença de minha conterrânea a brilhante, Dr. INES Melo, pelo apoio.

Agradeço ao Dr. Ulisses Cabral, presidente da SBC, pela disposição. Ao Dr. Gentil Barreira, Presidente da Sociedade Norte e Nordeste de Cardiologia.  As demais arcádias, Acemes, Sobrames, AILCA, ALC.

E um agradecimento especial a Deus que nos guia e nos alerta nas caminhadas da vida. Deus é bom.

(*) Discurso lido pelo autor no lançamento do seu livro “Paulo Marcelo Martins Rodrigues”, na sede do CREMEC em 23 de agosto de 2024.

DIFERENÇA BÁSICA

Por Rev. Munguba Jr. (*)

Os venezuelanos viveram nesses últimos dias um momento que vem se repetindo em diversos países comunistas: uma eleição de fachada. Votos depositados nas urnas, mas que têm pouco, ou nenhum valor prático. Em uma ditadura, o mais relevante é quem conta os votos, quem faz a totalização dos votos e quem anuncia a população.

O que está acontecendo de diferente mesmo é a liderança leve, inspiradora e popular de uma mulher de fibra. Tornada inelegível pelo sistema ditatorial, uma mulher sábia que apoiou outro candidato e agitou os corações de seus patrícios.

Maria Corina Machado é seu nome. Ela conseguiu gravar nos corações de seus compatriotas o desejo incontrolável pela liberdade, pela democracia, pelos valores básicos contidos nos ensinos judaico-cristãos: Deus, Pátria, Família e Liberdade.

Aprendendo com as derrotas antigas, com as frustrações do passado e convivendo com o mesmo modus operandi vivenciado em algumas nações vizinhas, reescreveu a história tendo a coragem e estratégia de questionar o resultado das eleições, na prática. Arregimentou um exército do bem para divulgar o resultado de cada urna, cada seção em tempo real e, posteriormente, na consolidação dos resultados.

Viver ou morrer pela liberdade? Eis a questão. Será que vale a pena o silêncio, a omissão, o conformismo e o medo? Não. Na realidade, nós nos enxergamos nessa mulher, em seus passos, em sua jornada libertária.

Talvez a diferença básica esteja na decisão de agir na hora certa. Quem sabe a nossa hora tenha sido lá atrás, em novembro de 2019, quando o STF votou pelo fim da prisão em segunda instância. À época, o sistema mostrou seu plano para atrasar o Brasil com impostos abusivos, burocracia pesada em todos os níveis e ramos de atividades. Que saudade do Paulo Guedes!

Será que ainda temos tempo, força e esperança?

Corinas! Estamos esperando por algumas corajosas andando pelas ruas da nossa nação.

No tempo do governo militar, o cantor e compositor Gilberto Gil entoava: "amigos presos, amigos sumindo assim; pra nunca mais. Tais recordações, retratos do mal em si. Melhor é deixar pra trás." Não, não vamos deixar para trás Mauro Cid, o deputado Daniel Silveira, o assessor Felipe Martins e muitos, muitos outros.

Deus, nós te pedimos: manda muitas "Corinas" para o Brasil!

"Em teu seio, ó liberdade. Desafia o nosso peito a própria morte. Verás que o filho teu não foge a luta."

(*) Pastor Munguba Jr. Embaixador Cristão da Oração da Madrugada e Erradicação da Pobreza no Brasil e presidente da Igreja Batista Seven Church.

Fonte: O Povo, 3/08/2024. Opinião. p.14.

EXPERIÊNCIA DE CONSOLAÇÃO

Por Pe. Eugênio Pacelli SJ (*)

Há quatro anos, estávamos em plena pandemia. A Igreja mostrava seu rosto divino e misericordioso na modalidade "Igreja doméstica". O deslocamento do templo para a casa representou uma fantástica oportunidade de reencontrar sua fonte mais pura e suas origens mais genuínas.

Antes de ser templo, a Igreja foi casa. A casa e a família sempre foram igrejas primeiras, onde se primeiro recebia o leite e a fé. A pandemia do coronavírus nos trouxe de volta para casa, espaço onde a família se reúne, conversa, briga, chora, pede perdão, se arrepende, ri, vê televisão, entre inúmeras outras vivências, e claro, celebra da fé - essa é nossa Igreja doméstica.

Fazendo uma retrospectiva dos últimos quatro anos, penso na quantidade de benefícios que recebemos. Há quanto tempo não rezávamos juntos em família? Cada um na sua casa e Deus na casa de todos. Encontramos novos caminhos para mostrar a Igreja viva, mais presente em novas formas na missão de servir e acompanhar espiritualmente seus filhos em momentos difíceis.

