sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Crônica: “Ataque cardíaco de fome, a nova mazela” ... e outro causo

Ataque cardíaco de fome, a nova mazela

Pobre na forma da lei, foi pela caridade dos amigos que o menino mais velho do Adail recebeu digna assistência. Do que o bichim sofria? Uma complicação descobrir. Certo é que uma ruma de especialistas o consultou, fez horror de exames, bateu chapa de toda qualidade, encheu-se de piula até o gogó. Apesar de tudo, passados seis meses de peleja, chibatada de mazelas não largava dele. Sintomas de A à Z: coceira no mucumbu respondendo no sovaco, lêndea de polegada, "ganeira de chicote", "difluço", dor nas carnes, sapiranga nos olhos, peido ariado, alôjo, tosse de cachorro doido, cuspe grosso, vontade de morrer. Dor pra mais de metro, corpo inteiro.

Tal como anotado pela jornalista e escritora Rosanni Guerra no seu memorável poema "Amor Hipocondríaco", "... não tem Anador / Buferim ou Neosaldina / Nem injeção de morfina / Que acabe com essa dor fina". Até óleo diesel (injeção de benzetacil) o menino do Adail tomou. Apelou-se para homeopata, acupunturista, terapeuta da saúde integral, rezadeira e o gemido era o mesmo. Perturbação profunda. Nem banho de sal grosso com a baba do caçote fazia reagir aquele corpo estoporado, banido, esfulepado, distiorado, brocado, arrombado... Mandar pros EUA? Com que dinheiro, se nem o do Uber para levá-lo ao posto de saúde o povo de casa tinha?

Assim, meio sem querer, chegou-se à descoberta da macacoa descomunal que acometia o bruguelo mais velho do Adail. Outro amigo médico do pai pediu pra ver o doente na UPA do bairro, a uns cinco quilômetros de casa. Lá ele foi na garupa da bicicleta, dirigida por um irmão. No trajeto, passam nas bitacas duma lanchonete de primeira categoria, dessas que servem - já às 11 da manhã - do pastel à mão de vaca. Eis que o menino, amarelo de sofrimento, sente no ar o cheiro da penicilina salvadora, inolvidável vitamina C, antibiótico e corticoide vitais: a tal da panelada. Sem detença, grita pro mano guiador, coração saindo pela boca:

- Para ligeiro! Taqui meu remédio!

- Vai se automedicar, é?

- Nem que eu me arrombe!!!

O mais velho do Adail tomou pratada de caldo de panelada (na verdade, passou pra dentro cinco terrinas do produto) e nunca mais uma dor na unha! Curado, benza Deus! 

Bebendo ainda na poética de Rosanni Guerra, observo a situação d'outrora da cria do Adail e digo resoluto que fome "É dor que lateja / Como nunca ninguém viu / É pancada, é hematoma / É distensão / Que não passa com Reparil... / ... uma dor que castiga / Igual a falsidade de amiga / E só mata, como veneno de formiga". E concluo, vendo hoje aquele meninão bonito, lindo e joiado: coma que passa!

Pérola de Pirrinta

Era vereador e o tratamento junto aos colegas de parlamento, em plena sessão, lambia sempre as corriqueiras conversas de bodega, calçada, missa de sétimo dia, pescaria, cabaré. No dia em que foi votado o novo Código de Postura do Município, por exemplo, pediu aparte e referiu-se ao propositor da matéria nos seguintes termos:

- Meu peixe, caba bom, o presente instrumento que permite à Administração Municipal exercer o controle e a fiscalização do espaço edificado que meu patrão apresenta...

Palmas pra Pirrinta. Ocorre que o presidente da Casa lhe lembra da obediência ao rito, que deverá chamar o vereador de "excelentíssimo senhor" em aparte. E Pirrinta...

- Gente fina, minha joia, como eu dizia, a matéria em apreço assinada por meu cumpade...

Fonte: O POVO, de 22/09/2022. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.

quinta-feira, 29 de setembro de 2022

DESACELERAÇÃO DA ECONOMIA MUNDIAL

Por Lauro Chaves Neto (*)

A OCDE revisou a sua estimativa de crescimento da economia global de 4,4% para 3,3% em 2022, já para 2023 a projeção é de 2,8%. Esse ajuste para baixo é resultado da rodada de elevação da taxa de juros em diversos países, como resposta às pressões inflacionárias.

Essa pressão é real, tanto por choques de oferta, consequência da desorganização de várias cadeias de produção e logística, das questões de grãos, petróleo e gás, decorrentes da guerra da Ucrânia; como também por choques de demanda decorrentes da elevação mundial de gastos públicos, ocorridos desde o início da pandemia.

Entre os "emergentes", Brasil e Rússia puxam a média para baixo, enquanto China e Índia para cima. Deve-se ressaltar as modestas expectativas em relação aos EUA (1,2%) e Zona do Euro (1,6%). Uma recessão americana, o agravamento das condições sanitárias na China e o prolongamento da Guerra da Ucrânia apresentam-se como os principais riscos de uma desaceleração ainda mais aguda no mundo.

Diante disso as previsões de crescimento da economia brasileira têm ficado, na média, de aproximadamente 1,7% a 2% em 2022. A desaceleração, prevista para os últimos dois trimestres do ano, deverá ser amenizada pelas medidas aprovadas, que geram uma injeção no consumo, principalmente, na periferia das grandes cidades e nos pequenos municípios. Embora exista o contraponto de que os efeitos da elevação dos juros se farão sentir de forma mais forte.

Deverá existir recessão nos EUA, a dúvida é quanto à sua duração e ao seu modo posterior de recuperação. Já a China, também deverá superar a nova crise sanitária, a questão é saber qual a magnitude do impacto na atividade econômica.

