DOS MINISTROS
J.M. de
Macedo - "Ano Biográfico", vol. II, pág. 321.
Era Magalhães Calvet, oficial-maior da Secretaria do
Império, quando foi eleito deputado geral pelo Rio Grande do Sul. Dependendo
embora do governo, declarou-se em franca oposição ao ministério, discutindo os
atos do ministro com uma eloquência desusada e admirável conhecimento de todos
os atos dos chefes.
- Que pensa do oficial-maior da sua secretaria? - perguntou ao marquês de Monte-Alegre, então ministro,
um deputado da maioria.
- Penso e sei que é deputado liberal e da oposição, aqui,
respondeu o marquês; - mas posso adiantar, também; que é modelo de lealdade na Secretaria
de que é, e continuará a ser, oficial-maior!
HONRAS FÚNEBRES
A.J. de
Araújo Pinho - "O Barão de Cotegipe no Rio da Prata", pág. 78.
Com seu espírito sutil, o Barão de Cotegipe era um
céptico. Sem vaidades, não disputava nem, mesmo, aceitava honrarias. Ao
regressar do Rio da Prata, onde resolvera o problema da restauração do
Paraguai, o Imperador quis decretar a elevação do seu título, ato a que ele se
opôs, Se morresse como ministro, o seu desejo era que lhe não prestassem,
sequer, honras fúnebres, como era de praxe.
E acentuava:
- Por um cadáver não se devem incomodar duzentos homens!
CONFIANÇA DE
MINISTRO
J.M. de
Macedo - "Ano Biográfico" vol II, pág. 83.
Afastado da pasta da Fazenda, em 1829, por
incompatibilidade com o Imperador, vivia José Bernardino Batista Pereira de
Almeida Sodré indiferente ao poder, quando Pedro I o mandou chamar ao Paço.
- Quero que faça parte do novo ministério - disse o monarca. - Pode
escolher a pasta que lhe convenha. Aceita?
- Não, majestade! -
respondeu, com orgulho, José Bernardino.
E de pé, para retirar-se:
- Senhor, honra de donzela, e confiança de ministro, só
se perde uma vez! Eu não posso, pois, tornar a ser ministro de Vossa Majestade!
AS SELVAJERIAS
DOS CIVILIZADOS
Jean de Lery
- "História de uma viagem à terra do Brasil", ed. De 1926, pág. 56.
Não obstante a sua intervenção constante junto aos
tupinambás, seus aliados, para que não comessem os inimigos aprisionados em
combate, Nicolau de Villegaignon adquiria esses prisioneiros em troca de
espelhos e anzóis, e, nos seus momentos de mau humor, infligia-lhes os mais
duros suplícios.
Certa vez, foi um desses infelizes, já entregue aos
franceses, submetido a um dos tormentos mais bárbaros que se podia imaginar: o
da gordura fervendo, derramada nas nádegas. Estorcendo-se de dor, o desgraçado,
amarrado a uma peça de artilharia, gemia, e bradava:
- Se soubéssemos que Paicolás nos ia tratar assim,
teríamos deixado que os inimigos nos comessem!...
Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927).