Considero que, apesar das dores e tristezas que vivemos, a fé da Igreja doméstica nunca esteve tão viva e tão forte. O amor de Deus nos unia, consolava e amadurecia. Deus estava ali, o tempo todo. Eu vivi um momento totalmente novo e inusitado, a partir das orientações da Arquidiocese, começamos a refletir sobre como transmitir a eucarística pelas redes sociais. Escrevi, publiquei um livro, orei, celebrei (inclusive, inúmeras missas de sétimo dia online), dei unção nos leitos de morte e experimentei as pegadas da Misericórdia neste tempo.

Tínhamos a preocupação de não deixar o povo sem o consolo da Palavra de Deus. Há uma frase do poeta português Fernando Pessoa que sempre me inspira: "Deus quer, o homem sonha, a obra nasce". Ao sintonizar o nosso sonho com o desejo de Deus, o milagre acontece. Começamos a pedir a Deus que se fosse para a maior glória Dele e o bem das famílias, que Ele fosse iluminando e abrindo portas.

Assim, Deus fez: conduziu e abriu muitas portas. De repente, surgiu a oportunidade de uma Rádio FM, um canal de TV e o Instagram fazerem a transmissão, em plena pandemia. Confesso que se alguém cogitasse isso, nesse contexto, não acreditaria. Se: "O homem propõe e Deus dispõe".

Assim tem sido. Já seguimos há quatro anos, com as transmissões online. Uma experiência de consolação em proporcionar em tempos escuros momentos de alegria, fé, ânimo e esperança aos outros.

(*) Sacerdote jesuíta e mestre em Teologia. Escritor. Diretor do Mosteiro dos Jesuítas de Baturité e do Polo Santo Inácio. Fundador do Movimento Amare.

Fonte: O Povo, de 27/07/2024. Opinião. p.18.


sábado, 24 de agosto de 2024

ERIC MORAES GURGEL

Por Paulo Gurgel Carlos da Silva (*)

Filho de brasileiros do Ceará, o estadunidense Eric Moraes Gurgel, de 11 anos, faz versão para o inglês das gírias e expressões brasileiras que ele aprende em casa com os pais Felipe e Anna. Ou quando ele vem com os pais ao Brasil para curtir as suas preferências (banho de mar, água de coco e brigadeiro).

Em seu canal Aprenda Inglês com Eric, o garoto bilíngue posta vídeos sobre o tema para os seus atuais 31 mil seguidores no Instagram.

Hoje (23/08/24), às 14h30, ele é assunto de uma reportagem no programa Se Liga VM, da TV Verdes Mares.

Neto mais velho de meu irmão médico, escritor e professor Marcelo Gurgel, o professor-mirim Eric é per via consequentiae meu sobrinho-neto.

(*) Médico pneumologista, escritor e blogueiro.

Postado por Paulo Gurgel no Blog Linha do Tempo em 17/08/2024.

http://gurgel-carlos.blogspot.com/2024/08/eric-moraes-gurgel.html

Nota do Blog do Marcelo Gurgel: O programa Se Liga VM, inicialmente previsto para ir ao ar em 17/08/24, foi suspenso em virtude do falecimento do comunicador Sílvio Santos.


CONVITE: Celebração Eucarística da SMSL - Agosto/2024

A Diretoria da SOCIEDADE MÉDICA SÃO LUCAS (SMSL) convida a todos para participarem da Celebração Eucarística do mês de agosto/2024, que será realizada HOJE (24/08/2024), às 19h, na Igreja de N. Sra. das Graças, do Hospital Geral do Exército, situado na Av. Des. Moreira, 1.500 – Aldeota, Fortaleza-CE.

CONTAMOS COM A PRESENÇA DE TODOS!

MUITO OBRIGADO!

Marcelo Gurgel Carlos da Silva

Da Sociedade Médica São Lucas

sexta-feira, 23 de agosto de 2024

CONVITE: Lançamento do livro Paulo Marcelo M. Rodrigues

 

A Sociedade Cearense de Cardiologia convida para a solenidade de lançamento do livro: Paulo Marcelo Martins Rodrigues, nos labirintos da perplexidade, de José Maria Bonfim, a ser apresentado pelo Acad. João Martins de Sousa Torres.

 Dia: 23 de agosto de 2024 (sexta-feira).

Horário: 16h.

Local: Auditório do CREMEC – Av. Antônio Sales,485 - Joaquim Távora.

Apoio: Acemes/Sobrames/CE/AILCA/Sobrames/CE/Grupo M. Dias Branco.


FOLCLORE POLÍTICO: Porandubas 811

Abro com o Largo da Carioca

Precisamos trabalhar

O brigadeiro Eduardo Gomes fazia, no largo da Carioca (Rio de Janeiro), seu primeiro comício da campanha presidencial de 1945. A multidão o ouvia em silêncio:

- Brasileiros, precisamos trabalhar!

Do meio do povo, uma voz poderosa gritou:

- Já começou a perseguição!

Bagunça geral. O comício quase acabou.