Em um cenário alternativo e mais pessimista, com o prolongamento da recessão americana e a China, mais uma vez, tendo a economia impactada negativamente pelo Covid, o eixo externo passaria a pesar tanto ou mais que o interno nas expectativas. Existe também uma probabilidade de um cenário positivo e mais agradável, com uma queda mais rápida da inflação que permita o início de um movimento de queda nos juros, uma redução da incerteza fiscal e uma elevação no preço das nossas principais commodities. 

(*) Consultor, professor doutor da Uece e conselheiro do Conselho Federal de Economia.

Fonte: O Povo, de 25/07/22. Opinião. p.20.

quarta-feira, 28 de setembro de 2022

Lançamento do Nº 6 da Revista Anual da ACEMES


A Diretoria da Academia Cearense de Médicos Escritores (ACEMES), durante o Setembro Cultural do Ideal Clube, conduziu o lançamento do Nº 6 da sua Revista anual.

O evento teve lugar no Ideal Clube, no Salão Vermelho, em Fortaleza-CE, em 27 de setembro de 2022 (terça-feira).

A obra, contendo a produção literária dos confrades desse sodalício, foi apresentada pelo médico, escritor e professor Flávio Leitão.

Participei desta obra com quatro produções literárias: “Concomitância entre as academias cearenses: de Medicina e de Médicos Escritores”, “Especialidades dos titulares da Academia Cearense de Medicina”, “Docentes titulares da Academia Cearense de Medicina”, e “Discursos de saudação aos titulares da Academia Cearense de Medicina”.

Dr. Marcelo Gurgel Carlos da Silva

Membro da Sobrames-CE e da ACEMES 

terça-feira, 27 de setembro de 2022

VIVA LIBERAL DE CASTRO!

Por Joaquim Cartaxo Filho (*)

Encontrei com o Mestre Liberal de Castro, pela última vez, sob chuva e separados pela grade que estabelece a fronteira entre o jardim da casa dele e a calçada da rua Gervásio de Castro. Era uma manhã de 2021. Estávamos ainda ameaçados pelas variantes da Covid-19. Eu não estava mais confinado em casa, havia retornado ao trabalho. Já ele continuava retido.

A prosa rolou quanto à fita K7 que achou entre as "coisas desorganizadas" do escritório dele em casa, como costumava comentar, cujo conteúdo era o depoimento do arquiteto Nestor de Figueiredo tomado pelos arquitetos Eliane e Amaurício Cortez, então estudantes.

Ouvia-o. Ora dizia sim, ora afirmava com a cabeça. Até que o interrompi e indaguei sobre o que ele queria que eu fizesse com a fita. Então, me solicitou que desse um jeito de transcrevê-la, pois supunha ser relevante para a memória da cidade.

Daí fui à luta: encontrar um toca fita para rodar um K7 com 40 anos. Achei o especialista que a recuperou e transferiu o conteúdo para o meio digital. Quanto à transcrição, a encaminhei ao Liberal e lhe telefonei para saber o que fazer com a fita. Me disse que encontrasse uma que a conservasse.

Sobre a transcrição, perguntei-lhe se iria trabalhá-la e editá-la na revista do Instituto do Ceará, onde publicava ensaios. Respondeu-me: você que mexe com planejamento urbano examine o depoimento do Nestor e publique a análise, sem esquecer de registrar os créditos relativos ao Amaurício e a Eliane.

Assim, desde as aulas da graduação e pós, Liberal me fez trilhar os caminhos surpreendentes da história da arquitetura e do urbanismo; me fez compreender e me comprometer com a produção espacial do lugar, conectada com a dimensão universal cujos elementos arquitetônicos identificava na arquitetura popular, adaptada ao ambiente semiárido cearense. Neste sentido, prefaciou meu livro "A cidade fatual", argumentando que a pobreza e exclusão social não se tratavam de um problema unicamente de Fortaleza.

Liberal deixou-nos no dia 9/9/2022, mas legou-nos a obra do intelectual da arquitetura que arrancava do passado, presente no patrimônio histórico edificado, as possibilidades ofertadas pelos futuros.

Viva Liberal de Castro!

(*) Arquiteto urbanista e superintendente do Sebrae/CE.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 26/09/22. Opinião, p.22.

segunda-feira, 26 de setembro de 2022

CONVITE: Lançamento do Nº 6 da Revista Anual da ACEMES

 


O Presidente da Academia Cearense de Médicos Escritores (ACEMES), Dr. Wellington Alves, convida para o lançamento do Nº 6 da Revista Anual da ACEMES.

A revista, de autoria dos membros titulares da ACEMES, será apresentada pelo médico e escritor Acad. Flávio Leitão.

Local: Ideal Clube – Av. Monsenhor Tabosa, 1.381, Meireles - Fortaleza

Data: Dia 27 de setembro de 2022 (terça-feira). Horário: 19h30min.

Traje: Esporte fino.


MEU CEARÁ

Por Rev. Munguba Jr. (*)

Depois de mais de 25 mil quilômetros rodados dentro do nosso estado nos últimos três meses, dois jogos de pneus e três a quatro reuniões diárias com líderes e pessoas simples do povo, consegui captar um pouco do coração da nossa gente.

Um brilho no olhar nasce quando falamos sobre um novo Ceará, onde as pessoas se organizam para fazer o bem, entendendo o potencial do amor e da construção de uma ação coordenada de amor e paz.

O coração se dilata quando comunicamos que eles podem ser senhores do seu destino, quando percebem que o cabresto do atraso e da humilhação pode ser cortado, descortinando a luz da força de pessoas que nunca ousaram pronunciar seus sonhos de liberdade. O que eles menos almejam é o retorno ou a continuação do atraso, da compra de votos e dos currais eleitorais.

Alguém que paga por votos não tem compromisso com o amanhã, nem muito menos com projetos básicos e necessários para o bem-estar das cidades e pequenas comunidades, sítios e lugares longínquos do estado.

A empatia de quem paga para aquele que recebe é próxima a zero. Ele não precisa voltar nos quatro anos seguintes, até que retorne a necessidade de recomprar para o próximo pleito.

Percebemos que cada vez mais temos menos pessoas a venda e mais e mais pessoas que entendem o seu dever cívico de escrever, de forma responsável, o destino do seu município.

Meu Ceará está amadurecendo e assumindo o seu papel de testemunhar um novo tempo para o Brasil, como fez na libertação dos escravos. Estamos testemunhando a mais uma libertação, agora de homens e mulheres livres para decidir.

Além de conversar e falar sobre futuro, incluímos um outro ingrediente nessas visitas aos nossos conterrâneos: a oração. A Oração da Madrugada que alterou definitivamente o destino da Coreia do Sul, que no pós-guerra perfazia mais de oitenta por cento da sua população vivendo em favelas e em sete anos acabaram as favelas; em vinte anos erradicaram a pobreza e em cinquenta anos passaram da quarta nação mais pobre do mundo para a décima economia mundial. "Feliz é a nação cujo Deus é o Senhor". Feliz é o povo que tem o poder de redirecionar a sua força baseado no poder do Deus Único e Eterno.

(*) Pastor Munguba Jr. Embaixador Cristão da Coreia do Sul Para a Implantação da Oração da Madrugada e Erradicação da Pobreza no Brasil.

Fonte: O Povo, 3/09/2022. Opinião. p.20.


domingo, 25 de setembro de 2022

LULA e suas frases de efeito... II

“Um número baixo de votantes é uma indicação de que menas pessoas estão a votar.” Luiz Inácio Lula da Silva

(Socooorro!)

“Nós estamos preparados para qualquer imprevisto que possa ocorrer ou não..” Luiz Inácio Lula da Silva

(Fenomenal!)

“Minha mãe nasceu analfabeta.” Luiz Inácio Lula da Silva

(Será?!)

“Não é a poluição que está prejudicando o meio-ambiente. São as impurezas no ar e na água que fazem isso.” Luiz Inácio Lula da Silva

(Ah, bom!)

“É tempo para a raça humana entrar no sistema solar.” Luiz Inácio Lula da Silva

(Fechou com chave de ouro!)

Fonte: Internet (circulando por e-mail e i-phones). Sem autoria definida.

LULA e suas frases de efeito... I

“Eu gostaria de ter estudado latim, assim eu poderia me comunicar melhor com o povo da América Latina.” Luiz Inácio Lula da Silva

(Deveria ter nascido mudo!)

“A grande maioria de nossas importações vem de fora do país.” Luiz Inácio Lula da Silva

(Putz!...)

“Se não tivermos sucesso, corremos o risco de fracassarmos.” Luiz Inácio Lula da Silva

(E o risco é mesmo grande!)

“O Holocausto foi um período obsceno na História da nossa nação. Quero dizer, na História deste século. Eu não vivi nesse século...” Luiz Inácio Lula da Silva

(Aiaiaiai... O cara cheirou Rodhiasol)

“Uma palavra resume provavelmente a responsabilidade de qualquer governante. E essa palavra é ‘estar preparado’”. Luiz Inácio Lula da Silva

(????)

“O futuro será melhor amanhã...” Luiz Inácio Lula da Silva

(!!!!)

“Eu mantenho todas as declarações erradas que fiz...” Luiz Inácio Lula da Silva

(E continua a fazer!)

“Pelotas é uma cidade que exporta viados.” Luiz Inácio Lula da Silva

Fonte: Internet (circulando por e-mail e i-phones). Sem autoria definida.

sábado, 24 de setembro de 2022

Posses de Aldo Lima e Fernando Barroso na Academia Cearense de Medicina

 

Mesa diretora da solenidade de posse da ACM em 23/09/22.

A Academia Cearense de Medicina (ACM) realizou ontem à noite, dia 23/09/2022, no Auditório Castello Branco da Reitoria da Universidade Federal do Ceará (UFC), a solenidade de posse dos seus novos membros titulares, os médicos e docentes ativos da UFC Aldo Ângelo Moreira Lima, pesquisador em farmacologia, e Aldo Fernando Barroso Duarte, especialista em hematologia, nas Cadeiras 51 e 38, patroneadas pelos médicos Raimundo Vieira Cunha e Álvaro Otacílio Nogueira Fernandes, correspondentemente.

As Cadeiras 51 e 38 foram anteriormente ocupadas pelos acadêmicos Francisco Braga de Andrade e José Wilson Accioly, respectivamente, que passaram para o quadro de membros honoráveis.

Os novos acadêmicos foram recepcionados pela Acada. Maria Helena da Silva Pitombeira.

Antecedendo as posses desses membros titulares, a ACM conferiu a outorga do título de membro honorável ao Acad. José Murilo de Carvalho Martins, que foi reverenciado pelo Acad. Ormando Rodrigues Campos. Em nome do homenageado e de sua família, a filha Inês Beatriz Martins profeeriu a fala de agradecimento.

A solenidade, presidida pelo Acad. Janedson Baima Bezerra, teve o Acad. João Martins de Souza Torres, como mestre de cerimônia, seguindo o protocolo traçado pelo Acad. Vladimir Távora Fontoura Cruz.

Após a conclusão dos trabalhos, os recipiendários ofereceram aos acadêmicos e convidados um coquetel de congraçamento nos bucólicos jardins da Reitoria da UFC.

Acad. Marcelo Gurgel Carlos da Silva

Membro titular da ACM – Cadeira 18


CONVITE: Celebração Eucarística da SMSL - Setembro/2022

 

A Diretoria da SOCIEDADE MÉDICA SÃO LUCAS (SMSL) convida a todos para participarem da Celebração Eucarística do mês de Setembro/2022, que será realizada HOJE (24/09/2022), às 18h30min, na Igreja de N. Sra. das Graças, do Hospital Geral do Exército, situado na Av. Des. Moreira, 1.500 – Aldeota, Fortaleza-CE.

CONTAMOS COM A PRESENÇA DE TODOS!