Fonte: Gaudêncio Torquato (GT Marketing Comunicação).

https://www.migalhas.com.br/coluna/porandubas-politicas/389418/porandubas-n-811


quinta-feira, 22 de agosto de 2024

A GESTÃO FINANCEIRA E A SAÚDE DOS NEGÓCIOS

Por Lauro Chaves Neto (*)

O crescimento sustentável dos negócios em um cenário de concorrência global e transformação digital exige dos empresários uma correta gestão financeira.

Falar de gestão para os empreendedores pode parecer falar de "reza" para vigário, porém, a realidade mostra que a maior parte das empresas ou não usa as ferramentas adequadas ou as usa apenas parcialmente, acarretando perdas na eficiência e na competitividade.

Em situações adversas, quando o faturamento cai, a inadimplência cresce e muitos dos custos não possuem flexibilidade para serem cortados de imediato, são criados problemas de liquidez e falta de capital de giro, situação agravada pela dificuldade do acesso às linhas de créditos. Em situações favoráveis de crescimento das vendas, muitas vezes a necessidade de financiamento do capital de giro passa a consumir a maior parte da rentabilidade.

A gestão financeira envolve um conjunto de ferramentas que precisam ser usadas em conjunto no processo de tomada de decisões. Fluxo de Caixa, Orçamento e Custos formam o seu tripé básico.

O Fluxo de Caixa é a joia da coroa da gestão financeira, o maior GPS da administração de recursos, permite a análise do passado, a organização do presente e a projeção do futuro. É fundamental que ele seja integrado entre a tesouraria, o contas a receber e o contas a pagar, sendo atualizado a cada nova operação.

O sistema de custos deve ser a base tanto da avaliação da eficiência da operação, como também da política de preços, que seja capaz de compatibilizar a realidade de mercado com a geração de lucros. Nenhuma organização deveria funcionar sem conhecer o seu ponto de equilíbrio e a sua margem de contribuição!

Já o orçamento, deve ser a expressão numérica das decisões de geração e alocação de recursos, estando intrinsecamente ligado com o planejamento estratégico e auxiliando às tomadas de decisões.

Nada deve ser decidido sem as informações da gestão financeira. Desde a política de compras até o pós venda, passando pela logística, estoque, pesquisa e desenvolvimento, marketing, produção, decisões de investimentos e gestão de pessoas.

(*) Consultor, professor doutor da Uece e conselheiro do Conselho Federal de Economia.

Fonte: O Povo, de 22/07/24. Opinião. p.22.

quarta-feira, 21 de agosto de 2024

SUPERFICIALIDADE DA INFORMAÇÃO NA SAÚDE

Por Álvaro Madeira Neto (*)

Vivemos em uma era de paradoxos. Por um lado, temos o mundo ao alcance dos dedos, com mais informações do que jamais poderíamos consumir. Por outro, apesar dessa abundância, a profundidade do nosso entendimento parece cada vez mais rasa. A superficialidade da informação se tornou uma preocupação crescente, especialmente por seu impacto na saúde mental e no bem-estar da sociedade.

Estamos navegando em um oceano de dados, onde distinguir o essencial do supérfluo é uma tarefa árdua. Essa sobrecarga informativa nos empurra para um processamento superficial, onde a quantidade de conteúdo que passa pelos nossos olhos supera, e muito, o que realmente compreendemos e absorvemos.

Em um cenário onde as redes sociais competem pelo nosso tempo de atenção com conteúdos rápidos e estimulantes, acabamos sacrificando a reflexão e análise mais profundas.

Esse não é apenas um desafio para nossa gestão de tempo ou eficiência cognitiva; trata-se de uma questão de saúde pública. Os efeitos dessa sobrecarga são palpáveis: ansiedade, dificuldade de concentração e uma menor capacidade de pensar de forma crítica e profunda. Este estado de constante bombardeio informativo nos leva ao paradoxo da escolha, onde, apesar de termos acesso a tantas informações, nos sentimos paralisados e incapazes de tomar decisões claras e fundamentadas.

Mais alarmante ainda é como esse ambiente afeta o discurso público, especialmente em um ano de eleições municipais. A manutenção e o aprofundamento dos valores democráticos e inclusivos do nosso Sistema Único de Saúde dependem de debates ricos e fundamentados. A superficialidade não tem lugar quando o que está em jogo é o futuro da saúde coletiva e da democracia.

Portanto, a necessidade de ultrapassar a superficialidade informativa é ainda mais premente. A qualidade do debate público, a saúde da democracia e o futuro do SUS dependem de um engajamento informado, crítico e profundo por parte de todos. Através de um esforço coletivo, podemos mitigar os efeitos adversos desse fenômeno e construir uma sociedade mais informada, inclusiva saudável e democrática.

(*) Médico e gestor em saúde. Sócio da Sobrames/CE

Fonte: Publicado In: O Povo, de 2/08/2024. Opinião. p.18.

 

Free Blog Counter
Poker Blog