MUITO OBRIGADO!

Marcelo Gurgel Carlos da Silva

Da Sociedade Médica São Lucas

sexta-feira, 23 de setembro de 2022

POSSE DE VERA MORAES NA ACADEMIA CEARENSE DE LETRAS

Ocorreu na noite de ontem, 22 de setembro de 2022, no Palácio da Luz, a solenidade de posse da professora e escritora Vera Lúcia Albuquerque de Moraes, na cadeira 10 da Academia Cearense de Letras (ACL), a primeira academia literária instaurada no País, que prossegue em atividade, posto que fundada três anos da Academia Brasileira de Letras.

A sessão solene, conduzida pelo Presidente do sodalício, o médico, político e escritor Lúcio Alcântara, teve como cerimonialista a escritora Regina Fiúza.

O discurso de recpção foi proferido pelo Acada. Angela Maria Rossas Mota de Gutiérrez, em nome da ACL, que traçou sobre a biografia da recém-empossada, focando mais detidamente a produção literária da nova imortal. A novel acadêmica Vera Moraes, destacou as biografias do patrono da cadeira, o Padre Mororó, e dos seus predecessores, especialmente a do último ocupante, cuja vaga derivou do seu desligamento voluntário por não mais residir no Ceará, no caso, o escritor Acad. Ednilo Gomes de Soárez.

O evento foi prestigiado pela presença de literatos e escritores afeitos ao mundo cultural cearense, com especial referência à forte participação das integrantes da sociedade Amigas do Livro.

Marcelo Gurgel Carlos da Silva

Da Academia Cearense de Letras

FOLCLORE POLÍTICO LXXXVI: Porandubas Políticas 653

E verbo não ‘vareia’

A Câmara Municipal de Paulista/PE vivia sessão agitada em função da discussão de um projeto enviado pelo prefeito, que pedia crédito para assistência social. Um vereador da oposição combatia de maneira veemente a proposição. A certa altura, disse que “era contra o crédito porque a administração municipal não merecia credibilidade”. O líder da bancada governista intervém, afirmando que “o nobre colega não pode jogar pedras no telhado alheio, pois já foi acusado de algumas trampolinagens”.

– Menas a verdade – retrucou o acusado. Sou homem honesto, de vida limpa.

– Vejam, senhores, – disse o líder – o nobre colega, além de um passado nada limpo, ainda por cima é analfabeto, pois, “menas” é verbo, e verbo não “vareia”.

(Historinha contada por Ivanildo Sampaio)

Fonte: Gaudêncio Torquato (GT Marketing Comunicação).

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Vacina, o melhor investimento para conciliar saúde e economia...

Por Gesner de Oliveira (*)

Os números falam por si só sobre a importância da vacina na defesa da vida. Foram evitadas 500 mortes por dia nos primeiros quatro meses após o aumento da cobertura vacinal em 2021, chegando a salvar 600 vidas no segundo quadrimestre subsequente, segundo estudo econométrico realizado pela GO Associados.

A vacina termina com a escolha de Sofia entre a proteção contra a Covid-19 e o emprego e renda das famílias. De acordo com o mesmo estudo, cada R$ 1,00 investido em vacina em 2021 gerou R$ 9,00 em ganho no PIB. O governo investiu cerca de R$ 22 bilhões em vacinas em 2021, o que possibilitou obter um ganho de R$ 200 bilhões no PIB. O modelo captou o efeito da vacina sobre a circulação das pessoas e a correlacionou com a atividade econômica medida pelo PIB, permitindo chegar à mencionada relação de R$ 1,00 de custo para R$ 9,00 de benefício.

Assim, a imunização da população deveria ter máxima prioridade na política pública para combater e sobretudo prevenir contra novas epidemias e várias outras doenças preveníveis, como o sarampo e a poliomelite.

É muito mais eficiente arcar com os investimentos de um plano de imunização do que correr o risco de enfrentar uma nova pandemia. Dados da Secretaria do Tesouro Nacional e Portal da Transparência apontam para o elevado montante de R$ 660 bilhões gastos no combate à Covid-19!

Os resultados obtidos a partir de estudo de vacinação em massa em Serrana no interior do estado de São Paulo trouxeram ainda mais evidências acerca da importância da vacina para salvar vidas. A aplicação de uma técnica estatística chamada de controle sintético mostrou que a adoção da vacinação em massa naquele município conseguiu reduzir em até 48% o número de óbitos.

Diante de tais evidências, não pode haver dúvida quanto à necessidade de imunizar a população, não apenas em relação à Covid-19, mas para um conjunto de doenças preveníveis.

Não se pode baixar a guarda em relação à vacinação. Urge mobilizar sociedade e governo para reforçar aquilo que o Brasil demonstrou que pode fazer com competência: proteger sua população através de planos regulares de vacinação. Neste sentido, três iniciativas são particularmente importantes: (i) recuperar o atraso da vacinação contra a Covid 19 nas faixas mais jovens e nas regiões Norte e Nordeste; (ii) investir mais no setor de saúde, em especial para fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS); e (iii) conscientizar a população e combater a desinformação (fake news), mostrando como prevenir é muito menos custoso do que remediar. Tanto em vidas quanto em renda e emprego.

(*) PhD em Economia pela Universidade da California (Berkeley). Sócio da G0 Associados, professor da FGV e membro da Academia Internacional de Direito e Economia. assessoria,fgv@insightnet.com.br

Fonte: O Povo, de 22/7/22. Opinião. p.23.

MEMÓRIAS SOLTAS

Por Lucília Diniz, jornalista de Veja.

Em vez de nostalgia, recordações oferecem bússolas pessoais.

Lisboa é uma cidade que evoca as melhores lembranças de quem já teve o privilégio de caminhar por suas ruas sinuosas. Não são só os espaços históricos, culturais e gastronômicos, “sítios” aos quais o visitante quer sempre voltar. É a sensação de acolhimento proporcionada por uma gente que traz na alma a doçura de um pastel de Belém, corrigida pela melancolia lírica de um fado. Terra de origem da minha família, Portugal convoca reminiscências que estão presentes nos meus afetos. Talvez seja por isso que, certa vez, me chamou atenção uma modesta papelaria, escondida na freguesia de Santo António, que se destaca da vizinhança pelo nome, incomum e instigante, que caberia no título de um romance que Eça de Queiroz não escreveu: “Memórias soltas”. Vim a saber que o nome vem do livro de um economista lisboeta, Manuel Jacinto Nunes, sobre a extensa ficha de serviços prestados ao país no século passado — o que informo só para registro pois o que me encanta no nome não é a que se refere, mas o que sugere.

Memórias soltas são o acervo precioso da nossa experiência. “A memória é um diário que todos carregamos conosco”, escreveu Oscar Wilde. Só posso concordar com o dramaturgo irlandês. Ele quer dizer que o que está escrito no coração dispensa anotações, pois isso a gente não esquece. As recordações são inseparáveis de quem viveu situações que merecem ser guardadas no álbum da vida. Não se trata de nostalgia por um passado que não volta. Trata-se, isso sim, de um acúmulo de aprendizados que, no devido tempo, se transformam em bússola pessoal e podem ser compartilhados com as novas gerações. Quantas vezes, diante de um problema qualquer, pessoal ou profissional, não puxamos pela memória em busca de um parâmetro, resultado de anos de janela, que pode ser útil na solução?

Nesse sentido, memórias são verdadeiras âncoras, que nos ajudam a não nos afastarmos do nosso porto seguro. Isso é bom, por um lado, na medida em que apazigua nossas ansiedades. Mas é ruim, por outro, se permitirmos que as boas lembranças nos prendam ao que ficou para trás e se transformem numa limitação do espírito, no receio de querer ir além do horizonte conhecido. “Memória é a imaginação do que morreu”, anotou o poeta Fernando Pessoa, referindo-se ao perigo de viver permanentemente na tentativa de reeditar o passado.

Com frequência esse impulso determina nossas escolhas. Num restaurante, por exemplo, às vezes somos tentados a pedir o prato de sempre, em vez de explorarmos as possibilidades do cardápio. Nas viagens, da mesma maneira, não é incomum optarmos por roteiros com que temos familiaridade, quando há tantos desconhecidos pedindo para ser visitados. Nada disso, no entanto, evita decepções. A comida e o destino podem não corresponder à lembrança que temos deles — sim, porque memórias são seletivas, retêm o que nos agrada, o que é apenas parte da experiência real.

É por isso que, além de âncoras, as memórias devem ter algo da vela que, estufada pelo vento da curiosidade, nos impele para longe dos mares conhecidos, contribuindo para a formação de novas memórias, num círculo virtuoso.

Da próxima vez em Lisboa vou procurar outra papelaria.

Publicado originalmente na revista Veja. 

Fonte: DINIZ, Lucília. Memórias Soltas. In: Veja, de 27/07/2022, Ed 2.799. Ano 55 n.29. p.79.

quarta-feira, 21 de setembro de 2022

SOBRE CRAVOS E MANGUEIRAS: à memória de José Liberal de Castro

Por Romeu Duarte (*)

Conheci-o em 1981, mal entrado na Escola de Arquitetura da UFC, quando, logo no primeiro encontro, inoculou-me o vírus do patrimônio. Ácido, crítico e mordaz, de uma cultura e de uma inteligência fascinantes, gostava de abrir cabeças, não de fazê-las. Tudo isso me passou pela memória como um raio, eriçando meus pelos, quando soube da notícia no comecinho da noite de ontem. Ele agora está ali, num esquife repleto de cravos, cujo perfume intenso me craveja a alma. Na chegada ao velório, destroçado, sou por todos tratado como se fora um filho seu. Mestre, mentor e guru de gerações de arquitetos cearenses, agora dorme o seu eterno sono. Magro como um passarinho, num severo paletó, o véu imóvel sobre a face sisuda. Choro como um menino órfão.

Os familiares e os muitos amigos se acomodam para pranteá-lo no vestíbulo do pavilhão, naquele instante transformado em câmara mortuária. "Velá-lo aqui foi a melhor decisão", disse de mim para comigo, "aqui, nesta escola, que sempre foi a sua casa". E as lembranças me atropelam, como a um pobre cachorro cego numa rua movimentada. As aulas da sua disciplina, nossa viagem a Icó, o telegrama de felicitações pela minha formatura, seu apoio quando dirigi o IAB e o IPHAN, uma longa conversa numa tarde, quando me contou sua ida ao Rio de Janeiro para trabalhar e estudar. Até as nossas brigas entraram no rol das recordações. Jovens estudantes, que nunca foram seus alunos e poderiam ser seus netos, graves e solenes. O forte olor dos cravos mistura-se ao das coroas.

Seu colega-amigo-irmão chega amparado. À beira do ataúde, diz: "Mais de 60 anos de amizade e convivência, e agora?". Meus olhos fitam os seus, os quatro marejados. Abraço-lhe e beijo-lhe a testa. "Lembra de que vocês dois ficaram até o fim do enterro do meu pai?", perguntei-lhe. Ele me sorriu e devolveu o amplexo. O pátio da Arquitetura, sempre animado, servia então, com suas muitas sombras, como espaço de acolhida ao público silente e triste que não parava de vir. Todos tinham uma boa história com ele. "Viveu uma vida longa e próspera", falou-me um colega. "Você está assistindo a "Jornada nas Estrelas" demais...", brinquei. Era também o momento de rever velhos companheiros, todos nós desolados pelas últimas perdas do nosso acervo pessoal. Muito luto.

Súbito, o vento forte de setembro, que espalha o pólen-sêmen do amor pelas árvores engravidando-as, agita com suas rajadas as centenárias mangueiras do pátio. Estas idosas mangueiras, que presenciaram os esforços dos quatro destemidos arquitetos que criaram este curso. "Que esta ventania dissemine as lições do grande professor entre as gentes e que nestas brotem valores mais humanos", pedi. Recebo no celular uma mensagem da minha filha mais velha: "Foi-se uma rainha, vai-se um rei". As lágrimas me vêm novamente, mesmo sabendo que ele recusaria a alegada realeza, apesar do orgulho que guardaria no coração pelo elogio. As pessoas já conversam em rodas, preparando-se para os ritos finais. No ar, a perfumada sinfonia dos cravos e das mangueiras...

(*) Arquiteto. Professor da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Fonte: Publicado In: O Povo, de 19/09/22. Vida & Arte, p.2.

FAMÍLIA TEM CHEIRO DE DEUS

Por Pe. Eugênio Pacelli SJ (*)

A proposta cristã resume-se no amor. O amor é o distintivo que nos identifica, é a síntese da Lei da Nova Aliança, é o estatuto que fundamenta a comunidade cristã.

Somos conhecidos como seguidores de Cristo pela nossa capacidade de amar, porque onde existe amor, Deus aí está.

A nossa religião deve ser a religião do amor, não das leis, das exigências, dos ritos externos. Precisamos ser portadores da presença do Amor de Deus no mundo.

Falando em amor, para celebrar a semana dedicada à família, que terminou no último dia 20, trago algumas reflexões, baseadas nos pronunciamentos do Papa Francisco sobre o matrimônio e família, instituições que devem ser exemplos da expressão máxima do amor. Defendo as famílias e decidi me dedicar a elas e auxiliá-las nessa trajetória tão desafiadora.

Sem família não há humanidade, a família é importante, é necessária para a sobrevivência da humanidade. Se não existe a família, a sobrevivência da humanidade corre perigo.

Não é possível uma família sem sonho. Quando se perde a capacidade de sonhar, os filhos não crescem, o amor não cresce; a vida debilita-se e apaga-se. Por isso, é muito importante recuperar o amor, através do sonho de cada dia.

Cada filho é um milagre: um filho muda a vida! Num mundo marcado pelo egoísmo, a família numerosa é uma escola de solidariedade, partilha, que beneficia toda a humanidade.

O amor supera dificuldades, em toda família há dificuldades, mas essas são superadas com amor. O ódio não supera nenhuma dificuldade. A divisão dos corações não supera nenhuma dificuldade. Amor é festa, amor é a alegria, o amor é seguir em frente.

O matrimônio não é um caminho suave, sem conflitos. Não seria humano se fosse, é uma viagem laboriosa, chegando a ser conflituosa, mas isto é a vida! É normal que esposos briguem.  Costumo dizer que casamento sem problemas é um problema sério.

A harmonia que vem de Deus e só Ele sabe criar a harmonia, a partir das diferenças. Se falta o amor de Deus, a família também perde a harmonia, prevalecem os individualismos, se apaga a alegria. Pelo contrário, a família que vive a alegria da fé, comunica-a espontaneamente, é sal da terra e luz do mundo, é fermento para toda a sociedade.

Família tem cheiro e é sonho de Deus.

(*) Sacerdote jesuíta e mestre em Teologia. Diretor do Seminário Apostólico de Baturité.

Fonte: O Povo, de 27/08/2022. Opinião. p.20.

terça-feira, 20 de setembro de 2022

LIBERAL DE CASTRO & NEUDSON BRAGA

Por Lara Montezuma (*)

O arquiteto e urbanista Neudson Braga conheceu Liberal de Castro antes mesmo de começar sua carreira na profissão, ainda no Rio de Janeiro. Depois de chegar em Fortaleza, o profissional firmou uma parceria de anos com o cearense. Juntos, eles integraram a primeira equipe da Escola de Arquitetura e projetaram outros tantos edifícios importantes para o Ceará. Em depoimento ao O POVO, Neudson relembra os anos ao lado do amigo e corrobora a relevância de Liberal.

Encontro

“Eu conheci o Liberal antes de ser arquiteto, estudei na mesma universidade que ele no Rio de Janeiro. Depois eu recebi um dos primeiros trabalhos importantes que ele fez aqui, a ampliação do Colégio Cearense, e fiquei muito empolgado. Quando cheguei em Fortaleza, recebi um convite do reitor para assumir um cargo no Departamento de Obras da UFC e quem me recepcionou foi ele, no comecinho de 1960, talvez fevereiro. Como eu vinha do Rio, da mesma faculdade dele, a gente começou a conversar e a ter mais afinidade profissional, depois começamos a nos entender como pessoas. O jeito de agir, a inteligência e a cultura me faziam gostar de conversar com ele. Começamos também a trabalhar juntos num projeto muito importante, o Plano de Desenvolvimento da Universidade Estadual do Ceará em 1966, foi a primeira vez que surgiu a ideia dos campi. Nós também fizemos o Plano Diretor do Campus do Itaperi e as primeiras instalações da UECE”.

Parceria

“O Liberal tinha uma cultura extraordinária. Ele projetava, mas ao desenvolver o projeto ele tinha um certo receio. Então ele me entregava e eu finalizava os projetos. Ele tinha um escritório, mas trabalhava mais comigo do que no escritório dele. É uma parceria profissional que começou nas pranchetas e foi até o fim da vida. O nosso último projeto foi o Hospital Veterinário. A nossa conduta, até pessoal, é completamente diferente. Eu sou um homem moderador e ele não, a gente tinha que trabalhar juntos até para fazer essas compensações. Foi uma amizade que perdurou durante todo esse tempo sem nenhuma briga, nenhum estágio de discordância. Até mesmo no futebol, ele é Fortaleza, eu sou Ceará, essas coisas eram bem contrastantes. Mas, no final, era uma unidade. A gente tinha uma identidade própria”.

Escola

“A Escola de Arquitetura foi criada de uma forma diferente. De repente chega uma ordem para o reitor dizendo que a Escola tinha sido criada no decreto do Castelo Branco e seria incorporada na Universidade. O reitor convidou eu, Liberal, Armando Farias e Ivan Britto para assumir a Escola. Foi a primeira Escola de Arquitetura, em junho de 1964, e em 1965 já deveria começar. a funcionar. Eu e o Liberal saímos viajando pelo Brasil, conhecendo pessoas, discutindo programação. A gente saía para comprar coisas para montar a biblioteca da Escola, que não tinha um livro, dentro de seis meses virou uma biblioteca modelar, um acervo incrível. Foi tudo feito nesse começo. Nos móveis, nós fomos às fábricas. Tudo foi comprado por nós dois, saímos como caixeiros viajantes. Nós fomos muito convidados para eventos, antes de formar a primeira turma, nós ganhamos um prêmio internacional na Bienal de São Paulo pela Escola".

Amizade

“É uma amizade que eu considero preciosíssima. Minha mulher adoeceu e faz hemodiálise há dez anos. Ele telefonava diariamente, às 19 horas, para me animar e saber dela. É algo emocionante. Quando eu via que ele estava se aproximando do fim, me dava um desalento saber que aquela cabeça, aquela memória extraordinária, a cultura.... Ele não era um homem de arquitetura, era um homem da cultura geral. Foi um homem que abriu a história do Ceará de uma maneira diferente, ele analisava como arquiteto, do geral para o particular. Em todos os momentos da vida dele eu estive com ele e estou com ele através de orações, dos pensamentos. Sempre pensando nos desafios que enfrentamos juntos. A saudade é profunda, o carinho que as pessoas têm por ele não é em vão”.

(*) Jornalista. Colunista de O Povo.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 18/09/22. Aguanambi 282, p.17 (Plataforma OP+ Streaming).


AIRTON MONTE: Especial Vida & Arte IV

 

MEU NOME É MULTIDÃO

Organizado por Lara Montezuma, jornalista de O POVO

Airton Monte: Dia de ficar alegre

Ponto de vista escrito pelo jornalista e cronista Demitri Túlio.

"Somente numa mesa de botequim é que se realiza a verdadeira e legítima democracia". Para o momento, Airton Monte não poderia estar tão vivo entre os mamíferos de dois pés que ainda habitam a provinciana cidadela do mar. O médico não parecia um "doutor", era desses sujeitos iludidos com a literatura. Graças a Deus (na verdade, a São Francisco), ao Fortaleza e ao Botafogo. Não sei em qual momento tivemos uma paixonite um pelo outro. Talvez o escritor e o repórter.

Paixão infiel já na última década de seus dias por aqui. Dessas de só ter abraços sinceros quando, raramente, nos encontrávamos ou eu inventava de levá-lo para conversas-entrevistas com os alunos da Uni7. Olhos por trás dos óculos fundo de garrafa, boina feia nos cabelos lisos e o livro "Moça com flor na boca" dentro de saco de mercantil. Foi um dos últimos encontros. O último fomos entrevistá-lo, em sua casa, para as Páginas Azuis do O POVO. Lia de Paula, Eu, Felipe Araújo, Cláudio Ribeiro e Luiz Henrique Campos.

Já lia suas crônicas. Gostava da maioria, mas reclamava quando se metia a machista. Tão declarado para Sônia e muitas vezes, metido a macho sem precisão. É porque sempre idealizamos quem escreve. E somente dentro de casa, no cotidiano imperativo, sabemos da alma e do corpo do cronista. Era um rapaz gente boa com defeitos e delícias. Hoje, dia de sua partida, não vou sentir pena por não estar entre nós. Vou ficar alegre por tê-lo convivido entre páginas do jornal, bilhetes e encontros marcantes. Viveu o que tinha de viver, frescou, farreou o Benfica, fumou o quanto quis, amou Sônia. Também fez raiva a ela e à Bárbara, foi bajulado e deixou uma prosa escrita para quem quiser visitá-lo vivo ainda. Vivinho da Silva."

Fonte: O POVO, de 10/09/2022. Vida & Arte. p.3.

segunda-feira, 19 de setembro de 2022

LIBERAL DE CASTRO: Pioneirismo e legado na arquitetura cearense

Por Lara Montezuma (*)

Pilar no desenvolvimento da arquitetura do Ceará, o arquiteto e urbanista Liberal de Castro é homenageado por profissionais da área

O arquiteto e urbanista José Liberal de Castro (1926 - 2022) é considerado o mestre de toda uma geração de profissionais da Arquitetura. Ao conversar com alunos e colegas do cearense, as falas inevitavelmente mencionam a sua maestria na pesquisa, ensino e atuação profissional. A reputação é fundada em uma vida inteira dedicada à área, numa relação que se inicia quando o filho de José e Matilde Martins de Castro desembarcou no Rio de Janeiro, no ano de 1944, a fim de expandir os horizontes profissionais. Desde este primeiro momento até a sua partida, noticiada no dia 9 de setembro, Liberal de Castro desenhou um percurso pioneiro.

"Ele é conhecido como mestre por todos nós. O Liberal era um mentor da vida comunitária, alegre e rigoroso também. Ele trouxe para o Ceará muita coisa importante, é uma pessoa de muita capacidade no trabalho e um dos pesquisadores mais respeitáveis do Estado. É referência nacional nessa área de ensino da arquitetura e, para nós, inesquecível", afirma o arquiteto e urbanista Delberg Ponce de Leon, amigo de José por mais de 50 anos. Ainda na conhecida "Cidade Maravilhosa", Liberal ingressou na Faculdade Nacional de Arquitetura e, em paralelo, conciliou as atividades com ofício técnico na companhia Standard Oil Company. A princípio, considerava que a capital cearense não tinha tantas perspectivas profissionais, mas decidiu voltar à terra natal ao ser convidado para lecionar na Faculdade de Engenharia da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Ele também integrou o Departamento de Obras e Projetos da Universidade, onde contribuiu no planejamento das primeiras intervenções da instituição, como o novo Campus do Pici. Em 1964, Liberal recebeu o convite para desenvolver a Escola de Arquitetura da UFC ao lado dos professores Armando Farias, Ivan Britto e Neudson Braga - grande parceiro nos projetos arquitetônicos. "As cinco primeiras turmas deveriam ser, mais ou menos, umas 80 pessoas, era uma convivência quase familiar. Até recentemente o Liberal não tinha se adaptado com o nome Departamento de Arquitetura de Urbanismo e Design, para ele era Escola de Arquitetura. Conseguiram montar um curso com uma excelente biblioteca, com um acervo que muitas faculdades grandes não tinham", pontua Delberg.

Enquanto esteve presente nas salas de aulas, o docente contribuiu para a formação de profissionais por meio de conteúdos que transcorreram entre a história da arquitetura e os elementos do modernismo arquitetônico. Ponce de Leon, todavia, ressalta que o "grande papel de Liberal para a Cidade foi o trabalho em defesa ao patrimônio". O cearense obteve destaque na historiografia, sendo pioneiro no processo de documentação da arquitetura e urbanismo cearense. De acordo com o arquiteto Romeu Duarte no texto "O Pioneiro do Patrimônio no Ceará", disponibilizado na edição 2017 - 2018 do Anuário do Ceará, Liberal "passa a contar com apoio institucional e humano" para realizar pesquisas relacionadas à temática a partir do pleno funcionamento da Escola de Arquitetura da UFC, em 1965. "Como membro do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), ele conseguiu a justificativa de análise de locais como a Casa José de Alencar e o Theatro José de Alencar", cita Delberg.

O professor também realizou levantamentos da arquitetura colonial do Estado, documentos que integram o acervo do atual Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFC, em cidades como Icó, Aracati e Sobral, além de Fortaleza. Como arquiteto, foi responsável por projetos "icônicos" como a Pró-Reitoria de Extensão da UFC e o Estádio Castelão. Ainda na seara arquitetônica, elaborou variados desenhos de edifícios, desde prédios comerciais até instalações destinadas à área de saúde. Vale destacar as ocupações de Liberal de Castro como sócio-fundador da Delegação do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB-CE), onde atuou como Presidente entre 1966 e 1967. Ele também foi membro do Conselho de Cultura do Estado do Ceará e do Conselho Universitário da Universidade Federal do Ceará, além das contribuições enquanto membro do Instituto do Ceará.

O arquiteto se manteve ativo até os 96 anos e, mesmo após a aposentadoria, continuava com a presença contínua nos encontros acadêmicos. Delberg rememora a última participação do amigo em um evento público, logo na data de lançamento do livro da professora e arquiteta Márcia Cavalcante, em dezembro de 2021. A pandemia causada pela Covid-19 distanciou Ponce de Leon da relação próxima que costumava ter com o colega de profissão, mas ambos mantinham contato nos últimos dois anos por longas conversas por telefone. "Nossa forma de comunicação eram telefonemas de 40, 50, 60 minutos. Nesse período inicial de isolamento, as saídas eram muito restritas e ele sentia dificuldade com esse tempo isolado. Ele gostava muito de conversar, passeava com uma grandeza por todos os assuntos que você abordasse", lembra. Desde a perda dolorosa do amigo de longas datas na última sexta-feira, 9, Delberg lembra constantemente da trajetória de Liberal.

O urbanista menciona, com carinho, a ligação íntima do "mestre" com a Escola de Arquitetura, uma das suas principais criações. Reforça, inclusive, que esse espaço era "a casa dele". A visita à biblioteca, por exemplo, era um passeio cotidiano na rotina de José. Mesmo com os avanços tecnológicos, Liberal se comunicava apenas por um telefone fixo residencial. Apreciava futebol e, vez ou outra enquanto era mais jovem, tomava um uísque nos encontros sociais. Era uma pessoa que gostava, sobretudo, de estar em conjunto, com um temperamento tido como singular pelos companheiros. "De início era uma pessoa sisuda, rigorosa, mas depois de um tempo se demonstrava um grande professor e a gente percebia o quanto ele era dedicado", comenta o arquiteto e urbanista Totonho Laprovitera. Apesar dos extensos anos de atuação profissional, Totonho relembra como o "mestre" conservava o "vigor de menino" em um desejo constante de continuar explorando cada pormenor. "Era muito bom conversar com ele, sempre tinha alguma coisa a aprender. A gente aprendia com ele até quando ele calava". Professor emérito da UFC, Liberal de Castro deixa um sentimento de "orfandade" em seus alunos, mas mantém os princípios eternizados. "Ele sempre conservou a juventude na ânsia do conhecimento compartilhado, isso é uma característica dos grandes. Ensinou com o pensamento, com a análise. O Liberal ensinou a utilizar a arquitetura como forma de promover o bem-estar das pessoas e buscá-lo, sempre procurando combater as desigualdades, com desenhos que beneficiem a todos numa perspectiva democrática de igualdade. Nisso, garanto que eu e meus contemporâneos fomos abençoados", complementa Totonho.

Para sintetizar a influência de Liberal, o urbanista frisa as mudanças em Fortaleza após as contribuições do "mestre" na Escola de Arquitetura. "A Escola está em funcionamento desde 1965. Desde a década de 1970, mudou o desenho e a linguagem da nossa arquitetura, a formação e atuação de novos profissionais, que estão ocupando espaços na gestão pública. A Cidade teve outra leitura, começou a ter personalidade própria. Hoje em dia, tem uma produção arquitetônica muito boa, com um conteúdo cultural muito grande e um estímulo ao estudo, à pesquisa e ao pensar. O professor Liberal é de uma importância grande, uma memória extraordinária e profundo conhecedor".

(*) Jornalista. Colunista de O Povo.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 18/09/22. Aguanambi 282, p.17.

 

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